Prólogo



A fumaça da locomotiva vermelha se dispersava sobre as cabeças das pessoas que conversavam, enquanto corujas piavam umas para as outras, descontentes. Os primeiros vagões já estavam cheios de estudantes, alguns debruçados nas janelas, acenando para seus parentes e outros já discutiam como tinham sido suas férias para seus colegas.
Um garoto, em seus dezesseis anos, empurrava seu malão por entre o corredor à procura de alguma cabine vazia ou pelo menos uma em que tivesse algum rosto amigo, até que encontra um compartimento vago no final do trem. Empurrou sua mala para dentro e sentou-se. Mal se passaram cinco segundos e a porta da cabine se abre, e por ela entram dois rapazes que aparentavam ter a mesma idade. Um tinha cabelos castanhos claro com um ar meio doentio, e o outro moreno com um olhar misterioso.
- Poxa Tiago, logo na última cabine? – pergunta o moreno – Não tinha um lugar melhor não?
- Oi para você também Sirius! E não, não tinha outra cabine. Se quisesse uma melhor, que chegasse mais cedo.
Sirius faz uma careta de desagrado e se joga no banco, acompanhado por Remo.
- Como foi a lua-cheia sem a gente Aluado? – perguntou Tiago.
- Se horrível significar normal...
- Sabia! Sem a gente nada fica bom!- falou Sirius em tom divertido.
Tiago revira os olhos sorrindo, como era bom voltar para perto de seus amigos!
- Alguém viu o Pedro?- pergunta Remo.
No mesmo instante a porta torna a se abrir, mostrando um garoto gordo, cabelos loiros e olhos miúdos.
- Pensei que tivesse perdido o trem. Por onde você andou? – Sirius pergunta.
- Estava procurando vocês! – responde Pedro – Que cabine mais longe, não tinha uma melhor?
Tiago solta um som de desagrado, enquanto Sirius dava um sorriso de vitória.
A viagem para Hogwarts estava correndo tranqüila, exceto quando um pequeno grupo de alunos da Sonserina invade a cabine, mas logo vão embora ao perceberem que estavam em desvantagem de três para quatro.
Mais tarde, Remo tinha que sair para fazer sua ronda, já que era monitor desde o quinto ano.
- Se você ver a Evans, dê lembranças por mim. – exclama Tiago antes que Remo feche a porta.
- Você não tem jeito, sabe muito bem que ela te detesta. – responde Remo em tom divertido antes de sair.
Sirius ficou encarando Tiago com uma expressão de compreensão, e este não poderia deixar de notar.
- Que foi Sirius?
- Nada... – agora estava sorrindo.
- Ta certo, fala logo o que foi?
- Você... Está gostando da Evans? – pergunta com cautela.
- Não! Claro que não! – responde rápido e vira o rosto para olhar a janela.
- Você está vermelho! – quem fala é Pedro.
- Cala a boca Rabicho! É só impressão sua, é a luz da janela que dá esse efeito. – inventa uma desculpa.
- Agora você está subestimando a nossa inteligência. Efeito da luz da janela? Não tinha uma desculpa pior? – Sirius começa a rir descontroladamente, sua risada lembrava um latido de cachorro.
- Ha, ha, ha... Não tem graça. Mudando de assunto, o que os seus pais fizeram quando ficaram sabendo da carta que a Profa. McGonagall mandou? Minha mãe quase me tirou o couro, disse que se receber uma carta esse ano vai pedir minha expulsão do time de quadribol. – Tiago estava com uma expressão séria.
- Meus pais não fizeram nada. Desde que ficaram sabendo que fui parar na Grifinória em vez da Sonserina como todos os meus parentes deixaram de se importar com o que me acontece na escola. Provavelmente devem a ter queimado. – Sirius falava aquilo com um tom indiferente.
- Meu pai ficou decepcionado. Nunca o vi daquele jeito. Disse que este ano era para nós maneirarmos nas brincadeiras, se não iria me tirar da escola. – Pedro parecia assustado com o pensamento de deixar seus amigos.
- É, foi um pouco pesado de nossa parte mostrar as cuecas do Ranhoso para a escola inteira. – Tiago estava sorrindo.
- Pode até ter sido, mas falando sério, que cueca era aquela? Eca! Toda encardida!
- Ai, para! Eu ainda ia comer! – Pedro parecia que estava segurando a vontade de vomitar.
Passaram-se alguns minutos e a mulher responsável pelo carrinho de doces aparece. Pedro na mesma hora pega de tudo um pouco.
- Eu quero uma caixa de feijõezinhos de todos os sabores e cinco sapos de chocolate. – pediu Tiago entregando as moedas.
- Eu só quero tortinhas de abóbora, umas seis, por favor. – Sirius paga, fecha a porta e se joga no banco livre. – Remo está demorando, será que encontrou alguma confusão lá na frente?
- Nam chei...
- Rabicho já te disse para não falar de boca cheia. – Tiago o repreende.
- Deshcolpi – responde soltando alguns farelos de tortinha, no que Tiago revira os olhos.
Lá pelas três da tarde, Remo aparece, com o semblante irritado.
- O que aconteceu?
- Uns sonserinos idiotas começaram a duelar no corredor. Se não fosse pela Evans que ameaçou contar a Profa. McGonagall para dar-lhes uma detenção, eles já teriam explodido a parte da frente do trem!
- E nós nem vimos isso! Essa cabine é horrível, perdemos toda a diversão. – Sirius estava desapontado.
- Ficou maluco? Se estivéssemos lá a Evans daria um jeito de nos colocar à culpa. Antes mesmo de chegar a temporada de quadribol eu estaria expulso do time. Foi melhor assim, Sirius.
O resto da viagem foi preenchido por planos para o ano letivo que se seguia. A toda hora Remo lembrava que teriam que pegar mais leve, já que dois dos quatro marotos estavam sob ameaça. Os planos iam desde as pequenas “excursões” da lua-cheia à planos para azarar sonserinos. Era sempre assim desde que descobriram que Remo era lobisomem, antes de chegar a Hogwarts colocavam no papel todas as idéias que tivessem tido nas férias.

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O céu já estava escuro fazia algum tempo, mas nenhum dos quatro marotos parecia ter notado, preferiram gastar o tempo restante com discussões que para alguns poderia ser considerada boba. Só perceberam que estavam perto do castelo quando uma voz ecoa pelo trem:
- Vamos chegar a Hogwarts dentro de cinco minutos. Por favor, deixem a bagagem no trem, ela será levada para a escola.
- Putz! Nós ainda não nos trocamos. Andem logo, se arrumem. Depressa!
- Calma Remo, isso não é o fim do mundo. Ainda faltam cinco minutos para chegar a estação.
- Não sei se você ouviu bem Sirius, mas faltam cinco minutos para chegar à escola, não a estação.
O trem foi diminuindo a velocidade e finalmente parou. As pessoas se empurravam nos corredores para chegar à porta e descer na pequena plataforma escura. Tiago estremeceu ao ar frio da noite. Tratou de se encontrar com seus amigos para que juntos entrassem em uma das carruagens que levavam direto para a escola.
- Essa aqui não tem ninguém. Anda logo Pedro, depois você come esse chocolate! – Tiago já estava tremendo de frio, quanto antes chegasse ao castelo melhor.
Sirius foi o último a entrar, assim que fechou a porta alguém torna a abri-la.
- Posso ir nessa carruagem com vocês? – quem havia perguntado era um garoto de cabelos castanhos e encaracolados, seu nome era Frank Longbottom e era quem dividia o dormitório com os quatro.
- Claro Frank, pode subir.
Assim que Frank se senta na carruagem esta começa a andar. Por um momento os cinco ficam em silêncio, como se tivessem vergonha uns dos outros, mas Sirius resolve quebrar aquele silêncio, que de certo modo o incomodava.
- Então... Você não está namorando? – se dirige à Frank.
- É, acho que sim. – parecia meio triste. – Quer dizer, não sei ao certo...
- Como assim não sabe ao certo? – agora Tiago ficou intrigado, como alguém não sabe se está ou não namorando?
- É que tivemos uma briga no trem, sabe coisas bobas. Alice ficou com raiva e não quer conversar comigo.
- Isso explica o porquê de você está aqui e não com ela. – termina Remo.
- Sabe, não sei como a maioria das pessoas gosta tanto de namorar. E depois que termina fica assim, com essa cara de cachorro sem dono. Prefiro ficar livre, leve e solto.
- Você é uma exceção Sirius.
Sirius ia responder, mas a carruagem já havia chegado. Os cinco descem e se juntam aos alunos que estavam indo na direção da escada de pedra. Atravessam a grande porta de carvalho que dava para o saguão, e do saguão entram na sala principal.
O salão era iluminado por milhares de velas que flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde alguns estudantes já estavam sentados. As mesas estavam postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do salão havia mais uma mesa comprida em que se sentavam os professores.
Como sempre os marotos se dirigem a mesa da Grifinória, e como sempre Tiago não deixava de reparar em certa ruiva que conversava com suas amigas. Quando passou por elas tentou dar um sorriso, mas a ruiva virou o rosto e suas amigas começaram a dar risadinhas descontroladas. Resolveu deixar para lá. Não era a primeira vez que isso acontecia. Desde que conhecera Lílian Evans era assim. Por mais que tentasse se aproximar dela, a ruiva sempre arrumara algum jeito de se afastar. Bom, talvez no início ele tenha sido um pouco arrogante, mas naquela época ainda era um menino e não tinha noção das coisas, falava o que pensava, mesmo que o que dissesse machucasse alguém.
Acompanhou os meninos para o final da mesa, perto de onde os professores se sentavam.
Ao olhar para a mesa do corpo docente da escola, reparou que este ano haveria um novo professor. Era magro, de cabelos grisalhos até os ombros e com uma expressão de tédio. Olhando mais atentamente lembrava um bode.
- Provavelmente deve ser o de Defesa contra as Artes das Trevas. – comenta Remo baixo, ao perceber a nova figura.
Logo depois a porta do salão se abre e por ela entra a Profa. McGonagall, seguida de um pequeno grupo de alunos do 1º ano, prontos para serem lecionados a suas respectivas casas.
- Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Denise Goutmar.
Uma menininha de cabelos castanhos sai da fila, põe o chapéu e em alguns segundos:
- Corvinal.
A mesa da Corvinal explode em aplausos.
Assim que o último aluno se senta a Profa. McGonagall enrola o pergaminho e recolhe o chapéu.
Alvo Dumbledore se levanta sorrindo radiante para todos.
- Sejam bem-vindos. – disse. – Sejam bem-vindos a um novo ano em Hogwarts. Como sei que muitos estão famintos não enrolarei. Bom apetite!
E com um piscar de olhos, as mesas se encheram de comidas dos mais variados gostos. Tortas de vários sabores, frango, batata cozida, pudim de carne, costeletas de porco e de carneiro, ervilhas, cenouras, etc.
Em cada mesa se podia ouvir todo tipo de conversa, mas a mais freqüente era a de um novo feiticeiro das trevas, que tinha como objetivo purificar a raça bruxa.
- Vocês ficaram sabendo da família Clampper?
- Não. O que aconteceu?
- A família inteira desapareceu. Alguns dizem que estão mortos, outros acreditam que foram capturados por Você-sabe-quem.
- Oh!
- Nossa!
Sirius ouvia aquela conversa dos alunos do 2º ano com atenção, essa coisa de Você-sabe-quem estava por toda parte.
- Vocês ouviram isso?
- Essa história está cada vez ficando mais séria. Se não me engano, é a segunda família a desaparecer esse mês. – Tiago estava sério. – E pelo o que parece, o ministério ainda não conseguiu desvendar esses desaparecimentos. Acredita-se que seja ele , mas ninguém ainda tem certeza.
As pessoas em volta ficaram em silêncio, talvez por estarem horrorizadas que o ministério ainda não tinha certeza de quem era o responsável por esses ataques.
Quando todos os pratos retornaram a ficar limpos, o diretor novamente se levanta.
- Como todos devem ter notado, este ano teremos um novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Tenho o prazer de dar as boas-vindas ao Prof. Trumman.
Todos aplaudiram sem muito entusiasmo.
- Antes de irem para seus dormitórios tenho alguns avisos de início de ano para vocês. Os alunos estão proibidos de entrarem na floresta de nossa propriedade e, espero que este ano alguns veteranos se lembrem disso. – seus olhos cintilaram na direção dos marotos. – O Sr. Filch, o zelador, me pediu para lembrar a todos que não devem fazer mágicas nos corredores. E por último os testes para quadribol este ano serão realizados na segunda semana de aula, os interessados deverão procurar o capitão de suas casas. Obrigado.
Os alunos começaram a se levantar em direção a saída.
- Estranho o diretor não comentar sobre esses desaparecimentos, não acham?
- Talvez ele não queira assustar mais os alunos Pedro. – responde Sirius.
Juntos subiram as escadas de mármore, caminharam por mais corredores e mais escadas até a entrada secreta da Grifinória.
- Senha? – pediu a Mulher Gorda
- Hipogrifo saltitante. – respondeu Remo.
O quadro se moveu para trás mostrando uma bonita sala redonda decorada com as cores da casa: vermelho e dourado.
Poucos alunos conversavam nos sofás, alguns até acenavam quando Tiago e Sirius passavam.
Os marotos acompanhados por Frank subiram as escadas que davam para o dormitório masculino em silêncio, estavam cansados demais para conversarem sobre qualquer coisa.
Já no dormitório, trocam suas roupas por pijamas e se aconchegam em suas respectivas camas. Todos pegaram no sono na mesma hora, com exceção de um. Tiago por algum tempo ficou acordado. Não conseguia pegar no sono, estava mais ocupado pensando em sua ruivinha.

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