Oitavo Capítulo



– Case comigo. – repetiu Harry num tom de voz mais urgente.
Aquelas eram, pensou Hermione, as palavras mais doces que já tinha ouvido em toda sua vida. O fato de Harry saber de seus objetivos, de seu sonho e sua paixão, e ainda querê-la... era notável. Os olhos dela queimaram, e um grande nó se formou na garganta.
– Eu não posso.
Eles estavam em pé agora, e Harry a puxou para mais perto, segurando-a pela parte superior dos braços.
– Por que não?
– Eu seria uma péssima esposa.
– Não!
Ela ficou na ponta dos pés, e gentilmente o beijou, roçando-lhe os lábios com os seus.
– Sim. Especialmente para um Potter. Os Potter são ricos, poderosos e extremamente conhecidos. Vocês são como os Granger na Argentina, mas isso é tudo o que eu não quero. Tudo o que não posso mais ser.
Cara, querida...
– Não. – os olhos de Hermione queimavam como fogo, e ela mal podia conter as lágrimas. – Por favor, não discuta. Isso só vai piorar as coisas. Nós temos objetivos diferentes, Harry. Estamos seguindo caminhos diferentes.
Harry dirigiu de volta para Cannes, e o clima tenso durante o trajeto foi quase insuportável. Parando em frente ao Carlton, ele estacionou o carro e virou-se para ela, o semblante sério.
– Não entendo por que você acha que não vai dar certo.
– O que temos não vai durar. Eu não posso. – disse Hermione, os olhos ainda marejados. – Em menos de uma semana, Cannes será transformada novamente. Os cartazes vão ser retirados, o carpete vermelho será enrolado, as multidões vão se dispersar. Conosco acontece a mesma coisa. Somos parte da mágica daqui, mas isso não é o mundo real. Pelo menos, não é o meu mundo real. Meu mundo é em Tamil Nadu.
Ela o viu empalidecer, viu o medo nos olhos de Harry.
– Você não tem de ir à Índia para ajudar as crianças. – disse ele de forma sintetizada. – Pode levantar fundos aqui. Pode aumentar a consciência pública sem se colocar na linha do fogo.
Ela sabia que ele estava se referindo a Allie.
– Se eu não for, não saberei se o dinheiro está chegando para as crianças. Tenho de me certificar de que elas estão sendo bem cuidadas. Não posso simplesmente esperar que tudo vai dar certo. Preciso ter certeza disso.
O maxilar de Harry enrijeceu. Os olhos esverdeados se tornaram duros.
– Você nem mesmo dará uma chance a nós dois?
A primeira lágrima caiu e Hermione a secou rapidamente.
– Não posso, Harry. Mas amo você, e sempre o amarei.
– Você está se despedindo, então?
Oh, ela detestava aquelas palavras e o modo como ele as dizia. Harry fazia aquilo soar como se fosse fácil. Não era fácil em absoluto. Era uma decisão muito sofrida, mas não podia desistir das garotas. Tinha feito uma promessa.
– Não é um adeus. – sua voz tremeu de emoção. – Que tal au revoir? Até a próxima vez?
– Não. Detesto isso. Não direi uma coisa dessas.
– Então não fale. – ela pressionou a boca na dele, fechou os olhos e disse a si mesma para lembrar-se como era a sensação de ser amada daquela forma. Disse a si mesma para recordar-se da força, do carinho e da enorme generosidade de Harry.
Lutando contra as lágrimas, virou a cabeça e sussurrou no ouvido dele:
– Eu nunca o esquecerei. Jamais esquecerei o que você fez por mim e pelas crianças de Tamil Nadu.
Antes que ele pudesse responder, Hermione saiu do carro e desapareceu dentro do hotel, reprimindo as lágrimas enquanto corria.

Mais tarde, naquela noite, dois envelopes apareceram debaixo da porta de Hermione. Ela os pegou e levou-os para a cama.
O primeiro envelope era de um papel grosso e pesado, e ela removeu de dentro um convite de cor creme: “O Banco Integrado de Investimento tem o prazer de convidá-la para assistir a estréia de Um coração, às 7h, na Riviera”. O evento de gala que Harry tinha prometido.
Com mãos trêmulas, e totalmente incrédula, ela abriu o segundo envelope e descobriu uma passagem de primeira classe para Nova Déli. Era uma passagem só de ida, notou com lágrimas nos olhos.

Duas noites depois, Hermione vestiu-se para a exibição com extremo cuidado, penteando os cabelos e aplicando maquiagem como se estivesse se preparando para uma batalha. E, de certa forma, estava. Estava se preparando para encarar Harry uma última vez antes de deixá-lo mais tarde naquela noite.
Olhando para seu reflexo pálido no espelho do banheiro, sabia o quanto aquele momento seria difícil. Estar com ele sem poder realmente tê-lo era a mais cruel das punições que podia imaginar.
Ela ajustou a alça de seu vestido. O tecido era de seda, coberto com pequenas violetas, as flores feitas de lantejoula. Era um vestido extravagante, um tipo usado por grandes celebridades de Hollywood, mas aquela noite Hermione tinha de fazer o papel da modelo fascinante, uma última vez. Tinha de brilhar para os fotógrafos e para a imprensa, e se certificar de que Um coração recebesse o máximo de atenção possível.
Harry mandara sua limusine apanhá-la e, na rota para a Riviera, ela viu no céu faixas de luzes brancas emitidas por canhões de luz. Só quando a limusine parou na praia ela descobriu que as luzes eram para a estréia e estavam reunindo uma grande multidão.
Estava completamente atônita. Harry tinha pensado em tudo. Dezenas de câmeras a rodearam quando ela pisou o tapete vermelho, a imprensa reunida exatamente como nas grandes estréias de estúdio.
Como ele havia organizado tudo aquilo em apenas três dias? Harry conseguira a exibição, a festa, a imprensa, até mesmo o tapete vermelho... tudo para ela.
Naquele momento, Hermione quase esqueceu sua determinação. Estava tão agradecida por tudo que ele tinha feito, e tão estupefata por aquele apoio. Nunca conhecera alguém como Harry, e duvidava que algum dia conheceria outra pessoa igual.
Harry a encontrou dentro da tenda do pavilhão branco na areia. O evento exigia smoking, e, mais uma vez, ele estava deslumbrante trajando um.
O coração de Hermione disparou violentamente no peito quando o viu. Ele era tão grande, tão imponente, e parecia tão apaixonado...
– Você está magnífico. – disse ela, descansando uma das mãos na manga dele e erguendo-se para beijá-lo no rosto.
Harry virou a cabeça de modo que o beijo lhe tocasse os lábios.
– Eu amo você.
Com lágrimas nos olhos, Hermione sentiu uma estranha dor no peito. A sensação era como a maré. Uma maré que a estava puxando, absorvendo-a, tentando carregá-la, entretanto, não podia ceder. Assim que pensou nas garotinhas da Índia, soube que tinha de partir, que tinha um trabalho sério a fazer.
– Eu amo você, também. – sussurrou antes de ser cercada por um grupo de patrocinadores internacionais e levada na direção oposta à de Harry.
Mais tarde, a grande tenda branca tornou-se uma enorme tela de cinema, e os convidados em trajes de gala acomodaram-se em cadeiras ou em cobertores espalhados ao longo da areia. Então, as luzes escureceram e um projetor foi ligado.
Quando a exibição terminou, o documentário havia sido adquirido por diversas redes de comunicação, distribuidores independentes, e pelas maiores empresas de TV a cabo dos Estados Unidos. Todas as pessoas influentes tinham ido à estréia, e houve conversas sobre o filme ser selecionado para concorrer ao Oscar, e possivelmente exibido no Festival de Filmes de Sundance no ano seguinte.
A noite fora um tremendo sucesso, mas, como tudo, a festa finalmente acabou. Os convidados partiram. A tela foi desmontada e Hermione retornou ao seu hotel, onde trocou de roupa, arrumou as malas e pagou a conta.
No aeroporto de Nice, fez o check in e passou pela alfândega. Enquanto esperava no portão de embarque, avistou uma cabeça escura familiar abaixada sobre um jornal.
E ficou boquiaberta. Harry? No aeroporto?
– O que você está fazendo aqui? – quis saber, confrontando-o no exato momento que em que a empresa área anunciou que os passageiros embarcariam em alguns minutos.
Ele ergueu os olhos do jornal, fingindo estar chocado.
– Meu Deus, Hermione, o que você está fazendo aqui?
– Não brinque comigo. O que você faz aqui, e para onde vai?
Ele se levantou.
– Bem, vou entrar num avião. E estou indo para a Índia.
– Você não pode. É para lá que vou.
Harry assobiou.
– Destino.
– Não, não é destino. Está errado.
– Não está errado. – Harry ergueu sua passagem de avião. O número da poltrona era ao lado da dela. – Tenho uma passagem, um lugar reservado, e estou indo.
– Mas... por quê?
– Porque você vai. E quero estar lá. Alguém precisa ficar de olho em você.
Não era porque Harry não confiava nela, e sim porque se importava. Amava-a. Embora ele já tivesse dito as palavras antes, Hermione as sentiu pela primeira vez, sentiu-as em suas entranhas, em seus ossos, em seu coração.
Ele ficaria a seu lado, a apoiaria, e após uma vida solitária, aquilo era o paraíso.
Entretanto, uma coisa a preocupava. Sabia de tudo ao qual Harry estava desistindo. Sabia dos sacrifícios que tinha feito.

– Mas e seu trabalho, sua empresa? E quanto a sua família...
– Não importa. Estou fazendo isso por você, Hermione, mas também estou fazendo por mim mesmo. Se eu posso ajudar as crianças do vilarejo da Índia, é isso que quero.
Os olhos de Hermione se encheram de lágrimas.
– Onde vamos, não existem hotéis luxuosos.
Ele se aproximou e puxou-a para seus braços, as mãos fortes e seguras envolvendo-lhe as costas.
– Eu entendo, cara. Posso lidar com um saco de dormir, uma rede de mosquitos e água engarrafada.
– Então você sabe que haverá insetos?
– Sim. Haverá muitos insetos. – então ele sorriu lindamente. – Mas acho que eu poderia lidar com um enxame de gafanhotos se isso significa que posso passar o próximo ano de minha vida a seu lado.
O sorriso de Hermione desapareceu.
– Somente um ano?
– Isso depende se você vai querer casar comigo ou não.
– Sim! – ela deslizou os braços em volta do pescoço dele e o beijou. – Harry Potter, eu quero casar com você. Quero amá-lo muito. Quero passar o resto da minha vida com você.
Ele sorriu antes de roçar os lábios nos dela.
– Posso ter isso por escrito?
Hermione riu, o coração mais leve e feliz do que o sentia em anos.
– Não é necessário. Seria perda de tempo. Nascemos um para o outro. É o destino...
Fim

Tem melhor prova de amor que essa do Harry? Não! Que lindo!
Poxa… A Mione me enervou um pouco… mas tudo bem.
E chegamos ao fim dessa maravilhosa fic pequenina. Espero que tenham gostado do final…
Obrigada por tudo. bjao

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