Parte I - Gina

Parte I – Gina

The worst is over now, and we can breathe again
I wanna hold you high, you steal my pain away
There’s so much left to learn, and no one left to fight
I wanna hold you high and steal your pain

‘Cause I’m broken when I’m open
And I don’t feel like I am strong enough
‘Cause I’m broken when I’m lonesome
And I don’t feel right when you go away

Seether feat. Amy Lee - Broken



Uma brisa suave a passou por seu rosto e a fez abrir os olhos. Estava anoitecendo.

Admirando os tons rosados do pôr-do-sol, Gina recomeçou sua caminhada pela pracinha. Era verão e a cidade de Londres estava abafada; respirava, porém, um ar de paz e calmaria como em muitos anos não havia.

A guerra bruxa acabara há alguns anos, entretanto, como fora muito violenta, atingira também o mundo dos trouxas, causando sérios danos em todo o Reino Unido e em grande parte da Europa. A reconstrução foi difícil. Somente naquele momento, três anos depois do derradeiro fim de Voldemort, tudo voltara ao normal.

Gina tinha lutado na guerra. Como conseqüência, ganhara algumas cicatrizes e ossos quebrados, mas nada sério. Os piores danos que sofrera foram, na verdade, morais. Perdera alguns parentes e muitos amigos. No início, a dor, a raiva e o sofrimento a invadiram. No entanto, à medida que o tempo passou, ela aprendeu que sobreviver a uma perda não era a mais impossível das tarefas. O tempo curou a dor e a substituiu por saudade.

Sozinha, ela costumava andar naquela pracinha todos os finais de tarde. Muitas vezes, as lembranças dos dias passados lhe vinham à mente. Mais freqüentes, porém, eram seus planos para o futuro. Ela pensava em sua carreira como aurora no Ministério da Magia, pensava em ir visitar seus pais na Toca quando as férias chegassem, pensava, às vezes, em como se sentia sozinha.

Era feliz? Ela dizia que sim. Afirmava em alto e bom som sempre que tinha uma chance, como que para convencer a si mesma do fato. Às vezes, porém, a incerteza a dominava.

Gina era feliz porque tinha um bom emprego, bons amigos e uma família que estava sempre o seu lado, para apóiá-la quando precisasse. Sentia-se triste, entretanto, quando sentia que não tinha a quem amar.

O último grande amor de Gina fora Harry. O Harry que ela conhecera quando pequena e que tentara, sem sucesso, esquecer, mas que sempre estivera em seu pensamento.

Após a derrota de Voldemort, Harry sumira. Não dera muitas explicações, mas Gina entendera que ele precisava de um tempo para si, para organizar sua mente e sua vida. A garota não correu atrás dele, pois sabia que isso só tornaria tudo mais difícil; mas esquecê-lo também não era uma opção para ela.

No início, ela ficava imaginando como seria a volta de seu amor. Pensava nele chegando de surpresa, tapando-lhe os olhos e perguntando: “adivinha quem é?” Em um dia como outro qualquer, a campainha de sua casa iria tocar. Ao espiar para ver quem era, Gina viria apenas um buquê de flores. Quando abrisse a porta, ele sairia de trás daquele escudo colorido, sorrindo para ela.

Aos poucos, porém, suas idéias começaram a mudar e ela abandonou aquelas fantasias românticas. Tentou ter outros namorados, mas por mais que se esforçasse, não conseguiu se envolver seriamente com ninguém.

Durante muito tempo, mergulhara no trabalho; não para esquecer, mas para atenuar as lembranças. Agora que tanto tempo se passara, sentia-se mais confiante, mesmo sem saber se estava mais forte ou não.

Dobrando a esquina da pracinha, Gina viu um casal sentado em um dos bancos. Um senhor e uma senhora, sentados lado a lado, as mãos entrelaçadas, calados. Ao passar, eles notaram que ela observava e sorriram. Sem graça, ela sorriu de volta e desviou o olhar.

Mais à frente, em outro banco, havia um rapaz. Era alto, tinha os cabelos negros bagunçados e não parecia ser muito mais velho do que ela. De repente, Gina teve uma sensação de Déjà vu. Ela sabia que o conhecia, mas de onde?

O garoto, como se a esperasse, virou a cabeça na direção dela e ela o reconheceu: era Harry.

Paralisada pelo choque, Gina observou-o se levantar e caminhar em direção à ela.


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