Sobre a raiva que ela contraiu

Sobre a raiva que ela contraiu



Terça feira à noite: festa na casa de uma amiga. Aniversário dela. É certo que Hermione já tinha passado o dia com esta amiga, mas tempo com ela nunca era demais, especialmente no dia do aniversário. Como tinha ido para lá pela manhã e não tinha levado roupa, vestiu-se do jeito mais básico que conseguiu com as roupas dela. Quando Hermione ficou pronta, os convidados de Raquel já estavam chegando. Foi à cozinha e deu de cara com ELE. Sim. Eles só tinham estado juntos por uma noite, mas por algum motivo ele era especial. Sorriu. Não podia mais que isso. A última vez que os dois tinham se visto tinha sido exatamente na noite em que se beijaram. O último gesto juntos tinha sido um beijo nos lábios, de despedida. Tinha ficado um gosto de quero mais. Mas um mês já tinha passado. Provavelmente James nem se lembrava que Hermione existia. Ela olhava para baixo. Os olhos dele diziam que ele se lembrava sim. Conversavam como se nada estivesse acontecendo. Ela se lembrava da amiga comentando que ele, James, era do tipo que dava em cima de toda menina aparentemente interessante que aparecia. Hermione não gostou de saber. Detestava sentir-se apenas uma a mais na lista. A festa passou divertidíssima. Conversas empolgadas, música e uísque. Hermione bebeu algumas doses, que não lhe alteraram a psiquê, manteve-se sóbria até o último convidado sair da festa. Por fim, ficaram apenas Hermione, Raquel e uma amiga de Raquel que morava em outra cidade, para dormir na casa da aniversariante.
Era tarde e Hermione tinha aula no dia seguinte, pela manhã. O problema aumentava quando se considerava que, para esta aula, Hermione deveria ir caracterizada de criança. Não tinha levado fantasia alguma para a casa de Raquel. Achou que iria pela manhã, e voltaria à noite. Acordou antes da amiga. Foi logo cedo para a sua casa. Atrasada, não tomou banho. Simplesmente trocou a roupa do dia anterior pela combinação mais infantil que o guarda-roupa permitia. Nem pode tomar café. Pegou uma maçã, meteu-a na mochila da company que completava o traje, e foi, num ônibus, para a aula. No caminho entre o ponto de ônibus e o teatro, encontrou com todas as pessoas que nunca encontrava. “Murphy é um filho da puta”, ela pensava enquanto caminhava sem voz. Sim, para completar o drama, Hermione tinha acordado completamente sem voz no dia em que apresentaria sua personagem. Era muito azar pra uma só pessoa. Chegou atrasada na aula. A turma toda já estava à postos e Hermione reconheceu, entre eles dois intrusos: Blaise Zabini e Draco Malfoy. Hermione não achou estranho Blaise estar por lá, tinha aparecido na segunda e talvez não tivesse o que fazer. Abraçou-o saudosamente. Draco Malfoy tinha dito que era filho do professor, Hermione custou a reconhecê-lo, mas sorriu, sem lembrar-se do nome dele.
Veio a hora de apresentar as personagens. As pessoas iam subindo ao palco uma a uma, voluntariamente. Hermione, no entanto, recuava. Estava sem voz e não tinha como falar nada. A maçã até tinha ajudado, no entanto, nem com aquecimento, sua voz sairia. Tinha tido pouco tempo, mas tinha conseguido fazer duas tranças nos cabelos. Foram essas tranças que lhe fizeram despertar-se do transe. Ninguém mais queria subir ao palco. Todos tímidos.
-Manda aquela de trancinha ali.- era a voz do produtor da outra peça. “Perseguição”, ela pensou.
_Eu tô sem voz._ Hermione arranhou, com o pouco de voz que lhe saia à garganta.
_Não tem problema, é só apresentar a personagem!_ O professor disse, empolgado.
_Então eu vou._Ela disse, subindo as escadas que levavam ao palco.
No palco era outra coisa. Assumia a forma que lhe dessem. Totalmente sem voz, ela fez-se a personagem doce e meiga que tinha que fazer. Falou dos gostos, das músicas, mudou o tom da voz para um mais doce. Até os gestos ficavam mais contidos. Por fim, o professor pediu que ela dissesse um trecho do texto da peça. Ela, no entanto, saiu da personagem e falou como Hermione. Desceu do palco e esperou que todos fizessem aquele exercício.
Draco Malfoy acabou sentando-se perto dela, e, naquele dia, ele parecia ser muito mais agradável que no outro.
-Há tempos não assisto filme algum, acho que o último que eu assisti foi: “Os dois filhos de Francisco”.-Hermione não sabia como a conversa tinha chegado naquele ponto, mas é fato que ele falou isso.
-Assisti também. Só não gostei muito da trilha sonora.-ela comentou, sarcástica.
-Queria o que? Que eles tocassem rock? Como: “No dia em que eu saí de casa minha mãe me disse, filho vem cá...”.- e ele cantou o trecho inicial da música tocando uma guitarra imaginária e sacudindo a cabeça, em ritmo de metal.
Ela riu, não podia ter outra reação, que não essa. Estar ao lado dele foi se tornando uma coisa lógica. Tão lógica que, quando o professor mandou que se dividissem em duplas, ela quase se esqueceu que Ron Weasley era seu par usual. Uma pessoa devia estar vendada, enquanto a outra a guiaria por todos os lugares possíveis e imagináveis dentro e fora do teatro. Ron, no entanto, tinha sumido. Hermione, então, tirou da mochila da company sua canga multicolorida que servia de venda. Draco Malfoy, que estava ao lado dela, fez o favor de vendá-la. É certo que ele, por não estar acostumado a usar uma canga enorme como venda, deu voltas e voltas na cabeça dela, sem lhe tapar, realmente, a visão.
No momento em que os dois iriam começar o exercício, Ron apareceu. Draco perguntou se ela preferia estar com Ron e ela assentiu. O amigo a guiou dentro e fora do teatro. A venda caia. Culpa de Draco Malfoy. Volta e meia eles se esbarravam em uma senhora que fazia o curso. Hermione não sabia quem era o par dela. Encontraram-se várias vezes. Deu a hora de trocarem e ela vendou Ron, do jeito que a canga multicolorida permitia ser mais eficaz. Andaram pelo teatro e pela praça. Subiram ao palco, andaram por entre cadeiras na platéia. Andaram, ela devia ser os olhos dele, mas os olhos dela queriam achar Draco Malfoy. O loiro estava fazendo o mesmo exercício, com uma senhora, a senhora que sempre esbarrava neles quando ela estava vendada. Desta vez ele estava vendado.
Hermione seguiu com Ron pela parte externa do teatro. Deixou-o vendado ainda por um tempo depois que o professor liberou-os. Seria hora de um intervalo. Ela voltou ao teatro, buscou uma maçã e foi comendo para onde estava a turma. Draco Malfoy estava usando seu chapéu. Ela não lembrava quando tinha tirado, era parte do seu figurino infantil.
Ninguém quis comer da maçã. O intervalo não custou a acabar. Seria hora, então, do tão temido exercício da corda. O professor e a senhora que fez par com Draco no outro exercício batiam a corda, enquanto cada aluno deveria passar por ela correndo. Se alguém tropeçasse, levasse a corda junto, demorasse demais ou arrumasse algum outro jeito de errar o exercício, todos repetiriam. Hermione nunca tinha sido muito boa com exercícios físicos. No entanto, precisava deles para o teatro.
Na verdade ela nem se importava tanto com o exercício. É certo que ele era alongamento, aquecimento e exercício de resistência. Não obstante, por algum motivo ainda indecifrável, o que ela queria era estar próxima a Draco na fila da corda. Ele parecia também querer estar próximo dela. Quando ela caiu em si os dois estavam abraçados. Correu, a velocidade aumentava e era vez dela. ele ficou no palco. Se enfiava na fila ao invés de dar a volta como todos faziam. O exercício não acabava nunca. Correr, passar a corda, descer do palco, ir para a fila que não parava, correr e passar a corda. Ela não viu quando Draco Malfoy voltou a fazer parte da fila. Estavam abraçados de novo. A fila andava. Era vez dela de pular. Pulou e voltou para a fila. Ele novamente perto dela. novo abraço. Desvencilharam. Ela subiu a escada, passou a corda e veio a luz:
-Esse cara está dando em cima de mim.- Ela pensou e continuou no exercício. Com o tempo, brincar com aquilo parecia tão lógico quanto estar perto dele. A brincadeira ficou séria quando ele plantou a palma da mão na bunda dela. Quem ele pensava que era? Ela não brigou. A fila andava. Fez cara de indignação e voltou a passar a corda, então, tendo que pular uma vez e sair.
Cansou-se e parou com o exercício para beber água. Pouco depois, graças à estafa geral, partiram para a parte teórica da aula. Todos se sentaram na platéia do teatro para ouvir o que o professor tinha a dizer. Desta vez, talvez por bom senso, Draco Malfoy não sentou ao lado de Hermione.
Deviam fechar os olhos e se concentrar na história que o professor contava. Algo corriqueiro, último dia de aula. Deviam estar todos num colégio de fins de anos 50. Hermione vivia cada pedacinho de história. Imaginava do uniforme ao penteado. Depois veio a parte do baile. Sentia os paetês do vestido. Por fim, abriram os olhos e foram informados que aquela mesma história deveria ser escrita, sob o ponto de vista peculiar de cada um deles. O problema era que Hermione não conseguiria escrever no meio de todo mundo. Não tinha um pingo sequer de concentração. Todos escreviam e a folha dela permanecia em branco.
No palco, o professor estava só. Isso lembrou a Hermione que não havia ninguém pelas coxias. Foi como juntar dois e dois. Se encolheria num canto e escreveria. Subiu ao palco sorrateiramente e foi sorrateiramente até o camarim. Naquele teatro só havia uma coxia, de um lado do único palco. O camarim era de um bom tamanho. Tinha dois andares. Os banheiros ficavam no andar de cima. No andar de baixo havia um espaço com um sofá, algumas mesas escoradas nas paredes, uma escada em caracol dando no andar de cima e, do lado oposto, uma meia parede que escondia a pia de mármore e o espelho enorme, bom para maquiagem.
Hermione sentou-se escorada na parede oposta à escada em caracol. Começou a escrever algo como: “No último dia de aula...”. Nada ficava bom. Ela rabiscava o papel e não concluía nenhuma sentença. Ouviu o barulho de alguém subindo no palco. Alguma coisa nela dizia que era Draco Malfoy. Ele devia saber que ela estava ali sozinha. Se estava sozinha, era a deixa dele...
-Olha! Você está aí!- Era a voz de Blaise Zabini.
- Tentando escrever. Hoje não estou conseguindo com barulho...
-Eu pretendia trocar de roupa, mas como você está aí...- Blaise mal acabou de falar e foi a vez de Draco Malfoy adentrar o camarim.
-O que você está fazendo aí, moça?
-Escrevendo.- Hermione respondeu ao louro, que olhava para o outro rapaz.
-Blaise?
-Vim trocar de roupa.- Blaise respondeu a Draco e os dois começaram a conversar entre si. Hermione tentava escrever. A concentração se tornava mais difícil a cada minuto. Os dois falavam coisas interessantes e ela ouvia, mesmo não querendo.
Não se agüentou quando os dois começaram a dançar um tango duro. Diziam algum texto previamente decorado. Ela reconheceu aquele tango como marcação da peça que ela tinha assistido na semana anterior.
-É de “Mulheres de Nelson”?- ela perguntou.
-Marcação de “Mulheres de Nelson”, texto de “Sonho de uma noite de verão”.- Blaise respondeu.
-Você faz que papel no “Sonho” Blaise?
-Benfeito, o marceneiro.
-Não lembro.- Hermione dizia para Blaise, enquanto Draco os seguia com a cabeça, tornando o diálogo algo ainda mais divertido.
-Faz a peça dentro da peça.
-Ah tá! Lembri! É que tem tempo que eu li. Quero assistir, agora.
-Vai lá, então, Mione!
-Estou dependendo de Flora.- Flora era uma amiga de Hermione que tinha feito curso de teatro com ela, Blaise e Raquel. Elas tinham combinado de assistir “Sonho de uma noite de verão” juntas. Draco e Blaise faziam parte do elenco.
-Bem.-Blaise disse, já andando na direção da escada.- Está certo. Vou te deixar, que eu realmente tenho que trocar de roupa.
-É bom que eu termino de escrever.- Blaise subia enquanto ela virou-se para Draco e fez a pergunta lógica.-Você veio fazer o que aqui?
-Trocar de roupa.
-A gente, então, não vai voltar para a corda, né?
-É, acho que não.
-Por que você não fica lá em baixo?
-Não consigo me concentrar.
-Eu até trocaria de roupa aqui, mas como você é menor de idade...- Ele disse, enquanto caminhava até a escada de caracol. Já estava na metade dela quando Hermione respondeu, contradizendo o par de tranças:
-Já sou de maior, ta?
Então ele parou onde estava por um segundo. No segundo seguinte descia a escada e ia andando em movimento retilíneo uniforme até Hermione. Abaixou-se de frente para ela, encostou as mãos em seu rosto, levantou-o e puxou-o, beijando-lhe os lábios como se fosse lógico. Ela o empurrou. O que ele pensava que estava fazendo?
-Não!- Ela disse ainda sem entender o que tinha acontecido. Vinha a imagem de uma outra pessoa e um outro beijo roubado na cabeça dela. Draco subiu, foi se trocar.
Blaise desceu e nada de Hermione conseguir escrever. Tentou usar um método que tinha dado certo noutra história.
-Blaise, por favor, diz uma palavra.
-Uma palavra... pra que?
-Pra eu escrever. Não está saindo nada...
-Sintonia.
-Sintonia! Gostei. Era a palavra que faltava.
Foi Blaise ir para a platéia que Hermione conseguiu efetivamente começar o texto. Um parágrafo depois, Draco Malfoy desceu de novo.
Ele sentou-se ao lado dela novamente. Ela não disse nada, continuou escrevendo. Tentou beijá-la novamente. Ela novamente empurrou.
-Sai! Eu estou em aula!- desta vez a voz dela adquiriu um leve tom de desespero. Ele ficou em silêncio um tempo. Ela continuava escrevendo. Ele tentou ver. Ela não deixou. Ainda não estava pronto o texto.
-Vai ficar aí mesmo, anjinho?
-Vou sim... Escrevendo.
Ele ficou em silêncio, se levantou e começou a andar de um lado para o outro. Ela não olhava. Queria que ele saísse. Queria se concentrar e escrever. Lembrou dum texto do Millôr Fernandes sobre os palavrões. Pra caralho tende ao infinito. Nem fudendo é a negação absoluta. Por fim, o foda-se tem poder purificador. Precisava de concentração. Precisava de catarse. Escreveu foda-se bem grande numa das folhas finais do caderno.
Conseguiu escrever mais um pedaço de texto e ele voltou, mudo. Agaixou-se perto dela sem que ela se opusesse. Logo ele tentou outro beijo. Desta vez com mais avidez. Ela empurrava e ele resistia. Ela travava a boca e ele tentava com a língua. Conseguiu empurrá-lo sem corresponder ao beijo.
-Para! Eu preciso me concentrar pra escrever!
- E isso desconcentra?- Ele disse com a sobrancelha levantada e aquele sarcasmo que lhe era peculiar.
-Claro que desconcentra.- Ela disse, fingindo calma.
Como não desconcentraria? O que aquele idiota tinha na cabeça? Ela queria sumir dali. Ele saiu e ela tornou a escrever “foda-ses” gigantes na folha. A mesma folha ficaria conhecida como a folhinha do foda-se. Só escreveu mais um parágrafo. Voltou à platéia e uma colega informou que todos já tinham terminado os textos e lido o dos colegas. Hermione não tinha percebido que tinha passado tanto tempo na coxia. O tempo passava e ela não percebia. A aula passava e ela perdia. Chamaram-na. Ela custou a ver. A colega tinha as letras das músicas que seriam cantadas no espetáculo. A colega estava sentada na fileira à frente de Draco Malfoy. Ignorou a presença dele e foi falar com ela.
O espetáculo a ser encenado chamava-se “Sonho Dourado”. Contava os dois últimos dias de aula de um colégio, em fins dos anos 50. Das 10 personagens principais, a que Hermione mais gostava era Glorinha, uma menina meiga que recebia cartas de um admirador secreto. No fim, descobria-se que o admirador secreto de Glorinha era Betão, o bad boy da escola, um espécime brazuca de Danny Zuco. Era um musical. Havia versões das músicas de “Grease” e clássicos, como “Gatinha manhosa”. O texto já tinha sido montado várias vezes, uma delas, pelo professor do curso.
Hermione ouvia o professor concluir a aula e Draco pulou para a fileira da frente, sentando-se ao lado dela. Em pouco tempo, ele já envolvia a mão dela numa carícia que ela tentava evitar. Mantinha-se estática, mas um carinho na mão não ofendia nem machucava. Nem percebeu que já respondia, sem tirar os olhos do palco. Um amigo de Draco, que também não fazia o curso, mas estava ali de penetra, sentou-se próximo aos dois. Esperou a primeira pausa do professor, para perguntar:
- Vocês dois estão namorando?
-Não. – Hermione respondeu, sorrindo, e tirou a mão da de Draco.
A aula prosseguia. O professor, então distribuía as personagens a serem trabalhadas para a próxima aula. No intervalo ele tinha dito a Hermione que devia ter dado outra personagem, que não Glorinha, a ela. Hermione já era Glorinha na vida real, ele dizia, e em se tratando de um curso de teatro, ela devia enfrentar desafios. A todo tempo, Draco cantarolava a música que Glorinha e Betão cantariam no fim do espetáculo.
“Eu quero acreditar em você
Queria acreditar no amor
Não sei o que fazer
Só sei que devo amar você(...)”
Todo mundo tinha a perfeita noção de que Hermione adorava o espetáculo “Sonho dourado”. Todo mundo sabia que ela amava as músicas. Ela tinha apresentado Glorinha de manhã. Ele cantava aquela música só pra provocar, não tinha outra explicação.
- Ron, trabalhe o Nicolau para mim. – O professor concluía.- e Hermione, você trabalha a Glorinha.
- Professor, você não tinha dito que eu devia fazer outra personagem?
- Sim... Claro... Hermione, invente uma personagem que a gente insere ela no texto.
- Tudo bem...
- O negócio é que você é a Glorinha. Não tem como. Bem. Joanne, você trabalha a Glorinha, então. Lucy, você fica na iluminação. Gente. Sobre as personagens, o Betão é o gostosão da escola. A Bia é moderna, todo mundo usa saia e ela usa calça. Ela é a mais safada de todas. Pra você ter noção as amigas dela são da faculdade e ela lê as revistinhas do Carlos Zéfiro. Carlos Zéfiro, vocês sabem... escrevia histórias pornográficas. A Sharon parece ser safada, mas na verdade não é. Enquanto a Glorinha é meiguinha por fora e safadinha por dentro.
Nessa última frase, todos os rostos que se encontravam naquele teatro viraram-se na direção de Hermione Granger. Ela sentiu-se enrubescer quando alguém murmurou:
- Ahn... meiguinha por fora, safadinha por dentro!
- Ih! Gente!- O professor parecia que retomaria o assunto da aula. – É igual mesmo. Está vendo... mal o curso começou e ela já está agarrando o meu filho.
Veio então, em Hermione, uma súbita ânsia por defesa inconseqüente.
- Ele que está me agarrando!
- Draco... Isso é pedofilia!
- Ela é maior. De acordo com a constituição, pedofilia é até os 14 anos só. – Draco respondia com a maior naturalidade e Hermione não sabia onde enfiar a cara.
- Então o nome disso é assédio sexual.- O professor afirmou.
- Assédio é só quando a outra pessoa não quer. – Draco rebateu e Hermione sentiu-se roxa de vergonha e raiva.
Como alguém vivo conseguia reunir tanto sarcasmo e cara-de-pau num único corpo? Hermione respirava fundo. Depois de um tempo ela ainda murmurou que queria fazer o papel da Glorinha. Ele dizia, então, querer ser o betão. Ela dizia que ele não podia. Ele rebatia. O assunto morria. A aula acabou. Hermione esperou para falar com o professor da sua personagem.
No teatro restavam apenas ela, Ron, Draco, Blaise e o professor. Enquanto ela se levantava Draco insistia, abraçando-a.
- Menos. – ela dizia.
- Por que menos?- ele rebatia, com aquela cara de pau que lhe era peculiar.
- Só menos.
Enquanto ela esperava para falar com o professor, Draco puxou-a para um tango. Ela insistia dizer que não sabia dançar, mas ele fingia não ouvir. Por fim, jogou-a nos braços sem perder o domínio de nenhum dos dois corpos, e inclinou-se para beijá-la. Ela inclinou-se o máximo que conseguia e saiu por baixo dele. Quatro vezes! Ele a tinha tentado beijar quatro vezes! Era o cúmulo da cara de pau. Enquanto o professor explicava-lhe o que faria, Draco ficava comentando com Blaise sobre como Hermione era linda.
- Então, você inventa a sua personagem, mas tem que ser rebelde.
- Sim...
- Mas Rebelde dos anos 50. Você faz?
- Faço.
- Fácil não. Difícil.
- Eu disse que faço. – Hermione concluiu.
Terminou a conversa com o professor e foi embora, esperando deixar Draco Malfoy para trás, mas carregando-o consigo, na raiva.



NA- Acreditem, esse capítulo é real. Daqui pra frente, será ficção.

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