O outro lado da História
CP 06 – O outro lado da história
— Rony! O que você acha disso? Eu estou com medo do que pode acontecer... – Hermione tinha a voz tremida. Harry tinha acabado de sair pelo buraco do retrato, agora Rony abraçava a amiga, afagando seus cabelos.
— Eu não sei... Mas a gente tem que fazer o que o Harry disse. Vamos – ele desembrulhou o frasco de poção e entregou para ela –, tome um pouco.
— Não, toma você primeiro...
— Toma logo! Lembra do que o Harry disse? Eles estão agindo, a gente não tem tanto tempo.
— Tá bom...
— Isso, acho que o que sobrou dá pra mim e pra Gina. Agora é o seguinte... Mione, para de chorar, você tem que se controlar! Você é a parte pensante daqui, devia estar pensando em algum plano. Olha, vamos fazer o seguinte: você vai chamar o resto da AD com aqueles galeões, enquanto isso eu vou atrás da Gina, ela disse que ia à casa do Hagrid.
— Certo, desculpe, já estou indo. – ela enxugava as lágrimas do rosto e olhava para Rony, sorrindo, feliz com o surto de maturidade dele.
Ela se levantou e foi para o dormitório das garotas. Rony pegou o frasco, que ela deixara em cima da poltrona, e tomou um pequeno gole, deixando a maior parte para sua irmã. Levantou-se, colocou o vidrinho no bolso e saiu da sala. O sol quase não aparecia mais pela grande janela do corredor. O coração de Rony pulsava como uma bomba em seu peito, mas ele nunca esteve tão seguro do que deveria fazer, sentia a sorte fluindo por suas veias.
Andava quase correndo, descendo as escadas aos pulos, até que chegou ao segundo andar e ouviu uma voz exaltada. Aproximou-se devagar e percebeu ser a voz do Harry. Estaria ele discutindo com Dumbledore? Preferiu ficar ali, escondido antes da curva do corredor, atrás de uma armadura, tentando ouvir o que diziam. Então ele viu Draco Malfoy aparecer na ponta do corredor e entrar correndo no banheiro das garotas, aquele que dava passagem à Câmara Secreta, levando Gina arrastada ao seu lado. Rony congelou e não conseguiu mover um dedo, até ver Harry passar correndo e entrar no banheiro. Livrou-se da paralisia momentânea e seguiu para o mesmo lugar.
— Filho da… – Harry estava perto da pia que levava ao túnel da Câmara.
— HARRY! – Rony se aproximou da porta, esbaforido – O que houve agora?
— O Draco, aquele desgraçado... Levou… Caramba… A Gina! Rony, por favor, vá até o saguão de entrada e avise ao Dumbledore que eu não poderei ir, ele deve ir sozinho.
— Como assim, Har…
— VÁ! Eu não tenho tempo, não sei o que aquele maluco vai fazer com a sua irmã... Agora vai!
— Tá, tá...
Rony virou-se e dessa vez saiu correndo pelo corredor, quase derrubando uns alunos que passavam no primeiro andar. Chegou ao saguão derrapando e lá estava Dumbledore, esperando, com aquele ar calmo de sempre.
— Dumbledore...
— Ronald. Acalme-se, respire, o que ouve?
— O Harry... puf… não vai… puf… poder vir.
— Entendo – ele levantou uma sobrancelha, preocupado –, deve ter alguma razão para isso, estou certo?
— Sim… Longa história, mas se o senhor me permite, tenho que voltar para o salão da Grifinória.
— Se me permite a ousadia, Ronald, gostaria que não voltasse. – Dumbledore falava calmamente, Rony estranhou aquilo – Creio que a tarefa que tenho para fazer hoje seja muito complexa para se completar sozinho.
— Então o senhor quer que eu vá com você?
— Sim.
— Mas... Eu não estou preparado, foi o Harry que você treinou o ano todo, não eu.
— No momento eu acho que você tem a mesma preparação do Harry, afinal ele não se lembra das aulas que teve. E todas as informações que ele descobria, contava a você, não é?
— É-é... Mas o Harry sempre foi melhor que eu.
— Ah, não fale bobagens, Ronald. Você também é um grande bruxo. Você não reclamava de estar sempre à sombra do Harry? Esta é sua chance de mostrar que também é um grande aluno da Grifinória.
— Certo – Rony sentiu uma grande alegria ao ouvir isso, e a poção em seu sangue pareceu vibrar.
— Só devo alertá-lo, assim como alertei seu amigo, que será uma viajem muito perigosa. Tem certeza que quer ir?
— Tenho, senhor, a sorte está comigo hoje.
— Muito bem, vamos então.
Os dois desceram a escada de entrada juntos. Rony mal podia segurar a felicidade de estar indo a uma missão com Dumbledore, o maior bruxo da atualidade. A empolgação era tamanha que ele chegou a esquecer do que tinha acontecido com a irmã. Quando lembrou, sentiu-se culpado, e arriscou pedir uma coisa ao diretor.
— Dumbledore, posso pedir uma coisa?
— Diga.
— O senhor poderia esperar mais cinco minutos? Preciso avisar uma coisa à Hermione, é importante, depois eu explico para o senhor o que aconteceu.
— Tudo bem – Dumbledore olhou para o céu quase totalmente escuro agora –, mas não demore, já estamos atrasados.
O garoto voltou correndo para o castelo quase caindo na grama. Ao chegar à sala comunal da Grifinória, encontrou Hermione descendo as escadas do dormitório. Ele foi correndo até ela, derrubando um quintanista no caminho. Explicou a ela rapidamente o que acontecera com Harry e Gina, e que estava indo com Dumbledore no lugar de Harry.
— Mas, Rony! Como você vai fazer isso? Você não está tão preparado como o Harry, vai ser muito perigoso...
— O que? Você acha que eu sou muito ruim pra fazer isso, é?
— Não! É que vai ser muito arriscado. Você pode se machucar, quebrar a varinha de novo e...
— Se você não me acha capaz por mim mesmo, eu tomei o Felix Felicis, esqueceu? E eu não sou tão burro como você pensa, para quebrar outra varinha.
— Não é isso que eu quis dizer, seu bobo! – Hermione fazia força para lágrimas não escorrerem por sua face, mas sorria – Eu só não quero que você se machuque ou coisa pior... – Ela segurava os cabelos ruivos dele.
— Ah, é isso? Relaxa, Mione, eu vou me cuidar, e Dumbledore vai estar lá. – ele sentia a poção dizendo para ele abraçá-la.
— Seu burro – ela ria, entre as lágrimas – será que você não percebe?
Rony não se segurou mais e a beijou. Seus lábios se colaram e suas almas pareceram se fundir. Hermione estremeceu ao toque dos lábios. Ele a segurava pelas costas e afagava seus longos cabelos. Ela o agarrava com força, como se não quisesse o deixar sair. Aquele minuto que se passou pareceu um milênio, mas Rony tinha voltar, então parou o beijo, mesmo não querendo.
— Eu tenho que ir, Mione, Dumbledore está me esperando. – ele tinha uma cara de quem não queria sair dali.
— Boa sorte. – ela ainda chorava, mas de felicidade – E vê se volta inteiro.
— Pode ter certeza. Agora tenho mais motivos pra voltar vivo.
Ele saiu rápido da sala, antes que mudasse de idéia. Sabia que não ia acontecer nada grave, se sentia imortal naquele momento. Desceu novamente correndo para o saguão de entrada, mas levou um susto quando chegou. Lá estava Gina, subindo as escadas, vindo da casa de Hagrid, sorridente, e olhava pra ele como se nada tivesse acontecido.
— GINA! Como você... Cadê o Harry?
— O Harry? Acho que ele está na biblioteca, foi lá que ele estava quando eu saí.
— Não, como assim? E o Draco, ele tava te arrastando, eu vi!
— Que Draco, Rony? Você tá ficando doido? Eu estava na casa do Hagrid, e garanto que o Malfoy não foi fazer nenhuma visita para o nosso amigo.
— Mas como?! Eu te vi! Ele tava te arrastando para a Câmara. O Harry foi atrás...
— Como assim digo eu, Rony! O que aconteceu? Onde está o Harry? – a voz dela tinha ficado um pouco assustada agora.
— Eu não sei... Eu estava vindo aqui em baixo para te procurar, aí encontrei o Harry e o Draco no caminho. O Malfoy tava te arrastando pelo braço e te levou para a Câmara Secreta, ai eu consegui falar com o Harry, ele me mandou avisar o Dumbledore que não poderia ir, então entrou no túnel da Câmara. Eu vim aqui embaixo e o Dumbledore me mandou ir com ele. Ai eu subi pra avisar a Mione e... Enfim, eu desci de volta e te encontro aqui. Mas se você está aqui, quem estava lá?
— Eu não sei... – Gina estava muito confusa – Mas eu vou atrás do Harry agora mesmo!
— Calma, Gina! Você não sabe o que... – mas a garota já tinha subido as escadas para o primeiro andar e sumido de vista. Não vendo outra alternativa, Rony se virou e desceu as escadas do saguão, indo se encontrar com Dumbledore.
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O coração de Hermione estava acelerado quando Rony saiu da sala comunal, ela não conseguia conter o aperto em seu peito, nem as lágrimas que escorriam por seu rosto. Um misto de alegria e preocupação tomava conta dela, ao mesmo tempo ela estava feliz pelo beijo que acabara de ter e apreensiva com o fato de Rony ter ido naquela missão. Ela ainda sentia a boca dele colada na sua e temia não sentir isso nunca mais. Desabou no sofá, apoiando o rosto choroso com as mãos. Demorou a ela perceber que tinha sentado em cima de alguma coisa dura. Apalpou o lugar onde tinha sentado e achou um frasco de vidro. Rony tinha deixado cair o Felix Felícis enquanto eles se beijavam. O frasco estava pela metade, ele não tinha tomado quase nada, deixando uma grande quantidade para a irmã. “Aquele bobo durão... Se preocupa mais com os outros do que com si mesmo.” Um medo estrondoso bateu no peito dela, além de ir para um lugar onde poderia morrer, ele quase não tinha tomado a poção da sorte. Era um idiota mesmo. Será que deveria ir atrás dele? Não podia deixá-lo sozinho, desprotegido. Estava decidido, ela ia junto.
A garota se levantou, certificou que sua varinha estava bem guardada no bolso, ajeitou os cabelos cheios, colocou o frasco da poção cuidadosamente no bolso e saiu apressadamente na direção ao buraco do retrato. Antes de chegar ao seu destino, porém, Neville a encontrou, afoito, correndo em sua direção.
— Mione, eu vim assim que vi a chamada. O que houve?
— Neville, desculpe, mas eu tenho que falar rápido. Eu estou indo com o Rony numa missão importante, portanto vai ficar em suas mãos a segurança de Hogwarts essa noite. Olha, fique com o Mapa do Maroto, observe os passos de Snape e de Draco, aonde quer que eles vão. Chame a Luna para te ajudar e, se for possível, alguém mais. Draco está tramando alguma coisa hoje, e pelo que parece já entrou em ação, levou a Gina para a Câmara Secreta, o Harry foi atrás dele – a cara do garoto parecia cada vez mais espantada, enquanto ela contava tudo – Eu sei, é tudo muito confuso. Mas você precisa fazer isso. Se for preciso, chame a McGonagall, ela é da Ordem da Fênix, é de confiança.
— Mas, Mione...
— Neville, eu não tenho tempo. Faça o que eu disse. Se tudo der certo, nos vemos mais tarde.
Ela saiu da sala comunal, correndo pelos corredores. As pinturas nos quadros já estavam começando a estranhar aquela correria durante a noite, olhavam desconfiados para a garota, mas esta nem ligava, seguia correndo, pulando vários degraus das escadas, coisas que nunca fazia. Quando estava passando pelo primeiro andar, se deparou com um grupinho de garotos do quarto ano, tampando a passagem do corredor. Entretanto, antes que ela pudesse pensar em reclamar com eles, alguém atrás deles o fez, quebrando a barreira humana, quase derrubando alguns meninos no chão. Era Gina, que vinha correndo na direção contrária.
— Gina!? O quê você está fazendo aqui?
— Desculpa, Mione, mas eu não tenho tempo pra explicar...
— Mas o Draco não tinha...
— Eu sei, o Rony me contou. Só que não era eu, era alguém disfarçado. Eu não sei o que aconteceu, mas o Harry está em perigo, vai cair numa armadilha, eu tenho que ir atrás dele.
— Tudo bem, eu também preciso correr para encontrar o Rony. Boa sorte.
— Pra você também.
A ruiva já estava quase virando no corredor quando Hermione a chamou.
— Gina! Eu me esqueci, tome isso – ela tirou o fraco de vidro do bolso e jogou para a amiga, que o pegou no ar – É o Felix Felícis, acho que você vai precisar mais do que eu.
Gina apenas deu um sorriso sincero em agradecimento, antes de se virar e seguir para o segundo andar. Hermione tomou o caminho contrário, apertando o passo. Ao sair para os jardins ela pôde avistar Rony quase chegando a Dumbledore e começou a gritar pelo nome do garoto.
— Mione? – Rony olhava para trás confuso – Por que você está aqui?
— Eu vou com vocês. – Dumbledore levantou as sobrancelhas ao ouvir a garota.
— Como assim, você não ia ficar e vigiar o...
— Já deixei o Neville e a Luna cuidando disso.
— Mas vai ser perigoso, Mione...
— Nem tente me impedir, Ronald Weasley, eu não vou deixar você se embrenhar por lugares estranhos sem mim. Você não ia se lembrar de todos os feitiços necessários.
Rony apenas a abraçou com carinho. Ela sentia o calor dele, a segurança que ele lhe proporcionava, sentia-se feliz.
— Creio que a minha opinião não faria muita diferença – disse Dumbledore, sorrindo –, mas eu acho que não terá nenhum problema em você ir junto, Hermione. A menos que continuemos parados aqui. Vamos?
A garota apenas sorriu concordando e os três começaram a andar. Quando passaram do portão da escola, os dois mais novos seguraram o braço do professor.
Desaparataram.
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