“O dia em que te perdi”



A neve branca, virada nas ruas e ajeitada ao ambiente como um belo lençol de seda cobrindo o pavimento... Todas as pessoas que estavam sobre ela se encontravam em sonhos, em seus próprios mundos, distante do que acontecia ao seu redor... Nada faziam pra sobreviver...
A menina observava como passava a imensa cidade pela janela da carruagem, chegando perto do vidro pra poder ver o que havia acima e buscar o fim do grandioso risca-céu. Ela pode sentir o frio contra sem rosto ao pressioná-lo contra o vidro... Jamais em sua vida havia conhecido algo igual, pois desde que se tem por gente, ela viveu nas selvas da Índia, onde se criou, já que sua mãe faleceu no dia em que lhe deu o presente da vida...
Seu pai, Henrique de la Fuente é o dono de grande negocio de jóias e minas, pelo qual a dado a sua filha o melhor que a vida tem a oferecer... Luxos, a melhor educação... Porém sobre tudo lhe deu todo o amor incondicional de um pai. Sua pequena Lílian era sua única razão para viver, o mais precioso que pra ele podia existir... Por isso em essa viaje particular a levava inquieta e aborrecida, pois pela primeira vez se afastaria de sua pequena filha por um longo mês...
Henrique olha sua filha e não pode evitar sorrir... A pequena soprava o vidro para logo poder desenhar nele... Lílian era a imagem viva de sua mãe, tudo nela a recordava da mulher que tanto amou e que com sua morte levou junto com ela uma parte da alma dele...
A menina se volta até seu pai, levantando as sobrancelhas e olhando até seus olhos, no qual eram tão azuis quanto os mares do lugar em que ele a havia criado... A diferença dela, que tinha os mesmos olhos verdes e misteriosos como sua mãe...
Henrique estende uma mão para acariciar o rosto de sua filha... As mechas de seu cabelo se deslizavam facilmente por entre os dedos dele, para logo cair sobre seus ombros como sedosas chamas de fogo...

Henrique – Princesa, já estamos quase chegando.

A menina suspira aferrando-se fortemente no braço de seu pai...

Lílian – Papai leva-me contigo. Vou me sentir sozinha aqui. Sentirei muito a sua falta.
Henrique – Só será por um mês princesa, e também haverá mais meninas da sua idade aqui. Lembra-te que tua mãe também estudou aqui. Estou seguro que com o passar do tempo...
Lílian – Um mês é uma eternidade sem ti. Tenho medo.

Henrique olha a sua pequena filha e tenta deter as lágrimas que pouco a pouco iam se acumulando em seus olhos... Ele a toma entre seus braços, acolhendo seu pequeno corpo em seu peito.

Henrique – Não deves ter medo tesouro, sabes que sempre estarei contigo. Sempre vou estar aqui para cuidar de ti.

Lílian levanta sua mirada triste até seu pai.

Lílian– Voltaras por mim?

Henrique mostra um sorriso, ainda que dentro dele estivesse muito consciente de que havia possibilidade de que não o fizesse...

Henrique – És o mais importante pra mim... Quando tiveres medo e sentir saudades...

Henrique busca nos bolsos de seu casaco e tira dele, uma linda corrente de ouro com um pequeno relicário em forma de coração... O rosto da pequena se ilumina ao ver a jóia...

Henrique – Só lembres de isso e pensa em mim.

A menina abre a palma da mão para receber o presente... Ao sentir a jóia em sua mão Lílian mostra um sorriso...

Lílian – Papai é lindo.
Henrique – O abre princesa

Ela olha o pai antes de abrir o relicário como se esperasse outra aprovação dele...

Henrique – Anda pequena, abre ele.

Dentro dessa linda jóia se encontrava a foto de sua falecida mãe e justo ao lado estava à foto de seu pai...

Henrique – Gostasse?
Lílian – Papai...

Sussurra com a foz entre cortada em com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Lílian – É maravilhoso.

A menina se aferra a ele com todas as forças, ambos choravam juntos... Sentindo a dor iminente de sua separação...

Henrique – Não chores princesa... Tens que ser forte!
Lílian – Papai não me deixes, por favor! Promete que me comportarei bem!

Suas palavras cravavam como cochichos em seu coração, partindo sua alma em pedaços ao escutar as suplicas de sua filha... Ele a tira de seu ombro e toma seu rosto em mão enxugando-lhe as lágrimas que caiam sem cessar...

Henrique – Minha menina, se pudesse te levar comigo, eu juro que faria. Porém não é possível.
Lílian – Te amo

Ele beija com ternura e amor o rosto de sua filha depois leva sua cabeça junto ao seu peito...

Henrique – E eu a ti, te amo princesa.

De repente sentiram como a carruagem parou bruscamente... A menina levanta a cabeça e olha ao seu redor...

Lílian – Já chegamos?

Henrique assentiu...

Henrique – Vais ser forte?
Lílian – Sim papai... Prometo-te

Disse secando seus olhos e levantando a mão com a jóia até seu pai...
Lílian – Põem em mim?
Henrique – Claro princesa
Ela se vira de costas e levanta seu cabelo cor fogo... Seu pai se de tem para aspirar ao fresco aroma de seu cabelo, o qual fica gravado em sua memória para sempre, igual que as cascadas sedosas, tão vermelhas como rubi...
A menina sai com cautela pelas portas da carruagem, e olhando para cima vê o imenso edifício que será seu lar pelo próximo mês... Suas paredes de pedras e sua cor escura lhe davam um toque frio e misterioso... Ate ainda mais frio que o ambiente que a rodeava naquele momento...
Lílian desvia o olhar até o edifício ao lado, o qual era mais luxuoso, com boa aparência para um lar... Justo na entrada estava uma família... Havia um homem maior com a veste e o cabelo cinza, que abraçava um jovem pai vestido de soldado... Esse dia frio de inverno parece ser um de despedidas amargas, pois eles também choravam a partida de um ser querido para guerra...
De repente das portas dessa casa saiu correndo um pequeno menino no qual ao alcançar ao seu pai pulou no colo do mesmo e começou a chorar se aferrando mais e mais ao mesmo enquanto lhe suplicava milhões de vezes com lágrimas ainda nos olhos que não partisse e sim ficasse ali, com ele...
Lílian só o observa, recordando sua própria e dolorosa realidade, pois ela também se encontrava na mesma situação...
Henrique - Lílian vamos pequena.
Ela pega a mão de seu pai e caminha lentamente até a porta do internato, porém sem deixar de olhar a cena que ocorria em frente aos seus olhos...
Ao entrar, Lílian se encontra com um vestíbulo enorme, adornado com uma grandiosa escada, e parada nela se encontravam varias meninas de sua idade, algumas, mas pequenas y outras mais velhas... Todas a olhavam com um sorriso amigável... Todas menos duas delas, uma loira com a pele de porcelana e os olhos azuis como seu pai, que a olhava com indiferença e insignificância... E a outra a seu lado com cabelos escuros, quem observava a Lílian nervosamente com seu rosto redondo e suas pecas...
- Bem vinda senhorita de La Fuente!
Disse uma mulher alta e magra, aproximando-se dela... Pelas suas roupas e sua maneira de olhar, com esse ar de orgulho, Lílian soube imediatamente que ela teria que ser a dona de tudo isto... A senhora Bellatriz Villareal...
Bellatriz - Ola preciosa! E ola você senhor!
Henrique a cumprimenta amigavelmente, porem Lílian somente a olha com uma expressão vazia...
Henrique - Não pensas em cumprimentar a senhora Bellatriz?
Pergunta empurrando a sua filha levemente até ela... Lílian levanta o olhar e engole saliva... Algo nessa senhora lhe provocava calafrios, seus rosto, seus gestos, sua aura... Atrás desse sorriso falso e mulher aparentemente amável, se escondia uma bruxa, calculadora e interessada, cujo único interesse era a fortuna de seu pai...
Lílian - Ola.
Disse com a voz firme e segura... Pois desde pequena seu pai sempre lhe ensinou que tem que enfrentar a vida sem ter medo, lutar por seus sonhos e sempre manter a cabeça levantada...
A senhora Bellatriz levanta uma sobrancelha... Ela também decifrou o espírito livre desta menina... Pode ver em seus olhos sua vitalidade e também o desafio...
Depois de ter conhecida varias de suas novas companheiras, Lílian subiu junto ao seu pai a seu novo quarto... O dormitório maior e melhor de toda a instituição... Até lareira havia ali... Com uma cama ampla, coberta de lençóis dourados e bordados de seda, produtos direto a Índia...
Seu rosto se iluminou enquanto ela se acercava até a cama...
Lílian - Se parece a nossa casa!
Henrique - Sim princesa. Queria que te sentisse a vontade como se ainda estivesses na Índia...
Lílian fecha os olhos, aspirando ao aroma fresco das velas e roçando seus dedos levemente pelos moveis, recordando a sua nana Nadia... Uma mulher natural da Índia, que havia sido o mais próximo possível de uma mãe que ela havia possuído...
Lílian - Obrigado papai!
Ela corre e o abraça com forças a sua cintura... Henrique carrega a sua pequena e caminha junto a ela até o sofá perto da janela, sentando-a sobre suas pernas...
Henrique - Princesa, já é hora de...
Lílian leva seu dedo até os lábios de seu pai... Não queria escutar dele um adeus...
Lílian - Diz pra mim papai... Diz-me porque você me chama de princesa?
Pergunta sem gaguejar, enquanto que seus olhos se inundavam de lágrimas... Henrique fecha os seus olhos, soltando deles lagrimas...
Henrique - Porque você é uma princesa tesouro... És a minha princesa... Todas as meninas são princesas...
Ela acaricia o rosto triste de seu pai, interrompendo a viagem das lágrimas que corriam pelas bochechas dele...
Henrique - Desde a mais nova, até as mais velhas... Em todo o mundo... Todas.
Lílian - Papai, te estarei esperando...
Lílian toma entre suas mãos a corrente que ele havia lhe dado e leva até seus lábios, fechando os olhos ao beijá-la...
Lílian - E sempre... sempre estarei pensando em ti...
Murmurou a ponto de começar a chorar novamente...
Henrique - Sempre vou estar com você... Levo-te em meu coração meu amor...
Lílian logo murmurou um ultimo "papai" de seus lábios antes de por fim deixar sair de sua alma a dor e se aferrar a seu pai...
Henrique - Não chores minha menina... Não chores...
O rosto de Henrique estava inundado de lagrimas, enquanto ele segurava o corpo de sua menina... Seu mais precioso tesouro... Sua pequena princesa...
Ele senta a Lílian sobre o sofá e lentamente se separa dela... A menina desvia o olhar até a janela, enquanto que lagrimas caem de seus olhos como cascata... Ao escutar como a porta fechou, ela também fechou os olhos e chorou...
Minutos depois, Lílian vê como seu pai entra na carruagem e pouco a pouco vai se afastando, até desaparecer... Não sabia o porquê, porém no mais profundo de sua alma, ela sentia que jamais voltaria a vê-lo... E ainda que para ela, isso seria como o pior pesadelo de sua vida, ela nunca que poderia imaginar que isso seria sua cruel realidade em breve...

~*~

Lílian seca as lágrimas que ainda corriam por sua face e saindo do quarto caminha pelas escadas olhando a infinidade de retratos que se encontravam pendurados sobre a parede... A foto de minha mãe estaria entre elas? Perguntou-se...
Ao chegar ao ultimo degrau, Lílian percebeu a presença de alguém desconhecida... Uma menina que ao parecer tinha a mesma idade que ela, com roupas velhas, rasgadas e sujas... A menina levava uma escova em mãos e ao dar-se conta que foi descoberta, ela se levanta e sai correndo...
Lílian - Espera!
Antes que pudesse alcançá-la, a senhora Bellatriz aparece como fantasma frente a ela...
Bellatriz - É hora de jantar Lílian. Sempre deves estar na mesa as seis em ponto, entendido?
Disse com um sorriso desenhado no rosto...
Lílian - Sim senhora
Bellatriz - Vamos, as demais alunas nos esperam.
Lílian assentiu e seguiu a senhora Bellatriz até a sala de jantar... No qual era um salão imenso cheio de meninas de todas as idades, no qual a olhavam com olhos de assombro como se ela fosse quase que uma celebridade entre elas...
Bellatriz - Vem Lílian, te sentaras ao meu lado... Este será teu lugar enquanto estiveres aqui
Porém justo no lugar onde ela havia oferecido para Lílian se sentar estava sentada uma loira de olhos azuis, que por sua expressão não estava nada de acordo com o proposto...
-¿Que?! Mas senhora Bellatriz esse é meu lugar! Sempre foi!
Protesta ela se pondo de pé... O salão se torna silencioso toda à atenção estava enfocada sobre as três, Narcisa, Lílian e Bellatriz...
Lílian - Não precisa discutir eu...
Bellatriz - Narcisa! Não sejas insolente! De agora em diante, este será o lugar de Lílian!
Narcisa respirou profundamente olhando a Lílian com olhos de pistola, logo se sentou enfurecida em outro lugar...
Bellatriz - Senta-te querida. Espero que te vás acostumando. Sei que talvez isto pareça muito pouca coisa ao que estas acostumada, porém já veras que ao passar do tempo isso será como outro lar para você.
Lílian lhe mostra um sorriso, logo se senta... De pronto aparece àquela menina no qual Lílian havia visto na escada limpando, essa menina caminha com o rosto abaixado e seria servindo a cada garota ali presente... Como pode uma menina viver assim?... Vê-se tão triste, pensou Lílian...
Ao chegar à menina a Lílian, ela sorri, porém está só abaixa o olhar ainda mais e serve o jantar no prato de Lílian sobre a mesa...
Lílian - Obrigado!
Todas as presentes na mesa suspiram assombradas e olham até Lílian... A menina também havia ficado estática e surpresa sem poder acreditar no que havia ouvido...
Bellatriz - Vejo que há muitas regras ao qual tens que te acostumar Dulce. Uma delas é que está terminantemente proibido falar com a servente, se não for para lhe dar uma ordem ou...
Lílian - Por quê?
Todas na mesa ficaram com os olhos arregalados... Bellatriz se pôs seria e olhou Lílian com olhos penetrantes...
Bellatriz - Porque assim eu ordeno e bom deveras me obedecer
Lílian suspira logo levanta o talher e começa a comer... Depois de vários minutos em silencio, ela franziu a sobrancelha... Nunca ela havia sentado para jantar em silencio... Sempre havia uma história para contar com um fato mais jamais estivera em silencio...
Lílian - Aqui possui uma biblioteca?
De novo se escutou o suspiro das alunas... Bellatriz se virou até Lílian com uma expressão perplexa e também um tanto nervosa...
Bellatriz - Tão pouco se fala na mesa.
Lílian - Pois isso não tem sentido, por quê?
A paciência de Bellatriz parecia que havia chegado ao limite extremo...
Bellatriz – Lílian creio que temos uma pequena conversa pendente. Porém por agora não quero escutar mais nenhuma palavra até a hora que termine a hora de jantar
Lílian solta outro suspiro... Definitivamente este não seria nem o transito do que era sua vida na Índia junto a seu pai, a Nadia e a todos os animais selvagens que lá viviam... Todo o mundo ao qual ela estava acostumada agora parecia cada vez mais distante...

~*~

Os dias iam passando cada dia era como um suspiro de alivio, pois logo se reencontraria de novo com seu amado pai...
Lílian havia virado amiga de todas as meninas, que no qual estavam encantadas com ela, por sua maneira de ser, sua incrível imaginação e pelas histórias fantásticas que sempre contava... Bom todas suas companheiras menos Narcisa e sua fiel amiga, Mariana, quem ao parecer lhe pedia permissão até para poder respirar e tudo mais que fazia...
Um dia estavam Lílian e Ana, que haviam se convertido em boas amigas, elas jogavam em frente às escadas, quando de pronto Lílian nota a presença daquela menina tímida e misteriosa...
Lílian - Quem é ela?
Ana - É a servente, se chama Stef. Porem como já sabes não é permitido que nós falemos com ela a não ser pra ordenar que ela faça alguma coisa...
Lílian - Que absurdo! Mais qual é a razão pra ela ser servente ao invés de estudar e estar junto a nós?
Ana - Porque ela é órfã e pobre.
Lílian se encolhe os ombros...
Lílian - E o que isso tem a ver
Ana - Não sei, significa algo?
Pergunta tão ingenuamente... Lílian só nega com a cabeça sem poder acreditar na tamanha inocência de Ana...
-Lílian! Lílian!
Grita uma das meninas, que vinha correndo desde o terraço até elas...
-Vem! Conta pra nós mais uma de tuas histórias!
Lílian sorriu, logo pego a mão de sua pequena amiga, se dirigindo até o terraço, onde a esperavam um grupo de pelo menos umas 15 meninas mais... Todas esperando ansiosas para escutar um dos famosos contos de Lílian e suas aventura na selva...
Lílian começa a contar-lhes a historia de uma princesa, chamada Rachel que se encontrava trancada em uma imensa torre esperando ser resgatada pelo seu príncipe Ramdas... Que tinha que enfrentar um dragão de três cabeças para poder salvar a sua amada...
Todas gritam emocionadas pela historia, até que foram interrompidas pela senhora Bellatriz que vinha com cara de poucos amigos e tamanho mau humor...
Bellatriz - Posso saber qual é o motivo de tanto alvoroço e gritos vindo daqui?
Ana - Ramdas esta a ponto de salvar a princesa Rachel do enorme dragão!
-Porem o dragão quase o mata!
Grita outra menina com muito entusiasmo...
Bellatriz - Essas classes de historias não são permitidas nesta instituição! E disso vocês todas já deveriam saber!
Lílian - Porém por que é proibido? Alias não há nada de mal em contar uma simples história diferente da realidade para as meninas
Bellatriz - Quando vais despertar desse mundo infantil de fantasias que vives Lílian?... A vida é muito distinta a teus contos de fadas!... Na vida real não existem todas essas porcarias de fantasias, príncipes, princesas e bruxas más com enormes dragões! Quando vais perceber isso Líliane?
Lílian - Sim existem! Eu sou uma princesa!... Todas nós somos... Até você com essa cara feia de bruxa é uma princesa! Só precisa acreditar!
Bellatriz - Essa é a coisa mais ridícula que eu já escutei em minha vida! Todas somos princesas! Isso não existe Lílian! Isso é somente uma grande ilusão criada por você mesma pra se esconder do mundo em que vive! Quando você irá acordar? A vida não é assim, e hoje só sobrevivem aqueles que estão dispostos a lutar por ela e não princesinhas!
Lílian - Que seu pai nunca te disse isso?
Bellatriz a olhou fixamente aos olhos, sentindo como as dolorosas lembranças do passado voltavam a sua memória... Em seus olhos refletia uma lágrima...
Lílian - Ele jamais te a dito isso?
Bellatriz - Já basta! Todas para seus quartos agora!
As meninas correm rapidamente para o quarto... Lílian se põe de pé lentamente, enquanto que a senhora Bellatriz tinha os olhos cravados sobre ela...
Bellatriz - Não quero escutar nunca mais nenhum desses teus estúpidos contos! Ao teu quarto agora!
Nesse momento, Lílian pode ver o ódio e o rancor em seus olhos... Soube que seu coração estava permanentemente fechado para qualquer tipo de amor ou fantasia...
Uma manhã especial Lílian se vestiu com um de seus vestidos mais luxuosos com o cabelo cor de fogo solto e um laço branco ao redor da cintura... Hoje era um dia especial, hoje ela completava nove primaveras... A senhora Bellatriz lhe havia preparado uma festa única, como nunca se havia visto naquela instituição... Por suposto, ela estava aproveitando-se da grande fortuna de Henrique de La Fuente...
Lílian se olha no espelho e sorri... Hoje com certeza receberia uma carta ou um presente de seu pai... Ela pega o colar que ele lhe havia dado no dia que foi embora e o beija como sempre o fazia quando sentia falta de seu pai...
Lílian - Só duas semanas mais papai... Só duas!
Ela volta para caminhar até a porta porem se afasta quando a senhora Bellatriz a abre bruscamente...
Bellatriz - Lílian!
Os olhos dela miravam Lílian fixamente, porém hoje havia um olhar diferente neles... Uma maldade inconfundível e fria...
Bellatriz - Vista isso!
Disse lançando a ela um vestido simples, preto de lã...
Lílian - Porém... Por quê?
Bellatriz - Teu pai está morto!
Disse-lhe tão friamente, como se estivesse informando a ela como o tempo estava fora daquela instituição...
Lílian ficou pasma, sua mirada estava vazia enquanto que seus olhos estavam fixos até adiante... Ela sentia que lhe faltava ar... Não podia se mover, não podia chorar... Estava estática... Tudo em sua mente se nublou como se estivesse em um sonho... Em um pesadelo horroroso... A senhora Bellatriz ainda não havia se calado, porém para Dulce era como se estivesse quieta, pois seus ouvidos e seus demais sentidos se desfizeram dela... Até que sentiu o forte empurram de Bellatriz sobre ela...
Bellatriz - Me ouves? Eu fico com todos teus pertences! E isso não basta para cobrir todos os gastos de tua maldita festa! Teu pai te há deixado só no mundo! Sem um centavo, só dividas! Dividas que você pagara com teus serviços a mim!
Lílian ainda se encontrava paralisada... Não podia ser verdade... Seu pai não podia haver morrido...
Bellatriz - Dormiras no sótão junto a Stef! De agora em diante serás uma mucama igual a ela!
Bellatriz toma o corpo de Lílian com força e praticamente a arrasta até o sótão... Um lugar escuro e frio, onde se via a madeira podre pela água que havia escorrido do teto, com moveis velhos e destroçados, teias de aranha e ninho de insetos havia pelo local... Era um local desprezível e aparentemente inabitável...
Bellatriz - Aqui é onde você ficará a partir de hoje!
Bellatriz a olha com repugnância e com um sorriso triunfante estampado nos lábios...
Bellatriz - Deverias me agradecer! Eu podia ter te deixado na rua como um cachorro! Não tens idéia do cruel que é viver no mundo das ruas! Sem alimento nem roupas, onde cada um ignora cada um! Na rua cada um vive por si só sem se importar com os outros! E te garanto princesa que lá por muito tempo você na viveria!
De pronto os olhos de Bellatriz, encontram o brilho de uma jóia, no qual estava colocada no pescoço de Dulce e sem pensar duas vezes, ela o arranca bruscamente...
Líloian só a observava sem agir... Sem nada a fazer, pois sua alma, sua vida... Se havia escapado de seu corpo... Para sempre... Desde o momento que ouviu Bellatriz pronunciar que seu pai estava morto, ela sentiu sua vida se desvanecer e ir pra junto a ele, distante dela...
Bellatriz - As meninas como tu só servem para uma coisa ai fora sabias?
Bellatriz ri com maldade enquanto se dirige até a porta deixando-a ai sem nada...
Bellatriz - Que te parece teu mundo de fantasias agora?... Princesa!... Enfim conheceras a realidade do mundo...
Disse em tom irônico e cruel...
Lílian por fim respira ao escutar como a porta do sótão se fecha com um só brusco golpe, fazendo com que as paredes ao seu redor estremecessem... Ela caminha ate mais atrás enquanto sentia cada vez mais que o oxigênio lhe faltava e com dificuldade respirava...
Lílian - Papai...
Murmura com os olhos inundados de lagrimas... Seu mundo havia acabado... Seu pai morto?... Ela nega com a cabeça, soltando em sussurros um NÃO, enquanto se deixa cair até o piso úmido e sujo daquele local...
Lílian - Não pode ser... Papai...
Lílian sente como sua alma pouco a pouco se desvanece... O sofrimento era muito para seu pequeno coração que agora se havia convertido em frágil diante de tanta dor e sofrimento desse cruel realidade...
Lílian - Papai...
Sussurra enquanto chora, arrastando-se até a janela, onde estava um frio imperdoável, enquanto que a chuva se colava, empapando-a completamente... Suas lágrimas se mesclavam junto à chuva daquele infernal dia...
Lílian - Me prometesse que ias a voltar por mim!
Disse levantando a mão e buscando seu colar freneticamente, onde momentos atrás ela usava e segundos depois lhe havia sido arrancado por aquela bruxa impiedosa...
Lílian - Papai!
A pequena Lílian se recosta sobre o piso frio, encolhendo-se dentro de um circulo, com os joelhos quase encostados em seu rosto... Chorando como nunca em sua vida havia chorado... Despedindo-se com lágrimas e soluços desesperados de tudo que era sua vida... Seu mundo... Despedindo-se para sempre se seu pai...

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