À tarde - os meninos



Era sexta-feira. Os quatro garotos agradeciam profundamente por estarem no sexto ano e poderem planejar seus próprios calendários de aula: teoricamente, não teriam nenhuma aula até a hora do almoço; na prática, não tinham mais nenhuma obrigação a cumprir. Abençoado fosse o baile!
O único que parecia descontente de alguma forma era Remus Lupin.

— Sem matéria... pelo resto... do dia? — resmungou com a voz fraca. À medida que a noite se aproximava, suas energias eram gradualmente drenadas, já reservadas pelo próprio corpo para o momento da transformação.

— Louvado seja Merlim, sim — James se jogou em umas das poltronas da Sala Comunal da Grifinória, espreguiçando-se — Não faça essa cara de quem acabou de engolir meleca de troll, vai!

— É que... eu estou... meio enjoado...

— Ajuda? — Pettigrew lhe estendeu seu “Guia de proteção contra Artes das Trevas”, zombando com o amigo. Remus, no entanto, não parecia mais ter ânimo para os estudos. Suas mãos tremiam, e seu rosto era uma mescla pálida de verde e roxo. De qualquer forma, forçou-se a aceita-lo com a mão.

— Moony, pára com isso — Sirius fez cara de preocupado — Não está na hora de você ir até a enfermaria?

— Não, eu... to legal... eu fiquei... aqui... pra estudar... mais... mais tempo...

— É, e já ficou o suficiente. Chega de bancar o certinho e vai fazer o que você realmente tem que fazer — James se levantou, preparando-se para ajudá-lo a se levantar. Mas o amigo se esquivou, lançando-lhe um olhar maligno.

— A sua mordida só assusta à noite, cara! — riu, ajeitando os óculos — Eu peço pra Madame Pomfrey te deixar na biblioteca esta noite, daí você pode estudar e já acaba com aquela Pince mandona e enxerid —

— O que você está fazendo aqui ainda?!

A voz de Sophie Snape ecoou fina pelo recinto. A bruxa desceu as escadas do dormitório feminino e foi correndo em direção a Lupin, as mãos na cintura em um gesto autoritário.

— Por que o senhor não foi à enfermaria ainda?

— ... estudar... — foi tudo que a sua respiração entrecorta permitia dizer.

— Ah, cala a boca — xingou Black, impaciente. Antes que pudesse apontar-lhe a varinha e falar “Levicorpus!”, Remus gemeu.

— Sem... magia... por... favor...

— Mais essa agora?! Acha que está em condições de escolher, é?!

— Não seja grosso, Sirius — Sophie olhou feio para o namorado — Vamos, eu lhe ajudo a levá-lo pelos braços. Assim ainda vamos conversando pelo caminho, preciso falar com você.

Cada um posicionou um braço nas axilas de Remus, permitindo-lhe equilíbrio. Posto em pé, porém, não se sentiu tão confiante. O mundo girava diante de seus olhos, até ser quase escondido pela capa de invisibilidade semitransparente de James Potter.

Em um momento estava bem, no outro era carregado pelos amigos – ainda melhor do que sair flutuando feito um inútil. Mesmo assim, ruim. Droga. Odiava ser o que era.

Remus Lupin não conseguiu se concentrar na conversa do casal. Seus ouvidos estavam fazendo um apito engraçado, e por isso não podia nem mais escutar direito. Permitiu-se perder-se em devaneios enquanto se moviam, lentamente, até a enfermaria.

Ah... a pele branca e macia de Sophie roçava delicadamente em seu braço esquerdo... não, não conseguiu se concentrar em nada mais, além disso.

Não podia evitar. Sabia que era a namorada de seu melhor amigo. Sabia que, sendo um lobisomem, nenhuma garota olharia para ele. Mas mesmo assim... mesmo assim não podia evitar. Ela era especial para ele desde que se conheceram, desde que entrou para o grupo dos animagos, desde que se tornou a primeira garota a sorrir para ele.

Ela era uma das únicas a partilhar de seu segredo. E também umas das únicas a não se importar e teme-lo verdadeiramente.

Gostava dela há seis anos, e por seis anos guardou trancado aquele sentimento em seu coração. Ele não a merecia. Seu destino seguramente era enfrentar sua maldição pelo resto de seus dias. Solitário.

Ou assim queria que fosse.

“Ah, Sophie...”

Foi com esses pensamentos que adormeceu entre os lençóis muito brancos da ala hospitalar.




De volta à Sala Comunal da Grifinória, Sirius e Sophie se separaram, cada um indo para seus respectivos dormitórios. Junto com seus amigos, Black se distraiu em meio a risadas e brincadeiras – a maioria relacionada a novas pragas para serem testadas em uma grande “amigo’, Snape – até que, enfim, a noite caísse e a lua cheia fosse visível pela janela.

Guardariam o resto dos risos para mais tarde; agora, deveriam pensar seriamente em como passar despercebidamente pelo castelo até o Salgueiro Lutador. Abriram o Mapa do Maroto, apontaram com o dedo algumas passagens secretas, resmungaram, bateram nele com a varinha e puseram-no de volta no lugar. James pegou a capa de invisibilidade e deixaram o quarto.

A imagem dos marotos dentro de Hogwarts não era, seguramente, a mais comportada. Qualquer um que os visse perto do baile mas não dentro dele certamente iria suspeitar de alguma coisa. Era fato. Conheciam seus inimigos. Por isso, pretendiam passar despercebidos pelo castelo, mantendo-se longe do baile a todo o custo.

Mas os planos de Pettigrew eram outros.

— Não, Wormtail. Mas que coisa — resmungava Sirius pela terceira vez.

— Vamos, não custa nada passar lá pra pegar um pouco de comida, ou —

Já era difícil tentar esconder aqueles três corpos de homens embaixo do tecido fino da capa, quanto mais travar um diálogo insuspeito e abaixo do nível de audição dos passantes. Por vezes, uma ou outra pessoa olhava para trás, no corredor, como se esperasse ouvir a voz de um fantasma ou qualquer outra coisa.

— Fica quieto, Wormtail, hoje tem muita gente por aqui.

— Quando é pra pegar comida pra vocês na cozinha tudo bem, mas agora eu não posso nem pegar um sanduichinho na festa! — fazia voz de choro.

— Pra nós?! Você come tudo!

— Sssh, vocês podem ficar quietos?! — James virou-se para eles e começou a andar de costas — Peter, depois eu te dou uma caixa cheia de sapinhos de chocolate, mas hoje não dá, é muito arriscado — AI!

— AI!

James Potter sentiu as pernas congelarem quando sentiu bater em alguma coisa, virar a cabeça e descobrir que aquela “alguma coisa” era Lily Evans.

Os dois amigos puxaram-no rapidamente alguns passos para trás e lá ele ficou, segurando a respiração, rezando para que ela não tivesse ouvido seu grito, intimamente desejando que ela não estivesse indo ao baile com outra pessoa...

— O que foi? — Sophie estava ao lado da amiga, e aparentemente não sentia nada de estranho.

— Eu – alguma coisa bateu em mim. Mas... — ela voltou seu olhar para trás, passando levemente a mão no ar, constatando que não havia nada.

— Haha, será que foi a mão invisível de Severus que não quer que você vá ao baile sem ele? — zombou, rindo — Vamos, eu gosto dessa música que está tocando.

Viram Sophie puxando Lily pelo braço até sumirem entre a multidão de estudantes na entrada do Salão Principal.

— O que Snape —?

— É, Snape. Daqui ele a pouco ele vai estar lá e nós estamos aqui brigando por sanduíches — sussurrou Sirius, mal-humorado — Vamos calar a boca e chegar logo lá.

Relutante em afastar Lily de seus pensamentos, James ajeitou a capa sobre seus pés e guiou-os até a entrada principal, cuja porta estava entreaberta por causa de um ou outro aluno que fugia do barulho para tomar um pouco de ar. Não havia muitas pessoas do lado de fora; a maioria tinha medo de sair em territórios escuros, principalmente naquela época em que um recente Lorde das Trevas aparecera botando medo até mesmo em seu próprio nome.

Voldemort, no entanto, passava longe da mente daquele trio de jovens, cuja única preocupação era a diversão – e esta jamais poderia atingir seu ápice sem um pouco de atrevimento e riscos.

Avançaram agora com mais velocidade em direção ao Salgueiro Lutador, tropeçando nos pés uns dos outros, até finalmente encontrarem uma moita na floresta que lhes desse o perfeito panorama da situação. Sentaram-se e permaneceram em silêncio por poucos minutos, esperando ansiosamente que a hora mais desejada da noite chegasse.

E chegou.

Reconheceram, de imediato, o vulto de Severus Snape que se aproximava cada vez mais da árvore perigosa.

Viram-no analisando a situação detalhadamente, procurando por sinais ou qualquer armadilha que fosse. Acenou com a cabeça. Território seguro. Avançou a procura da tal vara longa; não teve dificuldades em achá-la. Com extremo cuidado, Snape adiantou seu braço até que a ponta da vara tocasse no nó da árvore. Instantaneamente, ela parou de se movimentar.

Sorriu.

No instante daquele sorriso, os lábios de James frizaram de preocupação.

— O que é aquilo? — apontou para o ponto mais claro.

Vindos da direção do castelo, dois vultos inesperados se aproximavam.

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