Labaredas de fogo



Capítulo 03 – Labaredas de fogo


 


As aulas daquela tarde passaram voando. Harry preferiu não jantar, pois não queria encontrar nem com Gina muito menos com Cho. Foi direto ao escritório de Dumbledore, que o recepcionou surpreso pela hora. Lá ficaram conversando por algumas horas, dessa vez sobre fatos mais importantes. O diretor lhe contou sobre as aulas que ele próprio dera ao garoto e sobre os Horcruxes. Harry estava cada vez mais interessado, conversar com Dumbledore era a única coisa que o tirava de pensamentos sobre as garotas, e também ficava cada vez mais decidido a conseguir recuperar sua memória. Por volta das dez e meia, o diretor disse que iria começar um exercício para que Harry recuperasse partes das memórias perdidas.


— Devo lhe dizer que será um pouco doloroso, Harry. Você terá que esquecer qualquer coisa que tenha aprendido sobre oclumência e deixar sua mente livre, para que eu possa penetrá-la e tentar libertá-la. A memória é uma coisa muito complexa, você deve saber, não é tão simples apagá-la por completo. Somente um bruxo de extremo poder poderia fazê-lo e, ainda assim, levaria bastante tempo. O que o feitiço “Obliviate” faz é “trancar” sua memória. Ele sela suas lembranças e faz com que você que não consiga acessá-las. Para sua sorte, o bruxo que lançou o feitiço não era um perito nessas magias de memória, assim, selou apenas uma parte de sua mente, facilitando muito o meu trabalho. Começaremos aos poucos, vou percorrer as últimas lembranças que você tem e tentar invadir um pouco a barreira que aquele comensal criou. É tudo que faremos por hoje. Está pronto?


Harry concordou com a cabeça e tentou deixar sua mente livre. Dumbledore exclamou “Legilimens” e então a sala sumiu. Harry via o senhor Weasley sendo atacado por uma cobra, saía muito sangue, ele não conseguia avisar ninguém... Depois o pai do Rony estava no hospital St. Mungus, todos os Weasleys estavam ali também, estava tudo bem... Passou para o Lago Grimmaud, viu novamente todos cochichando sobre os sonhos que ele tinha, sentia-se excluído, não queria falar com ninguém... Então ele estava indo para Hogsmeade com Cho... Entraram no restaurante da Madame Puddfoot. Ficaram conversando até a garota começar a chorar, então eles discutiram e ela foi embora... Agora estava dando uma entrevista para a Skeeter, sobre a volta de Voldemort. Cada vez as lembranças estavam mais embaçadas, incompletas.


Algum tempo depois Harry se viu novamente na sala do diretor, mas lá estavam também a McGonagall, Cornélio Fudge, Dolores Umbridge e mais dois homens e uma garota. Fudge falava do plano de Dumbledore para derrubá-lo, e logo eles começaram a lutar. O diretor derrubou os homens e fugiu com Fawkes. Essa lembrança estava cada vez mais vaga, disforme. Sua cabeça começou a doer quando Dumbledore tentou avançar mais. Ele tentava, mas tinha uma força impedindo a lembrança. Harry não agüentava mais a dor, quando vislumbrou uma aula de oclumência com Snape. Viu rapidamente flashes de um Snape novo, Tiago Potter, Lily, Sirius, Snape de cabeça para baixo... Então tudo sumiu e ele voltou à sala do diretor.


Suava frio e sua cabeça latejava. Aos poucos a figura do homem à sua frente foi entrando em foco. Ele lhe deu um pedaço de chocolate e disse que já era o suficiente, no dia seguinte continuariam. Harry adorou ouvir aquilo, pois só aquela pequena transposição em sua mente já tinha doído muito. Tomou o caminho da sala comunal da Grifnória, cansado. Andou pelos corredores vazios e silenciosos, afinal já tinha passado das 11 da noite, entretanto, quando passava por um corredor no quarto andar, percebeu uma movimentação adiante, ouviu vozes vindas de dentro de uma sala. Aproximou-se o mais silenciosamente possível e quando estava a uns 5 metros da sala, duas pessoas saíram. Harry conseguiu ver que eram Snape e Draco. Eles mal olharam para trás e não conseguiram nem perceber que o garoto os vira. O que estariam fazendo ali naquela hora da noite? Era muito suspeito. Tinha que comentar isso com os amigos mais tarde.


Chegou à sala comunal e avistou Rony e Mione num canto, sentados à frente de uma janela. Seu coração deu um salto quando viu Gina junto com eles, conversando com Hermione. Juntou coragem e foi na direção deles. Chegando mais perto percebeu que Gina estava deitada no colo de Hermione e, de longe, seus olhos pareciam avermelhados. Mione afagava seus cabelos ruivos, Harry sentiu uma imensa vontade de estar no lugar da amiga, consolando a ruiva. Quando perceberam que ele estava chegando, Gina se levantou, deu boa noite para a amiga e o irmão, passou por Harry sem dizer nada e subiu a escada para o dormitório feminino. Harry tentou chamá-la, mas ela não respondeu.


— Harry. – chamou Hermione – Senta aqui, a gente precisa conversar, e dessa vez sem nenhuma Cho para atrapalhar.


— Isso mesmo. Não agüento mais não saber por que a Gina esta agindo assim comigo. Porque ela está me ignorando toda vez que eu chego perto dela?


— Harry, você tem que entender, você não tem culpa nisso, afinal você esqueceu tudo, mas, para a Gina, essa situação é muito difícil.


— Que situação?


Hermione olhou para Rony, incerta.


— É que... Bem... Você e a Gina, antes do ataque na floresta, vocês dois namoravam.


Aquela frase caiu como uma bomba na cabeça de Harry, ele não sabia o que pensar. Eles namoravam. Por isso estava sentindo tudo aquilo quando a via. Por isso ela foi fria quando o viu naquela manhã, ele tinha a ignorado completamente, e ela devia já ter ouvido sobre ele e a Cho. Quando ela os viu no lago então, deve ter ficado completamente desolada, assistiu seu namorado beijar outra garota. Lembrou-se do sonho, ela perguntava se ele não gostava mais dela, pois ele já havia gostado. Tudo se encaixava. Tudo menos a Cho.


— Mas por que vocês não me disseram isso antes?


— Você não deixou, Harry! A gente não percebeu isso no começo. Além do mais, você acha que é fácil chegar para você e dizer “Harry, eu sei que você esqueceu, mas você tem uma namorada, você a ama, vá visitá-la e a faça feliz”.


— Eu tentei falar isso – interferiu Rony –, mas ainda não tinha percebido que você não ia se lembrar da Gina. Quando você não foi vê-la na ala hospitalar que eu me dei conta.


— Droga... Isso é muito estranho. Eu... Eu senti alguma coisa quando olhei para a Gina hoje de manhã, mas falar que eu a namoraria é muito esquisito. A minha cabeça ainda diz que eu gosto da Cho, apesar de que meu coração parece dizer o contrário.


— E é ele que está certo, Harry. Afinal, o comensal atacou sua cabeça, não seu coração.


— Mas me explica uma coisa. Se eu namorava a Gina, a Cho devia saber disso, certo? Então por que ela ficou comigo? Ela sabia que eu tinha esquecido tudo!


— Aquela vaca aproveitadora usou a chance de conseguir você de volta e te beijou! A Gina me contou que hoje, na hora do almoço, a Cho olhou para ela logo antes de te beijar, ela fez tudo de propósito, aquela piranha!


— A Mione tem razão, Harry. Foi por isso que a gente não gostou nada quando você contou sobre a Cho. Se você quer um conselho, acaba tudo com ela antes que você perca a Gina pra sempre.


— É exatamente o que eu vou fazer.


 


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Na manhã seguinte, acordou bem cedo. Mal dormira durante a noite, pensando no que faria no dia seguinte. Levantou-se, colocou suas vestes, desceu as escadas do dormitório e ficou esperando na sala comunal. Aquele salão era muito soturno durante a manhã, quase ninguém parava lá, só havia pessoas indo e vindo. Meia hora depois, Hermione e Gina saíram do dormitório das garotas e Harry deu um pulo da poltrona em que estava assim que as viu. Elas vinham vagarosamente, quase desviando do garoto. A ruiva olhava para o chão, evitando olhar para Harry, mas ele entrou em sua frente impedindo que elas andassem mais.


— Gina, por favor, eu preciso conversar com você.


— Eu não acho que a gente tem algo...


— Por favor, Gina. Eu não agüento mais, me deixa falar, vai ser rápido, eu prometo.


Ela hesitou por um momento, olhando nos olhos verdes do garoto.


— Tudo bem, se for rápido.


Os dois foram para um canto da sala, enquanto Mione seguiu para fora do salão comunal. Harry pensou tanto nesse momento durante a noite que até sonhou com ele, mas dessa vez Gina estava muito mais séria e impenetrável do que em seus pensamentos. Ela parou e ficou de frente para ele, olhando fixamente em seus olhos, esperando. O coração de Harry estava acelerado, a sensação de adrenalina percorrendo seu sangue começava a irritá-lo. Olhou nos olhos dela por um tempo, a beleza daqueles olhos castanhos era indescritível, mas ele não conseguia sustentar o olhar por muito tempo. Não sabia como começar, mas tinha de fazê-lo.


— Gina... Como você sabe, eu perdi a memória. Esqueci tudo que aconteceu nos últimos...


— Eu sei disso. Se você me chamou aqui só para falar...


— Não, não. Não foi só para isso. Toda essa situação é muito estranha para mim, Gina. O Rony me contou o que... O que havia entre nós dois. Eu não tenho nenhuma lembrança da gente namorando, para mim nós nunca tivemos nada. – ela tentou falar algo e sair, mas ele a impediu – Calma, me deixa terminar. Antes de te ver ontem, você era só a irmã mais nova do Rony, como você sempre tinha sido para mim. Mas quando eu te vi, não sei explicar, eu senti uma coisa muito diferente dentro de mim... Meu coração disparou, eu queria te abraçar, te consolar, mas não consegui me mexer, aí você foi embora. Eu sei que isso vai ser estranho, mas se você pudesse dar mais uma chance para nós tentarmos de novo...


— Você acha que é fácil assim? – os olhos da garota o perfuravam, sem misericórdia – Você me esquece, me ignora, beija outra garota na minha frente e depois pensa que é só dizer algumas palavras bonitas sobre sentimentos que eu vou me derreter e voltar pra você? Não é tão simples assim não!


— Mas, Gina...


— Se você gostasse mesmo de mim, não iria esquecer tudo assim, não ia ficar com aquela Cho. Você gosta dela Harry, admita! – nessa hora o rosto dela já ardia de raiva – Eu que fui burra de achar que você ia gostar de mim um dia. Provavelmente eu sempre fui a garota chata que gostava de você. E aí, quando eu virei popular, você quis se aproveitar!


— Não, Gina... Eu não...


— Você nunca gostou de mim Harry! Esse acidente provou isso. Agora, por favor, me deixa e vai procurar a sua namoradinha!


Gina saiu correndo pelo buraco do retrato antes que Harry pudesse dizer qualquer coisa.  Ele ficou ali, parado, olhando para o vazio. Levou um tempo até conseguir voltar a si e sair da sala. Foi para o dormitório, deitou-se em sua cama e ficou admirando o teto. Não sabia no que pensar. Sua mente lhe dizia que o que aconteceu era o melhor, afinal namorar a irmã do amigo nunca daria certo, mas seu coração apertava cada vez que ele pensava em não ter Gina novamente. Na realidade, em não ter Gina, por que, para ele, nunca tinha a tido. Ficou na cama por um longo tempo, apesar de seu estômago roncar intensamente, resolveu não comer, não queria encará-la novamente no café-da-manhã.


 


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Mais uma vez Harry preferiu não tomar café no dia seguinte, apenas mandou um aluno do segundo ano entregar um bilhete para a Cho, que dizia para ela encontrá-lo na torre de astronomia. Enquanto subia as escadas do castelo os quadros pareciam repreendê-lo pelo que ia fazer, mas não podia voltar atrás. Depois da conversa que teve com Gina no dia anterior, tinha que fazer isso. Ele já estava esperando há vinte minutos, achando que o garoto não tinha mandado o recado direito, quando viu a garota oriental subindo as escadas. Toda a beleza que existia nela estava diferente naquele dia.


— Ainda bem que você veio, Cho. – disse ele sorrindo – Estava te esperando.


— Mas por que exatamente você me chamou, Harry – disse ela se aproximando com um leve sorriso no rosto – Aquele garotinho não quis me dizer nada.


— Eu não disse nada para ele, queria te deixar curiosa. – os dois já estavam frente a frente, Harry olhava aqueles olhos profundamente negros – Tenho uma coisa muito importante pra te dizer.


— Ah, é? – ela quase encostava seus lábios nos de Harry – O que seria?


— Você também é uma ótima professora... – ele desviou sua boca e agora sussurrava no ouvido da garota – Me ensinou a nunca mais confiar em vadias.


— C-como assim, H-harry? – Cho recuou, olhando espantada para o garoto – Por que você está falando isso?


— Ah, não se faz de santinha! Você sabe do que eu estou falando. Sabia muito bem que eu namorava a Gina e que eu perdi a memória. Você se aproveitou do meu estado para me roubar dela.


— N-não, Harry! É que... Aquela hora, quando você me derrubou, eu lembrei da gente, e você também estava se lembrando de mim, eu vi nos seus olhos... Eu não agüentei... – a garota já estava chorando – Eu te amo, Harry! Foi por isso que eu fiz aquilo.


— Isso não é amor! Se você me amasse não faria o que fez, você acabou com qualquer chance que eu tivesse de voltar com a Gina. Eu nunca vou te perdoar por isso, Cho, você não tinha esse direito.


— Não! Não faz isso comigo, Harry! Eu te amo!


— Pára! Você está ficando patética assim, Cho, se levanta. Vê se nunca mais aparece na minha frente, ouviu? Nunca mais!

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