Epílogo
- Lily, eu não entendo... Eu não consigo compreender... Você deveria me odiar depois de saber a verdade. E, no entanto, você vem até aqui para me contar a sua história? A forma como não podemos mais voltar atrás, a forma como eu não posso reparar os erros que cometi com você? O que você quer que eu faça? Que me sinta ainda mais culpado? Eu passei uma vida inteira sentindo culpa por você, pelo que deixei acontecer. Estou cansado, ok?
Seus olhos negros estão mais uma vez pousados sobre mim. Talvez você não entenda o porquê de eu estar contando tudo isso, agora que temos a oportunidade de nos encontrarmos de novo. Eu sei que parece estranho, mas tenho a sensação de que falhei de uma maneira horrível com você. Só preciso encontrar uma forma de te dizer isso.
- Você não é o único que se sente culpado por nós dois.
Você franze a testa. Ah, Sev, como certas coisas entre nós jamais mudam! Nem o tempo, nem a distância, nem os lados opostos são capazes de mudar o que sentimos um pelo outro. Éramos tão jovens, acreditávamos que poderíamos mudar o mundo, você lembra? O sangue poderia não ter feito diferença. Peão, rei, rainha, bispo, torre e cavalo, todos nós voltamos para a mesma caixinha no fim do jogo. Como não pensei nisso antes? Perdi meu tempo tentando fazer sempre o certo, sem perceber que eu apenas errava mais e mais com você e comigo mesma.
- E o que faz você se sentir culpada? – você diz, e seu tom de voz está amargurado. Então, levanta-se do banco no qual descansávamos e vira as costas para mim. Eu observo seus cabelos na altura dos ombros e seu corpo pálido sob a túnica branca de algodão. Os pés descalços pisam a grama fresca como se estivessem agradecidos por estarem enfim livres de sapatos. Aqui, estamos livres de tudo, Sev. Tudo o que nos prendeu durante a nossa breve existência. Você baixa a cabeça antes de continuar – Afinal, você foi a vítima do meu egoísmo. Mas eu juro, Lily, eu juro que jamais poderia imaginar que ele acharia que era você. E quando ele achou, eu pedi a ele, eu pedi para que não fizesse. Para que a poupasse. Mas Dumbledore acha que fui egoísta. Eu passei a vida me martirizando por isso, por não poder fazer nada para impedir que aquele que eu chamava de Mestre matasse a única mulher que eu amei. Mas nada disso pode justificar os meus atos anteriores em relação a você. Eu não quero compaixão! Me odeie, Lily, você tem esse direito!
Aproximo-me de você suavemente e paro diante de sua cabeça abaixada. Com delicadeza, levanto seu queixo e para fazer com que, mais uma vez, você mergulhe no verde dos meus olhos.
- Quero mostrar uma coisa que eu fiz para você. Venha comigo.
Intrigado, você deixa que eu tome sua mão e te conduza pelas alamedas. Abandonamos os muros do hospital e você parece preocupado, mas não diz nada. Caminhamos ao longo de uma estrada e, logo adiante, há uma pequena elevação, um morro gramado. Eu o escalo com você em meu encalço. Ao alcançar o topo, deixo que seus olhos encontrem o presente que eu havia cultivado para você: um enorme campo de lírios negros que se estendia pela imensidão e mais adiante.
Seus olhos brilham e você permite que uma única e solitária lágrima role pelo seu rosto. Aproximo-me de seu ouvido e murmuro:
-Eu te amo, Sev.
- Eu também te amo, Lily... Te amo tanto que até dói.
Encosto a cabeça em seu peito e sei que não termina aqui. Ainda precisamos retornar quantas vezes for preciso até que possamos aprender a ser um só, até que paremos de negar um ao outro em vida. Porém, eu não quero pensar, não agora. Apenas me deixo ficar aqui, em seus braços, o lugar onde eu quero estar para sempre.
Eternamente seu lírio negro.
N/A final: Sim... acabou a fic que eu me senti quase que na obrigação de narrar desde que terminei de ler - e chorar como um bebê com - o capítulo 33 de Deathly Hallows.
Eu fui uma menina maldosa com o Snape e acho que essa foi a minha forma de me redimir. Quando ele matou o Dumbledore, à luz da primeira leitura e sob o maldito POV do Harry, tudo o que eu senti em relação a ele foi ódio. Então, reli EdP e passei a acreditar que, talvez, ele pudesse ter combinado algo com Dumbledore, como diziam as teorias. Aliás, choveu teoria sobre o Snape na net, e esse era o único assunto para o qual eu simplesmente não me arriscava a escrever. Fiz teorias sobre a Ginny, sobre o Harry não ser uma horcrux e sobre o RAB. Mas não sabia exatamente o que pensar do Snape.
Ao ler DH eu quase tive um ataque cardíaco. Eu sei, eu sei, tem muita gente que já era SS/LE bem antes de DH. Mas eu confesso que, depois que li o livro, vi o quanto a história de amor e redenção do Snape e da Lily tinha sido bonita. E vi nas entrelinhas dessa história algo que não foi dito, mas que precisava ser contado. "Lírio Negro" nasceu assim.
Obrigada à Flá, que me ajudou com o nome perfeitoso da fic, sempre a parte mais difícil. Obrigada pela betagem, pelas correções sempre necessárias e por me ajudar a tornar essa fic ainda mais linda. Sim, porque eu não vou ser modesta com ela, "Lírio" se tornou minha fic preferida.
E obrigada a cada um de vocês que leu e viveu essa fic junto comigo. Muitas vezes eu me transportei de uma forma tão intensa para o papel que vocês acompanharam nela um pouco de mim, das minhas crenças e dos meus próprios sentimentos.
Não vou esquecer nunca a frase da Flá: "A Lily está parecida com você, Mia!" rsrsrsrsrs
Talvez tenha sido exatamente por isso que eu gostei tanto de escrever "Lírio". E espero que você tenha gostado de ler!
Beijos!
Mia
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