Uma Noite de Surpresas
Uma Noite de Surpresas
Rony andou sem rumo certo. As ruas da cidade, mesmo banhadas pelo sol da primavera, pareciam-lhe frias e cinzentas. Pensava em tudo o que havia ouvido há pouco: Hermione desacreditara do seu amor. Não, não do seu amor, mas da amplitude daquele sentimento que ele carregava em si desde os 12 anos de idade, quando descobriu para que serviam as meninas.
Quando finalmente decidiu voltar para casa, o céu já começava a ficar alaranjado e um movimento involuntário na barriga do auror o fez lembrar de que ainda não havia comido nada.
Aparatou em casa e já se dirigia à dispensa quando se atentou para um detalhe: não havia feito compras, e como Hermione estava fora de casa desde antes dele, certamente não teria nada ali que servisse para consumo humano.
Gina. Lembrou-se da irmã que, nos últimos tempos, desenvolvera uma habilidade culinária bastante semelhante à de sua mãe e optou por tomar um banho e ir até a casa dela.
Foi para o quarto e, sem pensar em que roupa vestiria, entrou debaixo do chuveiro quente. O corpo foi relaxando aos poucos e ele acabou se deixando sentar no piso de azulejos cinza claro, onde ficou por um bom tempo, sentindo a água quente acalmar não só seus músculos, mas também seus pensamentos.
Quando saiu do banho, sentia-se renovado e pronto para acertar tudo o que considerava fora do lugar em sua vida. Abriu a gaveta da cômoda em busca de uma última camiseta limpa e só então notou o porta-retrato de madeira ao lado de alguns frascos de perfume.
Esqueceu-se da camisa e sentou na cama com o objeto nas mãos. Era uma foto de seu casamento. Hermione, com um tradicional vestido branco e um arranjo de flores de laranjeira enfeitando os cabelos fofos, sorria muito. Eles brindavam com duas taças de champanhe e ela jogava os braços ao redor do pescoço dele, insistindo para que dançassem.
Sorriu saudoso. Poderia jurar que aquele era o dia mais feliz de sua vida. Foram seis meses de noivado, apenas o suficiente para que ela aprontasse o vestido. Lembrava de cada detalhe, até mesmo do pedido de casamento feito de supetão, durante um passeio no Beco Diagonal.
- Vem, Rony! Eu preciso de penas novas – dizia Hermione, afoita.
- Eu juro que não entendo essa sua obsessão com penas, Mione. Desde que a gente se conhece é só passar pelo Beco que você inventa que precisa de penas. Acho que em outra vida você deve ter sido um frango depenado – respondeu Rony enquanto acompanhava a namorada com passos ágeis.
- É que eu escrevo muito no serviço e penas gastas...
- Já sei: “penas gastas deixam a letra borrada”. – completou imitando a voz da moça e ganhando um tapinha carinhoso no ombro.
- Deixa de implicância comigo. Tá, eu gosto de penas. Mas tenho certeza que não fui um frango depenado. Por acaso você foi um cabo de vassoura por gostar tanto de voar?
Ele riu e entrou na Dervixes & Bangues atrás dela. Deixou-a à vontade para escolher mais uma pena para sua coleção. Ela já tinha penas suficientes para fazer inveja a um hipogrifo, mas não era isso que o estava preocupando naquela tarde.
Em seu bolso, uma pequena caixinha coberta com veludo preto pesava e parecia chacoalhar impaciente. Ele enfiou a mão no bolso e apertou-a, como para impedi-la de saltar dali.
Há uma semana havia comprado o anel de noivado perfeito para Hermione. Feito de ouro branco, com um rubi bem “grifinório” e pequenos entalhes de folhas pela lateral. Planejava pedir a mão da namorada num jantar formal e elegante, do jeito que ela merecia.
Mas desde então não conseguia tirar as mãos de cima do pequeno e delicado objeto. A caixinha já apresentava algumas discretas marcas de suor e ele pensou que, se não fizesse o pedido logo, acabaria fazendo o embrulho desmanchar.
- Rony, qual delas você acha que combina mais comigo? – perguntou a moça, em dúvida entre três penas diferentes.
- Nenhuma, Mione. Eu acho que isso é o que mais combina com você! – respondeu sem pensar muito bem no que fazia, tirando a caixinha do bolso e colocando-a aberta ao lado das penas.
A loja, cheia de clientes, foi gradativamente caindo num silêncio ansioso. Não eram todos os dias que um pedido de noivado acontecia entre penas e pergaminhos. E assim como Rony, os fregueses e atendentes aguardavam a resposta.
Mas a moça ficou muda. Olhava atônita do anel para o ruivo ao seu lado, que já começava a pensar que havia feito besteira.
- Se você quiser um tempo para pensar... – começou ele, mas logo não viu mais nada.
Hermione o abraçou com o mesmo ímpeto que da primeira vez que se beijaram. A loja explodiu em aplausos, assobios e risadas emocionadas. Quando ela finalmente colocou o anel no dedo, ainda rubra de vergonha, a balconista que antes a atendia se aproximou com uma pena vermelha e disse:
- Tome, senhorita. Esta pena combina mais com a senhora, e agora com seu anel. É um presente da loja!
Rony sorriu mais uma vez. Colocou o porta-retrato onde estava antes e vestiu a camisa. Mas não acabou de se aprontar. A foto do casamento mexeu com uma parte sua que nem ele sabia existir. Com as imagens da cerimônia vindo à sua cabeça, saiu pela casa à procura das outras fotos daquele dia.
Elas estavam espalhadas por todos os lados, em quadros nas paredes, na estante da sala e num mural na cozinha, no qual Hermione colocava as fotos “mais divertidas” deles e dos amigos.
Nunca havia reparado tanto naquelas fotos. Nem se lembrava mais do momento em que a noiva jogou o buquê, as madrinhas empurrando uma a outra para pegá-lo e, no fim das contas, o arranjo caindo no colo de uma Luna bem mais interessada nos enfeites de marzipã.
Antes de saírem em Lua-de-mel, eles reuniram os amigos para uma foto juntos. As moças já estavam descalças e sem os enfeites nos cabelos, enquanto os rapazes traziam as vestes desamarradas no pescoço e as mangas dobradas para afugentar o calor.
Agora achava tudo bonito demais para ter se esquecido. Mas até então não precisava olhar para elas tendo Hermione pessoalmente ao seu lado todos os dias. O som de suas risadas, seu olhar concentrado até para cozinhar um macarrão instantâneo e o perfume que ela espalhava pela casa quando saía do banho.
Ele não estava disposto a abrir mão de nada disso. E Gina o ajudaria. Mesmo que isso implicasse contar tudo para sua irmã. Tudo mesmo!
Acabou de se vestir, colocou o livro que Hermione queria que ele lesse sobre o travesseiro e aparatou diante da casa da irmã. Ouviu movimento na sala e bateu à porta, convicto de que assim que Gina o atendesse todos os seus problemas estariam resolvidos.
Harry atendeu e convidou o cunhado a entrar, explicando que a esposa estava no andar de cima, vendo se James e Teddy não estavam fazendo muita bagunça.
Rony entrou e conversou amenidades com o amigo. Guardaria o assunto sério para tratar quando Gina descesse. Aceitou de bom grado o lanche que Harry ofereceu e após preparem um sanduíche de carne fria e abrirem duas cervejas amanteigadas, eles sentaram na cozinha e começaram a comer.
Quando Gina finalmente desceu, parecia exausta. A barriga estava bem maior que a de Hermione, apesar da diferença de apenas um mês entre as duas. Cumprimentou o irmão com um sorriso desanimado e, com um esforço acima do normal, sentou-se na cadeira ao lado do marido.
- As crianças estão bem? – perguntou Harry, preocupado com a expressão meio abatida da ruiva.
- Estão ótimas! O Teddy quebrou algumas coisas no quarto quando deu umas voltas com a vassoura do James, mas foi só isso. Os dois estão lá dando gargalhadas! É incrível como o Teddy é tão estabanado quanto a mãe dele.
- E com aquela carinha de cachorrinho sem dono, a gente não consegue se zangar com ele – concluiu Harry com uma risada satisfeita.
- Hermione está bem? – perguntou Gina se virando para o irmão.
- Está! E é sobre ela que eu queria conversar com você – respondeu com um olhar “carente”, na expectativa de que isso deixasse sua irmã mais receptiva.
- Ah sim, o Harry me avisou que você viria falar comigo. Pode falar. Quanto antes resolvermos isso, melhor. Acho que eu não agüento essa barriga por muito mais tempo e eu não pretendo ir para o St. Mungus sem ter certeza que vocês dois se acertaram.
Apesar do jeito meio rude com que a ruiva falou, Rony começou a contar tudo o que o estava deixando chateado. Depois de quase meia hora de “falação”, concluiu com uma pergunta:
- Será que eu sou tão insensível assim para ela pensar que eu ia rejeitar minha própria filha?
- Claro que é – respondeu Gina com uma sinceridade seca. – Todo homem é insensível, Rony. O problema é que você e a Mione preferem tirar conclusões antes mesmo de falar e ouvir a verdade. Você acha que o Harry sacou de cara que minhas crises de choro, minha falta de apetite e a raiva que eu sentia eram sintomas de gravidez?
Rony olhou confuso para o amigo. Nunca havia conversado com Harry sobre aquele assunto.
- Ele chegou a querer me levar ao St. Mungus pensando que eu tinha levado um balaço na cabeça durante o treino – continuou Gina. – Mas antes que ele fizesse isso eu simplesmente avisei que não tinha nada a ver com balaços e sim com a possibilidade de eu estar grávida.
- Foi o melhor susto da minha vida – comentou o rapaz, que até então se manteve fora da conversa.
Gina sorriu para ele e voltou a falar com Rony.
- Você quer a sua família de volta e inteira?
- Que pergunta estúpida. Claro que quero! – retrucou zangado.
- Ótimo! Então converse com a Hermione. Com calma, num lugar agradável, feliz! Esclareça toda a confusão, e isso inclui mostrar a foto daquela bisca com quem você me fez o favor de aparecer abraçado no jornal.
A expressão de Rony se endureceu ao ouvir a menção sobre a foto do Profeta Diário, mas no fundo ele sabia que Gina tinha razão. Ainda conversou mais um pouco com eles e foi para casa, com a cabeça fervendo de idéias.
Precisava encontrar um lugar realmente bonito e que lhes trouxessem boas lembranças para ter aquela conversa. Já estava na porta de casa quando se lembrou que seria bom comprar alguma coisa para comer na manhã seguinte.
Foi até um armazém perto de casa, onde ele costumava fazer as compras. A fachada suja e estranhamente decorada com animais empalhados espantava os trouxas que passavam por ali, de modo que os bruxos do centro de Londres não precisavam se deslocar até o Beco Diagonal a toda hora.
Rony pegou pão, uma caixa de leite, geléia e ovos. Já ia passar no caixa quando avistou uma prateleira com revistas de todos os tipos. Correu os olhos pelas capas e encontrou uma que com certeza lhe ajudaria a reconquistar sua família.
Voltou para casa, ansioso, e se jogou na cama de roupa e tudo. Leu a revista do começo ao fim, marcando com a varinha algumas coisas que achava que seriam úteis. Quando seu “projeto” já estava montado, pegou o livro que estava sobre o travesseiro e pensou que a leitura o ajudaria a dormir.
Era sempre assim, se estava sem sono era só procurar um dos livros da Hermione. Na segunda página ele já estava dormindo feito uma criança.
Mas esse livro era completamente diferente de tudo que já tinha visto e, quando deu por si novamente, já passava das três da manhã e ele já havia lido 11 capítulos. Mas não poderia parar de ler. Não quando estava prestes a saber o que Hermione tanto queria que ele soubesse.
Passou a página e corou involuntariamente ao ler o título do capítulo: Sexo e Gravidez. Leu as primeiras linhas ainda tímido, como se estivesse sendo observado, mas logo começou a entender a mensagem que a esposa deixara bem claro para ele: ela seria mãe em breve, mas ainda era uma mulher. E isso seria uma ótima desculpa para acelerar o processo de reconciliação entre eles.
Procurou um pergaminho e uma pena e deixou um bilhete pronto para mandar para a esposa:
“A gravidez é uma fase única e cheia de alegrias. E a maior delas é poder se lembrar como tudo aconteceu, revivendo esse momento a cada dia.”
O que esperar quando se está esperando - Página 146
Mione, você tinha razão. O livro é perfeito e o capítulo 12 é a melhor parte. Passo a tarde para lhe ver e fazer um convite. Não aceito “não” como resposta.
Com amor,
Rony
Adormeceu assim que tornou a se encostar ao travesseiro, tendo um sono calmo e sem imaginar que seria o centro da conversa entre sua irmã e seu cunhado na mesa do café da manhã.
- Harry, eu ainda acho que você devia avisar ao Rony que a bisca espanhola está na Inglaterra, fazendo intercâmbio no Ministério – falou Gina, enquanto se servia de uma xícara de leite quente.
- Para quê, amor? Não vai mudar nada do que aconteceu e ele está de licença do serviço.
- Sim, mas imagine o susto que ele vai tomar quando voltar na segunda-feira e der de cara com aquela uma sentada na mesa ao lado da dele. Só de pensar nela, meu estômago embrulha!
- Até lá eu quero me certificar de que ele e a Hermione estarão juntos novamente. Só isso.
- Tudo bem! Você é quem sabe. Mas se essa história de não falar abertamente der mais um problema, a culpa é toda sua, entendeu?!
Na casa dos Granger, Hermione se preparava para voltar ao serviço. Seu pai a deixaria na entrada do Ministério no caminho para o consultório. Já pegava a bolsa no quarto quando uma coruja bateu o bico insistentemente na janela.
Reconheceu de imediato a letra inclinada e meio tremida de Rony e não conteve um sorriso ao pensar que o marido não estava mais chateado com ela.
No serviço, as colegas deixavam apenas as tarefas mais leves para ela e isso incluía cuidar das circulares internas e recolher algumas assinaturas entre um departamento e outro, no que ela gastou toda a manhã.
Quando voltou do almoço, encontrou uma das colegas conversando com uma moça muito bonita. Era morena, dentes muito brancos exibidos num sorriso simétrico e tinha um sotaque indefinido.
- Hermione, - chamou Tracy, a funcionária mais antiga do departamento – venha até aqui conhecer a nova auror do Ministério.
Hermione olhou curiosa para o lado das duas e se aproximou devagar, esperando Tracy fazer as honras da casa.
- Esta é Julia Garcia de Gusman. Ela é uma auror espanhola e vai ficar aqui em Londres por um mês, num sistema novo de intercâmbio que o Ministério criou. Julia, esta é Hermione Jane Weasley, nossa funcionário modelo. Era para ser minha chefe, mas essa mocinha aqui – disse fazendo um afago na barriga de Hermione – não quis deixar.
- Encantada! – disse Julia com um sorriso ainda mais exagerado.
Examinou bem Hermione de cima a baixo. Weasley. “Então definitivamente era ela a esposa de Ronald”, pensou Julia. Avaliando as roupas, a postura de Hermione e o corpo já inchado pelo estágio avançado de gravidez, ela imaginou que não seria tão difícil ganhar da funcionariazinha do Ministério. E antes que pudesse dizer qualquer coisa, Tracy interrompeu o cumprimento com um gesto atrapalhado.
- Nossa, já ia me esquecendo. Hermione, o ministro mandou um bilhete para você.
A moça pegou o pergaminho, rompeu o lacre oficial e leu o bilhete. Depois dobrou o papel e o guardou no bolso. Sorriu para Julia e, virando-se para Tracy, comentou:
- Vou ter que ir para casa. Kingsley ameaçou adiantar minha licença maternidade se eu insistir em trabalhar o dia inteiro.
- E eu vou ser obrigada a concordar com ele – comentou a outra com sinceridade. Quer que avise seu pai para vis buscá-la?
- Não precisa, pego um táxi. Desculpe-me Julia, mas ordens do ministro. Quem sou eu para discutir? – despediu-se Hermione.
Ao perceber que Hermione já havia sumido no corredor, Julia não resistiu e, usando seu treinamento de auror, travou uma conversa sutil com Tracy, na qual ficou sabendo que Hermione fazia parte do círculo íntimo do Ministro, tendo lutado ao lado dele na guerra. Também soube que ela não estava morando na casa do marido há meses e que havia aberto mão do cargo no ministério por ter uma gravidez de risco.
Quando voltou para o hotel, no final da tarde, Julia pensava satisfeita que aquela seria uma briga de “cachorro grande”. Do jeito que gostava. E já que Hermione não estava morando com o marido, não haveria mal em fazer uma visita ao ruivo que a deixara com cara de boba na noite do baile. Pegaria o endereço dele no quartel no dia seguinte. Tinha uma idéia que considerava perfeita e seria bem mais abusada se fosse preciso.
Em casa, Hermione passou a tarde olhando pela janela do quarto. De lá conseguiria ver se Rony se aproximava. Ria de si pensando o quanto era absurdo que ela, uma mulher que dentro de mais dois ou três meses se tornaria uma verdadeira mãe de família, estivesse se sentindo como uma adolescente apaixonada.
Ao contrário do que imaginou, Rony só apareceu lá pela hora do jantar e encontrou a esposa de camisola e chinelos de pano. Havia desistido de esperá-lo na janela e agora assistia TV com o pai.
Ele entrou na sala, guiado pela sogra e Hermione tentou se levantar depressa, mas já não tinha tanta mobilidade assim.
- Venha, vamos conversar lá dentro – chamou a moça.
Rony a seguiu sem contestar e a ajudou, satisfeito, a subir os degraus que davam para o quarto da moça. Eles se sentaram na cama e ficaram se olhando.
- Recebeu minha mensagem? – perguntou o ruivo.
- Recebi, achei que você viria mais cedo. – respondeu em tom de decepção.
- Eu juro que tentei. Mas estava resolvendo algumas coisas urgentes. Não fique chateada, eu tenho certeza que você vai gostar quando souber o que é.
Ela sorriu, curiosa, mas não insistiu para que ele contasse. Rony não era um cara muito bom em guardar segredos e, se ele queria realmente fazer uma surpresa, ela precisava colaborar.
- Tem planos para amanhã? – Rony tornou a perguntar.
- Nada em mente, por quê?
- Queria te levar para jantar. O que acha?
- É uma idéia incrível! – respondeu animada. – Aonde vamos?
- Pensei em irmos ao Khans, você adora comida indiana.
Ela fez um careta que indicava que não gostava de comida indiana há um bom tempo.
- Que tal o Bertorelli? Ou o The Albert? – mas nada parecia agradá-la. – O Blue Post. Nosso lugar favorito!
- Eu não quero mais voltar ao Blue Post. A nossa última briga foi lá – respondeu de cabeça baixa.
Aquilo era um problema para Rony. A maioria dos bons restaurantes fazia Hermione ter enjôo e o único cuja comida ela ainda apreciava havia sido o palco da discussão mais forte dos dois. Franzindo a testa para pensar numa solução, pegou a mão da esposa e a levou aos lábios, dando um beijo para lhe dizer que estava tudo bem.
- Bom, eu vou dar um jeito e escolher um lugar bem legal. Posso passar aqui para buscá-la amanhã as oito?
Combinado o horário do jantar, Rony voltou para casa mais animado. A idéia que teve envolveria mais uma vez sua própria irmã, ou sua mãe, se Gina não tivesse a boa vontade de ajudá-lo.
Entrou na casa e percebeu a bagunça que havia feito durante a tarde. Várias caixas de papelão estavam espalhadas pela sala, sacos plásticos cobriam os móveis e um cheiro estranho dominava o local. Ele precisou abrir todas as janelas e fazer diversos feitiços para remover aquele cheiro forte do lugar, porque nunca aprendeu direito esses artifícios domésticos.
Depois da faxina, olhou orgulhoso para sua “obra prima”. Não sabia se ficaria do gosto de Hermione, mas achava que tinha feito um ótimo trabalho. Pegou um último embrulho que havia esquecido sobre o balcão da cozinha, abriu e colocou o seu conteúdo numa prateleira no quarto ao lado do deles. Fechou a janela, trancou as portas e foi se deitar. Precisaria levantar cedo no dia seguinte e encontrar um belo presente para Gina. Só assim a convenceria a preparar o jantar.
- Nossa, Rony! Obrigada. Essa blusa é linda e você bem sabe o quanto eu gosto de verde – dizia a moça enquanto servia para o irmão uma xícara de café. – Agora pode dizer o que você quer de mim.
- Poxa, eu não posso fazer um agrado para minha irmã caçula? – perguntou fingindo indignação.
- Rony, eu acho que o departamento de Aurores deveria pagar um curso de interpretação para você. Mentir é uma das coisas que definitivamente você não sabe fazer.
Ele riu encabulado, coçando a cabeça e atrapalhando ainda mais os cabelos.
- É, você está certa. Eu preciso de um favor seu.
Em poucas palavras ele contou tudo o que fez no dia anterior e a idéia que teve para um jantar romântico com Hermione. Gina o olhava, espantada, e após aceitar contribuir com o plano dele, comentou:
- Sabe, até que você não tem a colher tão rasa assim!
- O quê?
- Nada não. Coisa minha e da Mione.
Os dois trabalharam o dia inteiro. Rony ajudou a irmã como pôde, pegando as vasilhas, passando-lhe os ingredientes e não permitindo que ela se esforçasse muito. Às seis da tarde tudo estava arrumado.
Ele precisou aparatar várias vezes para levar toda a comida até em casa, onde pretendia realizar o jantar. Quando tudo estava no lugar, Gina usou a Rede de Flu para ajudá-lo a decorar a sala.
Uma mesa redonda e pequena foi colocada no meio da sala e coberta com uma toalha branca. Os pratos e talheres foram escolhidos a dedo no meio de todos os utensílios que eles ganharam de presente de casamento. Um vaso com uma rosa vermelha foi colocado no centro da mesa, entre os dois castiçais que forneceriam a única luz permitida naquela noite.
Ele reuniu todas as fotos dos dois, desde muito novos, e espalhou pela sala, decorando tudo com o que ele chamou de “lembranças felizes”. Era importante que Hermione se lembrasse de tudo de bom que eles já viveram, para eles se aceitarem novamente e viverem felizes como deveriam ser desde sempre.
Tudo parecia perfeito e Gina olhava para o irmão orgulhosa. Ele sorriu quando notou a expressão dela e saiu da sala dizendo que faltava um último detalhe. Voltou em seguida com uma caixa dourada, enfeitada com um laço vermelho.
- O que é isso? – perguntou curiosa. – Desse presente você não me falou nada.
- Comprei na hora que fui ao supermercado. Acho que se tudo der realmente certo, Hermione vai precisar disso.
- Posso ver? – perguntou Gina com uma ansiedade semelhante a de uma criança que vê os presentes sob a árvore de Natal.
Rony se sentiu levemente desconfortável, mas não seria justo esconder aquele pequeno detalhe de sua irmã. Não depois de tudo o que ela havia feito por ele e pelo seu casamento. Abriu a caixa com cuidado para não estragar o embrulho e, desdobrando o papel de seda que envolvia o conteúdo, mostrou o que havia comprado.
A ruiva se aproximou da caixa e ficou ainda mais pasma com o irmão. O presente que ele daria para a esposa era uma camisola de seda cor de pérola, com um belo decote nas costas ornado com rendas da mesma cor.
- Uma camisola de seda? Mas será que vai servir? – perguntou tocando de leve o tecido delicado.
- Vai sim. É uma camisola de gestante, Gina. Não se preocupe, eu olhei bem antes de comprar.
- Você não existe, Rony! – exclamou a ruiva, dando um beijo estalado na bochecha do irmão e se despedindo, afinal ele precisava se aprontar para buscar Hermione em pouco tempo.
Tomou banho, fez a barba, escolheu sua melhor roupa e o perfume que a esposa mais gostava. Aparatou numa rua calma, perto da casa dos pais dela e tocou a campainha faltando menos de cinco minutos para as oito.
- Ronald! – falou um animado Sr. Granger. – Essa é a primeira vez que o vejo ser pontual.
O ruivo sentiu as orelhas queimarem, mas sustentou o olhar sorridente do sogro e o cumprimentou, entrando no hall.
- Hermione já vai descer – falou o homem que ainda vestia sua roupa branca de dentista. Chegando ao pé da escada, gritou para o alto: – Mione, Ronald já chegou.
Os dois homens se sentaram na sala, mas não tiveram muito tempo de conversar, pois Hermione logo apareceu. Usava um vestido amarelo claro, o cabelo solto displicente e brincos de pérolas. Os mesmos brincos que usou no dia do casamento, detalhe que Rony reparou com um sorriso encantado.
- Eu não sei que vestido escolher – dizia ela procurando um modelo numa revista de noivas.
- Por mim você não precisaria usar nada. – disse zombeteiro.
- Ótima idéia, Rony! Vai ser maravilhoso ver a tia Muriel tendo um ataque cardíaco ao perceber que foi convidada para um casamento nudista.
O ruivo não segurou uma gargalhada. Mas continuou com a brincadeira:
- Não sei o que seria pior, ela ter um ataque ou gostar da idéia e tirar a roupa também.
Os dois riram durante um bom tempo, e sempre que imaginavam a cena, faziam caretas e riam novamente. De repente, Hermione ficou séria e encarou uma página da revista.
- Vai ser este aqui – disse ansiosa.
Rony olhou sobre o ombro da noiva o modelo que ela apontava. Era realmente muito bonito, mas ele não conseguiu se empolgar. Hermione olhou para ele como se esperasse aprovação.
- É bonito... – comentou indeciso, olhando para o vestido e para a noiva alternadamente.
- Só isso? – perguntou decepcionada.
- Não, é muito bonito, mas... Você tem que me prometer uma coisa.
- O quê?
- Que não vai prender os cabelos – pediu com um olhar apaixonado. – Eu gosto deles assim, livres.
Ela deixou a revista de lado e o beijou, respondendo:
- Prometo! Nada de cabelos presos.
Quando o dia do casamento chegou, ele viu que não havia pedido nada absurdo. Aqueles cachos castanhos caíam pelas costas da moça, enfeitados com poucas flores brancas e ela usava um delicado par de brincos de pérolas. E ali, esperando-a no altar, ele sentiu que não precisaria de mais nada em sua vida enquanto aqueles cachos se espalhassem no travesseiro ao lado do seu.
- Rony, está tudo bem? – chamou Hermione despertando o ruivo de suas lembranças.
- Está. Só estava pensando no quanto você está linda! Vamos? – chamou animado.
- Vamos sim.
Os dois ganharam a rua e logo acharam um táxi. Rony deu o endereço ao motorista e Hermione o olhou curiosa.
- Mas esse é o endereço da nossa casa.
- É, eu sei. Preciso passar lá primeiro. Esqueci uma coisa – mentiu descaradamente.
Pagou o taxista, atrapalhando-se um pouco, e logo foram para a varanda da casa. Eles moravam numa rua tranqüila e quase sem movimento. Rony destrancou a porta com a varinha, mas não deixou que Hermione entrasse.
- Espera só um instante – pediu baixinho.
A morena aceitou o pedido e imaginou que a casa deveria estar uma verdadeira bagunça, pior até que o sótão da Toca. Mas a porta se abriu novamente e ele falou, pegando-a pela mão:
- Agora feche os olhos.
Com um sorriso incrédulo, Hermione fechou os olhos e sentiu o marido a conduzir para dentro da casa. Ouviu, quando a porta se fechou atrás de si, o murmúrio dele para trancar a fechadura.
- Prontinho – falou o ruivo parando ao lado da esposa.
Hermione abriu os olhos devagar e sentiu sua respiração falhar ao ver tudo que ele tinha feito.
- Você... Você fez... – mas não conseguiu falar nada, apenas apertou a mão dele e murmurou: – Amo você, Rony!
Ele a envolveu num abraço apaixonado seguido de um beijo sincero.
- Também amo você, senhora Weasley! Mas a noite está apenas começando. Venha, vamos jantar.
Eles se serviram dos quitutes preparados por Gina e, no lugar de vinho, Rony serviu suco de abóbora.
- Eu sei que não é uma bebida romântica, mas eu li naquele seu livro que grávidas não podem ingerir álcool, então...
- É a bebida perfeita, amor – interrompeu com um sorriso cada vez mais iluminado.
- Mione, pra essa noite ficar perfeita eu preciso saber se você quer nossa família de volta. Se vocês duas querem ser minha família - havia uma ansiedade dolorida no modo como ele fazia a pergunta.
- Queremos, Rony. Lógico que queremos. Mas a gente precisa colocar todos os pingos nos is antes, não acha? Contar tudo o que aconteceu enquanto estivemos longe um do outro, o que pensamos um do outro.
- Sim, precisamos, e eu estava disposto a fazer isso esta noite. Você concorda?
Ela assentiu com a cabeça e ele a conduziu até o sofá. Ali, de frente um para o outro, começaram a conversar. Contaram tudo que fizeram e Rony não escondeu nem a passagem da foto com Julia.
- Eu vi essa foto – comentou Hermione se esforçando para não se magoar com a história.
- Viu? Como? E o que... Mione eu juro...
- Não tem que me jurar nada, está bem? Fiquei esperando você criar coragem de me contar e agora estou feliz por ter feito isso. Se não me contasse eu teria motivos para duvidar de você.
- Eu nem chegaria perto dela se não fosse estúpido e precipitado, se soubesse que tinha uma flor crescendo dentro de casa – ele se jogou no colo da esposa, abraçando-a e enchendo a barriga dela de beijos. Ficou assim por um bom tempo e só quando foram esclarecidos todos os sentimentos e aceitos todos os pedidos de desculpa é que falou novamente. – Agora acho que posso te entregar isso aqui.
Puxou um embrulho debaixo de uma das almofadas do sofá e entregou para Hermione, que o abriu imediatamente.
- Isto é algum convite, Ronald Billius Weasley?
- Não, isto não é um convite, é um ultimato. Hoje você dorme aqui, na sua casa.
Os dois se perderam entre beijos e carinhos, demonstrando aquele amor intenso que sempre sentiram um pelo outro. Meia hora depois Hermione se levantou do sofá e disse que experimentaria a camisola.
Já estava a meio caminho quando Rony a chamou de volta.
- Ainda não, amor. Tenho outro presente.
- Outro presente para mim? – perguntou animada.
- Não, para você não. Esse presente é para ela – e apontou a barriga da esposa. – Vem comigo.
Eles foram até o quarto de visitas, que ficava ao lado do quarto deles. A porta estava fechada e Hermione o fitou intrigada. O que Rony estaria aprontando daquela vez? Ele rodou a maçaneta e empurrou a porta, acendendo a luz do cômodo.
As paredes, antes azul claro, estavam pintadas de lilás e pontuadas de pequenas flores brancas e amarelas. No centro do aposento, um berço de madeira clara se destacava, enfeitado com um móbile de fadinhas brilhantes e um mosquiteiro branco. O colchãozinho pequeno estava coberto por um edredon que combinava com a nova decoração. Muitas prateleiras estavam repletas de bichos de pelúcia, bonecas e, o que ela mais gostou, livrinhos infantis. O armário embutido também havia sido pintado e já guardava uma boa quantidade de fraldas e roupinhas. A janela agora era coberta por uma cortina amarela com flores lilás, fazendo imagem oposta às paredes, e perto dela uma confortável cadeira de balanço estofada de camurça bege completava a decoração.
- Eu não sou tão bom decorador, então, se você quiser mudar alguma coisa, ou mesmo tudo, é só dizer – comentou encabulado com a mudez da esposa.
- É quase perfeito, Rony. Só falta uma coisa.
- O quê? – perguntou olhando para tudo e pensando o que ele poderia ter esquecido.
- Falta ela sair daqui.
O ruivo suspirou aliviado. Abraçou a esposa por trás e ambos ficaram ali, encantados, apreciando o quartinho da pequena Weasley que dentro em pouco estaria ali, enchendo a casa com seus gritinhos de criança.
Comentários (3)
Estou vendo uma dor de cabeça....hahahaha
2014-04-14Simplesmente lindo e encantador...
2012-03-12Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh perfeiiiiiiiiito capitulo...Muiiiito lindo *-----------------* ahhhh Gina diva *-* Mione linda....Rony fofo *-*
2011-11-23