Cap III





No início daquele ano comecei a namorar uma garota da minha classe. Bonita, atraente e popular, Lavander era meu par para o baile da escola. Era! Isso até ela terminar comigo uma semana antes e me trocar pó um loiro aguado, que tinha largado a escola para trabalhar na oficina do pai. Meu último ano, formando, o grande baile, esperado por todos da cidade e eu estava sem companhia. Claro que a princípio não me preocupei, afinal eu era popular e várias meninas gostariam de sair comigo.


Ao chegar em casa naquele dia fatídico, minha primeira atitude foi subir para o quarto e ligar para todas as alunas que conhecia e que podiam, no mínimo, serem chamadas de bonitas e atraentes. Liguei para umas dez e, coincidentemente, todas já tinha companhia. Confesso que surgiu uma pontinha de preocupação. Então passei a telefonar para as meninas que se encaixavam em “bonitinhas” e constatei, terrificado, que todas também já tinha par. Naquela noite não dormi.


O dia seguinte não foi melhor. Claro que encontrar meu amigo Harry não melhorou muito a situação. Na verdade, só piorou. Ele tem um senso do que é engraçado muito estranho. Para mim, aquela história não tinha nada de engraçada; parecia mais uma história de terror. Fiquei sabendo por ele que Goyle também estava sozinho. Mas se ele tinha a intenção de me aliviar e me fazer sentir mais confiança, não ajudou em nada. Goyle era um tanto estranho e o fato de estar sem par não era um caso raro.

À noite, cheguei em casa desesperado. Já era terça-feira e o baile seria na sexta. Sentado na sala de jantar, fingindo ler alguma revista enquanto meus pensamentos vasculhavam a memória à procura de alguma aluna esquecida, vi minha mãe a me olhar, encostada no batente da porta. Muito prestativa ela se ofereceu:

- Olha querido, se você quiser, posso lhe acompanhar. Sei que não seria o ideal, mas...

Imagine só: eu ir ao baile junto com minha mãe; nada mais apropriado. Não sei se era pior isso ou ir sozinho e ficar a noite toda limpando vômitos no banheiro e servindo bebida aos casais.

Agradeci educadamente. Antes a morte. Ainda acreditava que nem tudo estava perdido.


O jantar desceu quente, queimando minha garganta. Não havia tempo para o processo de mastigação. O suco de laranja refrescou um pouco o calor no rosto que estava afogueado combinando perfeitamente com meu cabelo vermelho. Nem sequer comi a sobremesa; tinha algo mais importante para fazer.

Subi para o quarto rapidamente e procurei em meio ao caos no meu armário o livro dos formandos de 1957. Abri na primeira página e fui observando as fotografias femininas.

- Essa já tem par. Essa também. Já convidei. Essa é muito feia. - e assim fui folheando o livro enquanto ia conversando sozinho, falando alto, blasfemando.

Até que meus olhos se fixaram numa foto. Observei com cuidado, analisei o rosto.

- Quem sabe se ela soltasse esses cabelos? E se colocasse uma roupa melhor e tirasse aquele casaco velho da época de meu avô? Ela não era assim tão feia. Era só impopular, estranha, tímida e mais alguns adjetivos. Mas definitivamente não era das piores. Observando bem, até que dava para o gasto.

Decidido. Convidaria Hermione Granger para me acompanhar. No entanto algo surgiu em minha mente. Se Goyle já tivesse convidado-a. Eu seria o único sozinho no baile! Talvez a idéia de levar minha mãe não fosse tão ruim. Não!!! Era horrível! A solução era me trocar e correr até à casa do pastor. Minha única chance não poderia ser desperdiçada.

Saí de casa e enquanto corria pelas ruas estreitas e frias, algo ainda mais terrível passou pela minha mente: e se Goyle estivesse nesse momento na casa dela? Isso me fez correr ainda mais rápido, cortando caminho pelos jardins das casas, não dando tempo para meu corpo notar o cansaço.

A casa de Hermione surgiu em minha frente e sorri aliviado. Não havia ninguém na varanda. Subi os degraus tentando acalmar minha respiração e fazer as batidas de meu coração voltar ao normal. Durante um breve instante, tentei me convencer de que não precisava dessa atitude radical. Mas foi em vão. Ir sozinho ainda me parecia a pior das hipóteses. E assim, senti os nós de meus dedos baterem na madeira branca da porta e me vi esperando ansiosamente que Hermione me atendesse e que aceitasse me acompanhar. A imagem de Harry surgiu rindo – não – gargalhando quando lhe contasse de meu cruel destino. Soltei um suspiro resignado ao ver à porta abrir.

Hermione surgiu com seu costumeiro sorriso no rosto e os cabelos presos no coque. Mas não me convidou a entrar.

- Ronald?

Ela pareceu assustada ao me ver ali parado, com a respiração ainda descontrolada e a cara de cachorro abandonado. Eu sei que estava assim.

- Precisa de alguma coisa? – ela perguntou preocupada.

- Gostaria de conversar com você. – Respondi. Queria resolver logo aquela situação.

- Eu te convidaria a entrar, mas meu pai não está em casa. Vamos sentar aqui na varanda.

Sentamos no banco de madeira e ficamos um tempo calados, olhando a noite estrelada. Ela esperando que eu falasse alguma coisa e eu tentando encontrar a maneira certa de lhe dizer que gostaria que me acompanhasse no baile, pois era meu último recurso. Mas acho que não existe uma maneira certa de dizer isso a uma garota.

De repente, percebi a janela da casa da frente abrir e a senhora Rose aparecer. Instantaneamente escondi-me atrás da pilastra, na tentativa de não ser reconhecido. Claro que, se ela aceitasse meu convite, todos saberiam que era eu. Mas ainda estava cedo. Precisava me acostumar com a idéia e me preparar psicologicamente.

Hermione sorriu. Não sei se percebeu minha atitude.

- Bom Ronald. A noite está muito bonita. Mas eu sei que você não veio até aqui para ficar contemplando-a comigo. - Ela me disse. Curta e grossa.

Decidi abrir o jogo.

- Você tem razão Hermione. Não foi só por isso que vim aqui. – Precisava ser educado. – Na verdade, gostaria de saber se você já tem companhia para o baile. – Continuei.

Ela me olhou com se tivesse vendo um fantasma. Seus olhos se abriram tanto que eu tive a quase certeza de que fossem sair de suas órbitas. No instante seguinte, ela encarou o chão e após um período que para mim pareceu a eternidade, voltou a me olhar.

- Você está sem companhia e não achou mais ninguém. – Ela disse. Acertou na mosca.

Não podia mentir. Decidi abri logo o jogo, apesar de saber que ela não acreditaria se lhe dissesse que estava pretendo convidá-la desde o anúncio do baile.

- Você tem razão. Não tenho companhia e você é minha última alternativa. Não gostaria de ir sozinho.

Ela continuou calada. Parecia pensar.

- Você tem todo o direito de não aceitar. E na verdade eu entenderia e aceitaria numa boa. Eu só pensei que...

- Tudo bem. – Ela me respondeu.

- O quê? – perguntou confuso.

- Eu acompanho você.

- Mas...

- Está tudo bem. Eu sempre quis ir ao baile e nunca antes alguém me convidou. Apesar de tudo, gostaria de lhe acompanhar.

Sorri aliviado. Ainda ficamos conversando por algum tempo antes de me despedir e voltar para minha casa com o coração mais leve.

Foi assim que Hermione Granger me acompanhou ao grande baile da cidade.

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