Capítulo V
Capítulo V
Do lado de fora do trem o sol começou a se por e, antes que percebessem, já era noite. A escuridão do lado de fora só representava uma coisa para Peter: estavam chegando. Não estava tão apavorado quanto no começo, mas não negava que ainda queria voltar correndo para casa.
Olhou pelo canto dos olhos para Alice que conversava com as duas outras garotas, parecendo ter esquecido que Peter estava ali. Por que ela tinha que deixar as outras duas ficarem na cabine deles afinal? Só se sentia ainda mais embaraçado. Isso só podia ser um castigo que sua mãe estava lhe dando, por algo que ele não se lembrava o que era.
- Chegaremos ao nosso destino dentro de cinco minutos.
A voz ecoou por todo o trem, e Peter sentiu seu coração entalando na garganta. Não havia mais volta agora que estavam ali. Agora era preciso reunir algo que ele não tinha havia muito tempo: coragem. E achava que essa tarefa ia ser a mais difícil que já tivera em toda a sua curta vida.
- Volto num minuto – ele só ouviu Alice dizer.
Virou-se tão rapidamente que sentiu que havia dado um mau-jeito no pescoço. A sua amiga estava à porta da cabine, levando algo nas mãos.
- O-onde você vai?! – tentou controlar o desespero na voz.
- Colocar as vestes, oras! – sorrindo, saiu da cabine, fechando a porta atrás de si.
Então ele se viu sozinho com aquelas duas garotas desconhecidas. Peter olhou para elas, com olhar de extrema desconfiança e apreensão. O gato rajado que uma delas levava no colo o encarava interesseiro, como se tivesse algo muito suculento no rosto do garoto. Peter odiava gatos. E, para ele, qualquer pessoa que tivesse um gato não era digna de confiança.
- Então... – a garota que segurava o gato falou, dando um olhar rápido de soslaio para a irmã. – Seus pais são bruxos?
- São – disse, em tom de quem encerra conversa, e virou a cara para a janela escura.
Mas ainda as observava pelo canto dos olhos. Como podiam ser tão irritantemente iguais?! Isso estava começando a aborrecer Peter. Ninguém podia ser tão igual assim a outra pessoa. Mas então, Peter lembrou-se, nunca havia conhecido gêmeos antes. Vai ver são todos assim, pensou. Mas uma parte de seu cérebro se recusava a acreditar nisso. Para essa parte em particular, qualquer pessoa que parecesse fora do normal para não era digna de confiança. E aquelas garotas, para ele, era bem anormais.
Quando a porta da cabine se abriu para que Alice entrasse, Peter respirou aliviado. Era bom que ficassem na mesma Casa, ou não sabia o que iria fazer. Ela era a única pessoa que fazia bem a Peter. Sem ela, ele estaria perdido.
O trem começou a perder velocidade aos poucos. Da janela, ele podia ver luzinhas ao longe. Uma pequena cidade? O castelo? Ele não sabia. Mas estavam cada vez mais próximos. Talvez ele ainda pudesse pular pela janela e sair correndo pelos trilhos. Isso se ele passasse pela janela.
Com um solavanco, o expresso finalmente parou, soltando vapor, como se estivesse satisfeito por finalmente ter um descanso depois de horas de viagem. Alice se levantou animada. As irmãs Macdonald trocaram um olhar ansioso. E Peter sentiu todo o seu almoço revirar no estômago. Não tinha mais volta...
Assim que o Hogwarts Express parou, Lily sentiu que todos os músculos do seu corpo se retesaram. E foi muito automaticamente que ela se levantou do assento e seguiu Severus para fora da cabine. O corredor do trem estava abarrotado de alunos mais velhos, se empurrando para saírem logo e irem direto para o castelo. Lily também mal podia esperar por isso.
Suas mãos suavam e ela secou-as nas vestes. Andava tão devagar por entre os alunos que achava que jamais chegaria ao lado e fora. Mas, como que para provar que estava errada, ela sentiu uma brisa noturna fresca tocando o seu rosto e passou pela porta, saindo para a bela noite que cobria a Estação de Hogsmeade.
Ela nunca esqueceria aquele momento. Todo o seu nervosismo parecia ter desaparecido quando ela viu os montes de bruxos ali, alguns deles até pareciam ser velhos demais para estar em Hogwarts. De fato, nem usavam as vestes negras da escola. Era uma cena ainda mais bonita que a da Plataforma 9¾. Era mais do que magia. Era bem mais do que ela esperava.
- E ainda não acabou – Severus disse, como se lesse os seus pensamentos.
O garoto sabia bem como Lily estava se sentindo. Com certeza era quase o mesmo que ele. Mas Severus sabia que ninguém em toda aquela estação estava tão animado quanto ele. Estava cada vez mais perto do seu sonho, da liberdade que ele tanto sonhava. Sabia que durantes os próximos anos – a começar dali – ele galgaria uma escada sem limites, sempre para cima e iria se tornar tão grande quanto jamais ninguém imaginou. E seu pai iria se arrepender por tudo o que ele lhe havia feito e à mãe.
Remus fechou os olhos e deixou que o ar gelado e puro entrasse por seus pulmões e, no mesmo instante se sentiu revigorado. Era estranho, mas quanto mais próximo estava de Hogwarts, menos nervoso se sentia. Sentia como se aquele lugar para onde estava indo fosse o seu porto seguro, um lugar onde podia se sentir protegido.
Ao abrir os olhos, viu Gwen ao seu lado, olhando para cima, os dois olhos descobertos. Remus pôde ver a Lua Minguante e algumas estrelas refletidas nos olhos dela. Ela parecia enfeitiçada sob a pintura sobre as cabeças deles. Como que percebendo o seu olhar, ela baixou a cabeça, sorrindo, os olhos excessivamente brilhantes.
- Gosta das estrelas? – ele perguntou, olhando rapidamente para a Lua no céu, sentindo um calafrio.
- Não – Remus baixou os olhos e Gwen sorriu ainda mais. – Do céu.
- Alunos do Primeiro Ano! Alunos do Primeiro Ano, por aqui!
Não muito ao longe de onde estava, Lily ouviu uma voz forte e alta gritando e uma luz que balançava para frente e para trás sobre as cabeças dos alunos. Não podia ver direito quem era, mas estava chamando pelos alunos do primeiro ano. Severus lhe fez um aceno com a cabeça e os dois seguiram em direção ao chamado.
Ao se aproximarem, ela não pôde conter uma exclamação de surpresa. O homem – se é que isso era um homem – à sua frente devia ter mais de três metros de altura. A sua aparência selvagem, com barbas e cabelos espessos e desgrenhados, lembrou a Lily um leão muito maltratado e feroz. Mas, para a sua feliz ou infelicidade, o gigante ouviu o seu “Uau”, e logo se curvou para ver quem era a pessoinha surpresa.
E foi aí que Lily se espantou ainda mais. Os olhos dele eram duas bolinhas negras e doces, completamente ao contrário do que ele esperava, num contraste quase que berrante com o resto de sua aparência.
- Ah, olá! – ele falou, sua barba se alargando como se ele estivesse sorrindo, algo que Lily não duvidava.
- Olá – a garota ainda estava bastante impressionada com o tamanho do homem para falar mais que isso.
- Hehe – ele riu, voltando a se endireitar, balançando a lanterna que levava nas mãos e voltando a gritar. – Alunos do Primeiro Ano! Alunos do Primeiro Ano AQUI!
Ela virou-se para Severus e espantou-se. Não via no rosto dele a surpresa que esperava encontrar ali. Havia algo de estranho, que Lily só vira algumas vezes no rosto dele, quando falavam sobre trouxas. Mas ela nunca conseguira diferenciar o que é.
- CARAMBA! Você é bem grande, hein?! – ela ouviu alguém gritar logo ao lado dela.
Não precisou nem se virar para saber quem era. Ainda se lembrava da voz do garoto de óculos do trem. Ele estava ali, bem próximo ao lado do outro garoto e de uma menina que Lily não tinha visto antes.
- E você é bem pequeno, hein?! – o gigante retrucou, dando “tapinhas” no ombro do menino, que quase o fizeram cair da quatro no chão. – Muito bem agora! Estão todos aqui?! ÓTIMO! Eu sou Rubeus Hagrid e vou levá-los até o castelo. Falta alguém?! – ele procurava por cima de todas as pequenas cabecinhas. – ÓTIMO! Então, me sigam!
- E aí, Ranhoso? – o garoto de óculos disse, quando passou por Lily e Severus.
A garota mal teve tempo de irritar-se, ele já havia assumido a dianteira do grupo, deixando-a para trás. Trocou um olhar resignado com Severus, e seguiu o grupo.
- Vocês terão a sua primeira visão do castelo na próxima curva e... HÁ! Aí está!
Era a coisa mais bonita que Sirius já vira em toda a sua vida. O castelo encarrapitado no alto do morro, moldando a sua silhueta no céu, todas as pequenas janelinhas acesas, e toda essa imponente imagem refletida no lago abaixo da encosta. Era algo inexplicável e que, para ele, tinha um significado muito especial. Naquele momento não havia em sua cabeça nem seu pai, a família Black, nem nenhuma americana mimada. Só tinha olhos para o castelo à sua frente.
Sobressaltou-se quando alguém o empurrou. Não havia percebido que havia se desligado da realidade. Hagrid não estava mais na frente deles. Estava guiando os alunos para pequenos barquinhos que estavam ancorados no lago espelhado.
- Você não vai? – James perguntou. Obviamente fora ele quem havia lhe dado o empurrão.
Sirius embarcou em um dos pequenos botes junto com James, Natasha – para seu desgosto – e um garoto ruivo e sardento. Mas não prestou atenção a nenhum deles. A imagem do castelo ainda prendia a sua atenção. Os barquinhos começaram a se mover sozinhos e logo foram se aproximando do castelo. Sua nova casa. Sua nova família. O seu refúgio.
- Eu não gosto de barco... Não gosto de água... – Peter resmungava sozinho, se balançando para frente e para trás.
O garotinho estava tremendo, Mary reparou. Agora a garota não sabia dizer se era de frio ou de medo. Mas tinha quase certeza de que era pelo segundo. Nunca tinha conhecido alguém como ele antes. Ainda se lembrava dele se desfazendo em lágrimas quando entrou na cabine. Ele era realmente muito estranho.
- Calma, Peter – Alice começava a se cansar do pavor do amigo. – Logo estaremos no castelo. Quentinhos e com muita comida!
Mas nem a idéia de “muita comida” parecia tranqüilizar o garoto. Ele olhava fixamente para as águas do lago. Tinha certeza que tinha visto algo se movendo sob eles. Será que se ele se afogasse o mandariam de volta para casa?
Mesmo sentada no barco, Gwen ainda olhava para o céu. Ela não podia evitar. Aquele manto negro pontilhado de brilhantes exercia sobre ela um fascínio que estava além da compreensão. Sempre gostara de observar as estrelas e a lua, desde que era uma criancinha, no orfanato trouxa. E teriam aulas de Astronomia ali. E ela mal podia esperar para tê-las, observar o céu com mais precisão.
- Você gosta mesmo do céu, hein?
A voz de Remus a fez baixar a cabeça, o sorriso suave de sempre em seus lábios. Ela não respondeu, mas passou os dedos pelos cabelos colocando-os para trás da orelha. Como sempre, eles voltaram a cair sobre os seus olhos e ela voltou a olhar para cima. Era o céu mais bonito que ela já havia visto.
- Agora cuidado, o lodo está bastante escorregadio.
O alerta de Hagrid não bastou. Sirius viu um menino gordinho escorregando e caindo magnificamente no chão. Rindo, ele viu três garotas ajudando-o a se levantar, seu rosto – ao invés de completamente colorido pela vergonha – estava pálido como um papel.
- Tudo bem aí com você? – Hagrid perguntou, parecendo alarmado. Mas respirou aliviado quando a garota que o amparava fez que sim com a cabeça. – Se acontecesse algo no meu primeiro dia... – comentou, em voz baixa. – Nem quero imaginar.
- Tá indo tudo muito bem, grandão – Sirius animou-o. Se o seu dia fosse ser tão bom, porque o do gigante não poderia ser.
Hagrid deu um sorriso satisfeito para ele e gritou, com ânimo renovado.
- Agora – COM CUIDADO! – me sigam e, olhem onde pisam. Alguns tronquilhos escaparam esta manhã.
Seguindo Hagrid por uma encosta lodosa e com grama alta, aos poucos eles foram se aproximando do muro de pedras que era o Castelo de Hogwarts. O gramado foi se tornando mais verde e fofo à medida que iam se aproximando do castelo. E Sirius podia sentir um cheiro agradável de flores noturnas perfumando todo o lugar.
Subiram por um pequeno lance de degraus de pedra e pararam todos em frente a uma enorme porta de carvalho. E foi só quando Hagrid se certificou que todos estavam aglomerados logo atrás dele, espremidos para caberem no pequeno patamar, é que ele ergueu o seu enorme punho e bateu com ele três vezes na porta.
De chofre a porta se abriu, fazendo um enorme rangido que só as portas antigas faziam. E de lá de dentro saiu um homem extremamente bizarro e Sirius teve que se segurar para não começar a rir. O homem era muito gordo e um enorme bigode de morsa repousava sob o seu nariz. Suas vestes verde-esmeralda estavam bem esticadas sobre a sua enorme pança, como se os botões pudessem se soltar a qualquer minuto.
- Crianças, esse é o professor Slughorn – Hagrid anunciou, muito pomposo.
- Hum... – ele disse, e a voz dele fez Sirius querer rir ainda mais. – Acho que precisamos dar um jeito nessa porta mais tarde, Hagrid. Pode ir, eu cuido deles agora.
- Sim senhor, professor Slughorn.
O gigante saiu, pisando pesado e passando pelo saguão. Professor Slughorn – que examinava atentamente as dobradiças da porta – deu um pigarro muito leve e se virou para turma diante dele.
- Bem, o que estamos esperando?! Vamos para dentro!
Sirius seguiu-o logo que ele entrou no Saguão e então sentiu que seu queixo ia ao chão. O Saguão era magnânimo. Candelabros e lustres antigos que davam àquele lugar um toque que nem a magia poderia dar. Ele mal conseguia ver o teto do castelo sobre sua cabeça! E ali, se destacando entre tudo no saguão, havia uma enorme escadaria de mármore. Um cenário perfeito para um momento perfeito. Nunca esqueceria aquele momento...
__________________________________________________________________
N.A.: Esse não ficou muito grande...u.u
Mas nem tem muito o que se falar nesses primeiro capítulos, né?
Espero que ainda esteja bom! :D
Vou fazer um Flog dos Marotos, assim que estiver pronto, posto o link! ;D
Lari, obrigada por sempre acompanhar. =)
Beijos,
→ Tαsh LeBeαu
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!