Histórias - Parte 1
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— Ei, Adam, me passa uma cerveja!— Um bruxo baixinho gritou para outro, muito mais alto e magro.
—Pega aí Benson. — Ele jogou a garrafa de cerveja amanteigada pelo ar. Ela descreveu uma curva parabólica perfeita na direção da parede e lá se espatifou. Houve um ruído geral, risadas e vaias dividiam o salão.
—Se não fosse seu último dia, Adam... — Falou um homem alto e moreno — Aliás, você tem certeza de que quer fazer isso? Quer dizer... Não poderia trabalhar mais uns dois anos, tentar uma vaga e se aposentar como Inquisidor Ministerial?
—Não, não, Brian, de jeito nenhum... Ando muito cansado, esse lugar me faz mal... Acho que “Fiscal do Departamento de Aplicação das Leis da Magia” já é um bom nome... Pelo menos é longo...
Brian e Benson riram.
—Mas, qual de vocês vai cuidar da minha parte a partir de amanhã? — Perguntou, olhando para o vazio entre os dois.
—Eu vou pegar a fiscalização dos imigrantes bruxos, o Benson diz que vai cuidar dos entorpecentes e bebidas ilegais trouxas... Vai ser até bom para ele, que só... O que é que você faz mesmo? Procura caldeirões com defeito, né? Quantos já achou neste mês? Dois... Três, no máximo? — Ele riu, e Adam o acompanhou de forma exagerada, demorando um minuto para parar de rir.
—Cara, você ta Legal? — Benson perguntou assustado.
—‘tô ótimo — Ele ria — Só um pouco bêbado. Acho que tenho é que parar com a maconha... Deve estar me fazendo mal... há-há.
—Nem brinque com uma coisa dessas! — Bian falou sério.
—Você lembra daquele dia que você me ligou, Jeremy? — Ele gritou para um homem o outro lado do salão de festas do Ministério da Magia — Eu não estava no banho não! Estava com uma mulher! Sou tão bom de cama que ela não parou de rir a noite inteira! E o melhor de tudo: Ela era mexicana! Já peguei mulheres de dois continentes, rapazes! — Ele falava, rindo entre as palavras, no meio de um círculo de espectadores silenciosos.
Abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas só o que fez foi vomitar.
—Ah, meu Deus, Adam! Você precisa ir para casa! — Benson se aproximou, mas ele vomitou novamente, agora em cima do amigo.
Antes que alguém pudesse ajudá-lo, porém, ele soltou uma última rajada de vômito, agora cheia de sangue.
— Ah, não, de novo não... — Adam gemeu, caindo no chão. A boca entreaberta mostrava a língua enrolada, os olhos estavam virados para cima. Seus braços, pernas e cabeça realizavam movimentos violentos e aleatórios.
—Ele está tendo uma convulsão! Alguém chama um médico! — Falou Jeremy, agora se aproximando do centro da cena. Tentou segurar o amigo, mas antes que pudesse lutar, Adam já estava paralisado, o corpo mole, a boca entreaberta e os olhos fechados.
HARRY, MD
HISTÓRIAS
PARTE 1
— Doutor Harry? Muito Prazer, meu nome é Carl Johnson — O paciente apertou a mão do médico — Como vai, doutor?
—Péssimo, obrigado. Acabei de comprar essa bengala, na verdade, mas ela só alivia a dor quando ando, a dor constante no joelho continua me incomodando, preciso é de um remédio decente... Porém, nosso assunto é você. O que você sente? A ficha diz: Vômitos, dores de cabeça, espasmos, pontadas no peito, distúrbio de fala, perda de memória, sobrepeso, desequilíbrio, enjôos, convulsões, pressão alta, desmaios, diarréia, sangramentos nasais, mau hálito, vista embaçada, subnutrição... Você não pode ter tudo isso.
—Não... Só tenho o meu hálito, depois que acordo.
—Sério? Isso é gravíssimo! Acho que vou chamar o Curts para te dar um supositório... É um membro da minha equipe, um cara alto, negro e musculoso.
O homem riu da piada.
—Na verdade, vim por que queria um autógrafo seu... Meu pai falou muito de você para mim... O senhor protagonizou a maioria das histórias de herói que ouvia quando bebê... Você foi o herói do tempo dele...
—Serio? Sempre preferi o Super-Homem... Músculos, capa e a cuequinha vermelha Sexy. — Ele suspirou e ficou calado um tempo, quando então teve uma idéia. Rabiscou algo em um papel azul de receita. — Posso até te dar um autógrafo, mas nosso jogo vai ser diferente... Eu assino a receita, você pega o remédio, me dá e fica com a assinatura...
—Oxicodona? Certo. Venho entregar aqui?
—Rua Baker, 122B. Deixe na caixa do correio. Remarque a consulta para daqui a um mês. A receita é retida. Logo terá um autógrafo para cada membro da sua família... Talvez até para seu cachorrinho...
—Gato. Obrigado, doutor. — Falou o rapaz, ajeitando os óculos de fundo de garrafa sobre o nariz largo. Harry sentiu-se imensamente feliz por usar lentes de contato. O Paciente saiu do consultório com a receita balançando na mão.
O médico foi logo em seguida e apanhou mais uma ficha de paciente, a quinta só naquele dia, um feito para quem detestava clínica. Recém havia limpado a garganta para anunciar o próximo da fila, quando a figura de Catherine Taylor entrou pela porta de vidro.
—Donald Foreman — Falou, ignorando a chegada da Diretora do Hospital. — Consultório Quatro.
— Fiscal do Ministério, quarenta anos, estava numa festa de despedida quando entrou em coma. — falou Taylor. — Sr. Foreman, acho que vai ter de esperar até que outro médico chegue... — O homem, que acabara de se levantar, se sentou de novo.
—Você quer que eu cuide de um cara em coma? — Perguntou, desafiador — Isso subestima minha inteligência... Sr. Foreman, não dê ouvidos a ela, seu médico sou eu.
—Ele não está só em coma. Está tendo convulsões enquanto está em coma. Além disso, estava eufórico e vomitando. Sente-se Sr. Foreman, sou diretora do hospital, o que me dá vários direitos, inclusive o de demitir alguns médicos desobedientes... — Ela deu a última cartada.
—Se me demitir, quem vai cuidar do adorável e enigmático cara em coma? Fica sentado aí, Sr. Foreman, acho que volto logo. — Harry rendeu-se. Pegou a bengala, de madeira escura e bem polida com um cabo perfeitamente semicircular, e saiu do consultório.
—Enfim, comprou a bengala! É só uma questão de tempo até ceder e procurar um médico para fazer os exames e medicar você... A dor nos faz superar limites, até mesmo o da nossa suposta timidez.
—Deixe as frases de efeito para mim, obrigado. — Harry falou, Irônico. — E eu acho que você ou o Wilson vão me ceder e me dar uma receita logo...
—Não deve contar com isso... A menos que esteja disposto a trocar a bengala por um andador daqui a alguns meses... Não que isso vá fazer muita diferença, a bengala já nos dá uma boa confirmação de sua idade.
—E quantos anos você tem? — Harry desafiou, interessado.
—Menos que você — Respondeu Taylor — A que horas sua equipe chega?
—Essa é uma boa pergunta... Normalmente só vêm quando são chamados.
—Eo os chamei. Celulares ajudam muito nisso... Muito mais do que patronos... Você deveria ter um.
—Me dê um então... Olha só, os três já estão lá. — Ele disse, quando os dois chegaram perto da porta do escritório. Empurrou a porta com a bengala e entrou. — Bom dia, ajudantes!
—Bom dia — Os três falaram, quase ao mesmo tempo
—Bela lousa — Completou Park, os cabelos louros desarrumados como de costume.
—Uma beleza, não? Armação de Titânio, muito leve e fácil de transportar, sem contar que ela é dupla; Se você apertar estas travinhas ali embaixo, dá para usar o outro lado... e só custou cento e cinqüenta...
—Quê? — Catherine perguntou, assustada — Cento e cinqüenta libras?
—Mais vinte pelo jogo de canetas... As que eu tinha não serviam, e esse jogo vêm com oito cores. E cinco libras pelo apagador.
—Ótimo, mais alguma coisa? — Questionou com raiva.
—Não! A nota da compra está aqui...
—Não vai falar "obrigado" ?
—É o hospital que está pagando, não você! Mas se faz questão... — Ele se virou para a parede, onde se apoiava o armário com a pia e a cafeteira. — Muito, muito obrigado, hospital! Vamos ao cara em coma, agora?
—Quarenta anos, trabalha com o controle de imigrantes e proibição de drogas para bruxos... É fiscal do Departamento de Aplicação. Estava se despedindo dos colegas, ontem a noite, quando começou a ter os ataques. O amigo que o trouxe aqui, Brian Stabler, disse que ele já andava estranho havia dias... Teve de ir trabalhar, mas volta à noite, com uma muda de roupas para o amigo... Você pode fazer umas perguntas, então...
—Ficha? — Pediu, e ela lhe entregou a pasta.
—Nada. Ele era bem saudável.
—Família?
—Separado há cinco anos. Tem uma filha pequena com a ex-esposa. Nenhum caso registrado de coma, convulsões ou epilepsia do lado dela. Na família dele, o avô da mãe teve uma doença no cérebro, que na época não foi diagnosticada. O pai teve diabetes, mas morreu de acidente de motocicleta.
—Certo, mais alguma coisa?
—Sim. Ele tem tido convulsões muito fortes, mesmo em coma, e tem horas que recobra um pouco dos sentidos e consegue falar algumas palavras... A maioria sem nexo. Por isso, precisa de observação constante...
—Quem está observando agora? — Curts perguntou.
—As enfermeiras... Ele está no quarto andar, enfermaria J.
—Ok, equipe... Hora das sugestões... — Harry começou, caminhando lentamente, a caneta já na mão, pronta para estrear a lousa.
—Trauma? — Jéssica sugeriu — Ele pode ter batido com força a cabeça no chão quando caiu, ter tido um traumatismo craniano.
—Câncer no cérebro... — Park começou — Ele estava todo vomitado quando chegou aqui... Eu vi por que estava saindo bem na hora... Explicaria as convulsões e o coma também...
—Cutelose — Curts falou — É uma infecção bem genérica, pode atacar qualquer lugar do corpo... E só afeta bruxos
—Todo o médico que não faz idéia do que o paciente tem diz que é cutelose. — Harry alfinetou.
—Lupus, sarcoidose? — Jéssica falou.
—E todo aquele que não faz idéia do que é, mas não quer dizer cutelose, chuta lupus ou sarcoidose... Mas são bons palpites... “Trauma”, “Câncer”, “Cutelose”, “Lupus” e “Sarcoidose”... — Harry leu alto, caminhou até o armário no canto do escritório e se serviu do café recém-passado.
—Park, procure pelo Trauma, Tire sangue, verifique quanto coma ele tem, depois faz uma tomografia para achar câncer, sarcoidose ou cutelose. Jéssica e Curts, procurem toxinas, fungos, bactérias, ácaros, tudo que possa causar doenças, na casa dele. Catherine,se puder vir comigo olhar o cara em coma, a gente faz uma macarronada e almoça à luz de velas... Ver caras em coma é tão emocionante... Tão romântico...
—Sem chances! Tenho trabalho a fazer... Devia ter aceitado a equipe de cinco, agora precisa de pessoal, viu?!
—Estava só fazendo uma proposta... Jéssica vai vir comigo então... Ela é mesmo muito mais... Profissionalmente capaz. Curts pode ir sozinho invadir a casa... Você era ladrão antes de virar médico, não era? — Harry provocou.
— Se quer mesmo saber, eu era pastor de igreja, ta? — O negro se alterou, seus olhos ficaram arregalados de raiva — Ou fica quieto e para de falar da minha cor ou eu...
—Vai ter coragem de bater em um aleijado? — Harry desafiou. O silêncio pairou por quase um minuto. — Vá, faça seu trabalho. Vamos, nós três vamos precisar de proteção respiratória para entrar naquela enfermaria... Ele pode ter qualquer coisa.
—Me avise quando tiver o diagnóstico. — Taylor ordenou, seguindo os três que já subiam as escadas.
—Curiosa — Harry falou.
—Impertinente — Ela respondeu, dando meia volta na direção de seu escritório. Harry ficou observando ela andar, hoje vestida em uma elegante saia risca de giz e um terninho preto sobre a camisa decotada roxa. Ele percebeu que Park o imitava.
—Tarados. — Jéssica censurou-os. — Vocês não têm vergonha não?
—Eu não, para falar a verdade... — Harry respondeu sem muito pensar. — Mas não devia estar com ciúmes, como eu disse, você é muito mais profissionalmen... Aahg! — Ele parou na escada. Seu joelho doía tanto que ele podia jurar que lhe arrancavam a pele da perna com uma faca de serra. Os olhos chegaram a lacrimejar de tanto sofrimento.
—O joelho ainda, né?... — Jéssica perguntou, preocupada.— Por que não procura um médico? Ele pode te passar a melhor receita...
—Por que você não me faz uma receita? — indagou — Hidrocodona, Oxicodona, qualquer coisa!
—A Taylor avisou que logo você viria pedir...
—E nos proibiu expressamente de te receitar qualquer coisa. — O loiro completou, seus olhos azuis fugindo dos verdes de Harry.
—Ela mesma me obriga a tomar certas atitudes, às vezes... — Ele murmurou, lembrando do homem que atendera meia hora atrás.
—Do que está falando? — Jéssica indagou, séria.
—Nada. Enfermaria J, aqui... Vamos pegar máscaras de proteção. — Desviou do assunto.
Os três médicos entraram na enfermaria fechada. O local era um pouco menor do que a UTI no térreo, mas as paredes de vidro faziam a pessoa que lá permanecesse ter a estranha impressão de estar num ambiente amplo.
Ao contrário do que Harry temera, as teimosas lembranças do passado não apareceram, já que o andar de danos permanentes estava irreconhecível, graças à grande reforma feita no hospital quinze anos atrás, e todos aqueles que lhe podiam trazer recordações não estavam mais ali.
—A companhia das pessoas em coma é muito apreciável, você não acha? Quer dizer... — Harry se sentou, os olhos fixos no homem que ali jazia deitado. — Você pode desabafar com eles, xingá-los, contar segredos, fazer confissões, chorar ao seu lado... Eles estão sempre ali ouvindo, sem reclamar, sem poder te trair ou te bater, sem rir de você...
Jéssica ouviu aquilo em silêncio, e Harry viu seus olhos brilharem aquosos, porém sem derramar nenhuma lágrima. Daniel amarrou o elástico no braço do Homem: Ele era de estatura média, tinha o corpo maltratado de quem um dia já havia tido um físico atlético, mas estragara-o com cerveja de mais e exercícios de menos.
Seus cabelos eram curtos e escuros, com apenas alguns fios brancos aleatoriamente distribuídos pela cabeça. Sob os olhos fechados haviam profundas olheiras,e sua barba estava por fazer havia duas semanas, no mínimo, chegando a emendar o bigode que ele conservava às costeletas do cabelo.
—O que tem ele? — Perguntou a Jéssica, que agora não conseguia disfarçar a clara tristeza.
—Não é ele, é, você... Meus pais sofreram um acidente, quando voltavam de uma viagem... Eu tinha uns seis anos. Minha mãe morreu na hora, mas meu pai foi intoxicado pela fumaça e está em estado vegetativo até hoje.
—Desculpa, eu...
—Esquece, já passou. Eu nem me lembro direito dele... Não sei como é a voz dele, ou como ele sorri... Ah, não! — Ela gritou: O paciente começara a se debater violentamente na maca.
Daniel, que estava com a agulha a centímetros do braço de Adam, teve de pular para o lado antes que o homem acabasse se ferindo. Harry e Jéssica já seguravam com força os braços e pernas do homem, que relutava em ficar parado.
—Está diminuindo... Que tipo de convulsão foi essa? Dormindo... —Jéssica perguntou, assim que o ataque cessou.
—Qualquer coisa... — Harry respondeu — Aproveita para tirar o sangue agora, Park, antes que ele volte a se contorcer... Vamos acelerar o processo, Jéssica, me ajude a contar:
Ele caminhou até o homem.
—Olá! Acorde! Abra os olhos! —Gritou ele. Não houve resposta. Harry deu então um peteleco na pálpebra esquerda do homem; ele abriu os olhos. — Só abre os olhos com agressão. Dois. — Ele tirou a lanterna que sempre carregava no bolso e acendeu na direção dos olhos dele, iluminando-os com um brilho roxo.
—Ele não vê. — Park avisou, vendo que ele não reagia à iluminação. — Você acha que a cegueira é do coma ou da doença?
—Dá no mesmo... Como é seu nome? — Perguntou Harry ao paciente. Ele grunhiu. —Como é o nome dele?
—Adam. —Park respondeu de imediato.
—Adam, responda-me! Qual é o seu nome?!
Ele voltou a grunhir, soltando então algumas palavras sem sentido.
—Palavras aleatórias. Isso nos dá mais três pontos. Agora, o mais legal... Agulha. — Jéssica lhe entregou uma agulha de seringa da gaveta ao lado da cama. — Diga onde dói... —Ele enfiou a ponta da agulha em vários locais do corpo de Adam.
—Ele só geme e move o músculo estimulado... Nada muito bom... Coma G10, pelo jeito ainda vai diminuir... — Jéssica falou, desanimada.
—Ei, olha só! — Daniel falou, surpreso. — Ele está com a nuca rígida. Pode ser que...
Harry apertou a nuca dele.
— Acho que finalmente encontramos algo útil neste cara... Jéssica faça os exames de sangue: plaquetas, hemáceas, leucócitos e CSM... Eu e Park vamos fazer a tomografia e ver se encontramos algo que se encaixe na rigidez da nuca... Caso não achemos...
—Punção Lombar. — Park completou, reflexivo — Mas se for Meningite...
—G10 ainda é reversível... Mas temos que nos apressar. — Harry respondeu, preocupado.
O coração de Jason Curts batia acelerado, do lado de fora do apartamento de Adam McFly. O médico olhava com anormal freqüência para os lados, a procura de qualquer sinal de suspeita, qualquer indício de que alguém soubesse que ele estava arrombando aquele apartamento.
Quando a porta soltou um estalo e abriu rangendo, ele entrou, fechou-a de novo e vestiu a máscara de proteção o mais rápido que conseguia. Agora que o medo de ser pego em flagrante perdera um pouco do espaço em seus pensamentos, a raiva do médico que lhe colocara naquela situação voltava a lhe corroer.
Mas tinha trabalho a fazer. Ou se submetia às ordens de Harry, ou só Deus sabe o que aconteceria se ele fosse demitido...
—Não, isso está fora de cogitação — Falou a si mesmo, dando então atenção ao apartamento.
O local em que aquele fiscal morava era um chiqueiro. Jason teve a severa impressão de que aquela casa era uma espécie de ninho, uma cama de gato que não era limpa havia muito tempo.
A sala tinha dois sofás velhos comidos por traças. Pelo chão estavam espalhados restos de alimentos e garrafas de cerveja e uísque. Quando Curts se abaixou para pegar amostras de cada uma das toxinas e alimentos estragados que se espalhavam por ali, encontrou dois preservativos usados sob o sofá, o que alimentou sua raiva pelo Doutor Harry.
—Ah, merda!—Ele xingou, ao ver que o preservativo que pegara com a pinça estava estourado. Ele sentiu-se imensamente mal, mesmo sabendo que usava luvas de proteção.
Caminhou até a parede, onde havia enormes manchas de bolor sob as marcas de infiltração do teto, e esfregou um pano com força, retirando um pouco de material e guardando a amostra em um saco plástico.
A cozinha da casa estava ainda em pior estado: Muitas moscas e larvas comiam os alimentos que se espalhavam por todas as superfícies do cômodo; A geladeira tinha a porta caída, e em seu interior jaziam mais dezenas de focos de contaminações e doenças. Além da comida, Adam — como Curts percebeu — costumava deixar todas as roupas que tirava empilhadas pelo chão e sobre os móveis da casa. Revirou as calças que estavam jogadas no chão, pegou amostras de alguns alimentos apodrecidos (inclusive o que sobrava de um rato morto em meio aos pratos) e correu para o quarto dele, onde, imaginou ele, não haveria tanta sujeira assim.
Enganou-se completamente: O quarto era o local mais nojento que poderia existir. Não havia tantos restos de alimento quanto no restante da casa, mas, para compensar, uma enorme quantidade de roupas, lençóis, preservativos usados e revistas com capas obscenas se espalhava pelo chão imundo.
O cheiro do quarto era insuportável, e Curts só não vomitou por que não teve coragem de entrar no banheiro emporcalhado, onde só não existia lixo dentro da lixeira, pois no restante dos lugares o mesmo se encontrava em dose cavalar.
A cama estava desarrumada, e as únicas coisas que pareciam inteiras na casa estavam ao lado dela, que eram dois criados mudos, que guardavam uma porção de porta-retratos intactos.
Na frente de todos, havia um retrato grande e bonito de duas mulheres morenas, sendo uma delas uma garotinha de sete ou oito anos de idade, cujos olhos esverdeados eram muito parecidos com os da outra mulher, mais velha e triste, de nariz arrebitado completamente diferente do longo e esbelto da filha. Elas permaneciam paradas, apenas os cabelos se movendo com o vento.
No outro lado da cama, outra foto tomava a frente da fila, esta, porém, era habitada por empolgadas personagens, incluindo — Curts deduziu ao ver uma figura animada bem no centro — o próprio Adam, que festejava alegremente com os amigos, aparentemente sadio.
O médico afastou o retrato da frente para observar os outros, mas foi surpreendido por um súbito barulho vindo da porta.
—Ei! Tem alguém aí? — O recém chegado falou, ameaçador. — Adam, é você? Não, não pode ser ele, eles avisariam por telefone se ele melhorasse... — Murmurou para si mesmo esta última parte. —Ele não teria saído do coma tão rápido... Quem está ai?
Curts ficou estático por um momento, a varinha empunhada no bolso do jeans.
—Jason Curts, cardiologista do St. Mungus, eu estou trat... — Ele começou a falar, mas o homem não pareceu ter ouvido, pois acabara de aparecer no quarto, com a varinha apontada para o seu peito e um olhar ameaçador no rosto. — Eu estou tratando do Adam.
—Ah, é? Aqui? Você tem cara de tudo, menos de médico... — O homem falou, com desconfiança.
—Por que? Por que sou negro? Sou médico. Adam está em coma, e você deve ser Brian Stabler, colega dele no ministério, veio pegar as roupas dele para levar ao hospital... Satisfeito, o quer que eu mostre algum documento?
—Não, não, tudo bem... — Brian falou, envergonhado. — O que veio fazer aqui?
—Coletar amostras de sujeira. Mas acho que viro a noite se pegar todas. — Respondeu, agora enchendo um frasco com a água turva de um vaso de plantas mortas. —Aliás, sabe por que seu amigo é tão desorganizado? Digo... Ele é porco assim sempre?
—Não sei dizer. Da última vez que fui na casa dele, Adam ainda era casado... Tudo era bem limpo... É que ele anda depressivo ultimamente... Vai se aposentar por causa do cansaço, acha que está rico só por que ganhou um dinheirinho de restituição do Departamento... Mas ele precisa mesmo de uma folga. Anda muito mal da saúde, volta e meia falta o trabalho, adoece e se trata com médicos particulares trouxas...
—Ele deve pegar muitas doenças mesmo, nessa bagunça... Mas, como foi que ocorreu o ataque na noite de ontem? — Curts perguntou. Antes que Brian pudesse responder, porém, vestiu-o com uma máscara de proteção igual à sua, para prevenir infecções.
—Ele estava rindo como um idiota... Um pouco da felicidade devia ser por causa da atenção que recebia, as fotos que tiramos com ele e tudo o mais... Já faz um tempinho que ele anda excessivamente alegre, na verdade... Mas ontem começou a falar coisas sem sentido, então vomitou por tudo... Ele estava meio desorientado... — Ele lembrou-se da cerveja que explodira na parede. — E há outros problemas também... Anda desastrado, tropeça em tudo, derruba coisas, erra feitiços...
Curts anotou aquilo mentalmente — Como o próprio Harry, de modo pouco educado, lhe orientara a fazer quando ele tentara se aproximar de uma de suas “Lousas Improvisadas”. Estava a ponto de abrir o guarda-roupa para coletar mais amostras quando, por um milagre, reparou em algo estranho na textura da parede.
Aproximou-se devagar, a varinha em punho por precaução. Agora, de perto, era mais do que nítido que aquela parede possuía algum tipo de compartimento secreto. Curts procurou alguma abertura ou trava que possibilitasse removê-la, mas, não importava o que fosse que abria aquela porta, estava oculto por magia.
—Specialis Revellius — Jason ordenou, e, surpreso com a facilidade, viu uma portinha aparecer ali, com uma minúscula maçaneta de aço.
—Você vai abrir? — Brian perguntou, um tanto temeroso. — Pode ser que...
—Ele não faria armadilhas para si mesmo, faria? — Curts perguntou, puxando a porta, deixando à mostra todo o conteúdo do compartimento. O que Adam escondia ali era uma das poucas coisas que o médico não estava esperando encontrar.
—Você não acha divertido tratar de caras em coma? — Harry perguntou a Park, que subia com ele as escadas até a galeria acima do local onde Adam McFly aguardava imóvel a ativação do equipamento de tomografia.
—Normalmente sim. Eles pelo menos não se mexem nos exames, não reclamam da dor e nem precisam ser alimentados. Mas com esse cara é meio frustrante... Ele tem aquelas malditas convulsões fora de hora...
—Ah, pelo menos alguém concorda comigo... Seus pais não se acidentaram ou estão em estado vegetativo, então? — Harry indagou
—Não que eu saiba... Não falo com eles há muito tempo. E com certeza eles não se importam se eu estou em coma ou não. — Ele falou, ligando a máquina e o monitor, que mostrava as camadas do corpo captadas pelo equipamento de tomografia.
—Você brigou com eles? Vou adivinhar... Sua mãe não aceitou a sua namorada!
—De fato, ela nunca aceitava. Mas não é exatamente isso. Acontece que, quando eu fiz quinze anos meu pai levou um golpe financeiro de seu sócio. A família entrou em crise, compramos uma casa bem menor para poder comprar comida e pagar as contas, e eu tive de sair da escola para ser educado em casa.
“Acabei me envolvendo com alguns desviados e marginais... Bebia, fumava, e logo parti para a maconha. Aos dezessete, meus pais chamaram médicos de uma clínica para me levar à força. Discutimos, chamamo-nos de nomes horríveis, e eles não mudaram de idéia, e eu fui obrigado a ir para a tal clínica.
“Eles conseguiram me limpar e tirar meu vício, antes que algo mais grave me ocorresse. Depois de um ano, eu já era uma nova pessoa, com novas atitudes e idéias. Decidi fazer medicina: Ser curandeiro e neurologista eram coisas que eu almejava, depois, é claro, de reconciliar-me com meus pais...”
—E por que não se reconciliou? — Harry perguntou, interessado, os ouvidos processando cada palavra que saía da boca de Daniel, mas os olhos fixos ao computador à sua frente.
—No início, foi um misto de orgulho, vergonha e medo. Mas depois, uma ano e meio depois de sair da clínica, tentei procurá-los, mas não achei-os mais... Alguns amigos da família me disseram que eles foram para Sussex, mas não tenho certeza de nada. Agora é minha vez de perguntar algo... Por que insiste que o chamemos de Dr. Harry? Não poderia ser como os outros, quer dizer... Precisa ser diferente até nisso?
—Não é ser diferente. Herdei muitas coisas de meu pai: Os dois últimos nomes, o nariz, os cabelos, a boca, as habilidades... Harry foi o nome que minha mãe escolheu. Achei que podia homenageá-la... Além do mais, “H” fica muito mais másculo que “P”, não acha?
Park concordou, si depois percebendo o segundo sentido da frase.
—Não há nada nele: tumor, sarcoidose, cutelose... nada. Faça a punção lombar... — Harry sentiu uma dor aguda no jeoelho esquerdo.
—Sem Lupus – Falou a dra. Spencer. — Mas...
Harry olhou para o teto, para o chão e para os cantops da galeria, intrigado.
—De onde você surgiu?
—Entrei pela porta... — Ela falou, confusa.
—Ah, claro O que você ia dizendo? — Perguntou, agora o cérebro associando o evidente branco momentâneo da memória à dor insuportável do joelho.
—Disse que deu negativo para Lupus, mas a taxa de leucócitos está lá embaixo...
—Não faz sentido... — Harry murmurou, referindo-se igualmente à dor na perna e à doença.
—Talvez a taxa de leucócitos não tenha nada a ver com a meningite. Se ele tiver mesmo meningite, é claro. — Park falou, interessado na expressão facial de Harry.
—Façam a punção, eu já volto. — O médico grisalho falou, saindo com a bengala da galeria, onde os outros dois médicos se entreolhavam, confusos.
—Boa tarde, Wilson. — Harry cumprimentou o amigo, roubando uma considerável quantidade de batatas fritas de seu prato. Já eram duas da tarde, e o restaurante do hospital já começara a esvaziar.
—Ter meu almoço tocado por mãos cujo grau de higienização desconheço é uma das coisas que me desagrada...
—OK, Wilson. Da próxima vez que for roubar sua comida informo o grau de higienização antes... Para constar, acabei de fazer uma reto-algo-scopia numa obesa com vermes. — Harry falou, brincalhão.
—Pode comer o resto, então... Eu passo em algum Fast-Food e como algo quando estiver no caminho...
—Não está de plantão hoje?
—Não, não... Drake, meu filho mais novo, vai participar de um jogo de quadribol lá em Hogwarts, vou assistir... — Wilson falou, agitando algumas bandeirolas amarelo-e-pretas , sem nem perceber quanras lembranças a frase trouxera a Harry, que as expulsou, como de costume.
—E o que aconteceu com aquela senhora com o câncer no pâncreas? Fez a cirurgia?
—Hum... — Wilson observou Harry por um instante – Interessante... Isso que eu acabei de ouvir seria você se importando com a vida de uma paciente alheia? Sabia que não conseguiria sustentar a máscara de machão insensível por muito tempo... Quanto durou? Pelas minhas contas foram vinte e dois dias...
—Não tenha tantas esperanças... Só falei nela para puxar assunto com você e poder falar do que realmente me trouxe até aqui... Minha perna.
—O que, acha que têm Câncer de Joelho agora? — Caçoou Wilson.
—Eu apaguei. Alguns segundos sem ver nada. A dor deve estar atingindo meu cérebro diretamente, com mais força que eu imaginava... Será que você pode, por favor, me receitar algo para a dor?
—Claro. — Falou, e Harry sorriu – Que não. A Taylor está controlando todas as minhas receitas. Eu disse que por mim receitava algo à você, mas ela me proibiu. Deve estar querendo te provar algo... Mas isso está começando a prejudicar meus pacientes... Receitas com um dia de atraso...
—Digamos que eu possa... uhn... receitar os remédios de seus pacientes... Ela não está fiscalizando as minhas receitas... Receitas imediatas para você, oxicodona para mim...
—Como? Você vai tomar direto oxicodona? Já pensou alguma vez em evitar o exagero?
—Eu não bebo, não há o que temer... Mas se faz questão, receite hidrocondona, algo do gênero. Você assina as minhas receitas de remédio, eu assino as dos seus pacientes. Fechado?
—Ah... Tá certo, depois a gente vê isso... Estou em cima da hora, tenho que ir... Até mais, Harry.
—Até, Wilson. — Ele respondeu, feliz por ter conseguido seu suprimento de remédio para dor por dois caminhos diferentes. A felicidade diminuiu um pouco ao se lembrar de que não tinha o remédio em mãos naquele momento, e mais um bom tanto ao ver que sua equipe não estava no local onde ele os deixara, o que significava que ele teria de procurá-los sob efeito da dor.
—Eu disse “Já volto”, isso significa “Fiquem aqui me esperando, custe o que custar”. — Harry exclamou, ao encontra-los novamente na enfermaria J do quarto andar – Ah, Curts, você está de volta. Vamos fazer um levantamento das novidades, então. Em ordem alfabética, Park.
—A punção acusou meningite. O líquido saiu amarelado e viscoso. — Disse ele, mostrando o flúido que ele retirara das cervicais, logo abaixo da nuca de Adam.
—Acho que todos sabem como tratar meningite... É o que vamos fazer. Curts?
—A casa dele é um chiqueiro. Pelo jeito ele só anda comendo e fazendo sexo nesse último mês. Há diversas revistas pornográficas e camisinhas por lá também, o que mostra que ele está com a libido nas alturas... Vamos levar dois dias analizando todos os possíveis focos de toxinas que eu trouxe...
“O amigo dele, Brian Stabler, apareceu por lá e me ameaçou, não acreditava que eu fosse médico. Disse que ele falta o trabalho e fica sempre doente... Mas calma, não para por aí... O grand finale: Num fundo falso da parede encontrei sacos e mais sacos de maconha. Devo denunciar?”
—Não. Somos médicos, não cidadãos da lei. Isso fica a critério do amigo dele... Spencer?
—Como eu já disse, não há lupus, só há uma baixíssima taxa de leucócitos no sangue...
—Resumindo: Temos três coisas isoladas: Meningite não é causada pela maconhe nem pela casa suja. Maconha mata neurônios, não leucócitos. A casa suja muito menos... Ninguém com meningite ou imunidade baixa fuma maconha por isso.
—Que tal pensarmos no que pode estar relacionado?— Curts sugeriu. — Queda na taxa de leucócitos aumenta as chances da contação da meningite.
—Certo, e o que causou a queda na taxa de leucócitos? — Harry perguntou, interessado.
—Alguma das centenas de toxinas presentes na casa dele? — Park arriscou.
—E o que causou a sujeira da casa? — Curts perguntou, pensativo. — Stabler falou que a casa era limpa, antes...
—A maconha... — Jéssica respondeu – Ou, ele simplesmente tem AIDS... A AIDS destrói a imunidade... E você disse que achou preservativos por lá, não? Pode ter esquecido de pôr alguma vez...
—Sim, eu mesmo até peguei em uma estourada... Mas se não tiver sido por isso, pode ter sido de outro jeito... Seringas trocadas por exemplo... Maconha é só uma iniciação para às drogas, ele pode ter tentado outras, também...
—Novo exame de sangue então... Procurem tudo. Mas duvido que seja algo do que vocês disseram, nada explicou as colvulsões. Comecem a tratar a meningite, que é a única coisa confirmada dessa história toda... Quando tiverem novidades, estarei em meu escritório aguardando... — Ele falou, pensativo, e saiu da enfermaria, a bengala resistindo com firmeza ao trabalho que lhe era encarregado.
“Coma”, “Maconha, “Meningite”, “Imunidade Baixa”, “Convulsões”, “Vômitos”, “Doenças da Sujeira”, “AIDS”, “Drogas”, “Preservativos”, “Epilepsia”, “Euforia”, ...
O Dr. Harry jazia sentado no chão de seu escritório, escorado na parede de vidro, a mobília afastada e a lousa lotada de palavras, flechas, sintomas, possibilidades descartadas... A cafeteira apitou mais uma vez, e ele demorou a se levantar para pegar o café e alguns biscoitos doces.
—”Talvez” — Pensava ele – Ele tenha algum tipo de doença causada pelas toxinas que tenha afetado o cérebro, causando as convulsões... Curts encontrou um rato morto, pelo que vi. Pode ser leptospirose... Ele levantou-se, anotou a palavra na lousa, associou-a às doenças causadas pela sujeira e aos ataques com flechas, e voltou a se sentar.
—Heinns. – Falou em voz alta – Alimentos preparados por magia com cozimento inadequado podem causar a doença de Heinns, que ataca os músculos gerando contrações fortes e involuntárias. Explica vômitos, euforia, epilepsia... — Ele foi, anotou a doença, sntetou-se novamente, comeu e bebeu um pouco de café. O joelho doía muito.
Os seus olhos verdes esquadrinhavam a lousa, procurando algo, uma palavra que tivesse passado desapercebida, qualquer coisa...
—Talvez eles tenham acertado: AIDS e meiningite explicam quase tudo. A maconha explica a euforia e a sujeira. — Falou a si mesmo, em pensamento.
—Mas e os ataques? — Perguntou a metade pessimista (e dominante) de seu cérebro.
—Trauma, Heinns, posseção demoníaca... — Respondeu a outra mentade.
—Já descartou trauma... E você não acredita em demô...
—Harry? — Falou uma voz calma, que lhe despertou do raciocínio cansativo.
—Ah, Dra. Taylor, o que...
—Uma garota, deu entrada no hospital, aparentemente com os mesmos sintomas do sr. McFly... A mãe dela está desesperada, a garota já está perdendo a consciência, graças ao coma...
—Tratamento para meningite.
—Não, Não... Sua equipe está testando o sangue dele. Eles pediram para avisar que o tratamento para meningite não está surtindo efeito. Ele está em coma G7.
—Mas a punção lombar acusou, a nuca, os movimentos... Tudo implica em meningite. Se não for meningite, é uma doença nova.
Taylor o ohlou nos olhos.
—Torça para que não entre mais ninguém neste hospital com estes sintomas, dr. Harry, ou pode ser que estejamos prestes a lidar com uma epidemia de uma doença desconhecida...
—Maneiro!— Ele falou, sem rir
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