SERÁ O FIM?
Harry correu direto para o dormitório. Gina o esperava no salão comunal; o chamou quando ele passou esbaforido, mas ele nem deu atenção. Estava totalmente transtornado. A ruiva não entendeu nada do que estava acontecendo. Chegou a ficar até chateada pela forma com que ele a ignorou, mas para ele ter agido daquela maneira, deveria haver um bom motivo.
Enquanto ainda se recuperava, abismada, Rony e Hermione entraram pelo buraco do retrato. Não tardou que ela contasse o acontecido, e os dois ficassem muito intrigados.
- Ron, vá lá e converse com ele. Tente descobrir o que foi que aconteceu, por favor!
- Tudo bem, não há ninguém aqui mais curioso do que eu!
Ron subiu as escadas de dois em dois degraus e Hermione ficou lá, com Gina, também abismada.
- O que você está pensando, Mione?
- Não sei ao certo, Gina. Não sei... Mas tenho uma desconfiança... E se for o que eu imagino, Harry tinha mais do que motivos para se comportar como você nos contou... – revelou, pensativa.
- O que diabos aconteceu, então?
- Bem... Se for o que eu suponho, eu não poderia revelar de maneira nenhuma. É um segredo. Vamos esperar que ele mesmo nos conte. É melhor.
- Ai! Quanto mistério! E eu vou ficar com essa cara de palhaça até quando? Todos vocês ficam me tratando como criança!
Gina saiu, enraivecida. Hermione apenas pensou que tinha feito o certo; era melhor não contar nada, afinal o que se passava por sua cabeça era só uma desconfiança. Além disso, tinha certeza que Harry jamais lhes contaria se tivesse acontecido o que realmente supunha; ele estaria completamente enojado. O certo, então, era esperar.
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- Harry?
Ele estava deitado em sua cama, com um travesseiro cobrindo sua cabeça.
- Me deixe, Ron... Por favor, não quero brigar...
- Tudo bem, Harry. Só queria saber se posso ajudar.
- Você não pode fazer nada, Ron... – tirou o travesseiro de sua cabeça e encarou o amigo. Ninguém pode fazer nada. Nem eu mesmo sei o que está acontecendo. É tudo muito... – hesitou.
- Estranho? – arriscou.
- Não, é pior que isso. Sinto arrepios só de lembrar. A verdade é que esse últimos dias não têm sido nada fáceis, eu... Eu realmente estou com medo.
O ruivo fitou o moreno e percebeu que já não havia forças naquele corpo. Nem para ficar triste, nem para gritar, ou chorar, ou qualquer outra coisa. Ele passava uma imagem de desalento, impotência. Ainda não o tinha visto assim. Aquele respiração tão pesada o deixava penalizado. Resolveu sentar ao lado do amigo e atenciosamente, continuou a conversa.
- Com medo de quê?
- Não sei ao certo... Mas há algo me sufocando, entende... E não foi só pelo que aconteceu hoje. Parece que tudo está ficando de cabeça pra baixo...
- Você não vai mesmo contar o que aconteceu? – insistiu.
- Não. Mas de uma coisa você pode ter certeza: Nunca, nunca mais, eu volto a pôr os pés na sala daquele cretino.
- Cretino? Mas, Harry!
- E isso é o melhor que eu tenho a dizer dele. Se eu pudesse, nunca mais assistiria uma aula daquele pervertido.
- Pervertido? Estou começando a ficar com medo do que pode ter acontecido lá dentro! – revelou Rony, com os olhos arregalados.
O comportamento do amigo conseguiu arrancar um sorriso dos lábios de Harry.
- Não deve ser o que você está pensando, Ron. Quer dizer, certamente não é o que você está pensando. Mas eu não quero falar. Talvez um dia...
- Tudo bem, já que é assim. Mas pelo menos pratique Oclumência antes de dormir, ou todos esses pensamentos martelando aí nessa cabeça terão graves conseqüências durante a noite. E vou ali me despedir da Mione e já volto...
- Despedir de quem?
Rony engoliu em seco. Num instante, cometeu um lapso sem volta.
- Me despedir da Mione... – disse, sem graça.
- Então, quer dizer que você já entregou a carta e deu certo? – animou-se.
- Não exatamente...
Pela cara de interrogação do amigo, percebeu que não tinha mais salvação; resolveu tudo revelar. Não sem antes buscar, em suas coisas, a carta de Harry.
- Espero que não fique bravo comigo mas...
- Você não entregou? – perguntou, irritado.
- Não, não entreguei.
Diante da expressão de decepção de Harry, continuou:
- Nós já estávamos namorando, disse, seriamente. Não tínhamos revelado antes por... Por... Por vergonha mesmo. Afinal, vivíamos com cão e gato e de repente estamos juntos? Acho que ninguém iria entender, e nos tornaríamos o assunto da escola por um bom tempo, não acha?
- Você tem razão, Ron. Mas eu fico triste que não tenha confiado em mim...
- Me desculpe, não era minha intenção causar problemas, mas é que ainda hoje me embaraço com esse assunto... Além disso, segredos você também tem, por isso acho que você vai entender, não é mesmo?
- Ah, tá. Claro! – riu, sem graça. Parabéns, cara! Fez uma excelente escolha.
Os dois se deram um abraço, e Harry deu três tapinhas nas costas de Ron, que logo depois partiu em direção à porta.
- Espere aí, Ron! Eu quero essa carta de volta, oras! Deu o maior trabalhão para fazer!
- Ah, claro! – riu. Quem sabe você não pode aproveitá-la e fazer uma dessas pra Gina, ela vai se derreter.
- Boa idéia!
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No salão comunal....
- Não consegui arrancar nada dele, Mione. E a propósito, contei a ele sobre nós.
- Sério? E ele, o que achou? – perguntou, ansiosa.
- Bem, acho que ficou aliviado de não ter que passar a vergonha de você receber a carta que ele escreveu e depois ficar sabendo que já estávamos juntos há um bom tempo. Acho melhor você também contar a Gina. Não quero contar isso na frente de todos e virar a notícia da escola. Se bem que não há como esconder por muito tempo, mas acho que o baile é uma ótima oportunidade. E, aliás, tenho que dizer, a carta que ele escreveu escorria mel! – contou, gargalhando.
- Mesmo? E como era?
- Escute só, na primeira frase ele dizia...
Ron ficou ali por um bom tempo, contando sobre o dom de poeta romântico de Harry para Hermione. Esta passou a maior parte do tempo abafando o riso com a mão.
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No café da manhã, Gina Weasley sustentava um mau humor contagiante. Harry ficou a maior parte do tempo olhando-a, tentando se desculpar. Mas ela não lhe deu uma única chance. De repente, uma coruja chega, atraindo a atenção de todos no salão principal, e traz consigo um pergaminho endereçado “à ruiva mais linda do mundo”.
A caçula Weasley o abriu com obrigação, enquanto todos aguardavam para ver a reação dela depois da leitura. Até mesmo os professores olharam para sua direção, aguardando o resultado daquilo tudo. Harry era o mais ansioso.
À medida que ela ia lendo, sua expressão de raiva ia se transformando em olhos cheios de lágrimas e um riso incontrolável surgia. Quando terminou, levantou-se a abraçou o namorado, dizendo ao ouvido dele: “Eu também te amo mais do que minha própria vida, também não vou te deixar jamais, e também tenho segredos que não gostaria de te revelar para não te preocupar”. Aquele momento duraria eternamente, não fosse Dumbledore fazendo um enorme barulho para limpar a garganta, chamando a atenção de todos lá na frente.
- Muito bem, alunos! Agora me dêem um pouco de atenção. Neste momento, o que tenho a dizer é de interesse de todos! A data do baile já está definida!
Um burburinho invadiu o lugar. O diretor fez um gesto para que se acalmassem.
- Como todos sabem, o inverno está próximo. Creio que todos o estejam sentindo, de fato. Então, aproveitando o ensejo, como já havia dito antes, o baile comemorará a chegada da estação, e festejará, tardiamente, o resultados dos NOM’s e o dia das bruxas. Para isso, terão uma visita à Hogsmeade para comprarem suas roupas.
“Ah, a propósito, o baile será daqui três semanas, quando já poderemos ver o lago de Hogwarts se congelando!”.
Não poderia haver notícia melhor. Todos riam e gesticulavam, animados. Draco Malfoy observava Harry Potter, de longe, satisfeito. Logo teria a oportunidade que necessitava.
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Dias depois...
- Seu vestido é lindo, Gina! Simplesmente perfeito, faz a combinação perfeita com seu cabelo e sua pele! – opinou Hermione, entusiasmanda.
- Que nada, Mione! Você é que vai estar absolutamente maravilhosa! Meu irmão é um cara de sorte!
As suas riram.
- Vai ser uma noite muito especial, Ginny. Espero que seja perfeita. Sabe, ainda é de manhã, mas sinto que tenho que começar a dar um jeito nos cabelos a partir de agora!
- Hahaha, que exagero, Mione! Por Merlin!
- Você fala isso porque tem esse cabelo maravilhoso, que basta lavar e está tudo certo!
- Pare de falar besteiras e vamos lá na biblioteca procurar magias de maquiagem.
Hermione, mais do que despressa, mostrou um exemplar de uma revista A bela feiticeira.
- Nossa! Você comprou! Não acredito! Agora estamos feitas!
- Eu previ tudo, querida. Agora, vamos. Escolha aqui a maquiagem que te agrada e deixe tudo preparado para logo mais!
- Ah, não... Agora eu tenho uma coisa mais importante pra fazer.
- E o que é, por acaso posso saber?
- Hum... – coçou o queixo. Talvez possa saber, sim. Mas não tudo...
- Então desembucha.
- Bem, estou querendo ir ao domitório dos meninos.
Hermione a encarou com uma cara de desaprovação.
- Calma, calma! Eu quero ir lá e deixar um pergaminho com um recado para o Harry. É que... Bem... É um convite para depois do baile, que eu não tenho coragem de fazer ao vivo...
- Imagino o conteúdo desse convite, então.
Gina corou intensamente.
- Tudo bem, Gi. Até parece, né? Quem foi que pegou vocês lá na enfermaria aquele dia, hein? Não há o que esconder de mim.
- Ai, Mione. É que é muito embaraçoso...
- Tudo bem, não fique assim não. Mas eu não posso deixar de perguntar uma coisa: Como é que você está se protegendo, quero dizer, o que você vai fazer para não vir nenhum Harryzinho por aí?
- Poção, Mione. Pelo menos nessa aula eu sou muito boa! – gabou-se.
- Tudo bem, vamos então! Eu estou indo lá embaixo conversar um pouco com os garotos, ver se eu impeço que eles vão para o dormitório enquanto você estiver lá!
- Obrigada, Mione!
As duas se despediram e cada uma seguiu o seu caminho. Gina estava com um frio na barriga imenso. É como se seu estômago tivesse virado do avesso. Ela abriu a porta vagarosamente, verificando se realmente não havia ninguém e entrou. Quando viu a cama do seu namorado, abriu um sorriso. Sentou-se à beira da cama e começou a cheirar seu travesseiro e suas cobertas, suspirando.
De repente, lembrou-se para que estava ali e tirou o pergaminho de dentro de suas vestes. Deveria coloca-lo em um lugar discreto, ou qualquer um que chegasse o leria. Então, teve a idéia de deixá-lo junto aos outros pergaminhos, que estavam ao lado dos grossos livros de sexto ano. Mais tarde ela o avisaria para procurá-lo no meio dos outros.
Mas a sua curiosidade não a deixaria sair dali tão cedo. Pegava os pergaminhos enrolados e tentava lê-los por dentro, sem abri-los. Sem obter muito sucesso, acabou desenrolando um e deduziu que era mais um longo exercício que Snape passara.
“Possões? Com dois S? Em que ele estava pensando?” – se perguntava, rindo. Enrolou-o cuidadosamente e começou a abrir os outros, se deliciando com os erros de ortografia de Harry.
Depois de muito se divertir, havia só mais um pergaminho a ler. Quando o abriu, seu coração bateu descompassado. Suas forças insistiram em desaparecer, seu sangue foi para algum lugar desconhecido. Estava trêmula e gelada. Era uma carta que ela jamais esperaria ter lido.
“Hermione,
Desculpe-me a demora, essa carta já deveria ter sido escrita há muitos dias. Eu sei que você esteve todo esse tempo esperando que eu reagisse. De certa forma, eu reagi, tentando te esquecer. Não foi fácil, mas você sempre pareceu deixar claro que eu não passava de mais um amigo seu.
Depois daquele beijo, que me deixou totalmente desnorteado, eu achei que jamais encontraria o chão novamente. Você me surpreendeu, como ninguém jamais o fez. E me fez me apaixonar definitivamente, sem qualquer possibilidade de volta.
Foi quando você agiu daquela maneira comigo, me tratando como se não me conhecesse. Acho que não merecia isso. É só agora que percebo que sempre te amei, que sempre estivemos juntos, em todos os momentos.
Você deve me achar um fraco, um derrotado. Mas, nesse momento, eu juro a você que serei capaz de enfrentar tudo para ter você, de deixar tudo para trás, mesmo que isso seja algo difícil pra mim. Não será fácil assumir isso na frente de todos, você sabe. Mas acho que será uma boa tentativa.
Me perdoe a espera que te fiz passar, eu te amo.”
As respostas estavam todas ali. Ela não precisaria de mais nenhuma explicação. Era a letra dele. A carta mencionava aquele beijo que os dois contaram para ela, que a magoou tanto. “Eu juro a você que serei capaz de enfrentar tudo para ter você, de deixar tudo para trás, mesmo que isso seja algo difícil pra mim”. Ela era o que ele iria deixar pra trás. Então ela não passava de um obstáculo, algo que estava impedindo a felicidade dele.
Apesar de não ter condição nenhuma, Gina ainda teve o cuidado de enrolar aquele pergaminho e colocá-lo exatamente onde tinha achado. Pegou o seu, e desceu aquelas escadas com a clara sensação de que não conseguiria chegar ao seu dormitório.
Suas pernas falharam, ela quase desmaiou. Mas encontrou forças para continuar. “Como ele pôde ser tão cruel, como ele pôde fingir tão bem?...”, pensava. Foi um choque tão grande que ela nem conseguira chorar. Nem um músculo do seu rosto se movia. Por um longo tempo, ela permaneceu sentada na sua cama, sem conseguir se mexer. Era um pesadelo, não podia ser verdade.
De repente, Gina conseguiu soltar o que estava entalado em sua garganta. Seu choro era tão desesperado que qualquer um que a visse daquela maneira poderia jurar que alguém havia morrido. Ela se curvava sobre a cama, a apertava o travesseiro com tanta força que suas mãos chegavam a dar cãibras. Era uma dor insuportável, não havia choro que a curasse.
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Horas depois...
- Mione, por acaso você sabe por que a Gina não veio almoçar? – perguntou Harry, preocupado.
- Ah, Harry. Você sabe, ela deve estar escolhendo cada detalhe para hoje à noite!
Ele riu, e Rony completou com a típica frase “Essas mulheres...”.
- Faça o seguinte, Harry. Quando for oito horas, espere por ela no salão comunal que eu a aviso. Provavelmente ela não vai sair do quarto até lá, já que não veio nem para almoçar, não é?
- Tudo bem, eu a esperarei então.
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No dormitório feminino...
- Eu te odeio, Harry Potter. Você não presta! Você não merece nem que eu tenha pena de você. EU TE ODEIO!!! – praguejava Gina, enquanto derramava mais lágrimas, se contorcendo de dor.
A decepção e a revolta foram tão grandes que ela já havia praticamente decidido que não ia mais à festa alguma, já que não tinha absolutamente nada para comemorar. Muito pelo contrário, só havia mágoa e tristeza no seu coração. Além disso, seria uma péssima companhia para qualquer um que se aproximasse dela por mais de 5 metros.
O espelho também denunciava olhos inchados e uma aparência horrível. Ela se olhou por um instante o seu reflexo e decidiu que não podia deixar se abater, que ele não merecia que ela ficasse naquele estado deplorável.
Ginevra Weasley começou a se arrumar para o baile de logo mais, com o maior empenho que jamais poderia ter. Ficaria linda, deslumbrante. Era isso que iria fazer.
- Vou ficar magnífica! – decidiu.
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Às 8:30 p.m.
Harry olhava para o relógio incessantemente. “Não é possível que ela esteja demorando assim! Passou o dia inteiro se arrumando!”, pensava. “Será que a Hermione esqueceu de avisa-la?”. Com essa conclusão, decidiu ir ao salão onde a festa estava acontecendo, provavelmente ela já o estaria esperando lá, possessa.
Harry percorreu os corredores apreensivo. Algo o dizia que as coisas não estavam bem, seu coração se contraía. Ele não pôde identificar o que estava pressentindo, mas algo de grave estava acontecendo. Ou ainda ocorreria, era difícil saber.
Ao chegar no salão, percebeu que seria quase impossível encontrar alguém ali. Parecia que os alunos haviam se multiplicado. Mas um cabelo tão vermelho como o de Gina não seria tão difícil encontrar. E realmente não foi.
Harry viu a cena que simplesmente o matou. Naquele momento, ele sentiu como se milhares de dementadores estivessem à sua volta, sugando sua felicidade. Foi a pior dor que ele jamais sentiu. Foi simplesmente indescritível.
Gina estava aos beijos com Miguel Corner, beijos que Harry não se lembrava de ter recebido da sua namorada. E agora ela estava nos braços de outro. “Como pode ser? Como?”, se perguntava, aturdido. Logo depois, viu Rony puxando a irmão pelo braço e brigando com ela, que o puxou de volta e o respondeu aparentemente malcriada. Suas vistas escureceram...
- Harry? O que faz aqui sozinho? Por que está com essa cara de quem viu alguém morrendo? – perguntava Cho, jogando charme.
Harry apenas virou o seu rosto mecanicamente, fitou a garota por um longo instante, que realmente estava nos seus melhores dias e a puxou para um canto do castelo. Todos estavam ocupados com a festa, provavelmente ninguém os viria ali, no escuro. O coração dos dois batia depressa. Harry então a jogou na parede, como nunca havia feito antes e a beijou como se aquela fosse última coisa que faria na vida.
Mas ele não podia evitar que a imagem da ruiva viesse à sua mente. Foi quando abriu os olhos para se certificar de quem estava realmente ali, de que não estava ficando louco. Cho o olhava assustada, mas um sorriso de más intenções surgiu em sua boca, que agarrou o rosto de Harry e o recomeçou a beijar. Era muito estranho para ele. Apesar de aquele beijo estar sendo bom, era repugnante. Ele não pode conter uma lágrima que lentamente caía em seu rosto, e mais uma, e mais uma...
Apesar da culpa que sentia, o ódio era muito maior. A sensação de ver Gina aos beijos com Miguel só poderia ser comparada à revolta que sentiu quando soube, erroneamente, que Sirius era o culpado pela morte de seus pais. Harry procurava, em vão, encontrar em Cho o corpo de quem amava há tão pouco tempo, mas tão intensamente. Sabia que aquilo era uma forma de puni-la, de provar que ela não significava nada pra ele. Mesmo que seu coração teimasse em dizer que aquilo era uma mentira através de cada lágrima que caía de seu rosto.
Cho passava as mãos nas costas de Harry, dizendo ao seu ouvido que há muito esperava por aquilo, que sentia muito não ter ficado com ele o tempo todo.
- Vou te fazer esquecer daquela ruiva, murmurou.
Era um grande sofrimento, misturado com uma infinidade de outros sentimentos. Como num lapso de consciência, Harry a empurrou para longe e saiu correndo. O que se pode ver depois disso foi a cena surreal de um garoto saindo de um corredor e passando correndo pelo meio do salão, com a blusa aberta, aos prantos. Não houve aquele que não presenciou a cena. Inclusive ela, Gina.
Quando Gina viu aquilo, rapidamente saiu correndo também, chorando. Mas não para fora do castelo como Harry havia feito, e sim para seu quarto. Ele, por sua vez, ainda não havia parado sua fuga. Parecia que quanto mais corria, mais se distanciava de tudo que lhe causava sofrimento, dor. Sempre quando sua vida estava parecendo ficar mais suportável, algo acontecia que acabava com tudo. Tinha sido assim com Sirius, seria agora com quem mais amava, Gina.
Harry se distanciou do castelo tanto quanto suas pernas puderam suportar. E certamente elas ainda teriam muita energia. Quanto mais longe estivesse daquele lugar, mas seu sofrimento iria diminuir, a distância era o seu subterfúgio. Pelo menos era essa a única coisa que ele conseguia raciocinar naquele momento de tanta angústia e dor. Era um misto de sentimentos; Ele tinha nojo de si mesmo, tinha ódio de Gina. Todas as vezes que aquela imagem do salão vinha à sua cabeça, seu estômago se contraía, impulsionando mais uma onda de choro. Parecia que ele estava tirando todo o atraso de sua vida, chorando tudo aquilo que deixou de chorar em todas as oportunidades que já tinham tido até então.
De repente, algo o fez realmente se esquecer de tudo que estava acontecendo; em sua fuga alucinada, ele mal percebeu que aproximava-se perigosamente do lago em fase de recente congelamento. A fina camada de gelo não suportaria seu peso. Mas ele só se deu conta disso quando pisou sobre a superfície escorregadia e tombou. Sua barriga e sua garganta doíam, tamanha era a força que tinha feito para chorar. O frio também era grande; o inverno mostrava sua face. Mas ele não sentia. Harry sabia que qualquer movimento naquele lugar, sem ninguém por perto para salva-lo, seria o seu fim. Então resolveu se mover vagarosamente sobre o gelo.
Antes que pudesse tentar lutar pela sua vida, pensou se era realmente sua vontade voltar. Retornar a uma vida que só lhe mostrava percalços, desafios que sugavam suas forças, solidão e tristeza. Foi aí que ele entendeu o verdadeiro significado do seu sonho: Ele reencontraria sua mãe, que na verdade jamais conhecera; veria de perto como realmente se parecia com seu pai; E veria de novo aquele que fora seu verdadeiro pai por um breve mas inesquecível tempo, Sirius. E para isso precisava que ele se rendesse ao que era praticamente inevitável.
Dessa forma, Harry ficou de pé e lentamente o gelo foi cedendo. Ao ouvir o ranger do gelo, foi inevitável que tivesse mais uma crise de desespero, de arrependimento por não ter lutado para sair dali. “POR QUÊ?”, gritava. “POR QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO? EU TE AMAVA! EU TE AMAVA...”, lamentava. Segundos depois, caiu naquele lago gelado. Ele acabou nao se opondo. Deixou que seu corpo afundasse vagarosamente, mesmo porque seria quase impossível sair sozinho. Sentiu, como no sonho, a água gelada o envolvendo, tirando a sua vida.
Ele já não sentia nada. A falta de ar já não o incomodava. A escuridão das profundezas do lago iam se transformando naquele vasto campo que vira no seu sonho. E a casinha estava lá, o esperando. E o desespero foi dando lugar ao alívio. E tudo estava realmente perfeito.
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Gina chegou ao quarto e se debruçou sobre sua cama, aos prantos. Estava totalmente confusa, a única coisa que tinha certeza era que tinha que esquecê-lo. Nada que não já tivesse tentado várias vezes antes, em vão. Mas agora tinha que dar certo; se dependesse de sua raiva, já o havia esquecido. Levantou-se e foi para a janela do seu quarto, onde encostou a cabeça e fechou os olhos, tentando pensar em algo que tivesse feito sentido naquele dia. “Por que ele fez isso comigo? Por quê?... Escrever uma carta daquelas, para Hermione? É mais do que eu posso agüentar...”, pensava. Dormir seria o melhor remédio, ela nem se deu ao trabalho de tirar sua roupa de festa.
Enquanto a ruiva dormia, todos no salão ficaram preocupados com o que havia acontecido. E o fato de Harry não ter retornado depois de mais de uma hora que tinha saído naquele frio atormentava a todos. Dumbledore, então, ordenou que todos se agasalhassem e saíssem à procura de Harry. Ninguém mais naquele lugar o entendia tanto quanto o velho bruxo, ninguém mais sabia, como ele, o que Harry seria capaz se estivesse sentindo muito ódio. Dumbledore estava com muito medo.
Hermione e Rony foram imediatamente pedir à Hagrid que os auxiliasse na procura, que atendeu prontamente. Todos os alunos gritavam pelo seu nome, podia-se ver até mesmo Draco Malfoy e Snape aflitos, procurando, embora o professor tivesse resistido um pouco à busca. “Imaginem só, eu procurando um pirralho que não passa de alguém querendo aparecer!”. Mas ele sabia que a situação poderia ser muito mais grave que isso.
Hagrid, Hermione e Rony começaram a percorrer a orla do lago, vendo se por acaso ele não estaria por ali, apenas querendo ficar um pouco sozinho. Foi quando avistaram, do outro lado do lago, próximo a uma árvore, algo que de longe lembrava ser Harry deitado. Puseram-se a correr. A uma certa distância puderam confirmar suas suspeitas. Ron foi o primeiro a chegar.
- Harry! Harry! Acorda, cara! Pelo amor de Merlin não faz isso com a gente! ACORDA, HARRY! – gritava, desesperado. Ron pegava no rosto e nas mãos do amigo, sentindo como sua pele estava fria. Ele olhava desconsolado para Hermione, que chorava compulsivamente.
A essa altura, os alunos que estavam ali perto já se aproximaram, fazendo uma roda. Logo chega Snape e se aproxima do corpo inerte do aluno:
- Ele tá morto? ELE TÁ MORTO? – perguntava Ron, transtornado.
- Se afastem, todos vocês. E isso vale pra você também, Weasley.
O professor fez um movimento com varinha e apontou para Harry, que num impulso, jogou um jato d’água pela sua boca. Ron e Hermione sorriram, em meio às lágrimas. Snape ordenou que Hagrid pegasse o garoto e o levasse imediatamente para dentro do castelo. O meio-gigante o apanhou rapidamente e quando ia se virando para levá-lo, todos pararam, atônitos com o que viam: Um sereiano apareceu de supetão no lago, no buraco que Harry havia caído. Hagrid fez uma expressão de agradecimento e acenou com a mão. O sereiano novamente voltou para o seu lugar.
Seria o fim de Harry Potter?
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