III- Comensal
“Joke, joke again
I thought my demons were my friends
Pity me in the end
They're out to get me”
(Coming Undone – Korn)
Quando criança, Severus ouvira os rumores de que um bruxo das Trevas estava em ascensão. Um nome proibido e um poder que crescia a cada dia parecia algo surpreendente para o jovem Sonserino. Cresceu com aquela aura de mistério e horror em torno de todos, espalhando o medo, semeando o terror.
Não sabia se apoiava ou não totalmente as idéias e crenças pregadas. A probabilidade de ser apenas um mero servo não o agradava em absoluto.
Contudo, quando viu o símbolo daquele poder, sentiu como se houvesse algo frio rastejando em seu interior. Uma víbora de voz sibilante e melodiosa, sussurrando todas as possibilidades que havia nesse caminho.
-O Lorde recompensa todos aqueles que lhe são fiéis. – Avery disse muito solenemente, certa noite no dormitório da Sonserina. – Ele dará glórias inimagináveis e ainda nos livraremos da escória: nada de mestiços, trouxas ou sangues-ruins!
E Severus sentiu seus lábios curvarem-se em um pequeno e estranho sorriso, pensamentos obscuros toldando tudo o que de luminoso ele havia cultivado em sua vida.
Ele sempre soube que aquilo era algo que estava dentro dele, muito mais forte do que qualquer sentimento inexplicável que por ventura ele carregasse.
Sua essência era negra e feia, impregnada de ódio e dor e temor e revolta, assim como a marca que agora era tatuada a fogo em sua pele: caveira e serpente, magia negra e escuridão, bocas arreganhadas que devoravam sua vida, suas esperanças; abocanhavam sua integridade, engolindo aquele garotinho frágil que queria ser amado e que hoje dera lugar a um jovem soturno, sombrio e amargurado.
-Bem vindo aos Comensais da Morte, Severus! – A voz sibilante parecia zombeteira e solene ao mesmo tempo, enquanto as íris vermelhas brilhavam de maneira maníaca. – Seus feitos serão lembrados por anos sem fim e alcançará tudo o que deseja, ah! Eu sei que vai, eu consigo ver o quanto você quer ser grande, não é?
Olhos negros e vermelhos encontraram-se, mas Snape há muito havia perdido a sua inocência. Por sua mente flutuaram memórias esparsas, meros fragmentos que mostravam apenas um mínimo do que carregava em seu interior. Apenas o que ele gostaria que o seu Mestre visse. Apenas o que ele não tinha vergonha de revelar: ódio, revolta, ganância, orgulho, ambição, o desejo de ser mais, muito mais do que um simplório mestiço, que carrega em seu nome a vergonha da imundície.
E o Lorde das Trevas vira todas aquelas coisas e se satisfizera com o que vira. Um servo que não se apoiaria apenas no bom nome, como os bruxos puros-sangues faziam, mas que conquistaria com suas próprias mãos o que desejasse.
E em sua mente, Severus vira que aquele era um caminho que poderia lhe proporcionar todos os meios para que pudesse vingar todas as humilhações que sofrera até então.
Poder.
Não era sempre isso o que desejou? Porque hesitou por breves segundos e estremeceu com as sombras que rastejavam nas paredes de pedra e sentiu um arrepio percorrer o seu corpo magro?
Não era medo, mas apenas o prenúncio de que a sua escolha era algo que mudaria toda a trajetória.
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