O caso do anel desaparecido



N/A: NÃO ESQUEÇAM DE COMENTAR E VOTAR, GALERA! POR FAVOR!

Algo lhe dizia que não deveria estar ali. Na verdade ela tinha certeza, mas não poderia deixar seus dois melhores amigos sozinhos naquela encrenca. Mesmo por que, se a coisa ficasse realmente feia, sem ela, eles não conseguiriam se safar. Hermione era racional, pensava rápido em situações de perigo e tinha desenvolvido, mesmo que detestasse admitir, um certo prazer em se meter em aventuras com os amigos.
O lugar não era nem um pouco agradável. Uma ruela estreita de terra e pedras batidas, delimitada por muros altos de tijolos a mostra. Alguns buracos assinalavam que coisas eram freqüentemente lançadas contra eles. A noite começava a cair. O bairro era mal iluminado e alguns transeuntes, aparentemente pouco amigáveis, começavam a aparecer. Eles observavam o trio com curiosidade, e não era para menos: três desconhecidos, vestidos com roupas casuais, mas de ótima qualidade, com mochilas nas costas, olhando para todos os cantos como se esperassem ser atacados a qualquer momento por um lobisomem ou coisa parecida, com certeza chamaria a atenção daquelas pessoas pouco acostumadas a visitantes.
Hermione deixou-se ficar um pouco para trás, perdida em seus devaneios acerca de como seres humanos conseguiam suportar a vida naquelas condições. Os amigos passaram pela frente de um bar. Em volta de uma mesa alguns homens jogavam qualquer coisa que eles não puderam identificar. Tinham combinado não olhar muito para as pessoas quando passassem, mas foi impossível não olhar quando um dos homens bateu violentamente na mesa e se levantou fazendo sua cadeira tombar. Todos os outros olhavam para ele incrédulos, ele havia ganhado mais uma partida. Hermione os fitou assustada e eles perceberam seu medo. Um deles lhe dispensou um olhar extremamente significativo, os outros o imitaram. Hermione apertou o passo e postou-se entre os amigos. Automaticamente apertou a mão de Harry, ou achou que tivesse feito isso. Rony a olhou assustado e eles logo romperam o contato. Ela tinha certeza que ficara vermelha, sentira suas bochechas esquentarem, mas agradeceu a escuridão do bairro, pois Rony não perceberia seu rubor. Olhando para o lado oposto da rua, Rony também agradecia pela escuridão.
_Você tem certeza de que era por aqui, Rony? – Harry perguntou quebrando o silêncio aterrorizante.
_Tenho, Harry. – Rony respondeu começando a duvidar de sua certeza, mas recusando-se a admitir.
_Eu acho que deveríamos desistir! – Hermione falou finalmente. – Já estamos perambulando por aqui há horas e nem sinal do cara!
_Não podemos ir embora, Hermione! – Rony protestou. – Eu preciso recuperar aquele anel! Vovó o confiou a mim, foi um presente. É uma jóia de família e você sabe que não há muitas delas entre os Weasley.
_Eu não entendo por que você saiu por aí com um anel tão valioso, Ronald? – ela falou inconformada.
_Eu precisava de dinheiro. Ia empenhá-lo!
_E posso saber por quê? – ela perguntou desconfiada.
_Hum... Não... É coisa minha, prefiro não comentar!
Hermione olhou expressiva para Harry.
_Não me olhe assim! – ele falou. – Eu também não sei do que se trata! Ele simplesmente não me fala!
_Por que tanto mistério, Rony? Achei que fôssemos seus amigos!
_E vocês são! – ele respondeu ofendido. – Mas eu prefiro guardar segredo disso, por enquanto. Vocês vão saber, mas primeiro eu preciso recuperar o anel. Ele é muito importante para mim! Eu tenho planos para ele.
Hermione e Harry trocaram olhares conformados. Sabiam muito bem que quando Rony Weasley, ou melhor, qualquer Weasley, resolvia não fazer alguma coisa não fazia mesmo.
_Ora, ora, ora... – uma voz divertida os abordou.
Não tinham percebido, mas haviam deixado a viela e agora andavam por um espaço aberto. A rua continuava estreita e de pedra batida, mas era como se as construções e muros tivessem parado de ser construídos naquela parte. Terrenos vazios dos dois lados, cobertos por mato alto, agora eram a paisagem ao redor.
_Não é que o “mauricinho” veio mesmo? – a mesma voz continuou, mas não estava sozinho. Três rapazes e uma moça acompanhavam seu dono. – Estou surpreso que tenha encontrado o caminho, pena que você perdeu seu tempo!
_Eu o quero de volta! – Rony falou com raiva.
O grupo riu com vontade. A moça falou: - E você acha, gatinho, que nós íamos ficar tanto tempo com um anel daquele? – ela andou rebolando até eles. Usava um blusa leve e uma calça muito colada ao corpo. Hermione não entendia como ela não sentia frio, visto que ela mesma começara a tremer.
_O anel já era, mané! – o “chefe” respondeu. – Há essa hora já deve ter sido derretido, ou vendido para alguém da bocada.
_Pois então me diga para quem você vendeu!
_Você é idiota, cara? – a mulher falou novamente. Rodeava Hermione com interesse em seus acessórios. – Esquece aquele anel! Ele já era! É melhor para você!
_Nunca! O anel era meu e vocês não tinham o direito de roubá-lo! Eu o quero de volta e vocês terão que me devolver ou...
_Ou o quê?! – um dos rapazes, que se mantivera calado até então, perguntou tirando a varinha das vestes.
_Nós não queremos encrenca, cara! – Harry se prontificou. – Nós só queremos o anel de volta. Nós o compramos, se for o caso! – tentou.
_Uuhhh! – a moça falou jogando os braços em torno do pescoço de Harry. – Quer dizer que além de gracinha é cheio da grana?! – ela começou a mexer nos cabelos dele com a varinha que tinha tirado do bolso da calça, mesmo que aparentemente não coubesse mais nada dentro dela. – Espera aí! – ela se afastou de repente.
Harry sentiu um arrepio percorrê-lo. Odiava quando aquilo acontecia.
_Que foi, Teesha?
_É aquele cara do jornal! – ela falou apontando para Harry. – Aquele da cicatriz! O que matou o maluco que ninguém conseguia parar!
_O quê?! – os demais se aproximaram.
Harry se afastou incomodado. Aquilo não era bom, nada bom. Era só uma questão de tempo até eles perceberem que...
_Eles são aurores! – um deles gritou. – Eles saíram no Profeta Diário! Minha irmã até guardou a foto porque achou o maluco “bonitinho”! – ele se aproximou perigosamente apontando a varinha para o peito de Harry. – Aí, maluco! É melhor você e seus amiguinhos se mandarem daqui, falô! Ninguém aqui ta a fim de encrenca com os “homi”, morô?
_Nós também não queremos encrenca! – Hermione se pronunciou pela primeira vez. – E nós não somos mais aurores, não estamos aqui como autoridades. Viemos na esperança de recuperar algo que nos foi tirado, só isso!
_Só isso? – o “chefe” perguntou. – Por que não falou antes, boneca?! – ele a rodeou. – Se você me pedir com jeitinho quem sabe eu possa pensar no assunto?! – ele pegou uma mecha dos cabelos dela e cheirou.
_Tire as mãos dela, seu marginal! – Rony se descontrolou.
Em questão de segundos segurava a gola da camisa surrada do cara e apontava a varinha para seu pescoço. Os outros quatro formaram um cerco em volta deles e também apontavam as varinhas. Hermione e Harry tinham as suas nas mãos para último caso.
_Rony, calma! – Harry pediu.
_Calma nada! Eu já me cansei, Harry! Ele está com o anel! Você ouviu o que ele disse!
_Perdeu, mané! – o cara agarrou o pulso de Rony e o torceu até se livrar dele.
Hermione e Harry assumiram posição de ataque, mas o cara não desferiu nenhum feitiço. Com um sorriso arrogante enfiou a mão pela gola da camisa e puxou uma correntinha. Nela, pendurado, estava o anel. Uma bela jóia de ouro com um rubi no centro. Uma das poucas jóias que restaram para a família Weasley. O anel que a avó lhe deu antes de morrer. Um dos sete objetos distribuídos entre os filhos de Arthur Weasley. Os irmãos nunca entenderam por que Rony recebera a única coisa realmente de valor.
_Você quer o anel?! – o cara perguntou balançando a jóia no ar, displicentemente. – Então você vai ter! - confusos, todos ao redor baixaram a guarda. – Só que eu quero alguma coisa em troca!
_É só falar! – Rony respondeu impaciente. Tudo que queria era sair dali logo de uma vez, com o anel em seu poder novamente.
_Posso pedir qualquer coisa? – o cara sorriu malicioso.
Harry fazia sinais com a cabeça, mas Rony não lhe dava atenção. Hermione se aproximou mais do amigo.
_Qualquer coisa! – Rony respondeu apesar da insistência do rapaz.
_Falô! – o cara estendeu a correntinha com o anel em direção a Rony. Ansioso ele segurou o anel firme na palma da mão, mas o rapaz não soltou a corrente. Com um sorriso nos lábios falou: - A garota fica!
_Nem morto! – com um movimento rápido ele puxou o anel. O homem apontou a varinha, mas Rony foi mais rápido e o estuporou.
Vários jatos de luz cortaram a noite escura. Harry, Rony e Hermione eram ágeis por causa de todo treinamento que tiveram, mas os outros também eram bons. Certamente o ambiente em que viviam e as companhias os faziam aprender a se defender como podiam. Em pouco tempo outras pessoas apareceram para assistir a confusão. Alguns homens, os que estavam jogando no bar, se juntaram à briga para ajudar seus conterrâneos. Os três sabiam que não poderiam lutar contra todos ao mesmo tempo. Já haviam estuporado alguns, mas outros apareciam de todos os cantos. Estavam unidos contra os intrusos.
_Vamos embora daqui! – Hermione gritou para os amigos.
Com acenos rápidos de cabeça eles concordaram, mas não puderam sair do lugar. Teesha, a única mulher, além de Hermione, a participar da briga, lançou um feitiço certeiro na garota. Hermione foi lançada alguns metros para trás e caiu batendo a cabeça com força. Foi como se algo tivesse congelado o tempo. Todos olharam ao mesmo tempo para a garota estirada no chão.
_Você ficou louca, mina?! – alguém gritou. – Sabe a encrenca em que nos meteu?
_Vam’bora, galera! – outro gritou. – Os “cara” são do Ministério! A coisa vai “fedê” pra gente!
_ ‘Ce vai se dar mal por isso, Teesha! – outro afirmou.
_Droga, “véio”! A culpa foi deles! – ela tentou se defender.
Aos poucos o lugar foi esvaziando. Agora imperaria a lei do silêncio: ninguém viu nada, ninguém ouviu nada, ninguém sabe de nada! Rony e Harry correram desesperados em direção a amiga. Os dois se abaixaram ao lado dela, Harry pode ver uma mancha de sangue escorrer da cabeça de Hermione.
_Hermione! – Rony chamava sem coragem de tocá-la. – Hermione, acorda! – ele ia tomá-la nos braços, mas Harry não deixou.
_Não mexa nela, Rony! É perigoso!
_Droga, cara! Que droga! Eu não acredito nisso! O que foi que eu fiz?! – Rony dizia com lágrimas nos olhos.
_Calma, Rony! Calma! – Harry se levantou sem saber o que fazer. – Não saia daqui! E não a mova! – falou. Antes que Rony pudesse dizer qualquer coisa ele aparatou.
Rony olhou ao redor, estava completamente sozinho. Todos haviam deixado o local da briga. Apenas os corpos desfalecidos daqueles que eles tinham estuporado o faziam companhia. Ele olhou novamente para Hermione, levou a mão ao seu rosto, mas não chegou a tocá-la com medo de feri-la mais. Sua outra mão permanecia cerrada com força. Só então ele se lembrou do que os levara até ali.
_Maldito anel! – olhou o pequeno objeto em sua mão com raiva. – Maldita teimosia! – fechou a mão novamente e fez menção de lançar o anel fora. Parou seu movimento ao ouvir o estalar de uma aparatação, depois outras. Harry voltou acompanhado da equipe medi-bruxa.



Fazia mais de uma hora que eles aguardavam no corredor do hospital. Rony estava sentado, os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça caída para frente. Balançava, displicente, a correntinha entre as pernas. Harry andava de um lado para o outro. De vez em quando se encostava a uma parede, depois recomeçava a passeata.
_Por que estão demorando tanto? – Rony perguntou com a voz fraca.
_Não sei... – Harry respondeu sentando-se finalmente. – Ela vai ficar bem, Rony... – ele dizia com um fiozinho de esperança.
Rony balançou a cabeça, inconformado. Harry não comentou, mas viu uma lágrima solitária manchar o chão. Sabia bem o que o amigo sentia: culpa. Dezenas de vezes nos últimos anos ele tinha vivenciado aquele sentimento. Sabia que não adiantaria dizer-lhe que não havia sido sua culpa, porque se ele já tivesse colocado isso na cabeça ninguém o convenceria do contrário.
Uma porta se abriu e os dois puseram-se de pé num pulo.
_E então doutor? – Rony perguntou.
O homem suspirou antes de falar: - A situação é grave...
Rony sentiu um aperto quase sufocante em seu peito. Harry tentou manter a calma: - Qual é a situação dela, doutor.
_Não é nada boa. O feitiço lançado contra ela foi o de menos. O problema foi que ela bateu a cabeça com muita força, perdeu um pouco de sangue e está há muito tempo inconsciente.
_Mas ela vai ficar boa? – Rony perguntou com desespero exalando de cada poro de seu corpo.
_Sinceramente, eu não sei... - Rony sentou-se novamente e escondeu o rosto nas mãos. – Eu sinto muito.
_Quais são as chances dela, doutor? – Harry perguntou com um nó na garganta.
_Não há como fazer uma previsão. – o homem falou tentando não ser tão frio quanto a profissão exigia. – Há casos em que a pessoa acorda depois de alguns dias apenas com leves seqüelas, casos em que ela entra em coma e fica assim por semanas, meses e até anos. Outros ainda pioram de um dia para o outro e entram em óbito... É difícil dizer... – ele colocou uma mão no ombro de Rony. – Eu sou nascido-trouxa, sabe? E, apesar de ser um homem da ciência, eu acredito na força da fé. Se ela não ajuda a recuperar o corpo, pelo menos pode confortar a alma... Só nos resta esperar... – com tapinhas cordiais no ombro de Harry o homem se afastou dos dois.
_Foi tudo culpa minha, Harry! – Rony exclamou de repente. – Se eu não fosse tão teimoso, tão esquentado! Eu não devia ter permitido que vocês fossem comigo. Aquilo era assunto meu! – dizia inconformado.
_Até parece que íamos te deixar se meter sozinho numa confusão! – Harry falou tentando amenizar o clima.
_Não cara! – ele abriu a mão para olhar o anel. – Tudo por causa desse maldito anel! – ele se levantou e ia jogar o anel no lixo, mas Harry o impediu.
_Não faça isso! – ele segurou a mão de Rony. – Hermione vai ficar uma fera quando acordar e souber que você jogou fora o anel!
Rony olhou para ele aturdido: - Harry! Cai na real! Ela... – mas ele não tinha coragem de concluir a frase.
_É você quem sabe! – Harry falou voltando a se sentar. – De qualquer maneira você já está acostumado a levar bronca dela mesmo, né?
Os dois passaram a noite no hospital. Não podiam dizer que tinham conseguido realmente dormir. Hermione estava na unidade de tratamento intensivo, portanto não havia leito para acompanhantes. Uma curandeira tentou convencê-los a ir para casa, mas eles se negaram a deixar o lugar.
Na manhã seguinte, um medi-bruxo veio dizer-lhes que a situação de Hermione era estável, o que não era ruim, nem bom tão pouco. Harry tentou convencer Rony a ir descansar, mas ele se recusou terminantemente. Harry prometeu então ir para casa, tomar banho, comer alguma coisa e voltar para ficar no lugar dele.
A essa altura todos já sabiam do acontecido, mas ninguém teve coragem de brigar com Rony. Via-se de longe o quanto ele sofria. Depois de alguns dias ele mesmo se convenceu de que era humanamente impossível passar os dias dormindo na cadeira da sala de espera do hospital, mesmo revezando-se com outra pessoa. De qualquer maneira, Hermione não podia receber visitas.
O clima n’A Toca não era nada bom. Rony quase não falava e ninguém fazia questão de puxar assunto com ele. Entendiam sua dor. Até mesmo os gêmeos pareciam solidários. Não testaram nenhuma de suas novas invenções nele, pior para Gina. Ele também não treinava mais, pediu licença ao time e eles lhe deram cerca de um mês, ele tinha férias atrasadas e fez uso delas, embora planejasse utilizá-las de maneira bem mais agradável. A única reação que Rony tinha era de susto, cada vez que uma coruja planava em volta da casa, mas por cerca de uma semana o hospital não mandou notícia nenhuma. Ele também não dormia direito. Passava as noites recordando os momentos que passara com ela. Embora tentasse a todo custo não fazer isso, porque aumentava a sensação de que ela não voltaria mais, ele simplesmente não conseguia. Constatou, com pesar, que em grande parte de suas lembranças, ele e Hermione apareciam brigando.
_Ah, Hermione... – ele suspirou, um braço sobre a cabeça, tampando os olhos. – “Eu não devia ter te contado sobre o assalto... Deveríamos ter ido só eu e o Harry, mas você tem que ser tão teimosa!” – o remorso o invadiu e ele se virou na cama em busca do sono, mas ele não veio. – Humpf! Teimosa! – falou. - “Teimoso sou eu! Todo mundo me avisou! Todos me disseram que seria perigoso, mas não! Lá foi o Rony-cabeça-dura! E agora? Como vai ser? Como vai ser se você morrer?” – ele apertou os olhos com força tentando afastar aquela idéia de sua mente, mas ela se recusava a partir. Cada dia que passava ele ficava menos convencido de que Hermione voltaria. – “Você não pode morrer! Não pode! Eu nem ao menos...” – abriu os olhos fitando o vulto de seus pôsteres do Chudley colados na parede. Sentiu o rosto queimar, mesmo sabendo que ninguém poderia ouvir sua confissão. – “Eu nem ao menos falei tudo que sinto!” – seu coração acelerou. – “Você não pode morrer! Você tem que saber tudo que eu sinto!” – ele se sentou na cama apavorado com a idéia de ter perdido tanto tempo. – “Não pode! Não é justo! Eu tenho que ter tempo! Preciso te confessar!” – levantou-se rapidamente e correu até o armário em busca de uma roupa. Estava prestes a tirar a camisa do pijama quando ouviu o cuco da sala anunciar as horas: duas da manhã. Desanimado ele sentou-se novamente na cama: - “Não vão me deixar entrar! De que adianta passar mais uma noite sentado naquela cadeira dura?” – deitou-se com as pernas para fora da cama e a muda de roupa ainda nas mãos. Fechou os olhos e, sem perceber, caiu no sono, exausto.
Rony foi acordado na manhã seguinte pelo toque carinhoso da mãe em seu ombro.
_Hum... – resmungou sem se mexer. – É sábado Hermione... – falou sonolento.
_Acorde Roniquinho! É a mamãe! – ela o cutucou novamente.
_Hum... – ele se remexeu. – Mãe? – levantou-se assustado. – O que houve? Que horas são?!
_Calma, Rony! – ela sorriu paciente. – O hospital mandou uma coruja...
_O que aconteceu? – seu coração disparou e ele empalideceu.
_Hermione teve uma melhora significativa. Ela foi transferida para um quarto, mas ainda não acordou... – falou aliviada, mas ainda triste.
_Mas ela melhorou?! – ele perguntou com o coração mais acelerado ainda.
_Sim, querido... Ela pode receber visitas agora...
Uma ansiedade invadiu o coração de Rony. Uma pontinha de esperança iluminou seu rosto: - Eu vou até lá! – falou decidido levantando-se imediatamente e começando a se trocar. – Você me dá licença, mãe? – perguntou mais animado.
_Você não pode sair assim! Não vai avisar o Harry?
_Não tenho tempo! Quero vê-la!
_Ela ainda não acordou, filho! – a mulher tentava.
_Não importa! – ele respondeu calçando o tênis. – Vou assim mesmo! – e saiu desabalado.
_Não vai nem tomar café? – ela gritou da porta do quarto.
_Depois! – e aparatou.


A primeira vista foi como se ele tivesse retornado ao seu segundo ano em Hogwarts, depois ele notou que a cena era muito diferente. O corpo de Hermione não estava rígido como pedra. Ela parecia apenas dormir depois de um longo dia de estudos. Sua pele estava mais pálida que o normal, sua respiração um pouco fraca, mas os medi-bruxos diziam que ela estava bem. Era no que ele queria acreditar. Aproximou-se da cama com cautela, em silêncio, como se pudesse acordá-la a qualquer momento e fosse levar uma bela bronca se fizesse isso. Sentou-se num banquinho ao lado da cama e ficou olhando-a dormir. Sorriu mais aliviado e com esperança. Segurou a mão dela com delicadeza.
_Desculpe – me Hermione... – ele começou. - Mais uma vez a minha teimosia me castigou, dessa vez através de você. – ele alisava a mão dela com carinho. – Se isso te conforta um pouco saiba que eu recuperei o anel... – ele suspirou. – Eu tentei me fiar nesse pensamento para agüentar a sua ausência, mas não está adiantando. – ele sorriu. – Você precisa voltar logo! Eu não agüento mais de remorso por ter te colocado nessa... Além disso eu... Eu preciso te dizer uma coisa... Eu...
_Por que você não me avisou? – Harry invadiu o consultório tentando não fazer muito barulho. Ao lado dele estava Gina.
_Eu ia te avisar depois, mas a Gina já me fez este favor, não é? – ele a olhou, incomodado.
_Como é que ela está? – Gina perguntou.
_Estável... É o que os medi-bruxos dizem...
_Ela está meio pálida... – Harry constatou preocupado.
_Mas ela vai ficar bem! – Gina afirmou olhando da mão de Rony para seu rosto que aos poucos foi ficando vermelho.
_Eu vou comer alguma coisa! – ele falou desvencilhando-se da mão dela e saindo sem encarar muito os demais. – Saí sem tomar café!
_Ok! – Harry respondeu.
Ele e Gina ainda ficaram um tempo ali, até Rony voltar. Ele garantiu que agora que Hermione poderia ter um acompanhante ele fazia questão de sê-lo. Revezava apenas com os pais dela, mandando corujas freqüentemente para saber de qualquer variação de seu estado. Foi assim por mais uma semana e meia.
Ele havia passado aquela noite lá. Foi de sexta para sábado. Há quanto tempo não passava um final – de - semana sem fazer nada? Ele não se lembrava. Desde que entrara para a liga amadora de quadribol ele tinha suas noites muito agitadas. Muitos amigos novos, algumas “Maria-vassouras” que tinham a esperança de namorar um jogador amador que se tornasse um profissional famoso, enfim. Sua nova profissão era só mais um pretexto para discutir com Hermione. Mas há duas semanas e meia eles não discutiam...
Ele quase podia ouvi-la alertando-o sobre as interesseiras que não saiam do pé dos jogadores. Ela vivia dizendo que ele deveria fazer como o Harry e arrumar uma namorada para espantar aquelas falsas.
_Eu não estou a fim de namorar sério, Hermione! Eu quero curtir... Pelo menos até encontrar a pessoa certa... – seu rosto ficou quente.
A claridade começou a incomodar e ele abriu lentamente os olhos. Olhou em volta e reconheceu as paredes brancas do quarto do hospital, e não as arquibancadas coloridas do campo de treinamento. Hermione não estava em pé na frente dele com uma mão na cintura fazendo sermão, estava deitada na maca, dormindo. Rony se levantou cambaleante e foi até o banheiro.
_ ”Por que está tão claro? Eu gosto de dormir no escuro! Eu perco o sono com a claridade!” – ela virou-se na cama com dificuldade. Suas pernas pareciam dormentes. – “O que é isso? Barulho de descarga?” – ela se mexeu novamente. – “Onde eu estou?” – ela se virou na cama, de barriga para cima e, lentamente, abriu os olhos. Não tinha a menor idéia de onde estava. Ouviu um barulho de porta se abrindo e se virou para ver quem era.
_Hermione? – Rony estava boquiaberto. – Você acordou! – ele exclamou radiante e emocionado.
Hermione olhou para ele sem saber o que fazer. Tentou sentar-se na cama, mas sentiu dificuldades pois todo seu corpo parecia dormente. O rapaz aproximou-se para ajudá-la, mas ela se assustou.
_Você está bem, Hermione? – ele perguntou preocupado, notando a fisionomia assustada dela.
Ela o analisava sem responder. Ele não lhe era estranho, nem sua voz, mas ela simplesmente não tinha idéia de quem era ele. Rony percebeu que havia algo errado e resolveu avisar o medi-bruxo. Em poucos minutos o homem apareceu acompanhado de uma curandeira.
_Ora finalmente! – ele exclamou ao vê-la acordada. – Que bom srta Granger! É praticamente um milagre!
Ela sorriu contagiada pela alegria das pessoas que a olhavam, mas continuava sem entender o que se passava: - Desculpe, mas... Eu estou meio confusa... O que aconteceu comigo?
_Foi um pequeno acidente de percurso... – o homem falou sorridente. – Talvez esse jovem te explique melhor. – ele apontou para Rony enquanto a examinava.
Hermione observou o rapaz novamente. Estava com os olhos brilhantes e sorriu para ela, meio sem graça, é verdade, quando o medi-bruxo apontou para ele. E que sorriso bonito. Automaticamente ela sorriu também. Rony sentiu seu coração acelerar.
_Bem! Parece-me que você está muito bem, srta Granger, pelo menos fisicamente. Vai ficar em observação por mais algum tempo e, provavelmente, vai precisar de ajuda para fortalecer os membros novamente, mas, depois de tudo que aconteceu, posso dizer que está ótima e completamente fora de perigo! – o homem recolheu, sorridente, seus instrumentos de trabalho. – Agora me diga seu nome e quantos anos tem.
Hermione o olhou, confusa. Esforçava-se para responder pergunta tão óbvia, mas não conseguia. Com os olhos arregalados e o coração acelerado pelo medo ela falou: - Não consigo me lembrar! Não sei quem sou eu!
_Tudo bem... Acalme-se, srta Granger. Isso é absolutamente normal. Você levou uma pancada na cabeça e é possível que suas lembranças fiquem um pouco confusas. É cedo para dizer, mas, suas lembranças retornarão aos poucos... O importante é não se assustar. – ele olhou preocupado para Rony. Indo em direção a saída falou baixo: - Converse com ela, rapaz, mas não a canse muito. Conte-lhe o básico sobre o que ela não se lembrar...
_Sim senhor... – ele respondeu perdendo um pouco do brilho que tinha nos olhos. Ele se aproximou cautelosamente da cama dela. – Como você está se sentindo?
_Bem... Eu acho! – respondeu confusa. Olhou para ele tentando reconhecer qualquer traço daquele rosto, e de fato era agradável olhar para ele, mas não se lembrava de nada. – Você me conhece? – perguntou.
_Você não sabe quem eu sou? – ele perguntou de volta, meio decepcionado.
_Desculpe... – ela falou sem graça. – Não me lembro nem quem eu sou! – sorriu encabulada.
_Seu nome é Hermione. – afirmou. – Hermione Granger! – sorriu.
_Hermione? – ela sorriu de volta. – Que... Diferente!
_É... - ele concordou.
_Você sabe mais alguma coisa sobre mim? – ela perguntou curiosa.
_Sei sim! – ele respondeu. – Você tem 19 anos, estuda Feitiços Avançados, quer dar aula um dia. Ainda mora com os seus pais, mas vai sair de casa para morar com a minha irmã quando ela arrumar um emprego!
_Sua irmã?! – ela sorriu. – Então eu conheço sua família toda?
_Conhece!
_Como?
_Nós nos conhecemos na escola, desde os 11 anos! – ele sentou-se mais próximo dela agora. – Você conhece toda minha família e freqüentemente passa as férias lá em casa. Você trabalha numa biblioteca do bairro onde você nasceu. Como minha irmã quer se especializar em Estudo dos Trouxas vocês resolveram morar juntas.
_Estudo dos Trouxas, Feitiços Avançados... Minha vida deve ser bem interessante! – ela fez mais um esforço para se lembrar, mas não conseguiu nada. Analisou novamente o rapaz simpático com quem conversava. Uma certa melancolia a invadiu: - Como é mesmo o seu nome?
Ele a olhou com tristeza. Aproximou-se mais da cama dela e perguntou de volta: - Você não faz a menor idéia de quem eu sou?
Ela apenas balançou a cabeça negando: - Desculpe. Algo me diz que você é alguém muito importante para mim, mas eu não consigo me lembrar quem.
Rony sentiu seu coração saltitar: - “Eu sou importante para ela! Mesmo sem se lembrar de mim ela acha isso!” – ficou ruborizado e tentava não sorrir com a afirmação dela.
Hermione percebeu seu desconforto: - Me desculpe... – falou. – Eu realmente gostaria de me lembrar. O que nós somos um do outro? Por que é que você está me acompanhando e não meus pais, ou irmãos?
Rony ficou mais vermelho ainda. Uma idéia maluca passou por sua cabeça. Ele hesitou um pouco antes de começar a responder as perguntas dela. Aquela idéia súbita confrontava-se com a certeza de que aquilo estava errado. Por fim respondeu: - Você não tem irmãos. Os seus pais ficaram aqui alguns dias, nós estamos revezando. Seu pai foi embora ontem à noite e eu dormi aqui no lugar dele. – ela o olhava extremamente interessada, mas ainda confusa. – Meu nome é Rony Weasley... – e então ele parou.
Hermione olhava-o esperando o fim da frase. Não sabia por que, mas algo a fez ficar extremamente ansiosa. Ela ergueu as sobrancelhas pedindo para que ele continuasse.
_Eu... Nós... “Isso não é certo, Rony!” Eu sou seu... “Não faça isso! Você não pode se aproveitar da situação!” ...namorado... – ele ficou completamente vermelho depois de pronunciar esta última palavra.
Hermione o olhava sem saber realmente que tipo de reação esboçar. Seu coração batia acelerado e feliz, embora ela não entendesse por quê. Ela sentia uma ligação muito forte com ele, ao mesmo tempo era como se tivesse acabado de conhecê-lo: - Que pena... – ela baixou a cabeça e se recostou no travesseiro.
Rony sentiu-se arrasado, não sabia onde enfiar a cara.
_É uma pena eu não me lembrar de você. – ela o olhou novamente. Notou que sua feição era de decepção. Segurou a mão dele. – Desculpe-me, Rony! – ela sorriu, ele ficou mais vermelho. A olhava embasbacado. – Você deve ser um namorado muito dedicado! – sorriu largamente sentindo a face corar também.
Rony sorriu aliviado. Não tinha a mínima idéia de como ia sustentar aquela história e sabia que levaria uma bronca muito grande de todos quando descobrissem, principalmente de Hermione quando ela recuperasse a memória, mas não pensava nisso no momento. Apenas aproveitou aquela sensação boa que o invadiu ao ser aceito por ela. Uma batida leve na porta interrompeu seus pensamentos.
_Entre! – Hermione falou visto que Rony parecia ter perdido a fala.
_Hermione! – Harry entrou no quarto com um sorriso de orelha a orelha. Estava tão contente por ver a amiga acordada que nem notou o quão branco Rony ficara com sua presença. – Que bom que você está de volta! – ele a abraçou docemente. Já estivera várias vezes numa maca e sabia o quanto podia ser desconfortável ser recebido por um abraço muito empolgado.
_Eu conheço você! – ela exclamou.
_É claro que conhece! – Harry respondeu sem entender nada.
_Hum... Harry? – Rony chamou. – Hermione perdeu a memória... – falou sem jeito.
Harry observou a amiga, preocupado. Sentou-se aos pés dela fitando-a carinhosamente. – Você não se lembra de nada?!
_De você eu me lembro... – ela sorriu. – Dos seus olhos, mas não do seu nome... – completou sem graça.
_Por que você se lembrou dele e não de mim?! – Rony perguntou de repente assustando os amigos.
Hermione olhou para ele, assustada e depois para Harry, confusa. Harry sorriu para ela e depois se levantou ficando ao lado de Rony. Falou:
_Não se preocupe! Ele é assim mesmo, um pouco ciumento, mas é um bom sujeito.
_Muito obrigado, Harry! – Rony respondeu carrancudo, ficando ruborizado novamente. Sentou-se numa poltrona afastada e ficou lá emburrado e com os braços cruzados.
Hermione sorria da atitude dele. Não sabia por que, mas cada vez gostava mais dele. Olhando para seu segundo visitante perguntou: - Harry?
_Sim. – ele respondeu voltando sua atenção para ela. – Harry Potter. Tem algo de que você se lembre? – perguntou paciente.
Ela fechou os olhos por um momento tentando se lembrar. – Lembro-me de um lugar muito estranho, muitas pessoas ao redor, de repente ficou tudo escuro e eu acordei aqui, com ele ao meu lado! – ela sorriu apontando para Rony.
_Estávamos todos muito preocupados. – Harry falou. – Mas Rony com certeza era o pior. A sra Weasley teve que ameaçá-lo para ele voltar a dormir em casa. Se dependesse dele estaria a três semanas sem sair desse hospital! – ele sorria mais a cada tom de vermelho que o amigo adquiria.
_Que gracinha! – Hermione exclamou sentindo o coração aquecido. Um carinho especial crescendo por aquele namorado desconhecido. – Eu devo ser mesmo uma garota de sorte por ter um namorado como ele!

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