VÁRIAS PRISÕES E UMA FUGA



Poucas coisas irritavam mais Lady Pollock do que a sensação de derrota. Irada, ela tentava se controlar para encontrar rapidamente um meio de evitar um combate direto contra aqueles três poderosos bruxos. Assim que foi avistada por Harry, ela embrenhou-se na floresta novamente, percorrendo trilhas aleatoriamente, enquanto seus pensamentos giravam em alta velocidade. Os ramos das árvores mais baixas castigavam seu corpo já ferido, dificultando tanto sua progressão quanto sua concentração. Após mais alguns desvios e contornos, ela parou por um instante e, aguçando os sentidos, percebeu que havia conseguido despistar temporariamente seus perseguidores.



Exausta, ela recostou-se em uma árvore próxima, pensando: Que floresta densa.. Parece não ter fim... Por mais que eu fuja, parece que permaneço no mesmo lugar...



Harry e Rony usavam o máximo de sua experiência como Aurores para rastrear os passos de Lady Pollock, enquanto Gina, que ficara para trás, ajudava Hermione a se recuperar. Entretanto, a missão dos dois ficava quase impossível devido à fraca iluminação disponível naquela noite nublada, dando à floresta um aspecto monocromático, como num filme antigo. Iluminando o máximo que podia com sua varinha, Rony murmurou:



- Fique por perto Harry, não podemos nos perder nessa escuridão.



Lady Pollock, por sua vez, sentia alguma coisa roçando a superfície de seus pensamentos... Uma ideia que, como uma bolha, parecia querer forçar sua saída de dentro de um líquido viscoso e libertar-se na atmosfera... Ela parecia conseguir ver aquela bolha subindo, subindo, subindo... Até que: POP! Aquele leve barulho soltara uma corrente de eletricidade pelo seu corpo e ela ergueu-se, em posição de ataque.



É isso! Eles também não conseguem se localizar aqui dentro!



Ela concentrou-se e murmurou um encantamento de reverberação em todas as árvores ao seu alcance. Quando se deu por satisfeita, apontou a varinha para a própria garganta e disse:



- Sonorus.



Sentindo a vibração de suas cordas vocais em todo o seu corpo, ela então urrou:



- Estou aqui, seus tolos! Aurores idiotas!



Ecoando como trovões, as frases ditas por ela pareciam se multiplicar indefinidamente, gerando uma cacofonia ensurdecedora.



- O que é isso? – gritou Harry, mas sentiu que Rony mal o escutara.



(Estou aqui, seus tolos... Estou aqui... Aurores idiotas... Idiotas...)



Os sons vinham de todos os lados, desnorteando Harry e Rony. Lady Pollock, por outro lado, sorriu, satisfeita consigo mesma e já tentando pensar em um meio de sair dos terrenos de Hogwarts. Por terra seria impossível, pois ela mal tinha forças para continuar em pé. Também não conseguiria aparatar devido às proteções mágicas dos terrenos da escola. Ela olhou para o céu e tentou se transformar novamente em hipogrifo, porém, sem sucesso. Fraca, ela praguejou furiosamente em sua mente. Vamos lá! Pense! Como você poderia voar sem asas?



E a resposta apareceu tão logo ela terminou de imaginar a pergunta.



- Accio vassoura! – ela clamou, apontando a varinha em direção ao castelo. Mesmo aquele simples feitiço convocatório havia sido a gota d’água para o seu estado físico, forçando-a a cair de joelhos, com a respiração entrecortada.



Não demorou muito e uma vassoura passou veloz por uma das janelas, cruzando o céu noturno como um cometa. Ela segurou a vassoura quase como uma muleta e notou que as cerdas da cauda pareciam resplandecer, balançando graciosamente após o breve voo.



- Thunder Tail 3000. – ela disse retoricamente, lendo o nome no cabo da vassoura – Parece veloz.



Sem mais delongas, ela montou na vassoura e rapidamente alcançou as nuvens, afastando-se de Hogwarts à medida que o sol já lançava seus primeiros raios no horizonte.



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Rose e seus primos não precisaram se afastar muito da Torre de Astronomia para encontrar o Prof. Longbottom, acompanhado de perto por Flitwick, Trelawney e Madame Pomfrey.



- E então, crianças, quais as novidades? – indagou Neville, rapidamente.



- Papai e tio Harry cuidaram de tudo. Deixaram todos na torre desarmados e devidamente amarrados, acho até que estavam sob o feitiço trava-língua. – respondeu Rose – Quanto a nós, estávamos levando esses dois para a Ala Hospitalar pois encontramos eles soterrados.



- Acho melhor nós levarmos eles, Srta. Weasley. – adiantou-se Madame Pomfrey.



- Concordo, acho que vocês já fizeram demais por hoje. – Flitwick disse, objetivamente – Vocês devem voltar para o seu Salão Comunal. Sibila, você poderia fazer a gentileza de acompanhá-los até o retrato da Mulher Gorda?



- Oh, seria um prazer, Filius! – ela respondeu, aliviada por não ter que lidar com os prisioneiros – Venham comigo, crianças.



- E os nossos pais? Eles não estavam mais na torre quando chegamos. Será que eles estão bem? – questionou Alvo.



- Ainda precisamos averiguar. – respondeu Neville – Mas tenho certeza que estão bem. Harry e Rony são ótimos Aurores, praticamente imbatíveis quando estão com Gina e Hermione. Podem ficar tranquilos que avisarei a eles que vocês estarão esperando no Salão Comunal.



Os três ainda tentaram, sem sucesso, argumentar a seu favor, mas acabaram seguindo a Prof.ª. Trelawney em direção ao dormitório da Grifinória. Durante a breve caminhada, as primeiras luzes da manhã já vinham anunciar o nascer do novo dia e pareciam querer parabenizar James, Alvo e Rose pelo sucesso em sua primeira grande aventura.



- Uaaahhh... – bocejou Alvo – Já é de manhã! Nem vi o tempo passar!



- Meus olhos estão ficando pesados mesmo... – completou James.



Assim que entraram no Salão Comunal, os três se despediram da Prof.ª Trelawney e sentaram nos sofás em torno da lareira acesa. De maneira prática, Rose abriu o Mapa do Maroto para checar o paradeiro dos seus pais. Avistou os nomes no Salão Principal e ficou aliviada.



- Ufa! Eles estão todos bem, meninos! Já estão aqui dentro do castelo.



(Silêncio...)



Quando ela levantou os olhos do mapa, viu que seus primos já dormiam, esgotados depois de tanta ação. Rose, com preguiça de ir para o seu quarto, aninhou-se no sofá em que se encontrava e também se deixou levar pelo sono.



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A manhã havia começado agitada, com Harry e Rony liderando uma comitiva de Aurores, encarregados do transporte dos diversos prisioneiros para Azkaban. Os dois amigos estavam parados em lados opostos do portão de entrada, por onde passavam, em fila, cada Auror com o delinquente do qual estava encarregado. Assim que saíam do alcance dos encantamentos de Hogwarts, faziam um breve sinal para Harry e aparatavam. A monótona procissão se seguiu, e Harry notou vários homens e mulheres cujos rostos estampavam cartazes de PROCURADO nos muros do Beco Diagonal, em sua maioria bruxos envolvidos no tráfico de artigos não comerciáveis.



-Vinte e nove bruxos fora da lei capturados. – disse Harry, sorrindo – Deve ser algum tipo de recorde.



- Argh, mas não conseguimos capturar a Animaga! Não vou esquecer o que ela fez com a Mione! – resmungou Rony – Acho que ela é tal da Lady Pollock que Kalderash mencionou.



- Pode até ser, mas não tenho certeza. Só sei que ela é uma bruxa bastante poderosa e parecia ser a líder deles. Além disso, também foi muito criativa para conseguir escapar por entre nossos dedos.



- É difícil admitir que ela nos superou hoje. Estávamos quase dando o xeque-mate nela, Harry!



- Eu sei, Ron, mas acho que vamos conseguir desenterrar muita coisa podre ao interrogar as pessoas que prendemos hoje.



- Concordo! Vamos espremer esses caras até eles começarem a falar!



- É isso mesmo, meu amigo! – disse Harry, soltando um suspiro aliviado. Virou-se para o ruivo, que ainda estava carrancudo, e continuou – Mas acho que podemos parar um pouquinho e aproveitar nossa conquista de hoje.



Rony esboçou um sorriso, falando:



-Vão ser vinte na minha conta e nove na sua. Estou precisando melhorar minhas estatísticas no departamento.



- Ok, fechado! – Harry respondeu, apertando firmemente a mão do amigo – Mas não se esqueça de um detalhezinho… Você precisaria de vinte e uma prisões para me ultrapassar no nosso ranking interno.



- O QUÊ!? Você é um manipulador asqueroso, Potter!



- Trato é trato. Achei uma divisão justa! – tripudiou Harry, para a revolta de Rony, enquanto os dois se dirigiam à Ala Hospitalar para conferir o estado de saúde de Hermione.



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Gina encontrava-se com Flitwick e Neville acompanhando a recuperação de Hermione e Minerva McGonagall. A diretora havia sido colocada num sono forçado para acelerar sua recuperação e Hermione, ao contrário da diretora, estava desperta e querendo agilizar sua saída da enfermaria para ver sua filha. Mesmo sob reclamações de sua paciente, Madame Pomfrey não relaxava nos tratamentos, movimentando-se agilmente e forçando Hermione a seguir suas recomendações.



Rony passou apressado pela porta, seguido de perto por Harry. O ruivo percorreu os leitos com os olhos e suspirou aliviado quando seu olhar se cruzou com o de sua esposa. Ela sorriu, com um sorriso brincalhão e zombou:



- Você fica muito fofo com essa cara de preocupado.



- Poxa, Mione! “Fofo”, não! – ele retrucou, com a face da cor dos cabelos – Já pedi mil vezes para ela não fazer isso... – emendou Rony, lançando um olhar de súplica para Harry.



- Ai, você fica ainda mais fofo com o rosto vermelhinho. – caçoou a irmã, rindo.



- Super fofo! O temido Auror Ronald Fofis Weasley! – agora era a vez de Harry entrar na brincadeira.



- Ah, já chega! Vamos falar sério, por favor! – exasperou-se Rony, em meio às gargalhadas. Nem mesmo Madame Pomfrey tinha resistido e divertia-se, assim como os outros.



Quando todos se acalmaram, Neville relatou detalhadamente sua versão da invasão à escola, ressaltando a importância das crianças na defesa do castelo. Ele contou como James havia sido perspicaz em perceber a presença de intrusos e como Alvo e Rose seguiram à risca suas instruções para conseguir abater vários bruxos adultos usando seus artefatos de Herbologia. Assim que ele terminou, foi a vez de Harry contar os detalhes da batalha que travaram contra a bruxa que ele denominou apenas de “Animaga”, além de falar sobre a possível repercussão daquelas prisões.



- Temos fortes suspeitas que as pessoas que invadiram Hogwarts hoje estejam envolvidas com um grupo conhecido como Orquídeas Negras e que essa animaga seja a líder delas, Lady Pollock. Vários dos criminosos capturados já eram procurados por delitos menores e sua afiliação a essa organização criminosa é praticamente certa. Ao que me parece, esses invasores são apenas a frente de batalha, aquela parcela que faz o serviço sujo nas ruas, enquanto devem existir outros membros que cuidam da lista de clientes interessados em adquirir artigos proibidos para magia negra. Ainda há muita informação para desenterrar, mas acho que eles tiveram uma grande baixa hoje. Nossa esperança é que consigamos pistas importantes em nossos interrogatórios.



- Resumindo, foi uma madrugada muito produtiva para o Departamento de Aurores. – animou-se Rony.



- E seus filhos também estão de parabéns. – lembrou Neville – Fiquei realmente impressionado!



Gina trocou um olhar sincero com Harry, percebendo que ele também estava bastante orgulhoso da atitude corajosa de seus filhos. Hermione sentiu uma vontade enorme de ir abraçar Rose e se manifestou:



- Já está na hora de irmos dar uma olhada neles. – disse ela, sentando-se na cama.



- Ainda não, Sra. Weasley. – cortou Madame Pomfrey, com um olhar severo – Você ainda deve descansar, afinal, as perfurações em seus ombros foram muito profundas e ainda não estão completamente curadas.



- Pode deixar com a gente. – disse Gina, segurando a mão de Harry – Porque você não dorme por aqui também, Ron? A Mione não precisa ficar sozinha.



- Vou aceitar sua sugestão, maninha. Meu corpo todo dói. – ele respondeu, arrumando-se para deitar em um leito ao lado do qual estava sua esposa.



- Vamos precisar da senha para passar pelo quadro da Mulher Gorda. – indagou Gina.



- A senha atual é “Cauda de Dragão”.



- Obrigada, Neville! – ela respondeu, já começando a caminhar ao lado de seu marido.


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