Aprendendo a voar



O final de semana chegou e se foi como num piscar de olhos. Todos os quintanistas estavam tão ocupados com a grande quantidade de deveres que mal tiveram tempo pra se divertir.

Durante a semana tentei ao máximo me desviar do recente assunto preferido da Corine. Não foi muito fácil. Ela deve estar mesmo apaixonada por aquele... , pois não para de falar nele. O pior de tudo é ouvir-la sussurrar o “bendito” plano mil e uma vezes durante os intervalos das aulas!

- Corine, eu não sou retardada! – gritei enquanto caminhávamos em direção a última aula do dia: porções. Ela estava fazendo o “favor” de me lembrar, mais uma vez, do que eu havia prometido. Maldita hora! Maldito plano! Maldito Malfoy! – Desculpa. – emendei ao ver a cara de surpresa dela e de vários estudantes que se encontravam ali por perto. Acho que me descontrolei. – “Não acredito que gritei com ela na frente de todos!” – pensei arrependida.
- Não precisava gritar... – murmurou saindo de perto de mim.
- “Ótimo! Vá mesmo! Num tô nem ai...” - pensei revoltada, vedo-a se afastar. Admito ter errado ao gritar com ela, mas ai já é demais... Qualquer ser, normal, se aborreceria com uma pessoa que fica martelando 24 horas no mesmo assunto. Pá, pá, pá Malfoy na minha cabeça. Assim num dá!
- O que aconteceu, Amelie? Porque gritou com a Corine? – indagou Iago se levantado de um dos bancos do corredor aonde se encontrava sentado sozinho lendo um livro e indo até mim. Vi duas meninas, que estavam sentadas no banco do lado suspirarem, tristes.
- Não foi nada demais. – menti.
- Tem certeza?! – perguntou desconfiado.
- Nós discutimos... só isso. Normal...
- Estranho... – falou ainda desconfiado. - Você não costuma gritar com ninguém, principalmente com a Corine. Sempre foram tão unidas...
- As pessoas discutem, Iago. Isso é normal... – falei tentando convencer mais a mim mesma do que a ele. Eu e Corine nunca brigamos, seriamente, antes. Apenas coisas de criança, sem sentido. O que a essa paixonite tá fazendo com os miolos da minha prima?!














Chegamos às masmorras um pouco atrasados. A aluna já estava começando.
- Com licença Senhor?- pediu Iago. O professor fez um gesto com a mão indicando que podíamos entrar. Fui “obrigada” a me sentar com Iago e Dave, pois Corine estava sentada em uma mesa com Kate e Yumi. Depois elas é que são falsas!
-“Melhor pra mim! Assim não vou ter que escutar o nome do Malfoy ser pronunciado a cada 2 minutos. Coisa irritante!” – pensei.
- O que aconteceu com a Corine? – perguntou Dave baixinho quando nos juntamos a ele. – Ela chegou ainda pouco, parece triste... – disse olhando-a.
- Ela e a Meli se desentenderam. – murmurou Iago em resposta.
- O que? Conta outra... – falou Dave descrente. – Essas duas num brigam desde que descobriram como usar o peniquinho. – completou em tom de brincadeira. – Isso é verdade Meli? – perguntou quando percebeu que permanecemos sérios.
- É sim. – respondi deprimida tentando ver Corine por cima do ombro dele. Ela parece realmente triste.
Estou começando a ficar com remorso. Afinal, que espécie de prima eu sô? Estou sendo egoísta e medrosa. Não posso deixar que a vergonha por não saber voar interfira na amizade com minha prima. Muitas pessoas não sabem. Isso não devia me amedrontar tanto...
- Depois falamos nisso, o professor está olhando... - sussurrou Iago indicando o mesmo com a cabeça. O professor nos observava com uma expressão severa no rosto. Concordo com o meu primo. O prof. Devendra Haller não é uma pessoa muito compreensiva. Na chega a ser injusto, mas... nunca se sabe.
Descrição:
Ele é alto e carrancudo. O cabelo é castanho, comprido e arrepiado, apesar de ser meio calvo. Tem uma barba espessar que lhe dá um aspecto de homem velho, mesmo ele sendo jovem.
Como já falei antes: não é muito tolerante. Mas na maioria das vezes está certo. Só pune os alunos que realmente merecem. É severo e um pouco anti-social.
Nunca o vi conversando com os alunos.
Durante as aulas ele se torna ainda mais taciturno e sério. Sempre fala baixo e quase nunca interrompe a aula, isso obriga todos a ficarem em silêncio.

Tentei ao máximo me concentrar na aula, mas um pensamente não me saia da cabeça: tenho que pedir desculpas a Corine. Obriga-la a aceitar se for preciso. Olhei pra ela que continuava cabisbaixa e senti um aperto no coração. Provavelmente vai me evitar durante um tempo. Isso é horrível! Mesmo que eu não tenha querido admitir na hora, ela faz muita falta. Nossos pais até dizem que somos como irmãs gêmeas: quando uma fica triste a outra sente o mesmo e vice-versa.

O sinal tocou e eu me apressei pra tentar falar com ela antes que sumisse pela porta. Não fui rápida o suficiente.
Quando cheguei ao corredor ela já havia sumido. Corri pra ver se a alcançava, mas ela parecia ter evaporado.
-“Provavelmente pegou um atalho qualquer ou simplesmente não quer falar comigo e está se escondendo.” – pensei e fui andando desatenta por um corredor mais calmo.
- Hei! – escutei alguém chamando atrás de mim. Virei-me pra olhar quem era. – Quero falar com você. – era o Malfoy.
- O que quer? – indaguei lançando a ele um olhar de tédio.




















- Não precisa ser tão bruta. – disse sorrindo pelo canto da boca. – Quero que saiba que só estou fazendo isso porque Bo insistiu bastante. E como ele é meu amigo... – falou ele vacilante e sem tirar o sorriso da face.
- Está fazendo o que? – indaguei desconfiada.
- Pedindo desculpas. – falou como eu fosse uma retarda.
- Quê?! -
- Não vou repetir, Potter. Você escutou. Não me pesa pra alimentar seu ego. – falou desinteressado. – O Bo insistiu tanto que eu resolvi vir logo pra ele parar de me encher. Acha que fui muito groso com vocês aquela noite. – continuou calmamente como se estivesse se referindo a outra pessoa e não a si mesmo.
Não preciso nem dizer o quanto estou surpresa, né?
Malfoy me pedindo desculpas e ainda por cima por insistência do Bo! Não sei explicar bem o porquê, só sei que fiquei repentinamente feliz.
- Então, era só isso. – falou se afastando devagar.
- Espera! – chamei rapidamente. Ele se virou parecendo confuso. – Posso falar com você? – perguntei o mais amável que consegui. Ele deu de ombros indicando que não se importava. – Eu quero pedir um favor. – falei direta. Não sei de onde tirei toda essa coragem, mas estou muito confiante.
- Como? – perguntou mais confuso ainda.
- Não sei se você já ouviu falar, provavelmente sim, que eu não sei voar bem. Na verdade eu sou péssima! - respirei um pouco. – Meu Deus! Eu nunca tinha admitido isso a ninguém além da Corine! – pensei alto. – Bem, eu pensei se você podia me ajudar? Me dando aulas no tempo vago. – falei tão espontaneamente que até eu fiquei surpresa.



























Ele ficou estático e após alguns minutos de silencio, nos quais parecia considerar a proposta, respondeu:
- Por que está pedindo isso a mim? Pensei que me odiava. – perguntou voltando a seu ar de menosprezo tão característico.
- Todos na minha família sabem voar, e bem. Quero aprender sozinha. Quer dizer, sem precisar da ajuda deles. Tenho vergonha e tudo... – falei ainda calma. Ele me olhou desconfiado. Não o culpo por isso. Nunca tinha sequer mantido uma conversa normal com ele e agora estou aqui pedindo ajuda como se fossemos velhos amigos.
- Tem vergonha da família e não tem de mim?! – perguntou ainda desconfiado. – Você é estranha. – pontuou fazendo uma careta e voltando a sorrir pelo canto da boca.
- Não importa. Então, aceita? – perguntei impaciente.
- Por mim tudo bem. Mas vou querer alguma coisa em troca. - disse se aproximando de mim. Eu já esperava por isso. Sabia que não me ajudaria de graça. Acho que ajudar alguém sem pedir nada em troca está além da capacidade dele.
- O que quer? – perguntei aborrecida.
- Ainda não sei. Não se preocupe, será a primeira a saber quando descobrir. – ironizou.
- Como se eu me importasse. Tá, tudo bem. Eu aceito. Mas tem mais uma coisa, na verdade duas... – falei em tom sério enquanto ele cruzava os braços pra escutar. – Quero que seja segredo. Então não vá sair por ai espalhando, ok? – esperei pra ver o se concordava.
- Por mim tudo bem, mas vou precisar pedir autorização ao treinador, pra usarmos o campo, e não vou conseguir esconder isso dos meus amigos por muito tempo. Eles terão que saber. – resumiu.
- Se não tem jeito... você pode falar logo pros seus amigos, mas avisa a eles que não quero que ninguém saiba. As pessoas já têm assunto o bastante pra comentar sobre mim. – resmunguei conformada.
- Você que sabe. – disse fazendo pouco-caso. - Qual a segunda imposição, srta. Maioral? – perguntou sarcasticamente.
- “Ele não consegue parar de ser irritante nem por dois segundos.” – pensei enquanto lembrava qual era a segunda “imposição”. – Não quero ficar sozinha com você, então minha prima vai ter que fazer a aula também. – falei lembrando o que ela tinha me dito: “diz que não quer ficar sozinha com ele...”.
- Como quiser. Era só isso? – perguntou olhando as horas no relógio de pulso.
- Acho que por hora... sim.- falei me esforçando pra lembrar de mais alguma coisa.
- E quando vamos começar?
- Você que devia saber, afinal será o professor e eu é que não sei quais suas horas vagas. – estou começando a perder a paciência com ele. Parece até que pedi pra que estudasse a revolta dos duendes ou fazer qualquer outra coisa sem graça e tediosa.
- É que a senhorita estava mandado tanto, achei que iria querer definir isso também. – falou em tom desconsiderado. Lancei-lhe um olhar mortífero (apenas...). – Depois decidimos isso. Estou com fome e já está quase na hora do jantar. Tchau srta. Potter, a maioral! – disse apressado e se foi.
Suspirei, aliviada, enquanto pegava um atalho pra chegar mais rápido a torre da grifinória. Nem acredito que foi tão “fácil”. Espera só eu contar a Corine! Aposto que vai até esquecer que gritei com ela.




















Assim que cheguei à sala comunal a procurei entre os vários alunos presentes.
-“Parece que todos resolveram ficar aqui. Vão logo almoçar!” – pensei enquanto andava entre os alunos esticando o pescoço pra ver por cima dos seus ombros. Depois de alguns minutos desisti de procurá-la na sala e subi pro dormitório.
Entrei tentando fazer o mínimo de barulho possível. O cômodo estava tão silencioso que a principio pensei que pudesse estar vazio, mas não. Corine se encontrava sentada na própria cama com um livro apoiado nas pernas cruzadas. Ela levantou a cabeça e, vendo que era eu, voltou a ler.
- Oi. – cumprimentei receosa.
- Oi. – respondeu seca, sem desgrudar os olhos do livro. Percebi que não estava realmente lendo, apenas fingia.
- Queria falar com você... eh que-que... – engrolei tentado achar um jeito de contar tudo a ela e pedir desculpas ao mesmo tempo.
- Se for sobre hoje cedo, esquece. Não precisa se desculpar. Afinal, não posso te obrigar a me ajudar, não é? – falou em tom seguro.
- Ah... não é não. – menti vendo se era seguro me aproximar dela... nunca se sabe, né? Ela se recostou na cabeceira da cama e cruzou os braços esperando que eu falasse. Sentei-me a sua frente e respirei fundo...
- Primeiro eu queria pedir desculpas, sim! E... – falei rápido antes que ela começasse a reclamar. -... Queria lembrá-la que quando prometo uma coisa eu cumpro! Então não ache que não quero te ajudar com o Malfoy... – falei fingindo estar brava, enquanto minha prima escutava tudo muito quieta (mal piscava).
- Meli, sinto mui... – começou receosa.
- Ah, e por falar em naquele detestável... – ela fez uma careta nessa parte, mas não ousou abrir a boca - ele veio me pedir desculpas hoje...- “Desculpas?! Pelo quê?”deixou escapar. Ih! Esqueci de contar a ela sobre aquilo... mas, voltemos ao assunto (senão perco o fio da miada). - ...ai aproveitei pra falar sobre as “benditas” aulas. – conclui sorrindo.
- Sério?! – disse surpresa e animada. – E-e o que ele disse? Ele aceitou? Como foi?– perguntou ansiosa.
- Calma! Uma pergunta de cada vez, menina! – brinquei. Gosto de fazer suspense (sou má) só pra vê-la, quase, morrer de curiosidade. – Espera... deixa eu lembrar...
- Fala Amelie!
- Tá, tá. Acho que vou começar pela primeira pergunta, ou não?– falei fingindo estar indecisa. Corine fez uma careta indicando impaciência. – É claro que não... – continuei, brincado com ela (é tão bom!). A vi baixar a cabeça parecendo triste. -... que não tinha como ele recusar. – ela demorou um segundo pra assimilar o que eu tinha falado e logo após pulou no meu pescoço, me abraçando.
- Jura?! Ele aceitou, mesmo?! – indagou me soltando. Concordei com a cabeça e ela voltou a me agarrar (sufocar, isso sim!).
- Hun, dá pra me deixar respirar? Minhas costelas não são feitas de aço, sabe?– perguntei com a voz embaçada por causa do aperto. - Obrigada. – murmurei, alinhando a roupa, quando ela, finalmente, me largou (de novo).
- Me conta como foi, por favor...
- Agora não. Eu to morrendo de fome; e à hora do almoço já deve estar acabando. Então, estou perdoado?
- Só se você me perdoar por ser tão... hunn... bocó. – disse em tom de arrependimento.
- Tuuuudo bem! Mas você continua sendo uma bocó! – cantarolei e sai correndo em direção a porta do quarto. “O quê?! ME ESPERAAA!”: a ouvi gritar quando eu já estava descendo as escadas.

As semanas transcorriam tranqüilamente no castelo, onde apenas a agitação dos alunos que iriam prestar exames no fim do ano e pequenos desentendimentos entre os jogadores de quadribol, parecia capaz de quebrar essa onda de calmaria. Em nossos dormitórios e salas de aulas abafadas olhávamos cobiçosos através das janelas, víamos o verão acabar lentamente, levando consigo um pouco da animação dos alunos. E presos pela responsabilidade de estudar, mal podíamos aproveitar as escassas horas vagas nos divertindo nos jardins ou simplesmente relaxando embaixo de uma árvore, a beira do lago.
Foi em uma dessas muitas tardes ensolaradas que me pequei a observar o por do sol por uma das janelas do dormitório, e desejar ardentemente que, na próxima aula de Herbologia, o prof. Longbottom lembrasse da sua promessa de fazer mais trabalhos em dupla e voltasse a me colocar junto do Bo. Como ainda não tive coragem pra me aproximar dele, apesar de sentir uma vontade constante e “quase” sufocante, seria uma ótima oportunidade pra isso. Quem sabe até pra puxar um assunto qualquer? Se bem que... acho que não conseguiria nem ao mesmo levantar a cabeça. É tão estranho o que sinto perto dele! Fico confusa e ajo, na maioria das vezes, como uma retardada (débil mesmo). Gostaria que isso não acontecesse e rezo pra que ele não perceba, mas na verdade penso que isso não deve funcionar muito. Pelo menos estou conseguindo disfarçar perto da minha prima. Se é que isso é o que se pode chamar de vantagem...
- Quando é mesmo que ele falou que íamos começar? – indagava Corine pela milionésima vez no dia enquanto atravessávamos os jardins, andando apressadas, em direção às estufas.
- Ele não falou... apenas disse que... que iria me procurar pra acertar tudo... – falei arfando quando finalmente chegamos à porta da estufa. – Estamos bem atrasadas, não é? – falei receosa.
- É... acho que a aula já começou... – respondeu ela tentando ver por através do vidro sujo e embasado. Nós nos olhamos por alguns segundos e depois, percebendo que minha prima estava sem coragem, bati na porta. Ficamos esperando em silêncio e após alguns segundos a porta se abriu.
-Entrem, entrem. – falou o professor fazendo um gesto como quem chama. – Vocês não sabem o que estão perdendo, mas... – nesse ponto ele parou e nos lançou um olhar tédio. – O que ainda estão fazendo paradas aí?! Vamos meninas! – falou em tom enérgico.
Nós atravessamos a sala, acompanhadas pelo olhar indagativo de alguns colegas.
- Bem, como estava explicando antes de ser interrompido por nossas adoráveis, porém atrasadas, colegas... – comentou, empolgado. -... o trimestre está acabando, e pensei em fazer algo diferente com vocês. A principio pensei que uma viagem ou excursão seria legal, poderíamos conhecer e estudar várias plantas. Mas, depois a idéia de fazer um trabalho especial, que seria auxiliar na nota dos N.O.M’s, me pareceu melhor... – os alunos pareciam escutar tudo atentamente. – Não consegui me decidir. Então, porque não fazer os dois? Eles podiam ser complementares, de alguma forma. Foi o que pensei, meus alunos. E, gostaria de saber o que acham a respeito? - perguntou sério.
- Ah, por favor, faça os dois! – disse uma aluna em tom choroso, como quem implora.
- Vocês gostaram? – perguntou animadamente. Todos confirmaram com a cabeça e/ou deixando escarpa murmúrios do tipo: “Demais!”, “Que bom, estou precisando de nota.”, “É isso ai!”... – Muito bom! Então, vou explicar melhor.
































Ele começou a explicar detalhadamente o que precisaríamos fazer no trabalho e disse que, se conseguíssemos fazer tudo direitinho, ganharíamos à nota auxiliar e a viajem como prêmio. Não parecia ser muito difícil...
- Entenderam tudo? – perguntou por fim, todos concordaram com a cabeça. – Ainda temos alguns minutos até o final da aula... vocês podem usa-los pra combinar tudo com os seus devido pares.
- Professor? – chamou Evie Smith com seu corriqueiro tom de tédio e nojo.
- Sim srta.?
- O senhor não está se referindo aos pares daquele outra aula, está? - perguntou com uma careta que a fez parecer um duende.
- Sim, sim. Estou srta. Smith. Algum problema? – falou o professor olhando-a, imperturbável. A garota bufou incapaz de responder, e foi se juntar a seu par, um garoto grande e desprovido de beleza e educação (pra na dizer feio e burro!) da soncerina. Ela pode ser muito atrevida, mas não se pode dizer que seja idiota. Não ousaria desobedecer a um professor na frente de todos.
Meu estomago revirou quando senti Corine se afastar de mim pra ir se juntar ao Malfoy, pois sabia o que me aguardava... O Bo se aproximou sorrindo.
- Oi. – cumprimentou baixinho.
- Ah... oi. – respondi sorrindo timidamente. Virei à cabeça fingindo observar minha prima. Ela conversava calmamente com o Malfoy.
- Está tudo bem? – perguntou olhando na mesma direção. – Ah, não se preocupa. Ele num vai fazer nada com ela. – falou em tom consolador.
- Sei. É mais fácil ela fazer alguma coisa com ele. – pensei alto.
- Que? – indagou, sem entender.
- Ah.. eu quis-quis... – engrolei, tentando consertar o que acabara de dizer. Ainda bem que não falei alto o suficiente! Imagina se ele descobre que a Corine é apaixonada pelo Malfoy?! Não quero nem pensar... (na minha morte. Sim! Por que ela ia me matar...). – ... quis dizer que sei... quer dizer, é bom mesmo!
- Você o odeia mesmo, não é? – percebi que ele não devia estar esperando que eu respondesse isso, pois voltou a falar. – A propósito, ele me contou sobre as aulas que vai lhe dar. Pensei que soubesse voar.
- Não, não sei. – suspirei amargurada. Por que tenho que passar por isso? Por que simplesmente não sou como todos na minha família: que já nasceram praticamente sabendo voar.
- Também não sou muito bom. – falou despreocupado.
- Ninguém é perfeito. - deixei escapar. Ele sorriu, me fazendo corar até o último fio de cabelo (se é que isso é possível). Baixei a cabeça pra disfarçar. – Ah, o seu amigo veio me pedir desculpas alguns dias atrás. Disse que só estava fazendo porque você insistiu que ele devia. – falei tentado desviar o “assunto”.
- É... eu fiz. Ele não estava bem aquele dia e acabou descontando tudo em vocês. Foi injusto da parte dele, por isso o aconselhei a pedir desculpas. – disse sério.
-Você não precisava... – falei em tom calmo e agradecido, levantando a cabeça para olhá-lo.
- Precisava sim, Amelie. – falou ele retribuindo olhar. No breve momento em que nossos olhares se encontraram, senti uma sensação estranha: como se uma calma agitação perpassasse todo meu corpo. Sei que não estou sendo clara, mas foi mais ou menos isso que senti. Na verdade, não saberia explicar bem o que foi...
- Pensei, se você não se importar, claro, que eu poderia ir assistir a sua primeira aula. – falou um pouco constrangido. O encarei surpresa, mas desviei o olhar logo em seguida.
- “O que eu faço?” – pensei atordoada. - “Tenho certeza que não conseguiria aprender nada com ele me olhando, mas não posso dizer isso a ele. Ai Deus!”.
- Mas se você não quiser tudo be... – disse percebendo que eu tinha ficado muda (lembram o que falei sobre quando fico nervosa, pois é...).
- Não! - falei rapidamente. Ele me olhou, confuso. – Por mim tudo bem, mas tem minha prima. Ela também vai fazer as tais aulas. – apontei Corine, disfarçadamente.
- Aposto que ela nem vai notar minha presença. – disse olhando-a. – Acho que ela tem coisas maiores pra se preocupar. – concluiu, sorrindo de leve.
- “Será que ele percebeu alguma coisa?” - pensei começando a ficar nervosa (começando?!). – Err... acho que sim. – murmurei baixo o suficiente: ele não escutou.
Nessa hora o sinal tocou (pra me salvar), mas nós ainda não tínhamos falado nada sobre o trabalho. - “E agora?!”
- Esperem um pouco... – disse o professor para a classe barulhenta. – Esqueci de dizer uma coisinha... – falou tentando manter os alunos calmos. – Vou direto ao ponto. Permiti que vocês usassem o restante da aula por que não dava mais tempo pra explicar nada. Bem, o que estou querendo dizer é: esse trabalho não será feito durante as aulas. Vocês terão que faze-lo em seus horários vagos. – todos suspiraram desapontados. Os horários vagos já estavam bem limitados e agora teremos mais trabalho pra fazer... ai, ai.
-“Opa! Espera aí... Se não vamos fazer o trabalho na sala, então isso significa que... que vou ter que me encontrar com o Bo em outro lugar?! Sozinha?!” – esse pensamento me aterrorizou assim que me dei conta do que o professor acabara de dizer. - “E a Corine com o Malfoy?! Deus, isso não vai dar certo!”. – pensei atordoada. Depois achei que estava me atormentando antecipadamente. O máximo que pode acontecer é eu agir como uma retardada (de novo). Pelos menos é o que acho...
- Hei, Amelie. – chamou minha prima, suavemente, bem próximo a meu ouvido, me tirando dos meus devaneios. – Oi. – disse ela acenando e sorrindo discretamente pra mim, Malfoy estava a seu lado.
- Ah...oi. Vamos então. – falei, pegando minhas coisas rapidamente. Murmurei um tchau pra os dois garotos enquanto ela confirmova com a cabeça. Dirigimos-nos a saída quando...
- Esperem. – gritou Malfoy parecendo lembrar de alguma coisa. – Quero falar com vocês. – disse se aproximando de nós.





















Paramos pra escutar o que ele queria, acho que já sei o que é...
- Sobre as tais aulas de vôo... – falou com seu habitual tom de tédio. – É que já sei quando poderemos começar. Como o torneio de quadribol vai começar, e eu vou ficar meio sem tempo, acho que teremos que fazer isso de noite. Pensei em uma vez por semana... na sexta fica bom pra vocês? – perguntou, nos encarando com uma das sobrancelhas com erguidas.
Fiquei um pouco assustada com a “gentileza” que demonstrou a nos pergunta isso. Desde quando ele quer saber nossa opinião sobre alguma coisa? Afinal, estamos ou não falando de um Malfoy! Não que eu julgue as pessoas pelas famílias a quem pertencem. Eu, sem dúvida, não seria a melhor indicada pra fazer isso. E falo isso por experiência própria, pois todos acham que, só porque pertenço à família Potter, farei algo especial. Isso é muito frustrante! Eles costumam criar uma expectativa grande sobre mim que, na maioria das vezes, sei que não poderei corresponder. Meus irmãos também passaram por isso, mas como na época eles eram três, não era tão sufocante quanto é comigo. Sim, voltando ao assunto... A atitude do Vincent ( pra não repetir palavras) foi suspeita.
- Por mim tudo bem! – respondeu minha prima sorrindo animada. – O acha Meli? – disse se voltando a mim.
- Tudo bem... – falei como se não fizesse diferença (e realmente não fazia a mínima diferença pra mim a que horas ou em que dia teríamos essas “benditas” aulas). - ... mas a que horas vai ser? Não quero ficar fora do castelo até tarde.
- As seis. Não tenho tempo antes disso... é cedo o suficiente pra você? – indagou em um tom um tanto provocante.
-“Poxa! Como uma pessoa consegue mudar da água pro vinho (ou seria ao contrário?) tão rápido?!” – pensei lançando a ele um olhar de repulsa. – É, obrigada. Não quero pegar nenhuma detenção por estar fora da torre no horário proibido...
- Hei, senhorita certinha... não gosta de quebrar regras não, é? – continuou, agora em um tom mais divertido (que não agradou muito mais que o outro).
- Não. – respondi secamente.
- Estranho... meu pai comentou uma vez que o seu não costumava ligar muito pra regras. – eu apenas dei de ombros.
- Me importo tanto com o que se pai diz. – falei sarcástica. – Era só isso? – perguntei impaciente.
- Acho que sim.
- Ótimo. Vamos Corine? – e voltei-me a minha prima, sorrindo. A expectativa de sair da presença desse “ser” me alegrou bastante. Claro que não foi só isso a me alegrar, pois também estava pensando no banquete que devia estar nos esperando no salão, e como estou com uma fome particularmente grande (meu estomago já está até roncando)...
- Tchau. – disse ele se afastando rapidamente de nós.
- Até amanhã à noite, então... – disse Bo, seguindo o amigo logo em seguida.

- Como assim, “até amanhã à noite”? – perguntou minha prima mordendo o lábio inferior em sinal de dúvida.
- Ah... é que... bem, ele me perguntou se podia assistir nossa primeira aula e - e eu disse que não tinha problema. – falei receosa e um pouco desconcertada. - Você se importa? – perguntei rapidamente, tentando disfarçar.
- Não. – respondeu, com uma cara que não me convenceu muito, enquanto nos encaminhávamos ao castelo pra almoçar.




Percebi que ela ficou me observando durante o almoço e o restante das aulas. Isso incomodou bastante. É como se todo tempo quisesse me perguntar alguma coisa.
Nós pegamos uma passagem secreta que levava quase diretamente a torre da grifinória. Quando chegamos em frente a parede de pedras na qual, do outro lado, ficava o corredor onde estava o quadro da mulher gorda...
- O que você quer? – perguntei bruscamente, voltando-me a ela. Ela fez uma careta de espanto, mas pareceu entender o que eu quis dizer...
- Como assim? – disse em um tom de falso desentendimento.
- Você entendeu o que quis dizer. Não se finja de desentendida, pois é péssima mentindo. – essa era uma boa verdade. Minha prima tem vários dons, mas mentir (bem) não está entre eles.
- É que você está agindo estranho. – respondeu casualmente, como quem observa que o céu ficou nublado.
- E como não estaria?! Com você me olhando de-desse jeito aí. – falei irritada, enquanto ela me lançava o mesmo olhar indagador da hora do almoço. – Por que não pergunta de uma vez?
- Eu?! Não tenho nada pra perguntar, você é que parece que está escondendo algo. Uhn? – perguntou levantando uma das sobrancelhas, desconfiada. – Por que não me conta, Amelie? Eu confiei em você. Por que não faz o mesmo comigo? – continuou assumindo um tom de leve súplica.
- “E agora?! O que eu faço? Não estou muito convencida a revelar minha “quedinha” pelo Bo. Não ainda...”- pensei, forçando me cérebro a raciocinar rápido a procura de uma saída para essa situação.




- Eu confiei em você quando te contei que gostava do Vincent. Por que não me conta o que está acontecendo?!
- Não tá acontecendo nada comigo. – menti, tentando disfarçar a leve agonia que se apoderava de mim enquanto luto contra o impulso, quase incontrolável, de contar-lhe tudo e, ao mesmo tempo, quero manter essa a sensação em segredo, pois não estou certa sobre o que está acontecendo comigo. – “Será que ela suspeita de alguma coisa?”-esse pensamento me atormentava e... confortava?!


























Assomada a essa cota de sensações perturbantes, agora, estava a culpa. Era verdade o que minha prima falara.
-“Por que, se ela havia me contado tudo (acho) que sentia, eu simplesmente não podia, ou melhor, conseguia fazer o mesmo?!” – pensei enquanto puxava as cobertas pra me cobrir melhor. As noites em Hogwarts estão cada vez mais frias com a proximidade do inverno. – Mal posso esperar por amanhã! – me ouvi sussurrar ironicamente.
Logo minhas pálpebras começaram a pesar e, por mais que eu tentasse evitar, não consegui lutar contra o sono.

Eu estava caminhando sozinha por um corredor e me perguntando onde cargas d´gua (essa é nova!) minha prima tinha se metido. O corredor encontrava-se deserto. Bem, pra fala a verdade esse corredor não é muito movimentado mesmo. Ele é estranho! Suas paredes são quase completamente cobertas por pesadas e empoeiradas tapeçarias comidas de traças, e no final dele há duas enormes vidraças, tipo de igreja, onde, entre elas, uma solitária e enferrujada armadura costuma ficar. É um corredor sem saída, mas tem algumas passagens secretas escondidas detrás da tapeçaria e que dão acesso a vários lugares da escola. Sou uma das poucas pessoas que conhece e usa as tais passagens.
Não sei por que, mas alguma coisa naquela armadura prendeu minha atenção. Fixei o olhar nela enquanto caminhava lentamente em sua direção, o som oco de meus passos ecoava pelo corredor. Senti uma sensação esquisita que me fez arrepiar. Como se alguém estivesse me seguindo. Melhor, como se uma pessoa ou coisa (sei lá?!) estivesse prestes a me agarrar. Virei bruscamente pra olhar o que era e-e... uma luz forte me cegou...

- Amelie! – chamava Corine animadamente, puxando as cortinas e fazendo os raios de sol baterem em minha face. – Acorda! – completou se ajoelhando ao lado da minha cama enquanto eu piscava freneticamente, tentado enxergar alguma coisa, por causa da claridade repentina. Ela se debruçou sobre mim e sussurrou em me ouvido... – É hoje. – me dando um beijo estalado na bochecha e se afastando logo em seguida, sorridente.
- O que é que tem demais em ser hoje? – perguntei coçando os olhos com as costas das mãos, atordoada.
- Phoo! Como assim o que tem demais? Amelie se liga! Eu... você... o Vincent ...nossas aulas, hun? Lembra? – disse meio eufórica. Acho que devemos estar sozinhas no dormitório, pois minha prima não mediu palavras quando falou do Malfoy.
- Oh Deus! Como pude esquecer... – falei em tom sarcástico e entediado ao mesmo tempo. – Uma coisa tão importante como essa não pode ser esquecida.
- Não pode mesmo! – respondeu ela dando um puxão nas minhas cobertas.
- Claro que não! Imagina se eu ia esquecer esse grande dia! Afinal eu serei coroada a maior castiçal do mundo bruxo! – brinquei.
- Pára Meli. É claro que isso não vai acontecer, ou você esqueceu que o Bo vai estar lá também. – disse cruzando os braços e se jogando na cama.
- Ah... esqueci não. – falei tentando manter minha voz num tom o mais normal possível e disfarçar a grande satisfação que sentia a respeito. – Você não está brava, tá?
- Hun-hun... tudo bem. – respondeu calmamente. – Ah, o que você tava sonhando? Tava com uma cara esquisita.
- Claro que eu tinha que tá com um cara estranha! Uma pessoa chega na maior, puxa as cortinas, deixa o sol me cegar e depois ainda pula no meu pescoço!
- Deixa de drama e conta logo. – falou, autoritária.
- Desde quando você tem a liberdade de usar esse tom comigo, mocinha?! – começamos a rir.
- Até parece a minha mãe falando, credo!
- Parece a minha mãe falando com a Lílian, isso sim!
- É... é mesmo. Então, o que estava sonhando antes de ser acordada por essa pessoa tão sem coração? – brincou.
- Nem sei explicar direito... bem, eu estava naquele corredor no quinto andar. O sem saída que é cheio de tapeçarias e passagens secretas, sabe? Eu estava lá e - e ... tava te procurando e... não lembro mais! – parecia que quanto mais tentava puxar da memória mais turva ela ficava. Alguma coisa me perturbou nisso. Fechei os olhos com força e fleches do sonho passaram por minhas pálpebras, mas não consegui reter nenhuma outra coisa sobre ele.
- Ah, que pena. Isso sempre acontece comigo.
- Que horas?! – perguntei, assustada.
- Ai Deus! – respondeu minha prima, se pondo em pé com um pulo e atravessando o quarto pra olhar as horas em um relógio pregado perto da porta, a que dava acesso as escadas. – Hora do café... - falou de olhos arregalados. - ... estamos atrasadas! Levanta, levanta. Vamos logo! – conclui eufórica.












Depois de alguns segundos nós já estávamos descendo apresadas as escadas, o que quase me redeu uma bela queda. Saímos da torre e pegamos uma passagem secreta pra chegarmos mais rápido ao salão. Ela dava direto em um corredor estreito no primeiro andar. Corremos o mais rápido de pudemos rezando pra que Filch não nos visse fazendo isso dentro do castelo, pois é proibido.
- Achei que não iam mais aparecer. – disse Helena assim que nos sentamos perto dela. – O que aconteceu com vocês? – indagou lançando a nós um olhar de interesse e surpresa.
- Er... nós... - arfou Corine, tentando responder.
- Correram em uma maratona?! E nem me chamaram? Que coisa feia... – brincou Dave, metendo-se na conversa.
- Não é nada disse... nós apenas... apenas – continuou minha prima tentando respirar e falar ao mesmo tempo.
- Estão completamente descabeladas?! – sugeriu Dave.
- O quê?! – falamos em uníssono passando as mãos pelo cabelo.
- Ah, não liguem pro Dave. Vocês não estão tão despenteadas assim. – completou Lena, sorrindo.
- Vocês são lindas de qualquer jeito. – comentou Iago em tom casual. – Não se importem com que ele fala. – completou indicando Dave que estava sentado ao lado de Helena e bem em frete a nós três.
- Obrigada! – disse Corine sorridente e parando de tentar ajeitar o cabelo.
Eu receei um pouco, mas por fim agradeci a gentileza lhe dando um beijo na bochecha e murmurando um: “obrigada”.
- De nada. – respondeu.
- Hei! Espera ai... Eu não falei que vocês eram feias, não. Apenas que estavam parecendo à murta quando tem um daqueles chiliques.
- Há-há. Muito engraçado. – disse Corine fazendo uma cara de poucos amigos pra ele.
Vi Helena tentar esconder um sorriso com a mão e uma vontade incontrolável de rir se apoderou de mim. Abafei o riso dentro da minha xícara de café com leite. Quando tentei tomar um gole pra que Corine não percebesse, pois ela sempre fica chateada quando rio das besteiras do Dave, acabei me engasgando. Coloquei a xícara na mesa e comecei a tossir. Iago tentou ajudar dando leves tapinhas nas minhas costas.
Quando finalmente recuperei o fôlego recomecei a rir, agora abertamente. Meus primos me olharam por e instante, mas logo estavam rindo também. Percebi que alguns dos nossos colegas com cara de cansados nos olhavam curiosos e descrentes. Sei o que deviam estar pensando: “Do que esses malucos estão rindo, afinal? Não vejo motivo algum!”. É que na presente situação os quintanista não tem encontrado muitos motivos pra rir. São tantos deveres, trabalhos e pesquisas, mal temos tempo de respirar. Por isso muitos deles andam por aí, meio cabisbaixos e irritados, culpando qualquer outro aluno, que não esteja passando pelo mesmo, por se divertir na sua frente.
- É melhor pararmos de rir ou eles vão nos matar. – comentou Lena indicando alguns dos alunos estressados.
- Pessoal mais sem graça! Parece o Tio Ronald quando acorda... Ooo, meu cérebro congelou, virei Zumbi... – disse Dave numa perfeita imitação do meu tio, nos fazendo rir novamente. Quando acorda ele costuma andar pela casa como um zumbi.
- Meu pai não faz mais isso! – protestou Corine tentando ficar séria, sem sucesso.
- Ele faz sim! Eu vejo quando vou dormir na sua casa. – falei sorrindo. Ela apenas me olhou ameaçadoramente.
- Às vezes ele até baba. – comentou Helena, enojada.
- Não, ele não baba! – protestou Corine mais uma vez.
- Tá,tá... Vamos parar com escândalo, crianças. – Iago falou calmamente, como um professor tentado acalmar os alunos pirralhos.
- Ih, maninho. Esse tom não combina com você. – riu-se Helena.
- Não mesmo! – concordou Dave.
- Sabe Dave, algumas pessoas costumam levar os estudos a sério. – começou Corine, determinada a passar um sermão nele logo pela manhã.
- Estamos atrasados, galera. – disse Iago levantando da mesa. – Vamos?























Nossa primeira aula da manhã seria de Transfiguração. Chegamos bem na hora de entrar na sala.
- Sentem, por favor. – pedia a Prof.ª Julia Haller, a irmã do professor de poções. Os dois se parecem um pouco, mas muito não na aparência, mais na personalidade. Ela, como ele, é severa e justa com os alunos. Um pouco mais sociável (simpática) e aberta a questionamentos, desde que contribuam no aprendizado.
Sua aparecia física não destoa muito da personalidade que tem. Ela é muito branca, tem olhos claros, lábios finos e cabelos logos, castanho-acobreados. Seu rosto tem traços delicados, apesar do olhar severo que carrega. Sempre veste vestidos de modelagem meio antiga (tipo anos 60... mais ou menos), de estampas floridas e um tom pastel como fundo. E, assim como o irmão, ela trás um ar um tanto campestre. Suas botas sempre estão sujas de terra.
- Bem, antes de tudo, gostaria de dar-lhes um aviso... – falou em serenamente quando todos haviam se acomodado. – A prof. McGonagall pediu que eu lhes avisasse que a primeira visita de vocês a Hogsmead vai ser no próximo final de semana. – um burburinho crescente invadiu a sala instantaneamente. – Sei que vocês estão muito ansiosos por isso. Não os culpo. O quinto ano tem sido bastante puxado e sacrificante. – todos murmuraram em concordância. – Por isso recomendo que se divirtam bastante! – falou animadamente. - Mas não na minha aula, é claro. – completou quando os alunos começavam a se exaltar na conversa.
Apesar da recente agitação dos alunos a aula transcorreu tranqüilamente. A profa. Haller costuma ser mais amável que o irmão, não chegando a ser “mole”, não deixa que sua autoridade seja questionada.
Ah! Esqueci de explicar uma coisa. Minerva McGonagall deixou de ser professora há algum tempo. Hoje ela se dedica apenas aos ofícios de diretora da escola.
Saímos da sala, mal tivemos tempo de respirar e já estávamos correndo para a próxima aula: Adivinhação.
- Upf! – suspirou Corine enquanto nos acomodávamos em poltronas ao redor de uma mesinha num canto da sala abafada. – Bem que a sala de podia ser mais perto, não?
- É. – concordou Helena se juntando a nós, cansada. – Mais claro que a nossa querida profa. Maluca... – sussurrou essa parte. ...não permitira. Iria interferir nos extraordinários poderes dela. – completou imitando o tom etéreo da professora.

A nossa professora de adivinhação ainda é a mesma da época de meu pai, Sibila Trelawney. Tentaram tira-la do cargo uma vez por suspeitarem que ela estivesse ficando meio biruta, mas a mesma se recusou terminantemente a deixar a escola. Fora a segunda vez que tentaram fazer com que parasse de lecionar, sem sucesso.

- Bom dia classe. Ou seria um mau dia?! – cumprimentou a professora saindo de uma parte sombria da sala. As lentes dos enormes óculos brilharam ao refletir um raio de sol que teimava em ultrapassar as cortinas bem fechadas. Sua aparência também não mudara muito. “Continua parecendo uma morcega velha.”, como diz meu tio Ronald. – Quem poderia saber? Eu lhes digo que só as pessoas de mente realmente aberta poderão prever o que acontecerá.
- Como se alguém se importasse. – murmurou Lena apoiando os cotovelos na mesa, entediada.
Nada muito importante aconteceu no período da manhã. Apenas coisas normais, corriqueiras:

Dave recebeu uma detenção por soltar gira-giras na aula de feitiços, um garoto de lufa-lufa veio se declarar pra Helena durante o intervalo entre as aulas, assim como uma garota de corvinal fez com Iago e Corine quase teve um ataque quando um professor passou mais uma pesquisa enorme.
Durante o almoço Bo veio nos procurar (eu e Corine) pra entregar uma autorização.

- A profa. Haller permitiu que vocês usassem o campo, mas achou melhor, mesmo assim, dar-lhes uma autorização por escrito. Caso tenham problemas. – disse ele nos entregando dois pergaminhos dobrados em forma retangular.
Esqueci de disser que a diretora da grifinória é a Profa. Haller agora.
- Ah, obrigada. – agradeceu minha prima um tanto desconcertada, olhando pros lados. Acho que devia estar conferindo se alguém prestava atenção na conversa.
- Tchau. – falou e foi se juntar aos amigos que o esperavam na saída do salão.
- Ainda bem que eles não estão aqui. – suspirou Corine me entregando minha autorização.
- Eles quem?
- Dave e Iago.
- Ah...
- Você sabe que eles são hun... tipo espiões dos nossos pais, não é?
- É... sei. – falei, colocando uma garfada de rosbife na boca.
- Então, se eles escutassem o que o Longbottom disse... iam nos encher até a morte!
- Iam mesmo. – concordei, pensando como seria irritante tê-los no nosso pé.

Terminamos o almoço e fomos esperar as aulas da tarde na biblioteca, estava muito frio pra ficarmos fora do castelo.

- Você acha que vai dar certo? – indagou Corine quando nos sentamos (uma de frente pra outra) em uma mesa que ficava perto de uma janela e entre duas grades estantes de livros velhos e empoeirados, era um lugar mais reservado da biblioteca.
- O que exatamente? – como odeio quando minha prima não fala as coisas claramente.
- O meu plano...
- Não sei. Talvez... – falei entediada. Como gostaria de dizer que era pura perca de tempo, que ela devia desistir e se conformar. Achei que aceitaria tudo isso, mas não está sendo nada fácil. A cada dia desprezo (tenho nojo mesmo) mais o Malfoy.

Depois disso ficamos em silêncio, pois é proibido conversar na biblioteca. Corine puxou grosso livro de dentro da mochila e começou a ler enquanto eu rabiscava em um caderninho. Passados alguns segundos nós escutamos um “tik-tik”, como quem bate no vidro. Olhei pra janela e lá estava ela, Belle, a coruja cinza de minha irmã Lílian.
Saltei da cadeira, peguei a varinha e, fazendo o mínimo de barulho possível, abri a janela.

- Olá Belle! – sussurrei, desamarrando um pequeno pacote e uma carta presos a sua pata estendida. – Quanto tempo. – acariciei a cabeça dela por uns segundos. Depois, ela abriu as asas se foi.
- É da Lílian? – perguntou Corine em um sussurro, confirmei com a cabeça e ela deu a volta na mesa, sentando-se ao meu lado. Abri a carta primeiro, reconheci imediatamente a letra pequena da minha irmã.

Querida irmãzinha (não me controlei).

Como estão às coisas por aí? Espero que bem!
Comigo está tudo maravilhosamente... indo. Brincadeiras de lado. Não se preocupe, estou ótima!
Estou escrevendo da china. Vim guiar uns turistas bruxos pela enorme muralha, supostamente, construída por trouxas. Eles pensam que sabem tudo, imagina?!
Aqui é bem legal, só acho que as pessoas deviam andar com um crachá com seus nomes escritos, pra podermos distingui-los, sabe? Tudo mundo tem a mesma cara poxa!
Depois vou pra Itália. Sempre quis conhecer. Vai ser demais!
Tô mandando um cartão postal junto com a carta.

Parei nesse ponto pra olhar o tal postal.
Nele, minha irmã estava sorrindo ao lado de um carinha de cabelos pretos, espetados e olhos puxados. Atrás deles estava a enorme muralha de pedra.
Virei o cartão pra ver se havia algo escrito...

Ah, esse ai da foto é o Shin, como você deve estar se perguntando.... Um paquera que arrumei por aqui. Ele num é bonitinho? Ainda bem que ele sabe falar um pouco de inglês!
Aí nós estamos enfrente a famosa muralha da China.


- Ela não toma jeito mesmo. – comentou Corine que lia junto a mim, sorrindo.

Voltando a carta...

E aí? Já arrumou um paquera também? Aproveita! Hogwarts é o melhor lugar pra isso. Escutei os sábios conselhos de sua irmã. Quando lembro como eram bons meus tempos de escola, ai-ai....
Mas por tudo que é mais sagrado, não deixei a mamãe ou papai lerem isso! Eles me matariam.
Como vai a Corine? Ainda muito estudiosa e chata?
E os nossos tios? Todos por ai?
Sinto tanta saudade da bagunça que fazíamos quando estávamos todos juntos!
Recebi uma carta do Al anteontem. Ele dizia que estava pensando em pedir a Rosa em casamento. Pensando?!
Esse nosso irmão é lento! Não vai ser demais se eles juntarem as trouxinhas?
Tenho visto muitas notícias sobre o Tiago nos jornais. Parece que ele está namorando uma outra fã agora. Esse não é nem um pouco lento, hein?
E o Teddy e Victoire, como estão? Não ouso escreve-los desde que não pude comparecer ao casamento.
Estou morrendo de saudades do Hugo também. Nós éramos tão unidos nos tempos de escola, todos pensavam que íamos acabar se casando, lembra? Mó sem noção.
Ah. Estou mandando o seu presente antecipadamente, caso não dê pra eu aparecer no dia. Avisa a Corine que o dela só vou mandar no dia mesmo. (como se ela não estivesse lendo tudo aí do lado)
Espero que goste!
Bem, acabaram minhas idéias.
Beijos de sua amada e linda irmã: Lílian Potter.

P.S: Cuidado quando for abrir o pacote!
Amo todos vocês!

- Modesta ela, não? – perguntou Corine, sarcástica.
- Muito! – respondi no mesmo tom.

Peguei o pacote e abri cuidadosamente.
Dentro dele havia um delicado coelhinho de porcelana. Fiquei observando-o por um instante.

- Tem um bilhete! – falou minha prima me entregando o bilhete e recebendo o coelhinho, animada.

Oi! De novo...
Comprei esse coelhinho em uma feira daqui. Ele é todo pintado à mão, custou uma fortuna. Vê se toma cuidado!

- É tão... perfeito. – comentou Corine, colocando o coelho de volta na caixa.
- É. – é tão bom quando minha irmã me escreve. Ela é tão animada.
Todos acharam muito estranho quando ela decidiu ser guia turística de bruxos. O fato é que, apesar de ser bem agitada, ela sempre gostou bastante de história da magia e isso influenciou totalmente na sua decisão de sair viajando pelo mundo. No começo minha mãe não queria aceitar, mas depois cedeu vendo que ela não desistiria.
- É melhor nos apresarmos. Já está quase na hora da aula e ainda vamos ter que passar no dormitório pra deixar isso. – falei mostrando a caixinha, a carta e o postal.
- Vamos então. – concordou minha prima, guardando o livro que tirara pra ler.
Saímos quase correndo da biblioteca em direção a torre.

As aulas do tarde passaram rapidamente. Sabe quando coisa ruim está para acontecer e você tenta, reza pra que o tempo passe o mais devagar possível, mas em vez disso ele voa?! Foi o que aconteceu essa tarde.

Pensar em ter que me encontrar com Malfoy era intolerável. Não, pensar em ter que suportar ele passar na minha cara que não sei nem montar em uma vassoura era muito pior! Pelo menos tenho o consolo de saber que não vou ficar só assistindo minha prima babar por ele, pois o Bo vai estar lá hoje. Contudo, não sei se fico triste ou feliz por isso. A presença dele me trás certo conforto, mas também me amedronta um pouco. Imagina se levo um tombo memorável na frente dele?! Se isso acontece, cavo um buraco bem fundo e me enterro dentro! (exagerada)

Nós duas estávamos sentadas na sala comunal repassando a matéria enquanto esperávamos dar a hora combinada. Também tínhamos que pensar num jeito de despistar nossos primos. Isso não vai ser nada fácil!

- Corine, nós não vamos poder esconder isso por muito mais tempo... Ou você pretender inventar uma desculpa diferente todo vida que sairmos? – perguntei depois de alguns minutos discutindo com ela sobre o que faríamos pra enrolar nossos primos.
- Eu não pensei nisso. – murmurou, como se acabasse de perceber um ponto importante que deixara passar durante uma aula. – Mas acho que isso é o melhor por enquanto. E você mesma disse que não queria que ninguém soubesse das aulas, lembra?
- É claro. Só acho que um dia eles vão ter de saber, não?
- Não sei se vai ser preciso... – falou calmamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto se abaixava pra apanhar um livro que tinha caído no chão.
- Como assim?! – me exaltei um pouco. – Se vocês ficarem juntos e tudo... quer dizer, eles vão ter sab...
- Não. Não vão. – cortou ela.
- Como queira. Eles vão descobrir mesmo. – me recostei na poltrona e suspirei, derrotada.

Como não conseguimos pensar em nada melhor, por volta das cinco e meia, saímos da torre com a desculpa de que íamos estudar na biblioteca. Nossos primos só não estranharam o fato porque temos o costume de fazer isso às vezes.

Descemos as escadas devagar, pois ainda nos restava um bom tempo. Chegamos ao saguão de entrada, sentamos em um banco e ficamos nos divertindo com um pacote de feijõeszinhos de todos os sabores.

- Já são cinco e cinqüenta, vamos? – disse minha prima depois de consultar o relógio de pulso pela milésima vez desde que nos sentamos. Concordei com um movimento de cabeça.

O sol já tinha se posto há algum tempo, o que fez com que os jardins ficassem quase completamente na penumbra. Demos a volta por um lado do castelo e subimos um morrinho em direção ao campo de quadribol, nossas varinhas a postos para iluminar o caminho.

- Olha... as senhoritas chegaram. – ouvi Malfoy cochichar pra o amigo quando nos aproximamos. Ele se ergueu e ficou nos fitando. Bo apenas levantou a cabeça e sorriu, fazendo minhas entranhas revirarem. Comecei a ficar mais nervosa a cada minuto. Era como se alguma coisa estivesse presa em minha garganta, impedindo que eu respirasse livremente. Uma sensação sufocante que comprimia meu peito.

- Vocês não trouxeram vassouras. – observou Malfoy, desapontado. Nós balançamos a cabeça negativamente, mesmo sabendo que aquilo não fora exatamente uma pergunta. – Então... tô indo buscar umas pras vocês. – e saiu em direção aos vestiários.

- Oi. – Bo acenou pra nós, ainda sorrindo.
- Oi. – respondemos em uníssono.
– “Corine está tão ou mais nervosa que eu.” – pensei enquanto a observa torcer os dedos, num típico gesto de inquietação.

Depois disso ficamos em silencio esperando o Vincent voltar. Um vento gélido me fez arrepiar, a noite estava muito fria. Desamarrei meu casaco verde-oliva de tricô da cintura e o vesti, deixando apenas os dois primeiros botões abertos.

- “Como gostaria de estar deitada na minha cama quentinha agora.” – pensei, olhando o céu estrelado.
- Só achei essas velharias aqui. – disse Malfoy que acabara de chegar com duas vassouras no ombro. Ele as colocou no chão, eram tão antigas que a placa de identificação da marca já havia se apagado. – Devem ser mais lentas que o raciocínio de um trasgo, mas... se bem que... pra vocês é melhor assim. – falou coçando o queixo, desdenhoso. Nós não falamos nada. – Bem, pensei em começarmos pelo básico, claro. Então hoje vocês vão apenas fazer um tipo de exercício de equilíbrio. Vocês sabem fazer a vassoura levitar, não é? – perguntou, nos olhando esperançoso.
- Eu sei. – respondeu minha prima prontamente.
- Qualquer bocó sabe pelo menos isso, Malfoy. – falei de uma das vassouras caídas no chão e murmurando um “suba”, entediada. Ela tremeu um pouco e depois levantou do solo em direção a minha mão estendida.
- Ótimo... melhor pra mim. – disse, sem se abalar com o meu tom de voz. – Quero que vocês passem por uns obstáculos que vou conjurar sem desequilibrar... ou, pelo menos, não cair. – falou, fazendo um sinal com a mãe para que o seguíssemos. Paramos mais ou menos na no meio do campo. – Aqui vocês vão ter bastante espaço pra se movimentar. Quem vai começar?
- Eu... eu posso começar. – ofereceu-se Corine, um pouco mais animada que o normal. Senti uma súbita vontade de dar um beliscão nela, mas não o fiz.
- Tudo bem, você começa então. Espere só um minuto, vou explicar melhor como vai ser. – disse, e logo em seguida fez um movimento com a varinha e murmurou alguma coisa, não pude distinguem bem o que foi. Uma linha amarelada e cheia de curvas foi desenhada na grama. – Essa vai ser a trajetória que vão cumprir. – disse, pisando encima da linha. – Vão flutuar sobre ela enquanto eu conjuro obstáculos iguais a esses pra vocês desviarem. – disse, fazendo mais um gesto com a varinha. Uma faixa branca surgiu a mais ou menos um metro e meio do chão, próxima a nós. – Elas são como fumaça... – e passou a mãe de um lado para o outro da faixa. -... então não se preocupem, não vão se machucar se baterem. Ok. Era só isso. Pode começar.

Corine subiu na vassoura e ficou esperando ele manda-la ir.

- Não precisa ir muito rápido, ok? – disse, se aproximando dela. Ela concordou com a cabeça e fico flutuando parada no início da trajetória.
Como terei que esperar mesmo, resolvi me afastar deles.

Darei uma chance a minha prima, apesar de querer ir lá e puxa-la pela orelha para o lugar mais longe possível desse sujeito. Sentei na grama úmida, segurando as pernas com o queixo apoiado nos joelhos, os observando. Vi quando Malfoy deu ordem pra minha prima começar.

Enquanto ela seguia a linha amarela, ele fazia alguns gestos discretos com a varinha e faixas brancas apareciam no caminho. Mas não foram apenas faixas, também apareceram arcos, círculos e um tipo de parede de fumaça que saia do chão, obrigando minha prima a voar mais alto para passar por cima dela.

Depois de certo tempo vendo minha prima se desconcertar e errar toda vez que o Malfoy falava ou fazia alguma coisa, eu me enchi. Olhei pra trás, na direção das arquibancadas. O Bo ainda estava sentado no mesmo lugar, observando a aula de minha prima. Assim que percebeu que eu o olhava, desviou o olhar do treino e ficou me fitando. Ele não sorria dessa vez e isso me desorientou mais do que se o tivesse feito. Virei à cabeça imediatamente, voltando a olhar os outros.

- Ok. Tá bom por hoje. – falou Malfoy (finalmente). – Você foi bem, apesar de ter se desconcentrado em alguns instantes. – disse, ajudando-a a descer da vassoura.
- “Uau! Não sei como a Corine não teve um troço.” – pensei considerando o estado que fico quando me aproximo do Bo.
- Agora é sua vez. – gritou Malfoy, me chamando. Levantei, sacudi a roupa pra tirar a sujeira e caminhei até eles. Ao chegar perto de minha prima percebi que ela estava estática e com olhar perdido (ah não... ele derreteu cérebro dela!). – Vai ser o mesmo esquema, ok? – apenas concordei com a cabeça, subindo na vassoura. Minha prima pareceu sair do transe nessa hora.
- Estou indo sentar com o Bo, certo Meli? Boa sorte! – e se foi.
- “É... acho que vou precisar de sorte mesmo.” – pensei ao ver o sorrisinho enviesado de Malfoy.

Ele contou até três e deu o sinal pra que eu fosse. Comecei a seguir a trajetória devagar. Sou péssima em me equilibrar nesse troço (na vassoura), apesar dos auxílios mágicos que ele possui. A primeira faixa branca surgiu, desviei dela facilmente.

- Você tá indo muito devagar. – gritou. Continuei no mesmo ritmo, ele voltou a gritar. – Mais rápido, vamos! Anda srta. Maioral! – parei a vassoura, e me virei pra encará-lo, irritada. Ao fazer isso vi que Corine e Bo pareciam conversar animadamente, nem ao menos olhavam na nossa direção. – Por que parou?! – indagou Malfoy.

Recomecei a voar, agora mais rápido. Mais uma faixa apareceu, desviei dela também. Depois foi um circulo, uma faixa, outra... um circulo, mais uma faixa e mais...

Os obstáculos estavam surgindo muito rápido. Mal me livrava de um e outro aparecia.

- “Que diabos é isso?!” – pensei enquanto tentava passar pelos obstáculos sem me chocar com eles... sem sucesso, é claro. Olhei de relancei pra Malfoy, ele estava o mesmo sorrisinho enviesado de sempre. Isso me irritou profundamente. – “Maldito! Está fazendo de propósito...” – pensei atravessando mais uma parede de fumaça. “Esse nojento está fazendo os obstáculos aparecerem mais rápido só pra me menosprezar (humilhar, mesmo). Mas se ele pensa que vou desistir...”- me concentrei mais. Deu um pouco certo, mas o imbecil percebeu e aumentou ainda mais o número de obstáculos.

Quando já estava cansada de engolir fumaça, o mentecapto gritou:

- Está bom por hoje. – desci da maldita vassoura e caminhei até ele, ofegante por causa do esforço que acabara de fazer. Tive que resistir a vontade incontrolável que sentia de laçar uma maldição nele... melhor, esgana-lo! – Quando você me disse que era ruim, não pensei que fosse tanto assim. – zombou ele.
- “Cínico! Trapaceia e ainda tem coragem de tripudiar?!” – pensei, afastando-me dele antes que perdesse o controle e o enfeitiçasse por “acidente”. Fui até as arquibancadas, onde Corine e Bo ainda conversavam.
- Então a Amelie vestia uma roupa de cowboy e o Dave de índio e os dois saiam pela casa fingindo lutar. – narrava Corine animadamente enquanto Bo escutava sorrindo, interessado.
- “O que ela tá fazendo?!” – pensei, um pouco desesperada.
- Você fingia ser cowboy? Devia ser muito hilário. – comentou Malfoy, juntando-se a nós.
- Era mesmo. – riu-se minha prima. – Tem até uma foto lá em casa.
- VAMOS Corine?! – perguntei cruzando os braços, aborrecida.
- Não gosta de lembrar a infância, Potter? – perguntou Vincent, desdenhoso.
- Minha mãe me vestia de mandrágora no Halloween. – disse Bo em tom despreocupado. Nós olhamos pra ele, surpresos, e desatamos a rir.
- Por que nunca me contou isso? – indagou o amigo, entre risos.
- Achei que não era importante. – disse o outro, dando de ombros.
- Como não é?! Você tá maluco?! – continuou Malfoy, agora segurando a barriga de tanto rir.
- Vai dizer que nunca se fantasiou quando era criança?! – perguntei incrédula. Ele parou de rir quase instantaneamente e respondeu, voltando ao tom de descaso:
- Não tinha tempo pra essas bobagens.
- Vamos Melie? Já tá ficando tarde.
- Ah, não precisam se preocupar se estiverem com a autorização da profa. Haller. Vocês estão, não é? – alertou Bo.
- Estamos. – respondemos.
- Vou guardar as vassouras. – informou Malfoy, saindo.
- Vamos? – perguntei a Corine.
- Ah... é que eu tenho que falar com o Malfoy. Agora que lembrei... Sobre o trabalho de Herbologia, sabe? – respondeu nervosa.
- Ok. Já vou indo então. Tchau. – me despedi. – “Quero ver você se livrar do Bo agora.” – pensei, percebendo que ela devia estar querendo ficar sozinha com o Vincent.
- Espera! – disse Bo me acompanhando. – Vou com você, então. Fala pro Vince que já fui, ok? – disse se voltando a minha prima.
- Ok! – respondeu ela, sorrindo.
- Tchau. – despediu-se.
- Tchau Bo.
- “Sortuda!” – pensei enquanto recomeçava a andar.
Nós caminhamos em silêncio durante certo tempo. O mesmo constrangimento das outras vezes que estive perto do Bo se apoderou de mim. Só que dessa vez foi bem pior, pois eu nunca tinha ficado sozinha com ele. Até tentei medir meus passos e o ritmo da respiração pra que ele não percebesse o quanto estava nervosa.
- Está frio hoje, não? – avaliou assim que atingimos os primeiros degraus que levavam ao castelo.
- Está. – respondi rapidamente, sem olhá-lo. – Deve ser porque já estamos entrando no outono. – completei, ainda querendo manter a naturalidade.
- É... deve ser. Logo vai começar a nevar.
- Eu adoro neve! – falei animada. – “Mas que coisa estúpida pra se falar!” – pensei. – Quer - quer dizer... eu gosto bastante do inverno... do Natal e tudo.
- Eu também. – comentou calmamente, com o olhar perdido.
- E meu aniversário é um dia antes do Natal...
- É mesmo?! – perguntou surpreso. – Então você é bem mais nova que eu.
Completei ano em fevereiro. É quase um ano de diferença. – tínhamos acabado de chegar ao hall.
- É... – fiquei sem saber bem o que dizer. Sempre pensei que ele fosse o mais novo dos três.
- Deve ser legal receber presentes em dias seguidos. – comentou, murmurando “Nox!” pra apagar a luz da varinha.
- Meus pais sempre fazem isso, mas o resto do pessoal deixa pra me dar tudo no mesmo dia. – falei quando já estávamos no topo da escada que levava ao saguão de entrada.

Voltamos a ficar em silêncio (constrangedor) enquanto passávamos por uma passagem secreta pra chegar mais rápido a torre. Ele parecia bem tranqüilo.

- “Será que só eu estou sentindo essa inquietação?!” – era o que me perguntava.

Quando alcançamos o retrato da mulher gorda, falei a senha e nós entramos.

- Acha que eles vão demorar muito? – perguntei me referindo a minha prima e Malfoy. Senti o nó na minha garganta apertar só de pensar no que eles poderiam estar fazendo. - “Porque minha prima tinha que se interessar por alguém como o Malfoy?!”.
- Acho que não. - sem querer fiz uma careta e suspirei, desapontada. Isso não passou despercebido pelo Bo que apesar de na hora estar com o olhar meio vago, falou... – Você não gosta mesmo dele, não é?
- Ã?! – voltei a fazer careta, mas de desentendimento.
- Perguntei por que você odeia tanto o Vince. – repetiu em um tom terno que me fez gelar até a espinha (e olha que eu nem sou peixe).
- Ah... eu não o odeio... só que - que... – tentei explicar o que sentia pelo Malfoy sem ofendê-lo na frente do Bo, mas logo percebi que isso não era possível. - ... eu simplesmente... simplesmente... – continuei procurando um termo mais leve enquanto andava pra perto da lareira. Devia ser muito tarde, pois além de nós só havia mais dois casais conversando animadamente a um canto e um primeranista dormindo esparramado num sofá.
- Não o suporta. Ele te perturba. É isso? – sugeriu sorrindo e se aproximando da lareira também. Agora nós estávamos lado a lado observando o crepitar das últimas chamas. Tão próximos que nossos cotovelos chegaram a se chocar quando baixei pra remexer o carvão.
- Desculpa. – falei, levantando rapidamente.
- Não foi nada. – disse, apoiando uma das mãos na lareira e se curvando pra sentir, com a outra mão, o calor do fogo quase extinto. - Então, eu acertei? – indagou, virando pra me encarar, ainda curvado perto ao fogo. Pensei se seria prudente (essa é a palavra?) concordar.
- Não é bem isso... – decidi não concordar. Afinal o Bo mesmo sendo muito diferente (bem melhor!), é um dos melhores amigos do Malfoy. – Só o acho um pouco... hun... arrogante. – falei tentando soar o mais leve possível.
- Às vezes nos enganamos com as pessoas. – comentou, em um tom de voz impassível e quase inaudível. Mordi o lábio inferior enquanto pensava se isso era uma crítica ou um tipo de conselho.
- Eles estão demorando. – foi o que consegui falar depois de alguns minutos de silêncio, quebrados apenas pelas gargalhadas dos dois casais e pelo garoto que balbuciava coisas sem sentido enquanto dormia. – Acho que já vou... subir. – suspirei, indicando a porta do dormitório.
- Espera um pouco... nós temos que marcar um dia pra se encontrar. – disse calmamente, se afastando um pouco da lareira.
- Quê?! – perguntei bruscamente, como quem leva um susto (e foi).
- O trabalho que meu pai passou. Não combinamos nada ainda.
- Ah... é mesmo. – suspirei aliviada (desapontada), finalmente entendendo o que ele quis dizer. – Você tem-tem... hun... algum... dia em mente? – meu raciocino está lento (ainda tô me recuperando do susto). – “Maldito nervosismo! Isso é hora pra gaguejar feito uma pata?! Pato gagueja?”- fiquei sem resposta pra esse último pensamento.
- Por mim poderia ser na quarta. Não tenho nenhuma obrigação como monitor nesse dia. Está bom pra você?
- Está. – e balancei a cabeça afirmativamente. – Na biblioteca?
- É. Pode ser. Depois da aula de trato de criaturas mágicas, a última do dia, ok?
- Certo.
- Boa noite, então.
- Noite.
Depois disso cada um foi pro seu dormitório.


(NA): Esse cap é dedicado a minha primeira leitora a comentar.
ManDIkInhA WeaSLeY é vc! ^^

b-jux



















































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