Capítulo 5
Hermione tentou se virar e afastar, mas Harry agarrou-lhe o braço e puxou-a de volta. Parecia tão furioso quanto ela.
- Pegue suas coisas, lady Hermione. Vamos embora.
Como se atrevia?!, pensou Hermione. Não tinha o direito de defendê-la, de tomar a si assuntos que diziam respeito somente a ela. Pouco se importando com as dezenas de olhares voltados para ambos, libertou-se e reproduziu o enfático sinal de "não".
Ele nem ligou, embora houvesse compreendido muito bem. Ensinara-lhe aquele sinal, além de muitos outros, e ele aprendera rápido.
- Vou falar com sua cunhada - decidiu Harry -, e pedir desculpas a lady Narcisa. Agora, vá pegar suas coisas.
Não, sinalizou ela novamente, e sentiu os dedos dele em seu braço outra vez.
- Hermione - pediu ele, em voz baixa, tentando manter a compostura. - Sei que a constrangi e que amanhã a esta hora toda a corte estará falando de nós, mas se não quiser que Malfoy e eu protagonizemos uma tragédia, pegue suas coisas e venha comigo agora. Antes que ele saia da água. Porque no instante em que ele sair, se ainda puder ficar de pé sem ajuda, eu irei matá-lo.
Hermione pegou seus pertences e, num minuto, acomodava-se no alto faetonte de Harry. Olhou mais uma vez para lady Narcisa, que chorava desconsolada amparada pelas duas filhas, e para a cunhada Isabele, ainda junto da pessoa que acabara de apresentar-lhe antes do início do espetáculo. Luna não estava muito distante, ao lado do robusto lorde Weasley. A beira do rio, vários cavalheiros prestavam assistência a Lorde Malfoy, cuja fúria era visível mesmo a distância. Diante disso, era bom mesmo abandonar o idílico local onde deveria ter acontecido um piquenique perfeito.
Assim que os demais veículos liberaram o caminho, Harry pôs em marcha o leve faetonte. Rodaram em silêncio os cinco primeiros minutos, ambos pensativos. Convencida de que seu "defensor" podia ter resolvido a questão de maneira menos radical, Hermione cogitava qual a melhor maneira de expressar seu desprazer, se golpeando-o com a sombrinha, de longe a preferida de Luna, ou recusando-se a falar com ele e até mesmo a revê-lo.
A última opção parecia-lhe cada vez mais impossível, à medida que se acalmava. Talvez conseguisse passar um dia, ou mesmo dois, sem vê-lo, mas no terceiro dia sucumbiria. A essa altura, já estaria desesperada e só o som de sua voz bastaria para fazer seu coração palpitar de prazer. A constatação era angustiante e, ao mesmo tempo, irrefutavelmente verdadeira.
De algum modo, cometera a imensa tolice de apaixonar-se por um homem que já amava outra mulher. Um homem que jamais a olharia com interesse, a não ser como amigo e, mesmo assim, em consideração a seu irmão.
Era horrível. O pior acontecimento que poderia ter esperado em sua temporada em Londres. Sonhara com muitos eventos mágicos ali. mas apaixonar-se não estivera entre eles. Percebera, havia muito, que jamais teria um marido, pois nenhum homem aceitaria uma mulher incapaz de falar com ele. Uma vez aceito o fato, planejara de acordo: se Richard não se casasse, assumiria o posto de senhora de Granger Hall, dedicando a vida à administração do lar. Seria uma vida solitária, mas nela encontraria satisfação. Já se Richard se casasse, pediria a ele que lhe providenciasse uma moradia próxima à escola para surdos-mudos de seu ex-tutor, o sr. Charles Cassin. Todos estranhariam o fato de a irmã de um conde tornar-se professora; para ela, porém, seria uma grande alegria.
Até poucos dias antes, tivera apenas essas duas opções de vida a considerar. Agora, vislumbrava mais uma. Talvez se tornasse a amante de um homem. Harry explicara-lhe que era aceitável à sociedade que uma dama de alta linhagem, casada, arranjasse um amante, ou mesmo vários amantes, assim como um nobre podia ter suas cortesãs. Ainda que ele não houvesse mencionado damas solteiras, uma moça não-casadoura como ela certamente podia se permitir alguma flexibilidade. Desde o baile no Vauxhall, percebia que os homens, longe de apenas a admirarem, alimentavam idéias lascivas a seu respeito. Não só poderia arranjar um amante, como escolhê-lo dentre dezenas de interessados. O próprio Lorde Malfoy por pouco não se manifestara em alto e bom som naquela mesma tarde. Não que o considerasse, naturalmente, ou qualquer um dos outros que externaram seu desejo. Existia apenas um homem de quem poderia tornar-se amante, se ele um dia lhe pedisse isso.
O conde de Godric’s Hallows. Harry Potter.
Ele também a desejava, embora fosse educado demais para dizê-lo abertamente. As vezes, surpreendia-o observando-a, o olhar concentrado em sua boca. A princípio, aborrecera-se, imaginando que ele quisesse que falasse, após entender, porém, mostrava-se bem mais receptiva. Amava-o e, ainda que ele jamais fosse sentir algo sequer parecido por ela, bastava saber que poderia significar-lhe algo.
Talvez fosse ignóbil tamanha certeza de uma vida em pecado, mas não se importava. Considerando sua vida peculiar, tinha de agarrar-se ao mínimo de felicidade com o mínimo de culpa possível. Havia tantas coisas que jamais partilharia com as mulheres normais, um marido, um lugar na sociedade, filhos, mas ao menos saberia o que era amar. Iria sentir-se culpada, principalmente em relação à srta. Patil, que se tornara tão amiga, mas Harry afirmara que os homens casados tinham amantes e, sendo assim, queria ser uma das dele. Richard protestaria, sem dúvida, se um dia descobrisse, mas tomariam cuidado... bem, segundo lorde Potter, tudo acontecia muito discretamente, pois não? O próprio irmão fora tão discreto quanto a sua amante que nunca desconfiara da existência dela até se encontrarem por acaso na Bond Street.
Mas já estava fantasiando demais, concluiu, olhando para o perfil sério de Harry, ainda de queixo duro. Ele não lhe pedira para ser sua amante e, dada sua amizade com Richard, talvez jamais o fizesse.
Ele pareceu sentir seu olhar, mas não a encarou. Em vez disso, foi diminuindo a velocidade do veículo, até pará-lo no acostamento da estrada. Com as rédeas nas mãos, ele refletiu por um minuto inteiro antes de se manifestar:
- Não sei nem como começar a pedir-lhe desculpas, mas vou me arriscar. Nunca me comportei tão mal em toda a vida, diante de tantas pessoas, muito menos em prejuízo de uma dama. Não que me arrependa de ter atirado Malfoy no rio, pois ele merecia castigo bem pior, mas pela vergonha e constrangimento que impus a você e aos seus. Lamento profundamente minha atitude e imploro seu perdão. Mas saiba que, se a situação se lhe tornar insuportável, ficarei honrado em passar mais corretivos.
Hermione não entendia bem o que ele quisera dizer. Se Richard não conseguisse passar corretivos, quem mais poderia? Mas Harry tinha de concordar num ponto: ninguém podia assumir as lutas dela. Ele não podia mudar a natureza das coisas, conceder-lhe o dom de falar com a facilidade das outras pessoas. Ainda que se tornasse sua amante, não poderia poupá-la dos olhares, dos sussurros e das desfeitas.
Tocou-o no ombro. Quando ele a encarou, fitou-o nos olhos cheios de remorso e apontou firmemente para si mesma.
- E-era pro-ble-ma m-meu. - Ele baixou o rosto.
- Você não teria conseguido resolver sozinha - justificou. - Reconheço que devia ter tratado a situação de outra maneira, mas você não teria tido a menor chance. Estremeço só em pensar no que poderia ter acontecido se aquele cachorro nojento houvesse conseguido ficar a sós com você, no bosque ou sei lá onde. Você não teria podido nem gritar por socorro.
Ela ia protestar, mas ele a impediu.
- Não. Você não terá mais contato com Draco Malfoy, em hipótese alguma, caso compareçam a um mesmo evento. Vai ficar longe dele. Bem longe.
Hermione abriu sua pastinha dourada para pegar caneta e papel, mas ele pôs a mão sobre a dela.
- Sem discussão, Hermione. Se não atender a meu pedido para manter-se afastada de Malfoy, farei com que seu irmão o mantenha afastado de você. Saiba que, se eu contar a lorde Granger metade do que aquele porco me disse, você estará de partida para Granger Hall num prazo de poucas horas, sendo que Malfoy deverá considerar-se afortunado se ainda estiver vivo ao final desse mesmo prazo. - Voltou-lhe o rosto afogueado. - Por que suportou o assédio daquele sujeito sabendo que bastava um olhar para me ter a seu lado?
Ela sentia a garganta arder, tensa como estava, mas tinha de protestar:
- N-não e-ra pro-ble-ma s-seu! Só m-meu! - Ele endureceu as belas feições.
- Não é mais! Não permitirei que volte a se expor a outra situação dessas.
Com isso, pôs o faetonte novamente em marcha.
Não voltaram a se falar até chegarem a Wilborn Place. Se o faetonte não fosse tão alto, Hermione teria saltado sozinha, só para não se deixar tocar por lorde Potter, mas não pôde evitar que ele a pegasse pela cintura e, pousando-a no chão, a segurasse pelos ombros.
- Hermione - murmurou ele, parecendo tão culpado que ela não teve coragem de rechaçá-lo. - Vai me convidar a entrar por alguns minutos? Por favor? Quero muito explicar por que...
- Lady Hermione? - Uma outra voz se interpôs. Harry baixou as mãos e afastou-se um passo dela, o cavalheiro perfeito.
Hermione reconheceu de imediato a voz e, sem se importar com quem poderia ouvir, gritou de alegria. Desviando-se de Lorde Potter, viu-o de pé junto à porta de Wilborn Place, chapéu na mão, evidentemente de saída.
- Lady Lillian - repetiu Charles Cassin, sorridente. - Que bom que chegou. - Fez uma pausa ante o impacto de Hermione atirando-se contra ele. - Já imaginava que não nos veríamos hoje.
Hermione chorava, sem saber por quê. Era embaraçoso, e tolo, mas estava feliz demais por rever a pessoa que por tantos anos fora sua única voz, que se empenhara tanto, apesar de sua teimosia, em dar-lhe uma voz própria. Era seu professor, seu caro amigo, e estar com ele em meio às alegrias e loucuras de Londres proporcionava um alívio sem tamanho.
- Querida lady Hermione - mimou o ex-tutor, dando-lhe tapinhas no ombro. - Que saudade! Vim hoje na esperança de revê-la e, quando Richard me disse que havia saído, fiquei muito triste. Mas ei-la aqui, minha cara, e agora está tudo bem.
Fungando, Hermione enxugou as lágrimas com os dedos enluvados e sinalizou: Por que demorou tanto para vir? Pedi a Richard que o convidasse para uma visita há muito tempo.
O professor tirou um lenço do bolso e emprestou-o a ela.
- Só agora tive a chance. Era preciso providenciar alguém para administrar a escola e supervisionar os trabalhos com os alunos na minha ausência. Não fosse lorde Granger, creio que não conseguiria comparecer ao seu baile. Não sei como, ele arranjou dois alunos do Instituto Francês para trabalharem comigo por um ano. Não é bom demais?
Sim, claro que sim!, respondeu Hermione, fazendo os sinais com extrema rapidez. Sei o quanto trabalha e estou tão grata por ter vindo. Não seria o mesmo sem você! Tomou-lhe uma das mãos, como fizera tantas vezes quando criança, e beijou-a.
Ele lhe deu mais um tapinha no ombro e riu.
- Agora, pare com isso, minha senhora. A honra é minha. Estou muito feliz por estar aqui para ver minha borboleta debutar. Não vai me apresentar ao cavalheiro que a aguarda tão pacientemente? Depois, irei embora.
Não, não vá ainda!, pediu Hermione.
- Receio já ter tomado tempo demais de seu irmão... Por favor!, implorou ela. Só mais uma hora. Tenho tanto a lhe contar. Por favor.
Ele a fitou no belo rosto por um segundo e, por fim, cedeu.
- Está bem, minha querida. Se tem certeza de que Richard não vai se importar.
Lorde Granger não se importou. Aliás, conforme Harry concluiu de seu ponto de vista num canto da sala de visitas, meia hora depois, no que se referia a Richard, o sr. Charles Cassin caminhava sobre as águas. Tendo Hermione de um lado e o conde do outro, o especialista francês era tratado por ambos como um santo. A julgar pelos movimentos rápidos de suas mãos, Hermione tinha muito a dizer, sendo que pela primeira vez em um mês ele era o único na sala incapaz de entender o que ela dizia. Aquilo deixava-o louco. Pior, fazia-o sentir-se invisível. Hermione lhe confidenciara que sentia-se assim com frequência, ao que ele demonstrara toda a solidariedade bem-intencionada dos ignorantes. Agora, experimentava a sensação em primeira mão.
Estava espantado com Charles Cassin. Imaginara-o bem mais velho, ancião, a partir das descrições de Hermione, quando na verdade devia ter a mesma idade que ele, uns trinta anos. Era alto e bem-apessoado, com cabelos negros lisos que se agitavam conforme ele movia a cabeça, emoldurando um rosto quadrado, de traços clássicos. Seu comportamento comedido combinava com a vestimenta austera, semelhante à dos puritanos, bem apropriada a seu físico esguio. Falando em tom suave e ritmo regular, sorria para Hermione com indisfarçado afeto, evidenciando a intimidade entre ambos. Ela o olhava com franca adoração, fazendo-o imaginar, com um aperto no coração, se estaria apaixonada pelo ex-professor.
- Progredimos muito na escola - contava Charles Cassin -, graças principalmente à bondade de lorde Granger. - Olhou para o conde relaxado numa cadeira. - Sem seu patrocínio, acho que o Instituto Cassin teria sido fechado há muito.
- Bobagem - replicou Richard. - O pouco que fiz seria desperdiçado sem sua visão e dedicação. O se¬nhor fez do instituto o que ele é.
Charles Cassin enrubesceu ao elogio, para espanto de Harry. Palavras amáveis saídas da boca do conde de Richard teriam chocado qualquer outra pessoa.
- Não sei se é verdade, mas é muita gentileza sua, meu senhor. Sinto que melhoramos nossa reputação desde que o sr. Lockley parou de atacar o método da linguagem de sinais. Tem sido nossa missão mais difícil, conforme sabem, derrubar a velha crença defendida pela comunidade científica inglesa de que a linguagem de sinais só incentiva a amoralidade entre os surdos-mudos. Eu já estava desanimando quando de repente, há alguns meses, o sr. Lockley nos deixou em paz. Não sei por que, mas ele desistiu de tentar fechar o instituto e, em consequência, recebemos doze novos alunos nos últimos três meses, cujas famílias nos dão todo o apoio.
Harry não perdeu o sorriso felino no rosto do conde Granger e já tinha uma boa ideia do que acontecera para silenciar os perseguidores do sr. Cassin. Quem quer que fosse o infeliz sr. Lockley, sentiu-se de repente solidário com ele.
- Sendo assim, entendem porque estava tão difícil afastar-me, até agora - dizia o sr. Cassin. - Com tantos novos encargos, teria sido impossível, sem a intervenção de lorde Granger para que os dois alunos viessem da França.
As mãos de Hermione se agitaram numa resposta feliz. Richard moveu a cabeça, concordando, e o sr. Cassin retribuiu:
- Eu também, minha querida.
Harry cruzou as pernas e suspirou. Sentia-se como um estrangeiro numa terra estranha cuja língua era o único que não falava.
- Você é muito gentil, minha querida - agradeceu o francês, após mais paparicos. - E Richard foi muito generoso em oferecer-me hospedagem, mas já providenciei um local adequado para o curto período que passarei em Londres.
Hermione executou um breve sinal de mão a seguir, um que Harry por fim reconheceu, aliviado.
Quanto tempo?
Ela já lhe fizera a mesma pergunta vezes suficientes para ele estar já familiarizado. Em Vauxhall, quanto tempo faltava para começarem a disparar os fogos de artifício? Quanto tempo permaneceria na Câmara dos Lordes antes de poder levá-la a um passeio? Quanto tempo levariam para ir de Wilborn Place até Madame Tussaud?
- Só duas semanas, receio - respondia o sr. Cassin. - Prometi estar de volta a Vauxley ao final desse prazo.
A notícia entristeceu Hermione. Protestando, ela pegou a mão do mestre. Harry descruzou as pernas e se empertigou na cadeira, apreensivo. Se ela beijasse a mão do homem mais uma vez, o francês iria lamentá-lo no instante seguinte.
- Não há nada que possa fazer, Hermione - consolou Richard, olhando divertido na direção de Harry. - Já tentei convencer o sr. Cassin a mudar seus planos, mas não consegui. Deve se lembrar de como é impossível ganhar dele.
Hermione soltou a mão do mestre e recostou-se no sofá, sem disfarçar o mau humor. Harry também relaxou.
- Lamento muitíssimo, lady Hermione - declarou o sr. Cassin. - Mas espero sinceramente que possa reservar-me algumas horas no dia que lhe for mais conveniente, para uma visita mais demorada.
Vozes alteradas no saguão de entrada interromperam o discurso do visitante.
- Que escândalo é esse? - grunhiu Richard. - Só pode ser Luna.
Era de fato lady Luna, conforme todos constataram quando a porta da sala de visitas se escancarou e ela entrou, acompanhada de lady Isabele e Rony.
- Todos os homens são uns idiotas! - gritou a jovem, brandindo para o visconde o que restara de uma linda sombrinha azul. - Tio Richard, diga a ele!
- Minha querida, não sou a pessoa mais indicada para deferir sua opinião - observou Richard, desanimado. - Mas o que foi que você fez, Luna? Tentou matar alguém? Seu vestido está rasgado.
- Sim, eu tentei matar alguém - replicou a moça, sem ligar para sua péssima apresentação. - Draco Malfoy, para ser exata. E teria conseguido, se lorde Weasley não houvesse interferido.
Lorde Richard olhou para lady Isabele, que se mantinha calma junto à porta.
- Devo entender que estamos em débito para com lorde Weasley?
- Estamos - confirmou a cunhada. - Luna estava a ponto de se machucar quando Lorde Weasley fez a gentileza de interferir.
- Gentileza! - Luna bateu o pé no chão. - Malfoy não deve pensar o mesmo. Esse troglodita atirou-o de novo no Tâmisa, não atirou?
Harry escutava cada vez mais interessado sobre os acontecimentos em Greenwich após abandonar o piquenique.
- Começo a pensar que devemos proibi-la de sair de casa - aventou lady Isabele, controlada como sempre -, principalmente se pretende continuar atacando os pares do reino com tanta violência. É óbvio que não entende o quanto seu comportamento infeliz pode prejudicar a ela mesma e Hermione aqui em Londres.
- Entendo muito bem - contrariou Luna -, mas se o comportamento de Malfoy é o que se considera aceitável na corte, ficarei mais que feliz em voltar para Somerset e nunca mais pôr os meus pés aqui! Simplesmente não vou assistir impassível a um membro de minha família ser insultado! Quando o tio Richard souber o que aquele pulha estava dizendo sobre Hermione e lorde Potter...
- Luna! - repreendeu lady Isabele, aumentando a voz só um tom. - Já chega!
Desconfiado, Richard olhou para Harry. De fato, ele trouxera Hermione cedo para casa, certamente antes de o piquenique se encerrar, mas não havia como interrogá-lo, dada a presença do sr. Cassin.
- Vamos conversar sobre isso mais tarde, minha querida - disse à sobrinha. - Não fique ainda mais nervosa.
Lady Isabele pôs a mão no ombro da filha.
- Lorde Granger está com uma visita, Luna, caso ainda não tenha notado. Cumprimente o sr. Cassin e depois suba para trocar de roupa.
Lady Luna gritou de alegria ao ver o antigo mestre e atirou-se para ele.
- Charles, que maravilha! - Abraçou-o. - Veio para nosso baile? Oh, que bom! Hermione, não é maravilhoso? Agora, pouco importa se toda a corte nos der as costas e faltar ao nosso debut, pois Charles está aqui!
Harry estava ficando enjoado. Estar na presença de Charles Cassin era mais do que um simples mortal podia suportar. Apresentando desculpas polidas, despediu-se lembrando que reveria as damas à noite, no jantar dançante em casa de lorde e lady Beauchamp para o qual todos haviam sido convidados. Não estava com muita vontade de ir, considerando o dia que tivera, mas por culpa sua Hermione e Luna seriam alvos de comentários e era seu dever tentar minimizar as consequências do lamentável incidente. Ao se inclinar sobre a mão de Hermione, ela deu a entender que percebera seu desgosto e gostaria de se redimir, mas ignorou-a. A Charles Cassin, declarou ter sido um prazer conhecê-lo e que gostaria que se reencontrassem em breve. Ao caro amigo Richard, disse que esperava vê-lo no White's qualquer noite, sabendo perfeitamente que o homem não frequentava nenhum clube londrino, ao que ele replicou que teriam uma conversa dali a muito pouco tempo. Ia se despedir de Rony, mas ele inventou uma desculpa qualquer e saiu em sua companhia.
Do lado de fora da mansão, Rony inquiriu:
- Que diabo estava havendo lá dentro? Quem era aquele homem ao qual Luna se atirou?
- É o ex-professor de linguagem de sinais de Hermione. - Harry calçava suas luvas. - Você atirou Malfoy no rio de novo?
- Não tive escolha. Luna avançou para cima dele com a sombrinha e ele ia se defender. Não podia deixar que ele a machucasse, podia?
- Claro que não - concordou Harry, com um suspiro. - Para onde vai agora?
- Para o White's. E você?
Harry estava tentado a procurar sua amante, ou Parvati, ir a qualquer lugar onde o cobrissem de mimos.
- Para casa - decidiu. - Estou precisando de uma bolsa de gelo na testa, após aguentar o divino sr. Cassin todo esse tempo. - Encarou o amigo. - Mas, diga-me: devo pedir desculpas a Malfoy?
- Não. Lady Luna estava equivocada, para variar. Draco teve o bom senso de manter a boca fechada depois da lição que você lhe deu. Mas a sua saída precipitada, arrastando lady Hermione, provocou comentários e ela achou que ele fora a fonte. O resto você já sabe.
- Céus - murmurou Harry, ajeitando o chapéu na cabeça. - Acho que além da bolsa de gelo vou precisar de um conhaque. Boa tarde, Rony.
Em casa, deu instruções ao mordomo e ao valete quanto a não ser incomodado por ninguém, em hipótese alguma, até a hora de aprontar-se para o sarau de lady Beauchamp.
Sozinho no quarto, afrouxou a gravata, serviu-se de uma boa dose de conhaque e, sentado à reluzente escrivaninha italiana, iniciou o ritual que já se lhe tornara familiar nas últimas semanas.
Destrancando a gaveta superior, abriu-a. Dentro havia centenas de pedacinhos de papel. Em cada um deles, Hermione escrevera umas poucas palavras, às vezes uma sentença ou duas. Podia lembrar-se do momento exato em que ela lhe estendera cada um deles. Pegou um ao acaso.
Acho muita gentileza delas se preocuparem tanto com os outros! Como pode caçoar delas? Tenho certeza de que são maravilhosas.
Ela se referia a sua mãe e irmãs. Ele lhe falara delas, e de Godric’s Hallows, durante um passeio no parque. Não pretendera expor-lhe o castelo ancestral, pois quase o perdera por obra do irmão dela, mas já na primeira semana após se conhecerem perdera o receio. Ela era uma ouvinte boa demais para que resistisse a sua especulação delicada. Contara-lhe a história da mais acolhedora de todas as suas propriedades, os planos que tinha para a mesma e para sua gente.
Teria sido impossível falar de Godric’s Hallows sem mencionar sua mãe e irmãs, e Hermione rira muito com suas histórias de como sobrevivera aos cuidados excessivos de tantas mulheres. Agora, fechando os olhos e recostando-se na cadeira, podia ouvi-la de novo. Ninguém ria como Hermione, naquele tom grave, rouco, sensual. Após rir e encantá-lo, ela lhe escrevera aquela bela mensagem repreendendo-o por troçar da própria família.
Com um suspiro, jogou o bilhete para junto dos outros. Pegou mais alguns a esmo, recordando quando ela os escrevera. Por fim, vasculhou os bolsos e recolheu as mensagens do dia, lançando-as todas dentro da gaveta.
Novamente recostado, bebericou o conhaque, o cálice envolto nas duas mãos, contemplando o mar de bilhetinhos por longos instantes.
Não era possível que estivesse apaixonado por ela. Lady Hermione Granger. Estava só encantado com sua beleza e charme, impressionado com sua educação, inteligência e perspicácia. Nada mais que isso.
Entretanto, naquela tarde, ao vê-la beijar a mão de Charles Cassin, sentira ciúme... e do tipo mais enlouquecido, furioso, assassino. Nunca sentira nada tão perturbador em toda a vida.
Mas era impossível. Era o conde de Godric’s Hallows, e a mulher que tomasse como esposa deveria ser capaz de atuar como anfitriã em sua casa, além de representá-lo na casa dos outros. Deveria ser capaz de administrar seus castelos e mansões com alguma eficiência e de organizar os eventos sociais que ele seria obrigado a promover ao se eleger para o Parlamento. Para completar, estava praticamente comprometido com Parvati Patil e já não havia mais como voltar atrás de maneira honrada.
Era impossível. Fechando a gaveta com um empurrão, inclinou-se para a frente e cobriu os olhos cansados com a palma da mão. Totalmente impossível.
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N/a: É, enfim, arranjei tempo para postar, então para os que acharam que eu demorei, desculpem eu. Mas to tendo um pouco de trabalho pra postar os capítulos dessa história. Porém, espero que 5º cap tenham os comepensado por isso.
Hum, sem nada para comentar, só algo, que é a respeito do cíumes do Harry, bom, não preciso dizer mais nada... certo? Agoooooora, vocês sabem que quando eu não comento toda essa função cai sobre as costa dos leitores, e espero mesmo os seus comentários.
Agradeço a todos pelos comentários, pelos votos e por estarem acompanhando. Continuem que estarei aguardando. Sabem o quanto são importante pra eu. XD
(Amor você por aqui, pensei que tinha morrido, faz dois séculos e meio que não vejo um comentário seu.)
Vou-me indo... Atualização daqui uma semana.
beijos!
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