Quarto Capítulo



A volta para o apartamento foi feita em silêncio.
Ambos estavam tensos e aborrecidos devido às próprias convicções. Ambos estavam sexualmente tão excitados que o ar parecia carregado de eletricidade.
Hermione saiu do carro antes mesmo de Harry o haver estacionado. Dirigindo-se diretamente para o elevador, ela cometeu o último pecado ao não esperá-lo para subir até a cobertura. Esperar impacientemente pela volta do elevador, na garagem não ajudou nem um pouco a melhorar o estado de ânimo de Harry.
Ao chegar no quarto, ele a encontrou trancada no banheiro. Podia ouvir o barulho do chuveiro ligado, o vestido vermelho estava jogado como uma mancha no chão de cerâmica branca, ao lado das sandálias de salto alto.
Sentindo-se completamente frustrado, ele tirou o paletó e teve a tentação de atirá-lo sobre o vestido, em uma declaração silenciosa de desejo.
Ao perceber a infantilidade do gesto, parou para refletir sobre o que estava sentindo: raiva, frustração, imaturidade, ou seriam apenas demonstrações temperamentais? Não eram essas as emoções com que ele pretendia preencher o seu lar! Eram sentimentos que careciam da sofisticação própria da sua vida privada.
Mas, acima de tudo, ele estava começando a se sentir como um marido ciumento, o que não combinava com o seu modo de ser.
Ele estava dispondo a roupa em um cabide, quando Hermione saiu do banheiro. Ao vê-lo em mangas de camisa, ela quase não pôde conter o desejo de tocá-lo, acariciar aqueles ombros largos, o corpo perfeito, as nádegas firmes, as pernas musculosas, tudo ressaltado pelo amorenado da pele. Desejou que ele a tomasse naquele instante, sem que houvesse qualquer tipo de resistência.
Mas ele não o fez. Quando se virou para encará-la, mesmo demonstrando um frio desdém, ela não pôde deixar de sentir um fluxo de desejo, e seu corpo latejou debaixo do robe de seda.
Quis odiá-lo por exercer tal poder sobre ela. Especialmente quando ele a olhou com uma expressão de censura e se afastou.
—Você esteve trabalhando com Malfoy novamente. — ele disse com a voz contida.
Sem se importar em responder, ela inclinou-se para apanhar o vestido e as sandálias que deixara jogados no chão, levando-os para o guarda-roupa na frente do qual ele se encontrava parado.
Abriu uma das portas, que ele fechou abruptamente.
—Responda. — ele ordenou friamente.
—Não percebi que você havia feito uma pergunta. — ela respondeu, com igual frieza. —Soou mais como uma afirmação.
Com o canto dos olhos, ela observou as feições contraídas de Harry, e continuou na tarefa de dispor o vestido no cabide e as sandálias na sapateira.
—Então me explique o que ele quis dizer esta noite quando falou sobre algo interessante.
Ela encolheu os ombros.
—Não faço a mínima idéia. — ela disse, apesar de ter algumas suspeitas não muito agradáveis.
—Você deve saber. — Harry insistiu. —Conhece muito bem aquele homem. Viveu com ele por mais de cinco anos.
Dez, ela quis corrigir, mas deteve-se.
—E com você durante um ano. — ela acrescentou, fechando a porta do guarda-roupa. —Mas não vejo por que se preocupar.
—Oh, muito confortador. — ele caçoou. —Agora, responda a minha primeira pergunta e me diga se esteve trabalhando em segredo com ele.
—Para um homem famoso por sua inteligência, você, por vezes, parece meio lento. — ela respondeu. —Pergunte-se a si mesmo. Quando? — ela sugeriu. —Acha que tive a oportunidade de trabalhar ou fazer alguma coisa mais com o Draco?
Ele não gostou da ironia, suas feições se contraíram.
—Pelo que sei, o homem pode ter um estúdio secreto montado aqui em Milão onde vocês dois se encontram regularmente.
—Então, estou fazendo a felicidade de dois? — sua risada era de caçoada. Mas mesmo ela percebeu que sua expressão devia ter mudado, porque Harry, sem querer, havia se aproximado de um segredo seu muito bem guardado.
Realmente, ele percebera a mudança, decerto que sim. Estendendo a mão, puxou-a para perto de si. Seus olhos tinham uma expressão de suspeita, seus dedos comprimiam-lhe o pulso.
—Você está me escondendo alguma coisa! — ele exclamou.
Ela se recusou a responder e manteve a boca fechada, em uma clara demonstração de desafio. Com isso, Harry confirmou ainda mais as suas conclusões.
—Se vocês estiverem tramando alguma coisa contra mim na sexta-feira, juro que você irá se arrepender de me haver conhecido!
—Por que não me ouve? — ela perguntou. —Eu não sei o que Draco está planejando para a sexta-feira!
—Então por que esse ar dissimulado?
—Você não tem o direito de se intrometer em tudo o que me diz respeito! — ela respondeu, cheia de indignação. —Sou apenas a sua amante, e não a sua esposa!
Isso veio ao encontro do que ele próprio estivera pensando. Seu semblante se obscureceu ainda mais.
—A forma como os dois estavam perdidos em profunda conversação, enquanto você se grudava nele, demonstrava que estavam tratando de algo importante. Eu quero saber do que se tratava!
—Estávamos falando sobre você! — ela exclamou. —Se estava no tempo de eu deixá-lo ou não!
Aquilo o atingiu em cheio. Hermione o viu tencionar o maxilar.
—Você está dizendo que ele a quer de volta? — ele perguntou.
—Ele sempre me terá de volta! — ela respondeu, no mesmo tom. —E quando eu estiver pronta para deixá-lo, na certa voltarei para ele!
Ao dizer aquilo, ela deu um safanão para libertar o seu pulso, afastando-se orgulhosamente, tentando de não demonstrar o quão triste estava com tudo aquilo. Aquela, sem dúvida, era a pior discussão que haviam tido, até a data.
Precisando fazer alguma coisa, depois do silêncio que se seguiu, ela se sentou diante da penteadeira e soltou os cabelos.
—Se houvesse a mais remota possibilidade de você me deixar, você já o teria feito, sem precisar ficar ameaçando. — Harry disse, demonstrando dúvida.
—Você acha que eu sou uma verdadeira bobalhona, não? — ela perguntou, jogando os grampos sobre a penteadeira. —Pensa assim porque é tão sexy e rico a ponto de poder comprar tudo o que quiser, e que eu deveria agradecê-lo por ter decidido me comprar!
—Eu não a comprei! — ele retrucou. —Eu a escolhi. Há uma enorme diferença.
Sua arrogância, ela pensou, não tinha limites.
—Entretanto, se você se vendeu ou não para mim, essa é uma questão que não me diz respeito. — ele concluiu.
—Por que não? — ela desafiou, olhando-o através do espelho. —Está com medo de descobrir que talvez a sua riqueza me seja mais atraente do que o seu corpo?
Ele estava a ponto de desfazer a gravata borboleta, e ela o viu parar e se retesar. Ficou satisfeita por vê-lo assim contrafeito.
—Fico aqui sentada, envolta nas mais caras sedas, — ela continuou, para desconcertá-lo ainda mais. — usando os mais caros cosméticos que o dinheiro pode comprar. Vivo em um luxo que a maioria das pessoas só vê nas páginas das revistas e, lá embaixo, na garagem, tenho um carro que é o sonho de grande parte das mulheres.
—Aquele carro é meu. — ele aparteou. —Somente permito que você o use.
—Permite! — Com um soluço, ela se voltou para olhá-lo. —Então agora chegamos ao ponto. O carro é seu, estas acomodações luxuosas são suas, as roupas caras que uso lhe pertencem, bem como as jóias caras que você mantém guardadas no cofre, até que eu as peça para usar. Portanto é natural que você acredite que tenha me vendido para você também.
—Nunca disse isso. — ele respondeu, a irritação visivelmente estampada no rosto.
—Então, vamos esclarecer as coisas de uma vez por todas! —erguendo-se, ela foi se postar em frente dele. —Se eu, digamos, decidisse ir embora neste instante, o que poderia levar comigo?
—Isso é estupidez. — ele disse, com um suspiro, retirando a gravata borboleta. —Principalmente porque sabemos, muito bem, que você não tem a intenção de ir para lugar algum.
—O carro? Não. — ela continuou, sem se deter. —As jóias? Definitivamente, não. E todas aquelas roupas de grife? Será que desempenhei a contento o meu papel para poder levá-las, Harry? —ela perguntou de modo provocador. —Ou pretende me deixar partir completamente nua? Se for assim — ela acrescentou, sem lhe dar chance de responder, —você não vai poder afirmar que eu me vendi a você. O que eu ganharia com isso?
—Um ano de muito sexo? — ele sugeriu.
—Oh! — ela exclamou. —Estava esperando que você tivesse as boas maneiras de deixar o sexo fora disso.
—Por quê? — ele perguntou, desafiando-a. —Quando isso é tudo que eu...
Harry se deteve quando sentiu que a raiva o assaltava com maior intensidade, ao perceber uma expressão de triunfo no semblante de Hermione.
—Você me forçou a dizer isso. — ele insistiu, desejando nunca ter começado aquela discussão.
—Sim. — ela concordou. —Eu o forcei a isso. Mas o tom belicoso havia desaparecido da sua voz.
Ele se sentiu arrasado.
Ela se afastou.
E foi a frustração com aquela cena sórdida que o fez detê-la, Harry imaginou. Não tinha nada a haver com a súbita suspeita de que se a deixasse ir, ela não mais voltaria para ele.
Enlaçou-a pela cintura e a atraiu para si. Depois, simplesmente movido por uma necessidade inadiável, inclinou a cabeça e a beijou com paixão.
Ela não resistiu nem tampouco correspondeu. Entregou-se ao beijo imóvel e sem vida, sem retribuir.
Não gostando nada daquilo e menos ainda ao perceber que ela podia ficar ali insensível, enquanto o seu corpo reagia com a paixão costumeira, ele continuou determinado a demolir qualquer resistência.
Ele conhecia aquela mulher, e começou a lhe cobrir a face com beijos tentadores que sabia a excitariam. Percorreu todos os pontos sabidamente sensíveis, evitando a boca expectante. Com um soluço desamparado, ela se descontraiu e ficou à espera.
Sim, ele confirmou triunfantemente, conhecia-a muito bem. Apreciou a forma como sua respiração se acelerou e como começava a corresponder à carícia de suas mãos, que, descendo costas abaixo, desfizeram o nó do robe.
Quando ela soltou um suspiro de incontrolável surpresa, ele, por fim, tomou-lhe a boca novamente. E ela se entregou ao beijo como uma mulher com febre de amor. Agarrou-se aos músculos sólidos do seu braço, enquanto ele acariciava-lhe os cabelos, o corpo, os seios voluptuosos.
Dentro de segundos, ela estava gemendo. Os olhos fechados, a cabeça lançada para trás, os cabelos soltos, que ele agarrava para obrigá-la a se submeter cada vez mais. Quando os gemidos se tornaram soluços de prazer, ele consolidou o seu sucesso, deslizando a mão pelas coxas, até que encontrou o ninho de pêlos sedosos que envolviam a gruta do amor. O robe já não constituía uma barreira e abria-se totalmente para lhe dar livre acesso. Entretanto, o triunfo verdadeiro veio quando ela, trêmula, fez-lhe um convite silencioso.
Na cabeça de Harry, a batalha estava ganha. Assim, abruptamente, como a havia começado, ele a terminou, ficando a observar Hermione, com um sorriso nos lábios, enquanto ela se apoiava lânguida contra ele, tonta e desorientada, incapaz de se sustentar por si própria.
—Você me quer, Hermione. — ele declarou, com uma voz impessoal e fria que a fez gelar. —Assim, deve aprender a não me provocar ciúme com outro homem, só para apimentar as coisas entre nos dois.
Uma advertência direta.
Ali de pé, em seus braços, Hermione não disse nada. Ele havia procedido daquela forma só para demonstrar a sua força.
Era humilhante!
Depois de alguns momentos, ele deu um suspiro e a soltou. Ela recobrou o equilíbrio e se manteve imóvel, enquanto ele se encaminhava para a porta. Qual seria a imagem que ele estaria levando dela?, Hermione se perguntou ao vê-lo sair.
Ela estava ali, de pé, vestida com um robe de seda vermelha, que pendia preso à cintura pelo cinto, seus seios ainda palpitantes, tal como a sua boca, como o seu sexo!
Nunca se sentira tão enojada em toda a vida. Por causa dele e por si própria. Enojada por saber que ambos não prestavam. Harry só sabia receber e receber, e ela permitia que ele agisse assim.
—Eu o odeio. — ela sussurrou, sem ter certeza se a afirmação se destinava a ela própria ou ao homem que estava saindo.
Como quer que fosse, ele ouviu, parou e se voltou. Havia desprezo no rosto bonito. Desprezo suficiente para fazê-la corar.
—Aceite o meu conselho, cara, e considere de onde vem o seu sustento. Mulheres bonitas não faltam hoje em dia. — o cinismo dele era suficiente para ela sentir o sangue ferver. —Qualquer uma pode ser perfeitamente substituída.
Ao estalar dos longos dedos morenos, Hermione estremeceu. Harry fez um leve sinal com a cabeça como se pondo um fim na conversa, e saiu do quarto.
Levou consigo a imagem dela de pé, semidespida, e suspirou novamente, ao fechar a porta do escritório. Apesar da rudeza com que a tratara, a atitude dela de não se cobrir parecia lhe dar a última palavra, o que era muito perturbador.
O que exatamente ele tentara provar?, ele se perguntou, ao se dirigir para pegar a garrafa de uísque. Que ela tinha de amá-lo mais do que amava Malfoy?
Ela havia abandonado o simpático bastardo, não havia? Harry ponderou, com a cabeça cheia de contradições. E porque estaria invocando o amor, se nunca necessitara ou desejara o amor de mulher alguma?
Mas também não queria acreditar que ela tivesse a capacidade de amar outro homem, sua consciência o delatou. Você é um idiota arrogante, Potter, ele disse a si próprio. Quer tudo, sem procurar dar nada de volta.
Levou a garrafa e o copo para a escrivaninha e sentou-se. Serviu-se e tomou um gole. Inclinou-se para trás e ficou olhando para o nada, com uma expressão indefinida.
Nunca se sentira daquele jeito anteriormente, e não estava gostando! Sentia raiva e culpa, e, sim, admitiu, sentia ciúme, que aumentava toda vez que ouvia o nome de Draco Malfoy. A visão de Hermione feliz com aquele homem o fizera perceber que abrigava sentimentos antagônicos.
—Ele ainda a quer. — Gina havia dito.
Um longo gole de uísque desceu queimando garganta abaixo.
Ele não ia ficar olhando ela se atirar nos braços do ex-amante sem fazer nada, como se Harry Potter não existisse!
Era isso? ele se perguntou de repente. Era aquilo que o estava realmente preocupando? A idéia de que, se a deixasse continuar a arrumar as coisas, ela simplesmente voltaria ao lugar de onde viera, sem ao menos derramar uma lágrima?
Para o inferno com Malfoy. Hermione era a sua mulher! Ele que fosse buscar inspiração em qualquer outra pessoa.
Isso o fez lembrar da insinuação que Malfoy fizera naquela noite. Levantando-se, esfregou o rosto, olhou para a garrafa de uísque e espantou-se ao ver quanto bebera.
Bêbado. Estava bêbado! Pela primeira vez desde a juventude, pensou, fazendo uma careta. Será que Hermione ficaria feliz ao ver em que estado o havia deixado?
Concentrando-se para andar em linha reta, dirigiu-se para um gabinete e digitou alguns números secretos em um painel. A porta se abriu para dar acesso à sua coleção de arte. Obras de Rembrandt, Ticiano, Severini e Boccioni, as quais sua seguradora havia insistido que fossem guardadas em um lugar seguro.
Será que Hermione ficaria contente em saber que mais ele guardava naquele lugar? ele pensou enquanto, com o copo na mão, passava pelos mestres, fixando sua atenção somente na obra de Draco Malfoy, Mulher no Espelho.
Era um quadro de uma série que o artista produzira ao longo dos anos. Cada pintura era diferente, mas o tema era sempre o mesmo: a perfeição vista através do reflexo de um espelho.
O que Malfoy pretendera realmente dizer quando pintara Hermione daquela forma? Harry ponderou pensativamente. Que o espelho refletia a perfeição que a realidade não era capaz de refletir? Ou que Malfoy fora simplesmente um voyeur, capturando na tela somente algo que de outra forma nunca poderia ter?
Ficou conjeturando sobre qual teria sido a real intenção do artista. A idéia de que fosse um mero voyeur, por exemplo, caia por terra no momento em que se lembrava dos dois juntos. Conheciam-se mútua e intimamente. Intimidade essa que ele nunca presenciara antes em relação a outras pessoas, a não ser entre ele próprio e Hermione.
Quando à perfeição da imagem que se via no espelho, a pintura não mentia. Hermione era tão perfeita na vida real quanto na forma como Malfoy a havia pintado.
Mulher no Espelho era o melhor quadro da série, fato que levara Harry a comprá-lo. Era também o mais perturbador, já que era o único em que Hermione se via em pleno foco. Fora retratada em um balcão. Um balcão inglês, ele pensou, fazendo uma careta. Bela e elegante, nua e sensual, com o sol da manhã acariciando-lhe a pele dourada. Ela se encontrava olhando para trás, por sobre o ombro, para o espelho, demonstrando uma terrível tristeza nos belos olhos.
Passou o dedo pela tela, em uma carícia incomum. Depois, voltou a atenção para aquele olhar, de expressão vazia e desafiadora. O que estaria vendo quando olhou para o espelho daquela forma? Ela própria? O artista? Algo nunca visto por alguém daquele ângulo?
Uma vez perguntara a Hermione o porquê daquele olhar.
—A vida. — ela respondera laconicamente. —Ela está vendo a vida. —depois, dera de ombros e saíra dali para nunca mais pedir para ver a pintura outra vez.
Fora uma resposta inesperada para alguém que não demonstrava qualquer sinal de embaraço diante da própria nudez nos inúmeros quadros que se seguiram. Reproduções em calendários, cartões-postais e demais trabalhos gráficos, que foi o modo com o que o artista ganhou fama e fortuna.
Somente aquele quadro a aborrecia. Seria pelo fato de esse quadro lhe pertencer? Ela se recusava a falar sobre o assunto, e ficaria ainda mais estarrecida se soubesse que, para adquiri-lo, tivera de convencer a própria mãe a que Lhe vendesse.
A ironia o fez sorrir.
—Draco Malfoy é um bom investimento. — sua mãe lhe dissera.
—Ele tem a capacidade de capturar o mais profundo da alma das pessoas a quem pinta. Essa pobre criatura, por exemplo, está morrendo dentro daquele belo corpo. Sinto por ela. Sinto pelo artista porque ele demonstra de forma clara que ama essa mulher oculta.
Sua mãe havia admirado a mulher do quadro antes de saber que Hermione havia se juntado a ele. Tudo o que via agora era uma mulher desejosa de se expor a todos e que não tinha escrúpulo algum em fazê-lo. Desesperava-se também porque o filho ainda não se decidira em relação ao que ela considerava ser uma obsessão tanto quanto à mulher e quanto ao quadro.
O sorriso transformou-se em um suspiro, já que tinha consciência de que isso não era verdadeiro, nem em relação ao desejo que sentia pela mulher, nem em relação ao fascínio que sentia pelo quadro.
Agora Malfoy estava insinuando que havia uma outra pintura igual àquela. O que isso exatamente queria dizer? Que Malfoy continuava com sua obsessão por Hermione? Que a nova pintura iria lhe dizer coisas que ele não desejava saber?
Se essa era a intenção de Malfoy, Harry, apesar de querer ignorar, via-se tentado a saber. Não queria ir à vernissage de Malfoy, mas teria de ir.
Também não queria perder Hermione, mas tinha o terrível pressentimento de que iria perdê-la de uma maneira ou outra. Suas atitudes estúpidas, aliadas às forças externas representadas por sua mãe e Malfoy o compeliam a realizar o desejo de seu pai.
O uísque já perdera o sabor. A pintura de Hermione não mais representava nada, desejava a mulher de verdade. A que ferira com o simples intuito de reafirmar o próprio ego.
Entretanto, ela era ainda a mulher quente e acessível que, provavelmente, estaria dormindo em sua cama, naquele instante. Com esse pensamento, ele sorriu e deixou o escritório, fechando a porta atrás de si. Depois, com o andar incerto, foi se juntar a ela.
O quarto estava na penumbra, a cama apenas uma sombra no lado oposto. Cuidando para não fazer barulho, entrou no banheiro e fechou a porta silenciosamente, para se livrar dos efeitos da bebida com um banho frio. Refeito, voltou para o quarto.
Desejava acordá-la, surpreendendo-a com uma série de beijos em lugares estratégicos. Ela iria ficar amuada, de certo, mas ele contornaria a situação. Hermione também lutaria com Harry, afinal era de se esperar. Ele iria se humilhar um pouco, mas ela merecia essa desforra, antes que pudesse mergulhar no mais doce dos prazeres já criado para ser partilhado entre o homem e a mulher.
Naquele instante, parou e franziu os olhos ao se descobrir olhando para a suavidade de uma cama acolhedora e vazia.

Depois de séculos eu postei… Gostei de todos os vossos comentários. Mas e agora o que será que vai acontecer? Onde será que Hermione se enfiou?
Desculpem a demora, oks? Sei que demorei um pouco… mas tá aí o capítulo. E o próximo só vem com comentários, vocês sabem. Bjao.

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