Capítulo V



Hermione observou o pai afastar-se, frustrada. Harry colocou Theo no chão.
— Vamos? Alan deve estar nos esperando na sala de estar.
— Não finja que nada aconteceu, Harry. Você e Alan deviam ter pensando na reação de meu pai — queixou-se, com lágrimas nos olhos.
— Lamento muito. John não precisava chegar a esse extremo para mostrar seu desagrado. Mas não o leve a sério. Aquela cena toda foi puro disfarce.
— Precisamos entendê-lo. Papai jamais me viu entrar pela porta da frente. Na verdade, não deseja me ver em lugar algum sob este teto. Mas, de quem é a culpa?
— De Rony... E em grande parte, sua. O relacionamento entre você e John já estava estremecido, mesmo antes de tudo acontecer.
— Sempre esteve. Tente conviver com um pai que é um total estranho e veja como se sai.
— Granger aceitará a situação, pois não tem outra escolha.
— Vou lhe pedir um favor, Harry. Não toque nesse assunto com ele... Não se atreva a humilhá-lo! O modo como papai me trata, como se eu fosse invisível, já não me afeta mais. Posso conviver com isso.
Harry sondou seu rosto e maravilhou-se.
— Você é muito ligada a ele, não é?
Tendo aprendido a agarrar-se nos joelhos de Harry quando precisava de atenção, Theo ergueu os bracinhos e lamentou-se: — Colo, Harry.
Hermione esqueceu-se da própria preocupação e puxou-o para si, porém Theo não a queria.
— Quero Harry — teimou o garoto.
Hermione sorriu.
— Theo não está acostumado a conviver com homens. Kevin Dickson quase nunca estava em casa o suficiente para mimar os próprios filhos. Desculpe-me.
— Por que acha que precisa desculpar-se? Eu e Theo nos entendemos. Tornamo-nos grandes amigos enquanto você dormia.
— Não quero que meu filho o aborreça.
— Theo não me aborrece. Gosto de crianças. E não me orgulho de minha atitude inicial para com ele.
Outra vez Theo ergueu os braços, agitando as mãozinhas como se estivesse irritado, uma imitação perfeita da expressiva linguagem corporal de Harry. A visão a deixou tensa. Alan Evans era um homem bastante observador. “Suponha que venha a notar a semelhança entre os dois e resolva divulgar a mentira, que sabe-se lá como surgiu, para a qual fechei os olhos? Ou pior: e se o Sr. Evans perceber a tez morena de Theo e proclame, alto e bom tom, não acreditar que seu neto Rony, ruivo de olhos azuis, tenha tido um filho de pele morena e com cabelos escuros e olhos verdes?”
Harry abriu a porta da sala de estar. Cheia de apreensão. Hermione o precedeu, conduzindo Theo pela mão. Alan Evans encontrava-se diante da lareira acesa. Tinha uma das frágeis mãos apoiada na bengala, mas seu porte ereto, o posicionar altivo da cabeça e a agudeza do olhar desafiavam seus mais de oitenta anos de existência.
Harry impeliu-a para a frente e fechou a porta atrás de si. Alan voltou-se e observou o garotinho soltar-se da mão da mãe e correr para o cão deitado perto da lareira que fitava os recém-chegados com as orelhas erguidas e o olhar atento. O silêncio tornou-se aterrador. Então, enquanto Hermione apressava-se em ir atrás do filho, temendo um ataque do animal, Alan ergueu a mão, detendo-a.
— Deixe-os. Loki adora crianças. Seu filho é um garotinho corajoso, devia orgulhar-se dele.
— Eu me orgulho — afirmou Hermione, na defensiva. Alan se pôs a observar Theo e o cão fazendo amizade, e, após vários e tensos momentos, afirmou, com aparente satisfação:
— Ele tem uma grande semelhança com a família. O que acha Harry?
Hermione prendeu o fôlego, aguardando pela resposta.
— É uma criança muito vivaz e inteligente — concedeu Harry, sem manifestar sua opinião.
— Reconheço de longe um nariz Evans quando vejo um. — Alan acionou a sineta que se encontrava sobre a lareira, chamando um dos criados. — Bem poucas preciosidades escapam a meu olhar.
Hermione ficou mais nervosa ainda. No entanto, Alan Evans voltou-se para ela com um sorriso terno.
— Fez um bom trabalho com o garoto, apesar de criá-lo sozinha, Mione. Não deve ter sido fácil
— É, não foi.
— Bem, mas isso acabou. Sua vida agora vai mudar.
— Não estou bem certa se quero que mude.
— Não vejo a hora de comemorar o Natal tendo uma criança presente — continuou Alan, como se não a tivesse ouvido. — Essas ocasiões festivas perdem um pouco a graça quando todos os pequenos da família se tornam adultos.
Devido à inesperada demonstração de sentimentalismo, Hermione se afastou por um instante de seus propósitos. Natal em Godric’s Hollow... Como a ocasião parecia insípida passada em outro lugar além dali! Os enfeites natalinos adornando o hall de entrada, a árvore gigante repleta de presentes, a festa dos criados...
— Não deseja refrescar-se antes do jantar, Mione? —indagou Alan. — Espero que se sinta confortável aqui. Contratei uma babá para ajudá-la. Seu nome é Claire Davis. Ela costuma trabalhar para um de nossos vizinhos, e vem com excelentes referências.
Enquanto Hermione abria a boca para protestar o arranjo feito sem seu consentimento, a porta se abriu, e uma mulher ainda jovem, mas de aparência determinada entrou na sala. Era a babá. Lançou um sorriso caloroso aos presentes, mas logo sua atenção voltou-se para o menino com o cachorro.
— Oh, mas que cena encantadora! Que lindo bebê!
— Theo já é um rapazinho, Claire. Pode ir, Mione, a babá ficará conosco enquanto eu e Theo nos conhecemos — anunciou Alan, exercendo a mesma prerrogativa de sempre, concluindo a entrevista no instante em que serviu a seus propósitos.
Harry pousou a mão no cotovelo de Hermione e impeliu-a em direção à saída.
— Theo ficará bem, Mione. Venha. Vou mostrar-lhe seus aposentos.
— Agora que me afastou de meu filho, sua missão está cumprida, não é? — acusou, seguindo-o escada acima.
— Se estivesse, eu não estaria ainda fervilhando de desejo por você.
Um calor inesperado e perigoso espalhou-se pelo corpo de Hermione, e ela tremeu.
— Harry...
— Homem algum conseguiria esquecer uma recepção como aquela de dois anos atrás. Por outro lado, estar satisfeito não significa estar saciado. Mione. E quem poderá me culpar por querer repetir a experiência? Jamais teremos o suficiente um do outro.
Hermione corou diante da lembrança.
— Estaria mentindo se fingisse estar menos afoita que eu. Mas por que mentiria? Que mal pode haver em reconhecer o próprio anseio sexual... ou em satisfazê-lo?
Hermione desviou o olhar, o rosto vermelho. Harry fazia parecer tão simples... Sexo, mero apetite sexual, uma fome para ser saciada. E não via nenhuma complicação nisso. Por que deveria? A facilidade com que ela cedera influenciava em muito sua opinião a seu respeito. Porém, devia ter em mente que Harry era uma explosiva mistura de duas diferentes culturas. Podia soar liberal como soava, mas era grego, e não amaria, e muito menos se casaria, com uma mulher que julgasse permissiva. Rony fora bastante sarcástico ao comentar a falta de intimidade entre Harry e Cho antes do casamento.
— Isso diz muito a respeito do verdadeiro Harry — dissera Rony na época. - Ele é essencialmente britânico nas atitudes. Apesar de seus vários casos amorosos, quando pensar em se casar, voltará para casa e escolherá uma jovenzinha grega cheia de virtudes para desposar.
A lembrança da conversa com Rony a deixou em total desconforto.
— Onde ficarei alojada, Harry? No porão?
Em resposta, Harry passou por ela e a fez entrar numa suntuosa suíte. Hermione parou à soleira, chocada e intimidada ao mesmo tempo ao olhar para o elegante quarto. Então, endireitou as costas e entrou.
— Aproveite para descansar um pouco antes do jantar — sugeriu-o, gentil.
No instante em que ficou sozinha. Hermione se pôs a caminhar, admirando. Estava na ala sul, onde se situavam os aposentos dos hóspedes. Construída no final do século XVIII, contrastava com o restante da propriedade, em estilo Tudor, e cujas paredes eram forradas com madeira escura.
Seu pai, junto com sua madrasta, morava no porão da ala norte, construída cento e cinqüenta anos antes do restante da residência, e que provara ser resistente à cruel devastação das intempéries.
— É neste buraco escuro e úmido que seu pai quer que eu viva! — a mãe de Hermione queixara-se. — Não posso acreditar que John espere que eu more aqui!
O rompimento entre os pais de Hermione fora rápido e doloroso. Jane Granger pediu divórcio e partiu, grávida de Hermione.
Excelente cozinheira, Jane adquiriu um restaurante e ganhou muito dinheiro com ele. Quando Hermione estava com sete anos, foi matriculada em uma das escolas mais tradicionais da cidade. No primeiro dia de aula, Jane chamou-a de lado e avisou-a para jamais dizer aos colegas que seu pai era mordomo, porque eles caçoariam dela.
Em resumo, Hermione cresceu sentindo vergonha do pai e da profissão que exercia. Quando Hermione tinha treze anos, Jane sofreu um acidente e veio a falecer, e, logo em seguida, John Granger tornou-se um inevitável elemento na vida da filha adolescente.
O restaurante e o apartamento, soube ele, haviam sido hipotecados. Jane gastava mais do que podia. Vivia bem, e morreu aos quarenta e dois anos sem estar preparada para aquela possibilidade. Hermione, então, fora obrigada a mudar-se para Devon, para freqüentar a escola local e viver em Godric’s Hollow, com o pai e com a madrasta. Hermione aproximou-se da janela aberta e olhou para as distantes fronteiras da antiga propriedade, que ela amara com paixão. Godric’s Hollow era repleta de maravilhosas lembranças de todas as pessoas que tinham vivido entre suas paredes.
Havia cerca de quatro anos, alguns dos antigos objetos de arte adornando a residência começaram a desaparecer. Primeiro, o pequeno relógio representando uma carruagem, e, pouco depois, um dos estojos de manicure de prata conservados em cada um dos banheiros. Então, os ladrões entraram em nova fase, desaparecendo com peças de maior valor.
— Só pode ser alguém que tenha fácil acesso a casa — um dos policiais dissera a Alan.
Então, todos os criados foram interrogados diversas vezes, tornando tudo um verdadeiro rebuliço, enquanto John ia anunciando o desaparecimento de um objeto após o outro. Durante semanas, a suspeita a todos dividiu. John Granger decidiu ficar à espreita, à noite, esperando apanhar o gatuno, como se culpasse por ter falhado em seus deveres para com o patrão. E ninguém, nem um só deles, chegaram a suspeitar da pessoa a quem Hermione encontrara de posse de uma das valiosas miniaturas desaparecidas. Muito tensa, ela correu para repor a miniatura no lugar, antes que a ausência dela fosse notada. Porém, Alan a surpreendeu com ela mão, e, é óbvio, presumiu que Hermione era a ladra. Hermione só parou para pensar no risco que correra quando já era tarde demais.
No entanto, naquele dia, na chegada, Alan não demonstrara nenhum sinal de lembrar-se daquele humilhante encontro dos dois. Mas Hermione jamais esqueceria o momento em que fora surpreendida, o choque nas faces do ancião e o terror que a fizera proclamar a própria gravidez.
— Sinto muito — dissera a Alan. — Estou grávida e desesperada. Preciso ir embora e não tenho como...
Alan a fitava, transtornado.
— Rony? Foi Rony?!
Mas Hermione não o ouvira, pois se voltara e afastara-se correndo.
Hermione balançou a cabeça, tentando livrar-se da desagradável recordação, e focalizou as três figuras lá fora, caminhando devagar em direção aos estábulos. Alan e Theo, e um pouco atrás, a babá.
Com um suspiro, sentou-se na cama, decidindo tirar um cochilo. Deitou-se observando o fogo na lareira. Todo aquele luxo para a filha do mordomo, pensou as pálpebras pesando.
Alan sobrevivera aos próprios filhos, se indispusera com um dos netos e resistira à morte da primeira bisneta, a filhinha de Harry com Cho. E agora, de bom grado, recebia Theo em sua casa, apesar da forma como ele fora concebido. Por que então ela ainda não se convencera da mudança em seu coração? Mas afinal, Theo era sangue do sangue dele, e o passar do tempo conseguia fazer milagres. Porém, não alterara seus sentimentos em relação à Harry. Hermione sentia ainda o sangue ferver quando ele a fitava.
Pressionou o rosto contra o travesseiro, o que não diminuiu sua apreensão. Um momento de fraqueza e estaria colocando a si mesma e a seu filho em uma intolerável situação.

Um ruído leve despertou-a. Piscou por causa da claridade da luz do abajur. Notou que as cortinas haviam sido fechadas, e enfim avistou Harry, aumentando as chamas.
— O que faz aqui, Harry?
— Vim ver como você estava e fiquei para alimentar o fogo.
— Estou bem — mentiu, tendo sido educada a jamais admitir estar com problemas a estranhos.
— Mas não parece. No seu lugar, eu não desceria para o jantar. Continuaria repousando.
Hermione sentou-se.
— E o que pensaria seu avô? Que sua hóspede chegou e foi direto para a cama, como um cisne à beira da morte!
— Não creio que deva se preocupar com a impressão que possa causar a alguém nesta casa.
— Não estou preocupada!
— Parece nervosa e assustada até com a própria sombra, desde que chegou aqui. Que tal relaxar um pouco, hein?
— Não estou nervosa!
— Está sim! Por que, Mione? Por minha causa? —Harry aproximou-se e contornou a cama.
— Fique longe de mim!
— Esse é mais um de seus joguinhos, querida?
Hermione balançou a cabeça, em sinal de desânimo.
— Não quero nada com você, Harry.
Ele abriu os botões do paletó e sentou-se na beirada do leito.
— Será que a magoei tanto assim? Você obteve mais do que queria de mim, não é verdade? Procurava apenas me enfeitiçar e brincar, só que eu puxei o tapete de sob os seus pés e tomei mais do que pretendia dar.
— Cale-se, Harry! — Hermione atirou-se para trás, sobre os travesseiros, a boca trêmula, os olhos brilhando.
— Mas lhe pergunto... O que esperava de um homem que havia enterrado a esposa e a filha fazia meses apenas e que ainda se encontrava atormentado pela própria consciência? Eu desejava apenas ficar sozinho, e você me atocaiou, me forçou a notá-la, e, de certo modo, eu a odiei por isso. No entanto, não nego que também a queria.
— Deixe-me sozinha, Harry. É tudo o que lhe peço!
Harry pousou a mão sobre a dela, agarrada ao lençol. Hermione repeliu o toque, como se a queimasse.
— Você não tem por que estar tão assustada, Mione.
— Não é nada disso!
— Não? — Harry a fitou, cheio de desejo. — Então, por que se encolhe feito uma criança assustada toda vez que me aproximo?
— Não diga bobagem...
Harry entrelaçou os dedos nos sedosos fios castanhos e, com a outra mão, puxou-a. O coração de Hermione disparou, e o ar mal lhe chegava aos pulmões. Sabia que estaria perdida se cedesse, no entanto, não encontrou forças para afastar-se.
— Você é tão feminina, Mione, se derrete em meus braços — murmurou ele. — É assim que deve ser...
— Deixe-me, Harry, por favor... — Hermione soube que seu pedido fora ignorado quando ele baixou a cabeça e beijou-a na boca.
Hermione suspirou e entregou-se à carícia como um glutão diante da mesa de um banquete. O toque era inebriante como o vinho, e então, ela foi transportada às alturas, deixando de lado o bom senso e qualquer pensamento que pudesse atormentá-la. Naquele momento, tudo o que importava era Harry, a delícia de seu abraço, a promessa daquele corpo sedutor.
Harry ergueu a cabeça, os olhos verde-escuros abrasadores.
— Você precisa disto tanto quanto eu...
Quando tornou a tomá-la nos braços, Hermione não foi capaz de resistir, permitindo a invasão da boca que esmagava a sua com uma avidez que beirava a loucura.
Não havia necessidade de controlar a ansiedade ou de disfarçar o ardor. Não existiam planos para seguir, passos para dar ou jogos tolos de sedução a tentar.
Deixando escapar um gemido rouco, Harry deslizou a língua para dentro da boca de Hermione. Segundos depois, ela retribuía, querendo tomar parte ativa em cada momento.
Harry a apertava contra si, obrigando-a a sentir a extensão de seu desejo.
— Meu Deus!
Eles se separaram de um salto ao ouvirem a batida na porta. Passando os dedos trêmulos pelos cabelos, Harry saiu da cama. Forçada a voltar à realidade, Hermione sentiu cada nervo de seu corpo protestar em frustração pelo abandono.
— Não se atreva a abrir a porta, Harry! — sussurrou tensa, ao pular do leito para interceptá-lo. — Não quero que saibam que você estava aqui!
Hermione aproximou-se da porta e entreabriu-a o suficiente apenas para ver quem batera.
— Desculpe-me, eu estava no banho.
— A Sra. Davis mandou avisar que está para colocar o pequeno Theo para dormir, senhora. O menino deseja vê-la.
— Obrigada. Diga a ela que já vou descer — pediu Hermione, tornando a fechar a porta.
Harry se aproximou dela, zangado.
— Avisei a todos para que não viessem perturbá-la!
— Pena que o aviso tenha sido feito só para os outros, e não para você! — Hermione ficou mortificada ao olhar para si mesma e ver a blusa quase inteiramente aberta e fora da saia. Olhou de volta para ele. — Vá embora, Harry, não tem mais nada para fazer aqui.
— Contra certos ímpetos não se pode lutar, Mione, e esse é um deles — insistiu Harry, muito seguro de si. — Você é minha agora, é melhor ir se acostumando. Afinal, eu lhe proporcionarei tudo o que desejar.
— Muito romântico de sua parte...
— Você ficaria surpresa se soubesse o quanto posso ser sensível. — Harry sorriu, enquanto abria a porta para sair.
— Mas deixemos de lado esse hábito em particular. O que nós temos é básico, honesto e muito mais a meu gosto.
— O que nós temos é nada! Não ouviu o que eu disse?!
— Ouço apenas o que diz de sensato, Mione. O restante prefiro ignorar. Torno a sugerir que volte a se deitar após ver Theo. Mandarei alguém trazer seu jantar. Para ser franco, está com uma aparência terrível.
A cabeça de Hermione ainda doía, assim como a garganta, mas não usaria um simples resfriado como desculpa para evitar a refeição em família. Alan Evans detestava esse tipo de fraqueza, e se ela não comparecesse ao jantar ele assumiria que estava fugindo ao desafio de portar-se como uma hóspede. Recusando-se a pensar no que quase acontecera entre ela e Harry, Hermione vestiu uma das roupas que trouxera. Uma saia longa em tom escuro e blusa de mangas compridas de seda branca, passou uma escova nos cabelos e saiu para o corredor.
Claire Davis contava uma história a Theo quando Hermione entrou no quarto. O bebê já se encontrava na cama, os olhos quase se fechando. Animou-se um pouco ao vê-la chegar, e se pôs a falar, meio zonzo de sono, sobre os cavalos que conhecera, sem esquecer o nome de nenhum deles. Aceitou o beijo de boa-noite da mãe e em seguida adormeceu.
Hermione saiu do quarto e logo em seguida ouviu o sino anunciar que os drinques seriam servidos antes do jantar. Caminhava devagar. Harry, pensou ela amargurada, com plena consciência disso usava sua própria fraqueza física como arma de destruição contra ela. Ele não tinha dúvida de que Hermione iria ceder, como também não tivera dois anos e meio atrás. E, no espaço de quarenta e oito horas, teria sua curiosidade satisfeita, assim como seu desejo. Em seguida, tornaria a rejeitá-la.
Harry lhe ensinara uma dura lição, mas Hermione teria aceitado melhor a rejeição se ele tivesse sido menos brutal.
— Ouça Mione... foi um erro terrível — dissera, na época. — Agora que estou sóbrio, reconheço que não devia ter me envolvido com você.
— Mas me desejou Harry! — ela protestara desesperada com a mudança repentina no seu modo de tratá-la. Passara a noite inteira dos braços de um amante e acordara ao lado de um estranho.
— Há meses vivo sem outra companhia a não ser eu mesmo! Claro que desejava uma mulher. Precisava de uma, e você estava no lugar errado, na hora errada!
Diferente de Harry, Hermione não cometera sérios equívocos de julgamento no que dizia respeito ao próprio coração. Nada era coerente em Harry Potter. Jamais fora, desde o dia em que ele se casou com Cho, e Hermione ficou arrasada; e decerto também não quando Harry juntou-se a ela às margens do lago, usando calça jeans, camisa aberta no peito, com uma garrafa de uísque na mão.
Pálida e trêmula, Hermione chegou ao andar térreo. Hesitou um momento ao se aproximar ao hall, então, ergueu a cabeça e entrou na sala.
Harry voltou-se, e Hermione apenas o enxergava, o talhe perfeito de seu traje formal acentuando o físico magnífico. Seu coração disparou quando os olhares se encontraram. Com a mão longe de estar firme, aceitou uma taça de licor da bandeja estendida por uma das criadas. Foi então que Harry passou o braço em trono de sua cintura estreita e puxou-a contra si, com uma intimidade inesperada.
— Mione? — Uma voz masculina e familiar a chamou. Seu olhar espantado só então deslizou pelo restante da sala até pousar no homem alto e ruivo junto a Alan, e lá permaneceu. Hermione empalideceu ao reconhecê-lo. Era Rony, e seu rosto de traços perfeitos revelava todo seu espanto diante da súbita presença dela.
Naquele instante, Hermione registrou o perigo que corria.
Quando Rony mentira a respeito deles, na certa assumira que ela optara pelo aborto, sem pensar que a farsa um dia se voltaria contra ele. Saberia que Hermione dera à luz um menino que naquele momento dormia tranqüila em um dos quartos da casa, e que fora reconhecido por Harry e por Alan como sendo filho dele?
— Alguém devia ter me avisado que Mione estava de volta. — Rony mostrava-se tenso, mas deu um jeito de sorrir.
— O Natal é a época da reconciliação — interveio Alan.
— Alguma coisa aconteceu por aqui que eu ainda não sei vovô?
— Harry sem dúvida está conduzindo Mione pelo braço por alguma boa razão... — Alan lançou um olhar muito divertido na direção dos dois, o que surpreendeu a todos.
Hermione corou mais forte ainda e afastou-se de Harry, como se tivesse sido flagrada em um ato vergonhoso. Do outro lado da porta, a sineta tocou anunciando que o jantar estava servido.
Rony olhou com perplexidade para Hermione.
— Você veio com Harry? Está com ele?
Hermione soltou uma risada.
— Só pode estar brincando, Rony. Harry e eu?!
Um segundo depois, ela olhou para Harry, e então desejou não tê-lo feito. O modo dele sorrir a arrepiou.
— É melhor jantarmos, antes que os criados comecem a protestar — determinou Alan, indiferente ao que se passava entre os dois netos e sua hóspede.
Rony plantou-se ao lado de Hermione ao caminharem para a sala ao lado.
— Mas o que está acontecendo aqui, Mione?!
Hermione ignorou Rony, desgostosa. Rony fora pernicioso à sua vida. Podia ao menos tê-la deixado com sua boa reputação. Quanto a Harry, por que ele não a alertara da presença do primo? Teria sido a chegada de Rony que o levara a sugerir que ela permanecesse no quarto?
O estômago de Hermione revirou. Por quanto tempo mais seu segredo estaria guardado? A não ser que estivesse enganada, Rony era o único ali que desconhecia a existência de Theo e a mentira que Hermione deixara se desenvolver.
Um dos criados puxou a cadeira para que Hermione se sentasse. Ela abriu o guardanapo sobre o colo. Apesar de seu estado abaladíssimo, Hermione admirou-se com a quantidade de novos empregados na casa. Outrora, era John Granger quem servia à mesa, com a ajuda do ajudante de cozinha. Agora ele permanecia na sala, a alguns passos, atento a tudo o que se passava, dirigindo tudo em silêncio, como um grande mestre de cerimônias.
Hermione ignorou o primeiro prato e sorveu dois copos de vinho. Rony lançou-lhe freqüentes olhares curiosos, embora se mantivesse concentrado naquilo que dizia sobre sua carreira profissional. Alegava ter se tornado um importante executivo em Nova York e, em três ocasiões diferentes, chegou a mencionar o prêmio que recebera, promovendo uma auto-imagem de sucesso nos negócios.
Harry fez várias perguntas que a Hermione pareceram polidas, ainda que, de maneira inexplicável, as respostas de Rony soassem presunçosas e frívolas.
Alan respondia os milhares de informações com um ocasional e distante assentir.
— Hoje em dia, estou considerando uma transferência para Londres — continuou Rony, com um sorriso expressivo. — É muito bom sentir-me outra vez em meu lar. Notei os vários melhoramentos feitos na propriedade...
— De certo, mais do que poderia imaginar — disse Alan.
— Se estiver disposto, vovô, após o jantar, gostaria que me mostrasse o que foi feito de Godric’s Hollow.
— Tem certeza de que não achará maçante? — interveio Harry, seco, o rosto sombrio e os olhos faiscando.
Rony manteve o sorriso falso.
— Claro que não! Se há uma coisa que aprendi lá fora é a valorizar o que é meu.
— Receio que seja um pouco tarde para isso, Rony - disse Alan. — Godric’s Hollow não é mais sua. Eu a vendi para Harry há dois anos.
Os olhos de Hermione arregalaram-se de espanto, e ela quase derrubou o copo de vinho na toalha impecável.
Um ricto de satisfação havia surgido nos lábios de Alan. Era a primeira e genuína emoção que ele revelava, concluiu Hermione.
Apenas Harry não parecia abalado com a notícia.


------> Eeeee... muitos comentarios... brigadão gente. Desculpem, eu disse que postaria ontem e não postei porque eu tava cheia de exercicios de matemática pra fazer e ainda não acabei =/ mas é a vida né!? Bom até o próximo... Bjaum e continuem comentando<------

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.