Terceiro Capítulo
Harry observava o encontro dos dois. Viu-os sorrirem e murmurarem coisas um para o outro. Viu Hermione pousar a mão em seu ombro, Draco Malfoy enlaçá-la pela cintura e beijaram-se ternamente.
Tentou se convencer de que se tratava apenas de um cumprimento afetuoso, natural como qualquer outra forma de demonstração de amizade. Mas não era verdade, e todos sabiam disso. As conversas cessaram, e as cabeças se voltaram para observarem a amante de Harry Potter abraçar o ex-amante com visível emoção.
Alto e bem-apessoado, Draco Malfoy demonstrava ser uns dez anos mais velho do que Harry, mas tinha a mesma facilidade de atrair as mulheres. E ele havia tido várias depois que Hermione o havia deixado, Harry ponderou incomodado.
Mas agora aquela mulher lhe pertencia. Vivia com ele, dormia em sua cama e vestia-se com o dinheiro que ele lhe dava, o que fazia com que aquela boca sensual pintada de vermelho que Malfoy agora beijava fosse sua exclusiva propriedade.
O primitivo sentimento de posse queimou-lhe o peito, fazendo com que sentisse um desejo intenso de ir separá-los abruptamente. Conteve-se. Todos estavam olhando, esperando, desejando que ele fizesse alguma coisa, o que geraria comentários para um longo tempo.
Além disso, o vestido de Hermione era muito curto, suas pernas longas elevadas pelo salto alto eram esculturais, Harry considerou, recusando-se a se lembrar que havia pensado exatamente o oposto antes de vê-la envolvida pelos braços de outro homem.
Teria ela feito aquilo só para o provocar? Será que ela se vestira daquela forma por que sabia que Malfoy estaria lá, e ela desejava agradá-lo? Lembrou-se que ela estava sem sutiã, ao ver que os bicos eretos pairavam poucos centímetros do peito de Malfoy naquele momento. Sabia qual era a sensação que Malfoy deveria estar sentindo.
Conhecendo-a, sabia que também não deveria estar usando calcinha. Desceu os olhos para constatar a falta de sinais reveladores dos sensuais fios dentais que ela usava de vez em quando, geralmente para o seu exclusivo prazer. Assim, quando viu os longos dedos de Malfoy tocarem a curva dos quadris, Harry tomou como um insulto pessoal aquele gesto de intimidade, como se aquele homem ainda tivesse direitos sobre ela.
O súbito riso de Hermione fez com que ele erguesse os olhos para vê-la colocar a mão na nuca de Malfoy e começarem a conversar como se fosse perfeitamente aceitável tal atitude em público.
Mas aquilo não era aceitável, e ela deveria saber. Deveria saber que se comportar assim com um homem que fora seu amante antes de Harry, somente a faria parecer vulgar, e ele um idiota!
Será que ela estava fazendo aquilo deliberadamente? Seria a maneira de fazer com que ele percebesse que não era o único na jogada?
Algumas vezes, Harry a odiava de tal forma que se espantava de perceber, logo depois, que a desejava tanto. Ela não era o seu tipo de mulher. Nunca fora. Era jovem demais, sem estudo e muito livre! Seria por isso que escolhera se expor como uma flor exótica em um vestido de seda vermelho, enquanto todas as outras mulheres da sala se vestiam de preto clássico e chique?
Alguém se aproximou de Harry.
—Bem, caro, não há dúvida de que ela sabe como dar as boas-vindas a um homem. — soou uma voz feminina, cheia de zombaria.
Cerrando os dentes, Harry ignorou a indireta aveludada de Gina Wesley, mantendo-se quieto enquanto via Malfoy conduzir Hermione até o pequeno tablado de dança.
A mão de Hermione permanecia apoiada na nuca de Malfoy que a segurava pelos quadris enquanto se moviam ao ritmo da música, conversando. Estavam tão concentrados um no outro que se percebia claramente que Hermione havia se esquecido completamente do homem com quem chegara à festa.
—Você sabe que é impossível não se impressionar com a completa falta de malícia dela. — Gina alfinetou. —A maioria das mulheres morreria de constrangimento ao se defrontar com o ex-amante em uma sala repleta de amigos do seu atual amante. Entretanto, ela nem parece se importar!
—Como pode ver, cara — Harry disse. —, não estou nem um pouco embaraçado.
Como resposta, Gina enlaçou o braço no braço dele.
—Já tivemos bons tempos juntos, não foi Harry? — ela murmurou sonhadoramente.
Bons tempos? Observando Hermione dançar sensualmente ao som da música, ele teve a certeza de que se a distância entre os dois ficasse ainda menor, ele iria até lá e...
—Você era uma gata com garras, Gina. — ele disse, secamente. —O que fez com que aqueles tempos não fossem tão bons e freqüentes.
—Mesmo assim, eu costumava ronronar na sua cama. — ela sussurrou maliciosamente.
Ele nem se abalou com aquelas recordações, já que no momento só se importava com a visão de Hermione movendo-se e falando sensualmente com Malfoy, o que estava deixando doido.
—Mas você gostava de sentir as minhas garras de vez em quando...
—Ainda tenho algumas marcas! — ele exclamou.
—Muito bom. — ela disse, percebendo que ele estava totalmente atento ao que se passava no meio do salão. —Espero que nunca se desfaça delas, já que o que você está sentindo ao vê-la nos braços dele era o que eu sentia todas as vezes que o via com ela. Essas marcas vão ficar para sempre, Harry, posso lhe assegurar.
A amargura da voz fez com que Harry se voltasse para ela, vendo o rosto de uma das mais belas mulheres da Itália. Sorriu com desdém.
—Qualquer marca que guardar por minha causa — ele murmurou — deve-se exclusivamente ao fato de ter perdido os benefícios do meu dinheiro.
Desarmada pela afirmação, Gina enfrentou-lhe o olhar.
—Está querendo dizer que ela não desfruta do mesmo privilégio?
—Não. — ele respondeu, e o seu sorriso começou a se desfazer quando voltou a olhar os dois corpos tão unidos no salão. —Mas ela ainda vai ter esse privilégio.
—Garota esperta. — Gina acrescentou.
Não tão esperta, Harry considerou silenciosamente ao vê-la sacudir os cabelos dourados, fazendo com que a presilha de diamantes reluzisse na luz. Depois, ela colocou a mão sobre a boca de Malfoy, como que para fazê-lo parar de dizer alguma coisa.
Será que estava pedindo para ela voltar com ele? Ou será que estava pedindo para retratá-la novamente? Será que falavam sobre sexo, tal qual ele e Gina estavam conversando?
A intimidade era totalmente odiosa, ele pensou. Principalmente porque dava à pessoa com a qual você já não se relaciona mais um poder impossível de se evitar.
—Ele ainda a quer. — a observação de Gina o atingiu em cheio, como se estivesse lendo os seus pensamentos.
—Os desejos dele não me interessam. — ele respondeu, demonstrando desinteresse. A questão era saber se Hermione ainda o queria.
Um outro pensamento insinuou-se em sua cabeça, enchendo-o de espanto. Será que Hermione estava se desinteressando dele?
Aquela possibilidade lhe era tão impossível que não sabia o que pensar. Em sua lembrança, nenhuma mulher fora capaz de deixá-lo, a não ser que ele o permitisse!
Não, não seria possível! Harry desfez-se da idéia, com uma certeza que beirava a arrogância. Ela o adorava. Sempre o adorara. Se caminhasse até eles naquele instante, e a tomasse nos braços, Hermione voltaria a ser a sua adorável sereia, em segundos, e Malfoy seria deixado de lado.
—Ele não é de se jogar fora, caro. — novamente Gina interrompeu os seus pensamentos. —Tem um corpo invejável, e dizem que é um amante incrível. E, apesar de não ter a sua posição social, possui a fama que neutraliza o nome Potter. De fato — ela concluiu. — a única coisa que você tem a seu favor é a riqueza da qual você diz que Hermione não tira proveito. Mas é interessante como tudo sempre volta a girar em torno do dinheiro, não?
Mesmo para própria surpresa, Harry teve um acesso de riso ao se lembrar de Hermione passando pelo Lótus vermelho naquela noite sem nem mesmo olhar para ele. Lembrou-se das inúmeras jóias que ela deixava de usar porque às vezes se encantava com imitações, como a pulseira que brilhava em seu braço. Lembrou-se ainda da conta que mantinha no banco, na qual depositava dinheiro que ela raramente usava.
Assim, realmente a cobiça não constituía o pecado de Hermione. Mas o que Gina dissera servira pelo menos para fazer voltar o seu bom humor. Por isso, ele, em reconhecimento, inclinou-se e lhe deu um beijo na boca. Ela se agarrou a ele, o que não o surpreendeu, apenas deixou-o indiferente, o que era uma vergonha, já que Gina seria a mulher que sua mãe gostaria de ter como nora.
—Olha lá! — Hermione exclamou. — Não lhe disse?
Ela viu o beijo que Harry acabara de dar em Gina Wesley, como a prova irrefutável de que Harry não a queria mais.
—Homens como Potter não substituem o velho com o mais velho. — Draco murmurou ironicamente. —E você acabou de me beijar. — ele ponderou. —Eu ficaria lisonjeado em pensar que foi porque você estava me querendo para amante substituto, mas nós sabemos que isso não é verdade.
—Eu o amo mais do que a qualquer outro no mundo, e gostaria de nunca tê-lo conhecido. — Hermione disse com tanto sentimento que Draco não pode deixar de suspirar.
—Minha querida, o homem está enfeitiçado por você. Está apenas fazendo o mesmo que você está fazendo para ele.
—Se ele me amasse, arrancar-me-ia de seus braços ao invés de estar rindo com ela.
—Então devo ficar agradecido. — Draco disse, demonstrando ironia.
—De qualquer jeito, é por culpa sua. — ela declarou. — Se você não houvesse me retratado nas suas pinturas, ele não teria vindo atrás de mim!
—Eu não a encorajei a aceitar. — foi a vez de Draco rir, e Harry se voltou para observar. —Você fez tudo por conta própria, Hermione. E bem me lembro de haver tentado dissuadi-la.
Ela sabia que era verdade, e as lágrimas lhe vieram aos olhos.
Vendo isso, Draco suspirou fundo e se aproximou ainda mais dela.
—Você está com ele já faz um ano. — ele a recordou gentilmente. —Muito mais tempo do que qualquer outra mulher do seu harém.
—Cuidado... Pretendo esbofetear a próxima pessoa a me disser isso. — ela disse com amargura.
—Mas isso quer dizer alguma coisa, querida. — ele persistiu. —Você pode honestamente jurar que ele disse que não a quer mais?
Hermione sorriu cinicamente. De que outros sinais ela precisava para perceber a intenção de Harry? Mesmo a semana em Portofino parecera ter sido o canto do cisne daquele relacionamento. Tinham tido uma discussão dias antes sobre a possibilidade de passarem alguns dias na propriedade em Toscana dos pais de Harry. Ela havia se ofendido por Harry ter se recusado a permitir que Hermione os encontrasse, mesmo depois de um ano de relacionamento, ao que ela alegara que Harry tinha vergonha dela.
—Meu pai está doente. — ele objetara. — Tenha um pouco de consideração pelas necessidades dos outros.
Entretanto, ele não havia se defendido da acusação de se envergonhar dela. Assim, ele viajara sozinho para Toscana, e não dera notícias durante os três dias em que lá permanecera. Na volta, demonstrara tanta irritação, que a proposta de passarem uma semana em Portofino a surpreendera.
— Isso depende do sentido que se queira dar à palavra querer. —ela disse para Draco, com um sorriso incerto. —Ele ainda me quer na cama, mas fora dela eu não passo de um aborrecimento.
—Por causa disso, minha querida, está aqui comigo, com a intenção de irritá-lo ainda mais. — Draco concluiu inexoravelmente. —Você está pretendendo se matar, Hermione, ou algo parecido? Porque se Harry Potter a ama ou a odeia, ele não é o tipo de homem que permita que uma mulher o embarace na frente dos amigos. — ele declarou cheio de preocupação. —Ele vai lhe dar um troco tão violento que você não vai perceber o que foi que a atingiu.
Com o canto dos olhos, ela viu Harry se juntar aos casais no salão de dança, levando Gina pelo braço. Enquanto Draco a conduzia, Hermione viu Luna de pé observando-os cheia de ansiedade, enquanto que ao lado dela, Ronald demonstrava raiva. Percebendo que havia uma atmosfera desfavorável no ar, ela se deu conta da razão de Draco ter feito a advertência.
Uma tormenta estava se formando na sala de Luna, que em sua ansiedade por ajudar, havia sido a causadora de tudo.
—Como você conseguiu um convite para esta festa? — Hermione perguntou a Draco, percebendo subitamente que nem Ronald e nem Luna teriam sido tão insensíveis a ponto de convidá-lo, sabendo do seu relacionamento passado com a atual amante do seu melhor amigo.
Ele deu um sorriso.
—Vim com Rosetta Romano. — ele explicou, citando a famosa proprietária da Galeria Romano no Quadrilátero. —Fui o suficientemente bom para substituir um artista que cancelou sua apresentação na galeria em um ataque temperamental. E exibir-me nos locais da moda de Milão é a sua maneira de fazer publicidade gratuita antes de a amostra começar.
—Obviamente, a signora Romano não estava sabendo que poderia estar cometendo uma gafe incrível ao reunir você, eu e Harry em um mesmo espaço. — Hermione disse, secamente.
—De certo que sabia. — Draco disse, rindo. —Quanta publicidade de graça você acha que ela vai ter montando este cenário explosivo?
—E a publicidade não será apenas para a Galeria Romano. — ela acrescentou, querendo dizer que Draco Malfoy também não se opunha a se expor à notoriedade em beneficio do seu trabalho.
Seu arquear de ombros constituía uma arrogante demonstração de que tinha consciência de seus atos.
—Sou um pintor e não um diplomata. E, de qualquer jeito — ele acrescentou, olhando-a nos olhos. — estava querendo vê-la, mas tentar fazê-lo pelos meios normais é praticamente impossível. Tenho deixado recados com a sua caseira durante toda a semana, Hermione. Você não os recebeu?
—Estivemos fora durante toda a semana de férias. — ela explicou —E só voltamos hoje à tarde. Hoje é o dia de folga da caseira. Não tenho visto Carlotta e nem tive a oportunidade de checar os recados ou fazer outra coisa senão me preparar para esta festa.
—Então ele ainda não começou a censurar os seus recados? — ele provocou com um sorriso cínico. —Estava imaginando como ia poder falar com você pessoalmente. — ele admitiu. —Porque você pode apostar o seu lindo sorriso, minha querida, que no momento em que concordei em fazer uma exposição em Milão, o Senhor Protetor das Artes já sabia disso.
Draco estava querendo dizer que Harry sabia que ele estava em Milão e que deliberadamente deixara de informá-la! Aquele pareceu o momento apropriado para a música cessar. Draco a conduziu para fora do salão e nada disse, enquanto ela chegava a acreditar na terrível possibilidade de que ele poderia estar certo. Porque se havia alguém que soubesse exatamente o que estava acontecendo no mundo das artes, ali, em Milão, esse alguém seria Harry!
Hermione praguejou. Harry podia não querer mais nada com ela, mas seu ego imenso não iria permitir vê-la com um homem que sempre a desejara!
—Eis. —Draco lhe ofereceu uma taça de champanhe — Beba. Vai se sentir melhor.
Deixando de lado o pensamento de que já tivera champanhe suficiente para uma noite, ela aceitou a bebida e a bebeu toda em grandes goles.
O champanhe começou a se misturar com a raiva que sentia, em uma combinação perigosa.
—Acho que o odeio! — ela exclamou, com uma profunda sensação de felicidade por ter pronunciado as palavras em voz alta.
—Bem... Nesse caso os próximos minutos deverão ser muito interessantes. — Draco murmurou. Olhando por sobre o ombro dela, ele acrescentou à veemência dela um desafio. —Este pode ser um bom momento para que demonstre quanto o odeia. A guerra acaba de ser declarada.
Ela percebeu que ele devia estar se referindo a Harry, e começou a sentir os efeitos do champanhe. Entreabriu os lábios e seus olhos se enevoaram, deixou a taça vazia e procurou outra cheia.
Com um suspiro, Draco sacudiu a cabeça.
—Doce idiota. — ele murmurou. —Não lhe passou pela cabeça nem uma única vez que não deve se envolver em nenhuma confrontação com ele?
Aquela era uma pergunta pertinente e ao mesmo tempo dolorosa, porque, nessa manhã, ela considerara e aceitara a idéia de não estar pronta para nenhuma definição quanto ao relacionamento deles. Agora, lá estava ela pronta para uma cena, em uma sala cheia de aliados leais de Harry.
Hermione sentiu-se como um pássaro fora do ninho.
—Seja corajosa, minha amiga. — Draco a encorajou baixinho. A seguir, saudou em voz alta: — Boa noite, Harry. — sorriu. — É um prazer vê-lo novamente.
Mas não era um prazer para nenhum deles. Hirta ao lado de Draco, Hermione foi assaltada pelo aroma peculiar de Harry, antes de perceber a sua presença física. Ele chegou ao seu lado, fazendo-a se sentir pequena. Como de costume arrepiou-se com a proximidade, os dedos agarraram com força a haste da taça, enquanto esperava que ele dissesse alguma coisa totalmente imperdoável.
Ele somente estendeu a mão para cumprimentar Draco, sem demonstrar qualquer sinal de animosidade.
—Creio que vai estar com uma exposição na Galeria Romano durante toda a próxima semana, não? — continuando a falar suavemente, Harry informou Hermione de que sabia que Draco estava em Milão, mas que não tinha se importado em avisá-la.
—Vamos começar no sábado. — Draco confirmou. —Estava perguntando a Hermione se vocês não iriam comparecer à vernissage na sexta-feira à noite. — ele acrescentou, com uma tranqüilidade fingida.
—E por certo ela garantiu que não vamos faltar. — Harry respondeu, no mesmo tom.
—De certo. — Draco confirmou polidamente. — Especialmente porque lhe disse que vou lhe dar uma coisa quando ela estiver lá.
O sorriso e o toque com o dedo em seu queixo, ela tinha certeza, haviam sido só para contrariar Harry.
—Digamos que seja um presente de aniversário atrasado. — ele acrescentou. —Se você ainda tiver o meu Mulher no Espelho, Harry, vai lhe interessar também. — ele disse enigmaticamente.
Era a isca.
—É intrigante. — Harry sorriu, e Hermione estremeceu diante da menção ao quadro que dera fama a Draco e notoriedade a si mesma.
Ela o vira somente uma vez desde a primeira noite em que chegara ao apartamento de Harry, um ano atrás. A pintura estivera dependurada na parede do seu estúdio, e quando ele a mostrou, Hermione não pôde esconder o espanto, já que não sabia que ele comprara o quadro.
Depois disso, Harry havia levado a pintura para uma sala mais segura ligada ao escritório, onde ele mantinha os seus investimentos mais particulares.
Agora, Draco dava a entender que tinha um quadro igual. E, apesar de saber que ele era capaz de reproduzir uma pintura centenas de vezes exatamente igual, sem precisar que a modelo pousasse, era muito perturbador ouvir Draco sugerir a Harry que havia voltado a incluí-la em seus trabalhos. O que a levava diretamente a outra indagação que a deixou temerosa enquanto olhava para a sua face sorridente.
Será que Draco deixara de cumprir a promessa que lhe fizera?
Draco ignorou o seu olhar indagador. Ao seu lado, Harry estava agindo tão naturalmente, que Hermione se indagou se ele estava preocupado. Mas, já que estavam prestes a se separar, por que ele haveria de se importar? Ela se perguntou. E, da mesma forma como agira pela manhã, Hermione simplesmente se voltou e se afastou dali, sem poder mais suportar aquele jogo.
Só que dessa vez, Harry não a deixou ir muito longe, e quando a pegou pela mão, ela tentou se desvencilhar.
—Pare com isso. — ele disse, fazendo com que ela o encarasse.
Ela estava pálida, os olhos ensombrecidos, os lábios trêmulos.
Harry a conhecia, sabia que ela estava sofrendo, o que naquele momento não o incomodou.
Intimamente, ele gostaria de socar Draco por ter sido tão insensível ao mencionar o Mulher no Espelho, quando Harry tinha certeza de que ele devia saber como isso a poderia afetar. Por outro lado, gostaria de censurá-la por ainda ser tão vulnerável a algo que fizera no auge da sua beleza física.
—Você colhe o que plantou, cara. — ele disse com a expressão fechada, enquanto lhe tirava a taça de champanhe da mão. Depois, afastou-se com ela, tomando-a nos braços. —Agora, vamos dançar. — ele ordenou, pressionado-a contra si, ao mesmo tempo em que ela procurava se safar. —Lembre-se de onde você está, e a quem irá magoar se provocar uma cena.
Como se adivinhando o impasse, Ronald e Luna se aproximaram deles, dançando.
—Ciao. — Luna os saudou apreensiva. —Estão se divertindo?
—Estamos tendo uma ótima noitada. — Hermione respondeu, sorridente, pousando a mão intimamente no pescoço de Harry, cravando-lhe as unhas na nuca. —Adoro quando Harry demonstra todo o seu poder.
Ronald olhou para Harry, com uma expressão de sarcasmo. Luna desviou o olhar.
—Conquanto que vocês estejam felizes. — a anfitriã murmurou, respirando aliviada quando o marido a afastou dali.
—Ela odeia cenas. — Harry disse. — Sempre odiou.
—Eu o odeio. — Hermione respondeu. —Isso significa que eu também mereço um pouco de simpatia?
Com vontade de rir, mas ainda furioso, ele respondeu:
—Não. Você vai ter de ir para casa com o homem que você odeia, para receber o prêmio em particular. — dizendo isso, ele afastou-lhe a mão da nuca, e a prendeu entre os corpos dos dois.
—Agora, olhe para mim e sorria. — ele disse por entre os dentes. —Ou acha melhor que eu a beije sem piedade?
Se ele estava pensando que daquela forma ia dominá-la, enganou-se. Com absoluta audácia, Hermione olhou-o nos olhos, umedeceu os lábios rubros com a língua, ergueu-se na ponta dos pés e lambeu-lhe a boca.
Ele sentiu o fogo dominar-lhe o corpo, as zonas erógenas foram despertadas com uma urgência que doía.
Teria ela beijado Malfoy daquela maneira? Feito com que ele ficasse daquele jeito?
—Meu Deus. — ele não pôde suportar o ciúme que o dominou. —Vamos embora. — ele anunciou.
—Eu quero ficar. — ela respondeu amuada, fazendo o jogo da sedução, que conhecia bem.
De certa forma, ele estava feliz, amando a falsa resistência, a demonstração pública de desejo. Por outro lado, ficou a imaginar se não fora Malfoy quem a incitara a agir assim. Com a mão espalmada na parte inferior do corpo de Hermione, ele sentiu a suavidade da carne nua debaixo do tecido aderente, e logo lembrou-se de Malfoy fazendo o mesmo.
Ela estremeceu. Estremecera com Malfoy? Com a visão periférica, pôde ver o pintor de pé, observando-os. Começou a sentir uma fúria incontida, que aumentava com o pulsar do coração. Disse suavemente: — Estou pronto, se você estiver.
Com os lábios secos, Hermione sentiu o calor daquele desafio percorrer-lhe o corpo. Em qualquer circunstância, Harry era um homem de uma beleza viril de tirar o fôlego. Mas, ela não sabia que tomado por sentimentos contraditórios e sexualmente excitado, ele podia desencadear sensações que ela desconhecia, uma fraqueza e sensualidade feminina, que faziam dele o macho agressor e dela, a escrava submissa.
Odiou tudo aquilo.
—Está bem. — ela sussurrou derrotada. —Podemos ir.
Oie! Céus… se eu estivesse no lugar de Harry, já tinha quebrado a cara de alguém! Como pôde agüentar-se sob uma máscara passiva? Ele estava a roer-se por dentro, completamente. Depois vem aquela Wesley toda ferina e ele faz aquilo… Bem, por outras palavras, deu o troco na mesma moeda. E o pior é que só contribuiu para a Hermione se sentir ainda mais rejeitada, como ela pensa que está a acontecer. Tantos desentendimentos.
Mas eu gostei da atitude do Malfoy. Na realidade, amei cada palavra dele, principalmente quando ele afirmou que o Harry lhe ia dar um troco tão violento que ela não ia perceber o que foi que a atingiu. O Draco parece conhecer as manhas dos homens… também, mau era, ele é um homem! Estão curiosos com essa tal prenda que ele tem para oferecer à Mione? Uh, uh… Sem comentários!
Mas no fim os pombinhos acabaram e saíram juntos. E excitados! Rsrsrsrsrs Já tão a ver o tipo de capítulo que se segue, não é mesmo? É claro, não vai ser fácil… Naquele estado, excitados e zangados, não vai ser nada fácil. Aliás, é muito interessante. Esperem pra ver.
Continuem comentando, ou não há capítulos. Thanks.
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