Final
Na sala de espera ele andava de um lado para o outro. Coçava a cabeça com impaciência e deixava os fios ainda mais atrapalhados. Ninguém ali ousava falar qualquer coisa. Seu rosto vermelho indicava o nível de nervosismo que sentia.
Seu melhor amigo se aproximou cauteloso, lançando olhares temerosos para a esposa, que havia ficado sentada numa poltrona macia, aproveitando a luz fraca do sol que incidia pela janela de vidros coloridos.
Tocou de leve o ombro do outro, que lhe lançou um olhar assustado. Não, não era um dos enfermeiros do St. Mungus que ele tanto ansiava ver com notícias sobre sua esposa e seu bebê.
- Ei, venha se sentar um pouco e beber uma água para se acalmar.
- Água? Acalmar? Você está doido? Ponha-se no meu lugar! – respondeu com um tom de voz mais elevado que o normal.
O olhar espantado e quase magoado do outro o fez despertar e se arrepender do que havia falado. Harry já havia estado em seu lugar. Duas vezes. E na última, se ele bem se lembrava, a situação era mais delicada que a sua.
Ninguém falava nada na sala de espera. Harry não andava, não piscava e por algumas vezes Rony se aproximou para se certificar de que o amigo ainda estava respirando.
A princípio ele entrou na sala de parto, mas após quase espancar o Dr. Erick e duas enfermeiras ao ver que Gina sentia muitas dores e seu filho corria risco de vida, ele foi sedado e tirado de lá.
Quem acompanhou a ruiva durante todo o trabalho de parto foi a cunhada. Hermione, mesmo com a barriga proeminente, se mostrou bem solicita e eficiente. Sabia de tudo que uma parturiente precisa e conjurava gelo para que Gina molhasse os lábios, secava sua testa com um lenço e cuidava dos travesseiros que lhe apoiariam as costas.
Apesar de prematuro, Albus Severus nasceu de parto normal. Mas Gina sequer pôde pegar o filho. Ele foi levado diretamente para uma ala equivalente à UTI. Precisava realizar exames complicados e tomar uma série de poções para se fortalecer o bastante antes de ir para casa.
Tanto Gina quanto Harry choraram o dia inteiro por não poderem ficar perto de Sev. E a angústia só aumentou quando o Dr. Erick informou que o menino havia nascido bem abaixo do peso esperado.
Albus Severus pesava apenas 1,9kg, o que não era nada saudável. E o pediatra só daria alta para o pequenino quando ganhasse pelo menos mais 700 gramas.
O St. Mungus virou a casa de Harry e Gina, que alugaram um dos quartos particulares para poder ficar perto do filho o tempo todo. Hermione se ofereceu para cuidar de James e o fez com primazia, levando o afilhado sempre que possível para matar a saudade dos pais.
Os Potters só podiam ver o filho caçula duas vezes por dia por apenas 15 minutos. Com luvas especiais e após passarem por feitiços para se desinfetarem e diminuírem os riscos de infecções ou complicações, podiam acariciar o pequeno e conversar com ele.
Harry não sabia se isso fazia bem ou mal à Gina, que saía da sala sempre aos prantos e reclamando de deixar o bebê dela sozinho num lugar tão frio e desagradável.
Foram duas semanas de sofrimento. Quando o Dr. Erick entrou numa manhã de domingo, com o pequeno enrolado numa manta verde musgo, praticamente da cor dos olhos que ele viria a revelar mais tarde, dizendo que ele estava bem e podia ir para casa, Gina estava 5 quilos mais magra e Harry finalmente aparentava algum vestígio de barba naquele rosto sempre tão branco.
Chegaram de surpresa na Toca, sabendo que encontrariam todos reunidos para o tradicional almoço, que acabou virando uma festa de boas vindas.
Todos queriam ver, pela primeira vez, o mais novo membro daquela família já tão numerosa. Mas entendiam a necessidade da mãe do rapazinho de tê-lo em seu colo o tempo todo.
James ficou meio arredio após ter passado tanto tempo longe dos pais e, ao reencontrá-los, vê-los com outra criança nos braços. Foi preciso, mais uma vez, a intervenção de Hermione para que tudo se ajeitasse.
Ela pegou o afilhado pelas mãozinhas gorduchas e conduziu seus passinhos ainda não de todo firmes até o sofá em que seus pais haviam se acomodado.
- Tem um irmãozinho curioso aqui! – disse se aproximando.
Harry levantou de súbito, pegou seu pequeno ruivinho e o abraçou com saudade e alívio. Deu um beijo apertado em sua bochecha rosada e pontuada de sardinhas como as de sua esposa e falou em tom amistoso:
- Então, quer conhecer seu irmãozinho?
O menino levantou uma das sobrancelhas, indeciso. A proposta era tentadora, já que havia passado todos aqueles meses ouvindo falar da chegada desse tal “irmão” e sempre que falavam isso, parecia uma coisa maravilhosa.
Sem esperar resposta, Harry se sentou ao lado de Gina e, com o filho mais velho no colo, apresentou o menino:
- James, este é seu irmão, Albus Severus Potter.
A sala ficou em silêncio, esperando a reação do garoto que até pouco tempo era o mais novo e, por isso mesmo, o centro das atenções de todos. James olhou para o menino branquelo, miúdo, de cabelos pretos e rebeldes, enrolado ainda na manta verde musgo. Depois olhou para a mãe e finalmente para o pai, demorando-se na avaliação. Por fim, apontou o cabelo de Harry e o do bebê e disse:
- Papai!
Todos riram da observação do pequeno. Realmente, Albus Severus era o único ali, além de Harry, que tinha os cabelos tão negros e atrapalhados.
- Tem razão, James! – comentou satisfeito o pai dos meninos – O Sev se parece com o papai e você se parece com a mamãe.
O menino sorriu satisfeito pela primeira vez e pegou a mãozinha do irmão que estava de fora da manta, dizendo:
- Sev! Imão de James!
Rony olhou para todos visivelmente envergonhado. Havia prometido a Hermione que tomaria um remédio quando a hora do parto chegasse, para poder acompanhá-la. Mas medicação nenhuma fez efeito e ele teve que ficar do lado de fora da sala e ver a mulher ser assistida pela mãe.
O trabalho de parto começou de madrugada, por volta das três da manhã, quando ela levantou para ir ao banheiro e sentiu a cama molhada. A bolsa havia estourado e eles precisaram correr para o St. Mungus.
Ela foi levada imediatamente para a maternidade, mas o Dr. Erick não pôde vir atendê-la de imediato. Havia duas outras bruxas na mesma situação delas, de modo que Hermione ficou nas mãos das enfermeiras.
A dilatação ainda estava pequena, o que indicava que a pequena bebê Weasley ia demorar a nascer.
O Dr. Erick só chegou ao quarto de Hermione por volta das seis e meia da manhã e encontrou sua paciente urrando de dores, com os cabelos fofos empapados de suor. As contrações estavam cada vez mais fortes, porém a dilatação não havia aumentado.
- Sr. Weasley, o caso aqui é sério e eu preciso que o senhor tome uma decisão. Nós podemos induzir o parto normal com uma poção para aumentar a dilatação, que é o fator crítico no caso da sua esposa. Ou podemos optar por um procedimento cirúrgico que os trouxas chamam de cesariana.
- Qual o menos arriscado?
- Os dois têm grandes riscos. No caso da poção, se ela não fizer efeito a tempo sua filha pode sofrer uma pequena parada respiratória e isso pode deixar algumas seqüelas. No caso da cesariana, ela precisará ficar em observação por 48 horas assim como sua esposa.
- Então está decidido. Antes 48 horas de observação do que uma vida inteira de terapia. – falou amargurado.
- Nós fazemos essa pergunta por que muitos pais não admitem procedimentos trouxas nesses momentos.
- Minha mulher é nascida trouxa, Dr. Erick. E ela é melhor do que muito bruxo que eu conheço. O mundo dela também tem suas qualidades. Agora vá lá para dentro e faça o seu trabalho.
As palavras de Rony eram duras. Não só com o médico, mas com todos que se dirigiam a ele. De certa forma, era o jeito dele se punir, pois acreditava que todas as complicações que Hermione havia enfrentado eram culpa sua.
Agora, ali, diante de Harry, o remorso bateu mais forte ainda, já que ele vivia imaginando se Julia não tivesse feito aquela besteira, talvez seu sobrinho tivesse nascido no tempo certo.
Abriu a boca para se desculpar com o amigo, mas um chorinho fraco se fez ouvir e a porta da sala de parto se abriu com uma enfermeira sorridente.
- Sr. Weasley, sua filha acaba de nascer. Ela é linda e saudável. Quer entrar para vê-la?
Os olhos do ruivo brilharam intensos, um misto de alegria, euforia e reflexos da luz do sol nas lágrimas que já começavam a se formar. Ele deu uns tapinhas no ombro de Harry e correu para o quarto.
Estancou assim que entrou no cômodo, impedindo o resto da família de passar.
Hermione estava linda. A expressão cansada, a testa ainda molhada com algumas gotas de suor que não escorreram, os cabelos fofos armados além da conta e presos de um jeito incomum por um laço azul claro. Em seus braços, um pacotinho cor de rosa, com visíveis cabelos vermelhos já marcando o pequeno rostinho em forma de coração.
A jovem mãe lançou um olhar apaixonado para o marido e estendeu uma das mãos para que ele aproximasse. Rony atendeu de imediato e se acomodou ao lado das duas mulheres da sua vida.
Toda família ficou contemplando o rostinho delicado da mais nova Weasley. Ainda não tinha sardinhas, mas era provável, pela cor vermelha dos cabelos e pelos cílios quase brancos, que as tivesse em breve, assim que tomasse o primeiro banho de sol.
- E qual vai ser o nome da minha neta? – quis saber a Srª. Granger.
- Julianne. – respondeu Rony de imediato.
- Ela não tem cara de Julianne – disse Hermione amuada, olhando o rostinho tranqüilo da filha.
- Não mesmo! – palpitou Gina, que carregava Albus Severus no colo – E esse nome ainda lembra o daquela bisca. Vocês estão loucos que eu vou deixar minha afilhada ter o nome de uma maluca!
O novo casal de pais se entreolhou meio assustado. Não haviam atentado para este detalhe.
- E agora? – perguntou a mãe de Rony.
Foi uma chuva de sugestões. As de Harry eram as mais rejeitadas, acompanhadas de risadas e condolências à Gina que, se algum dia tivesse uma menina, certamente seria “contemplada” com um dos belos nomes sugeridos pelo marido.
Mesmo os nomes mais bonitos pareciam não combinar com a pequena Weasley ali adormecida no colo de sua mãe.
Rony pediu à esposa que o deixasse segurar a neném por alguns minutos. Hermione ajeitou a garotinha com cuidado nos braços fortes do pai e ela espreguiçou satisfeita, tendo mais espaço do que no colo da mãe.
O ruivo sorriu emocionado, aproximou a boca com cuidado da testinha rosada da filha, depositou ali um beijinho de leve e comentou em seguida:
- Ela tem cheiro de flor. De rosas vermelhas.
Hermione olhou séria para ele, que chegou a se arrepender do comentário e justificou:
- Eu sei que é loucura, ela nem tomou banho direito, mas eu sinto isso. Deve ser emoção, não liguem...
- É isso! – cortou a mulher emocionada – É esse o nome, Rony. Rosa! Rosa Elise Weasley. Você concorda?
Rony olhou novamente a menina aninhada em seus braços. Sentiu um carinho aquecer seu peito de um jeito ímpar. Beijou o rosto da esposa, em seguida o da filha e disse:
- Perfeito, Mione! Como tudo o que você faz... Não é, minha flor?
A menina deu um sorriso involuntário e todos os presentes sorriram juntos, pensando no quanto a vida havia sido generosa com eles. Após um rigoroso inverno de anos e anos lutando contra comensais, enfrentando perigos inimagináveis, a primavera voltava a fazer parte da vida de todos ali. Agora mais que nunca, na presença de uma pequena Rosa para somar ainda mais cor e perfume à grande família Granger-Weasley-Potter.
Comentários (4)
Adorei parabens!!!
2012-07-01Leia tambem : http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=43756
2012-06-29Lindissimo esse final... amei mesmo!
2012-03-12Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh ameiiiiiiiiii nossa consegui terminar de ler em menos de 24 horas *-* Perfeiiiita! Ameiiiiiiiiiiiiii!
2011-11-23