Capitulo 8



CAPÍTULO VIII


Hermione Granger precisava encenar o último ato da mentira inventada. Não queria magoar Berta desnecessariamente. Assim engoliu seu desespero, e inventou uma historia que justificou sua partida repentina.

Parou no hall, respirou fundo e entrou na sala com determinação, dizendo com falsa animação.

-Oi! Tenho uma missão fabulosa!

-Tem o quê? - perguntou a governanta, arregalando os olhos para a sobrinha.

-O Sr. Potter vai me mandar para Atlanta a fim de conseguir algumas informações sobre um parente distante dele. Sabe, para incluir nas memórias. Isso me dará uma chance de tratar do aluguel de meu apartamento e também comprar algumas roupas.

Berta ficara tensa, mas relaxou imediatamente, com um sorriso.

-E só por alguns dias, não? - sondou.

-Isso mesmo. Ele não é bacana? Pena que lhe reste tão pouco tempo, não tem muito sentido se apegar a um moribundo, não é? - concluiu Hermione, estudando a tia com o canto do olho.

Berta, que não havia levado isso em conta, mordeu o lábio, pensativa. Afinal disse:

-Ele ainda não está morto, sabe. Pode até melhorar. Isso mesmo. Os médicos ainda podem encontrar um tratamento que dê certo e o salve!

-Seria tão bom! Ele é tão viril! - acrescentou Hermione, com um sorriso forçado.

-É mesmo, e vocês têm passado bastante tempo juntos nestes últimos dias. E também têm trocado alguns olhares muito interessantes.

O controle de Hermione começava a desmoronar.

-Ele... É muito atraente.

-E você é muito bonita, quando você parte?

-Hoje à tarde mesmo. Quero ir depressa.

-Você vai de avião?

-Não eu... hã... vou de ônibus, detesto voar, sabe?

-Ônibus? - começou Berta, lançando-lhe um de seus olhares desconfiados.

-Ele vai depois. É claro. Nós talvez até voltemos de carro...

A governanta se animou, quem sabe eles se acertariam no caminho...

-Precisa de ajuda para fazer as malas? - perguntou à sobrinha.

-Não, obrigada. Posso cuidar de tudo sozinha. Bem, preciso me apressar. Você ficará bem até eu voltar? - perguntou, hesitante.

-Claro que sim, tenho apenas uma perna quebrada. E estou tomando aquelas pílulas idiotas.

-Ótimo

Com o restinho de controle que ainda mantinha, ela telefonou para a rodoviária para reservar a passagem.

Uma hora era todo o tempo que tinha para chegar à estação. Era o suficiente, pegou sua mala e, ao descer, deu de cara com Harry.
Seus olhares se cruzaram e ela falou com voz embargada:

-Eu contei a tia Berta sobre o trabalho, sr. Potter. Parto dentro de uma hora para Atlanta. - a máscara caíra e Hermione concentrava-se nas gotas que pingavam da roupa molhada dele para não chorar.

Harry manteve-se calado, olhando para a mala que ela segurava. Bem, ele já esperava por isso. O que ela queria que ele fizesse, que lhe pedisse em casamento?

Hermione passou por ele, implorando silenciosamente para que ele lhe pedisse para ficar. Mas nenhuma palavra saio da boca de Harry.

-O que aconteceu, patrão? É melhor vestir roupas secas - Berta intrometeu-se.

-Caí no rio, e já trocarei de roupa - ele não desgrudava os olhos de Hermione.

-O senhor pode pedir a alguém que me leve até a rodoviária? - perguntou, mantendo-se altiva.

-Diga a Billy que eu mandei levá-la.

-Obrigada. Adeus!

A esta altura, Berta sabia que algo estava errado. Só que não podia fazer mais nada.

-Você ficará bem? - perguntou a sobrinha.

Harry interveio, afirmando:

-Ela é forte. Sobreviverá.

-Pode apostar que sim, sr. Potter - garantiu-lhe Hermione. - Desejo-lhe melhor sorte da próxima vez, lamento não ter sido mais... cooperante. - e virando-se para a tia prometeu: - Eu a verei em breve.

-Tem dinheiro suficiente para a passagem de ônibus? - perguntou Harry.

-Se eu não tivesse, seria capaz de trabalhar como engraxate para consegui-lo. Entenda de uma vez por todas: eu não quero seu dinheiro!

Ele estava aprendendo isso à duras penas. Enquanto tentava pensar em alguma coisa para acalmá-la e detê-la, Hermione virou-se e saiu.

Berta suspirou e foi andando pelo hall, sabia que a farsa acabara.

-Puxa, ela parece estar zangada mesmo, está casa vai parecer tão vazia sem ela. A choque o senhor já sabe o que eu disse a ela.

-Sei, sim. Tudo - respondeu Harry, laconicamente.

A governanta deu de ombros.

-Eu estou ficando velha. Ela estava sozinha, eu só queria que Hermione tivesse alguém que se importasse com ela. Eu sinto muito. Espero que vocês dois possam me perdoar. Telefonarei para ela e tentarei explicar. Não vale a pena tentar conversar com ela neste momento. Espero que o senhor me perdoe.

-Eu já perdoei.

Ela o olhou com um sorriso triste.

-Ela não é uma moça má. O senhor... permitirá que ela volte, se eu conseguir endireitar as coisas e parar de bancar o cúpido?

Harry estudou-a em silêncio, e então falou:

-Você ouviu o que foi dito aqui, não ouviu?

-Mas ela ficará bem, não é?

Ele se sentia morrendo por dentro, não queria que ela se fosse, mas teria que deixá-la partir.

-Ela ficara bem - procurou tranqüilizar a si próprio “É melhor assim, não quero mesmo me casar”, pensou Harry. Então, um medo inexplicável se apoderou dele: e se ela se casasse com outro?

Os dois olharam pela janela quando Hermione passou ao lado de Billy na caminhonete do rancho.

A expressão de Harry endureceu, calado girou nos calcanhares e subiu a escada. Berta suspirou, observando-o. Bem,tudo fora por água a baixo, mas quem sabe eles se entendessem? Lembrava-se da força, da eletricidade entre os dois e sorriu, ainda tinha esperanças.



Uma semana depois, a vida de Hermione tomava outro rumo. Tentando não pensar em Harry, concentrava-se em arranjar emprego. Suas economias davam para aquele mês, e isso era tudo, o que precisava para encontrar uma colocação.

Logo começou a trabalhar num banco, com computadores. Detestava lidar com números e contas,mas no momento nada importava muito. Fizera o treinamento e envolve-se na rotina,pois isso a impedia de pensar em Harry.

Algum tempo depois Berta criou coragem e ligou para a sobrinha:

-Eu sinto muito, minha menina. Jamais tive a intenção de lhe causar sofrimento, só queria que houvesse alguém para cuidar de você depois que eu me fosse,mas agora que sei que vou viver,posso fazer isso eu mesma.

-Eu ficarei bem, tia. Lamento ter tido que partir tão de repente,nós tivemos uma grande discussão.

-Eu percebi, pelo modo como se atacaram pouco antes de você partir. Sabia que a coisa estava preta quando ele lhe perguntou se tinha dinheiro para a passagem e você lhe respondeu daquela maneira. Harry disse, também que vocês dois sabiam que eu tinha inventado toda aquela história.

-Nós sabíamos desde o começo. Continuamos a representar, porque não queríamos preocupá-la. Mas não banque mais o cúpido, está bem? Você é grande demais para passar pelo sujeitinho, e ficaria muito engraçada usando fralda e carregando um arco e flecha.

Berta riu.

-É, acho que você tem razão. Sabe, o patrão partiu há uma hora para o Havaí. Ele disse que ia a negócios, mas não levou nenhuma valise. Parecia um bocado abatido.

-Ele logo voltará bonzinho. Provavelmente, encontrará alguém para consolá-lo por lá.

-Por acaso ele levou um fora seu? É por isso que precisa de consolo?

Hermione gemeu, percebendo que havia falado demais.

-Bem, era isso que você queria, não era? Você conseguiu o que tinha planejado, só que o que ele queria era alguém para satisfazê-lo na cama e nada mais.

-Oh! - e houve um instante de silêncio até Berta falar de novo - Você virá me visitar de novo não virá? Depois que parar de ficar furiosa comigo? - perguntou, desconversando.

-Talvez algum dia.

-E quanto ao seu emprego? Já tem algum em vista?

-Eu finalmente encontrei um. Estou trabalhando no departamento de contas de um grande banco.

-Que bom! Eu sabia que você se recobraria rapidamente. Eu gosto muito de você Hermione.

Hermione sorriu, apesar da tristeza que sentia.

-Eu também gosto muito de você,tia Berta. Cuide-se bem, e por favor, tome suas pílulas.

-Eu tomarei,prometo. Boa noite.

-Boa noite, tia - respondeu Hermione,desligando o telefone e olhando-o durante um longo tempo.



Hermione acostumara-se com sua nova vida e até fizera algumas amizades. Gostava de Liz e Margie, com quem trabalhava, e havia até um diretor-assistente chamado Larry, jovem e simpático. Hermione começou a tomar café com bolinhos com ele todas as manhãs. Pouco a pouco estava aprendendo a viver sem a sombra de Harry Potter. Ou, pelo menos, dizia a si mesma que estava. Mas a lembrança dele a perseguia. Ela fechava os olhos e sentia a pressão dos lábios quentes e firmes, a sedução das mãos experientes. Às vezes imaginava se conseguiria sobreviver longe dele.

Telefonou para Berta uma semana depois, apenas para ver como estava a tia. Disse a si mesma, mas não foi Berta quem atendeu.

Quando ouviu a voz grave de Harry, seu coração disparou, esperava o tempo todo que ele atendesse ao telefone.

-Alô? - repetiu ele, com impaciência.

Hermione respirou fundo para se acalmar.

-Tia Berta está, por favor? - perguntou formalmente.

Houve uma longa pausa.

-Olá, Mione, você está bem?

-Estou muita bem, obrigada. Como vai tia Berta?

-Ela está muito bem, foi a reunião da igreja esta noite, Billy levou-a na caminhonete. Acho que deverá voltar lá pelas nove horas.Já conseguiu arranjar um emprego?

-Sim, há algum tempo. Estou trabalhando num banco. Ele é grande e fica perto de minha casa.Trabalho com pessoas muito simpáticas e estou ganhando mais do que ganhava no escritório da oficina. Não se preocupe comigo.

-Eu me preocupo sim. Me preocupo muito com você. E sinto sua falta.

Hermione deu um risinho nervoso.

-É mesmo? É algo difícil de se acreditar. – disse sarcástica.

-Algum dia eu talvez consiga fazê-la acreditar - disse ele, com sua voz grave e sensual.

-Pensei ter-lhe dito que não estava e não estou disponível para uma polpuda conta bancária e um luxuoso apartamento numa cidade grande o suficiente para não haver mexericos - acrescentou com amargura, repetindo as palavras que ele dissera naquele dia.

Harry praguejou alguma coisa baixinho e então falou:

-Sim eu sei disso. Eu gostaria que você estivesse aqui. Gostaria que pudéssemos conversar. Eu cometi o maior engano de minha vida com você Hermione, mas acho que talvez ajudasse, se você compreendesse o motivo.

Hermione sentiu o gosto das lágrimas em sua boca.

-Não precisa explicar, eu já entendi. A sua Liberdade é mais importante que tudo.

-Não é apenas isso. Você disse que Berta lhe contou o que me aconteceu, sobre a moça com quem eu planejava me casar.

-É verdade... mas...

Harry não a deixou falar

-Eu fui usado por ela e por minha mãe, e isso me marcou profundamente. Só enxergava as mulheres como objetos pelos quais eu pagava sem me envolver. Aí apareceu você, que desestruturou toda minha vida. E eu agi como um idiota, pensando que você era igual às outras. Preciso de você, Hermione.

-Não sinta dor na consciência por minha causa. Harry o passado é passado, e você não precisa de mim agora, mas do que precisava antes. Adeus, Harry.

-Não Hermione, escute o que eu tenho a dizer...

Ela desligou, antes que ele ouvisse o soluço preso em sua garganta, sentia-se como que morta.



Foi trabalhar na manhã seguinte com o rosto ainda pálido pela noite mal dormida. Sentou-se mecanicamente à sua mesa de trabalho, atendendo ao telefone, cuidando das contas novas, sorrindo para os clientes. Fazendo tudo certo, mas sua mente ainda estava em Harry e a lembrança dele corroia de tristeza.

Quando uma sobra se projetou em cima de sua mesa pouco antes da hora do almoço, ela nem levantou os olhos.

-Eu o atenderia num instante - disse com um sorriso mecânico, ao terminar de preencher uma ficha.

Então, levantou os olhos, e seu corpo gelou.

Harry encarava-a como se ela fosse todo seu mundo. Seus olhos verdes encontraram cada sobra, cada linha, cada curva de seu rosto delicado no silêncio opressivo que se seguiu.

O burburinho de vozes distantes, o barulho das máquinas, o tilintar de telefones, tudo mais desaparecera. Só havia os dois e todas as palavras não ditas.

Harry estava bem mais magro, abatido. A barba por fazer dava-lhe um aspecto selvagem. Os olhos verdes estavam tão injetados, como se há muito tempo não dormisse.

Hermione contraiu-se na defensiva, lembrando-se de seu último encontro, e perguntou polidamente, mas distante:

-Posso ajudá-lo em alguma coisa?

-Pare com isso! Fiz uma longa viagem e não estou disposto a brincadeiras.

-Eu gostaria de salientar que trabalho aqui. Não tenho tempo para bater papo com velhos conhecidos. Se quiser abrir uma conta, terei muito prazer em atendê-lo. É isto que faço aqui, eu abro novas contas.

-Eu não quero abrir uma conta!

-Então, o que quer?

-Levá-la para casa... Para onde é seu lugar. Seu chefe vai lamentar que você tenha que partir, mas ele certamente vai entender. Você vem comigo agora mesmo.

Ela pestanejou, como se não estivesse entendendo nada.

-Eu o que?!

-Você volta comigo agora mesmo - e para disfarçar sua ansiedade, Harry brincava: - Não se lembra de minha condição? Eu estou morrendo,sabia? Tenho alguma coisa vagamente incurável, embora a ciência médica triunfe com o tempo de sobra para me salvar.

-Como é que é?! - perguntou Hermione sem entender onde estava a piada.

-Você vai me ajudar a escrever minhas memórias, não se lembra?

-Ora! Você não está morrendo! - explodiu ela.

-Psssiu! Alguém pode ouvir! - disse ele, olhando furtivamente em volta.

-Eu não vou deixar meu emprego! Comecei a trabalhar aqui há poucas semanas!

-Você tem que se demitir. Se eu voltar para casa sem você, Berta vai me matar de fome. Ela está conseguindo sua vingança na cozinha. Pequenas porções, sobremesas sem açúcar, comidas dietéticas.Eu não sou mais nem sombra do que costumava ser.

Hermione olhou furiosa. Sabia que não era nada disso,mas Harry recusava-se a reconhecer que sentia falta dela.

-Coitadinho - disse com venenosa doçura.

-Hermione...

-Só que eu não tenho nada com isso. Espero que você não tenha vindo até Atlanta só para fazer essa pequena cena!

Os olhos dele assumiram uma expressão determinada.

-Não, eu vim para levá-la de volta, e por Deus, eu vou levá-la. Nem que eu tenha de carregá-la para fora daqui

-Você não se atreveria... Eu berraria ate ficar sem voz.

-E então todo mundo pensaria que você está sofrendo dores horríveis, eu direi que vou levá-la a um hospital para um tratamento de emergência. Vamos?

O ar determinado dele se equiparava ao seu. Hermione pesou as possibilidades, se ele a carregasse para fora à força, ela perderia toda credibilidade perante seus colegas. Se lutasse com ele diante de todos, Harry ganharia toda simpatia e pareceria uma mulher briguenta e desalmada. Ele a tinha nas mãos.

Num tom de voz derrotado, perguntou:

-Mas por quê? Por que não me deixa simplesmente aqui?

Ele estudou seus olhos.

–Sua tia está com saudades de você.

-Ela poderia me telefonar e falar comigo. Não há nenhum motivo para eu retornar ao Texas e complicar sua vida e a minha.

Ele suspirou.

-Minha vida já está vazia e complicada, se quiser saber. Além do mais meu primo Rick veio para ficar, e está me levando a loucura.

Rick era um nome familiar. Foi com ele que a ex-noiva de Harry esteve casada por um curto intervalo de tempo. Hermione não conseguia imaginar Harry acolhendo-o bem como hóspede.

-Estou surpresa que você o tenha recebido - confessou.

-Então você sabe sobre isso também?

Corando, ela baixou os olhos para a mesa.

-Tia Berta me falou alguma coisa a esse respeito.

Harry suspirou pesadamente.

-Bem,ele faz parte de minha família. Minha avó o adora. E eu não poderia deixar de recebê-lo, sem que ela saltasse em meu pescoço. Seria capaz de voltar correndo para casa a fim de defendê-lo. Ela está muito bem com Belinda. Não há nenhum motivo para incomodá-la.

Hermione também sabia sobre a velha sra. Potter e quase sorriu ao ver a falta de entusiasmo dele pela companhia da avó.

-Se você já tem um hóspede em casa, certamente não vai precisar de outro.

Ele deu de ombros.

-Há bastante espaço. Meu secretário se demitiu. Eu certamente preciso de ajuda no escritório. Você poderia até designar seu próprio salário.

-Você é a pessoa mais egoísta que já conheci. Insultou-me, me mandou embora e agora diz que precisa de mim? - corando, Harry desviou os olhos.

-Você não pode gostar realmente deste emprego. Você mesma disse que detestava lidar com números.

-Pois eu gosto de comer. É difícil comer quando não se ganha dinheiro.

-Você poderia voltar para casa comigo e ganhar dinheiro. Poderia viver com sua tia e me ajudar a impedir o primo Rick de vender o gado debaixo do meu nariz.

-Você quer ajuda para impedir seu primo? Por quê? - perguntou curiosa, apesar de toda raiva que sentia.

-Ele possui dez por cento do rancho. Eu tive um momento de fraqueza, quando ele tinha dezoito anos, e lhe dei essa parte de presente de formatura. O problema é que nunca sei a que dez por cento ele se refere cada vez que os reclama. Isso parece mudar a cada semestre. Neste exato momento, ele está xeretando por lá, procurando estatísticas sobre meu touro reprodutor da raça Santa Gertrudes.

-E o que eu poderia fazer a respeito de seu primo Rick... Se eu fosse com você?

-Você poderia me ajudar a distraí-lo. Com você no escritório, ele não poderia conseguir nenhuma estatística. Ele não poderia descobrir onde eu guardo aquele touro, a menos que descobrisse o local no computador. E você estaria vigiando o computador.

Toda essa história era apenas uma desculpa, e Hermione sabia disso. Por motivos que só Harry conhecia, era conveniente tê-la no rancho. Mas ela já não se enganava achando que ele fazia isso por amor. Harry ainda a desejava, e ela podia senti-lo, mas talvez sentisse remorso e quisesse apenas se redimir.

-Minha tia está bem? - perguntou afinal.

-Sim, ela está muito bem. Eu não mentiria quanto a isso. Mas ela se sente solitária nunca mais foi a mesma desde que você partiu.

Hermione brincou com o lápis, pensando na oferta de Harry. Poderia mandá-lo embora, ele iria. E nunca mais o veria de novo. Continuaria sozinha e juntaria os fios de sua vida.

Que grande vida seria! Longa e solitária.

Harry insistiu, quase com desespero:

-Venha comigo. Mione isto não é lugar para você.

Ela não levantou os olhos.

-Eu falei sério antes de partir. Se eu voltar, eu não... nós não... nunca mais nós...

- Eu sei, eu sei. Não precisa se preocupar. Nunca mais vou tentar nada. Você tem minha palavra quanto a isso.

-Então eu irei.

Ele forçou um sorriso.

-Então vamos. Eu já estou com as passagens.

-Você estava tão confiante assim?

-Confiante nada. Mas eu achei que poderia pôr meu chapéu em uma das poltronas, se você se recusasse a vir.

Hermione sorriu francamente.

-Eu sempre ouvi dizer que um texano de verdade põe seu chapéu no chão e suas botas no porta-chapéus.

Ele levantou uma bota de couro trabalhado e estudou-a.

-Sim, acho que poria minhas botas no lugar vago, para falar a verdade, mas eu prefiro ver você nele.

Hermione levantou-se e recolheu seus papéis.

-Eu preciso ver o Sr.Blake, meu chefe.

-Eu espero.

Depois que informou ao chefe sobre sua demissão. Hermione pegou a bolsa, acenou para os amigos e saiu silenciosamente com Harry. Sentia-se estranha, e sabia que estava fazendo uma insensatez. Mas amava-o demais para rejeitá-lo. Só esperava que ele não notasse como estava vulnerável.

Ele levou-a de carro ao seu apartamento e ficou perambulando pela sala de estar enquanto ela fazia as malas. Seus dedos tocaram nas lombadas dos grossos volumes na pequena estante de livros e murmurou, tentando conversar para amenizar a tensão:

-Os Tudors da Inglaterra, Grécia, Antiga, Heródoto, Tucídices... É uma coleção e tanto.

-Eu gosto de História. É interessante ler sobre como os outros povos viviam em outros tempos.

-Sim, eu também acho. Eu prefiro a história da América. Tenho uma boa coleção de informações sobre o período dos comanches e cowboys no sul do Texas, desde a Guerra civil até hoje.

Ela levou sua mala para a sala de star, observando-o. Era tão atraente, másculo.

-Nós não sabemos realmente muita coisa um sobre o outro, não é mesmo? - comentou Harry, quando ela se aproximou.

Ele se virou, com as mãos nos bolsos, um tanto inseguro.

-Procurar conhecer as mulheres não é um de seus interesses preferidos, pelo que pude notar. Pelo menos não de uma maneira intelectual - Hermione falou seca.

-Eu já tentei lhe explicar o motivo. Não é fácil aprender a confiar nas pessoas.

-Bem,isso não interessa mais - ela cortou. - Já arrumei a bagagem.

Ele olhou para a pequena mala perto da porta.

-Tem o bastante para algum tempo?

-O suficiente para mais ou menos uma semana. Você não disse quanto tempo eu devia ficar.

Ele suspirou pesadamente.

-Isso é algo que deixemos para mais tarde. Neste exato momento,eu só quero voltar para casa... Seu apartamento tem muita coisa de você. É vistoso, é alegre. Muito agradável e aconchegante.

-Ele não tem um rio interno.

Ele sorriu lentamente..

-Não,não tem. O que é bom. Considerando-se meus antecedentes até agora, acho que eu estaria dentro dele a esta altura..

Sentindo-se embaraçada, Hermione pigarreou.

-Eu não tive intenção de jogá-lo no rio.

-Não? Pois me pareceu que sim, na ocasião. Mas eu falei sério, Hermione. Nada mais de propostas.

-Eu agradeço, só não devia ter deixado as coisas chegarem aonde chegaram.

Aproximando-se, ele pôs as mãos em seus ombros.

-O que nós fizemos foi muito especial. Eu não poderia ter parado tanto quanto você. Mas não vamos mais olhar para trás. Essa parte de nosso relacionamento está terminada.

Ele parecia tão resoluto, que Hermione sentiu-se estranhamente magoada.

-Por mim tudo bem - respondeu ela, com a cabeça baixa.

Ele olhou para seus cabelos escuros e sedosos, cheirou o suave perfume floral que emanava dela, e seu coração começou a palpitar. Fazia tanto tempo que não a segurava, que não a beijava. Queria fazê-lo desesperadamente, mas acabara de atar as próprias mãos, prometendo não começar nada. Então, iniciou uma conversa leve sem envolvimentos.

-Você gosta de gatinhos? - perguntou inesperadamente.

Ela levantou os olhos, interessada.

-Por quê?

Ele sorriu.

-Nós temos alguns. Berta encontrou uma gata miando na porta dos fundos num dia de chuva e não se conteve. Na manhã do dia seguinte tivemos quatro gatinhos com olhos tão castanhos quanto... os seus.

-Você a deixou ficar com os gatinhos?

Mexendo-se pouco à vontade ele respondeu:

-Bem, estava chovendo. Os pobrezinhos se afogariam se eu os pusesse para fora.

-E então...?

-Bem... O primo Rick tem uma alergia danada por gatinhos.

Hermione riu, achando-o incorrigível.

-Oh, seu monstro sem coração!

-Mas eu gosto de gatinhos. Se ele não gosta, ele que se retire,não é mesmo? Quer dizer,ninguém o está segurando.

-Harry,você simplesmente não deixa Rick em paz, deixa?

-Claro que sim, se ele for embora e deixar meu touro em paz. Meu Deus, você não imagina como me esforcei para colocar aquela criatura em meu programa de criação. Eu cobri os lances de dois mais ricos criadores de gado do Texas.

-E agora o primo Rick o quer. Por quê?

Ele suspirou.

-Sei lá, provavelmente para a agência de publicidade dele.

Ela sentou-se no sofá.

-Ele quer seu touro para uma agência de publicidade?!

-Agência de publicidade... Oh, não, ele não vai usar o touro para pousar para comerciais de roupas intimas masculinas! Ele quer vendê-lo para financiar a expansão da agência!

-Bem, não olhe feio para mim. Do jeito que você falou, tive a impressão de que ele queria fazer um modelo masculino do bicho.

Harry suspirou pesadamente.

-Mulher, você ainda vai ser a minha ruína.

-Você não pode simplesmente mandar o primo Rick embora?

-Eu já fiz isso! Berta também, mas cada vez que conseguimos levá-lo até a porta da frente, ele telefona para minha avó e ela faz um barulho dos diabos por nós não oferecermos a ele nossa hospitalidade.

-Ela deve gostar muito dele.

-Mais do que gosta de mim,eu receio. Escute, eu lhe darei um dos gatinhos, se você quiser.

-Isso é suborno - retrucou ela sorrindo.

-Claro que é. Eles vão permitir que você crie um gato aqui?

-Acho que sim. Eu nunca perguntei.

-Bem,talvez não queira voltar para cá. Afinal você pode gostar de trabalhar para mim. Sou um bom patrão. Você poderá ter os domingos de folga, e eu só a manterei no computador até as nove horas da noite.

-Seu feitor de escravos!

Ele ficou sério de repente, a conversa tornou-se mais intima, empurrando-os um para o outro.

-Eu sou velho para você?

-Não. Eu não acho que você seja velho.

-Para uma criança como você, acho que devo parecer velho - insistiu ele, sondando seus olhos castanhos.

Ela baixou os olhos.

-Você disse que o passado estava encerrado. Que nós o esqueceríamos

-Sim, creio que disse, pequena. Está bem. Se for assim que você quer.

Ela levantou os olhos de repente e encontrou uma expressão estranha no rosto dele.

-Estamos num impasse,não acha? Você não quer uma esposa, e eu não quero um amante temporário e sem compromisso. Então tudo que realmente nos resta é a amizade.

Ele segurou o chapéu com mais força.

-Você faz parecer vulgar.

Ele levantou-se

-Não é? Você teria todos os benefícios de uma vida de casado,sem nenhum compromisso. E o que eu ganharia, Harry? Um pouco de notoriedade como amante do patrão e depois que você se cansasse de mim, eu receberia um presente caro de despedida e seria deixada sozinha com minhas memórias. Nenhuma consideração, nenhum respeito próprio, toneladas de sentimentos de culpa e solidão. Acho que é um mau negócio.

-Oh! Você! O que você sabe sobre problemas de adultos.Você, com sua consciência imaculada? É tão fácil, tudo preto no branco. Você provoca um homem com o corpo até deixá-lo louco, tenta levá-lo a um casamento que ele não deseja, leva tudo que pode e sai pela porta da frente. O que o homem ganha com isso?

A explosão dele chocou-a. E, numa fração de segundo, ela entendeu tudo o que acontecerá com ele.

-Foi isso que ela lhe fez? Ela o provocou até que você não suportasse mais e então se casou com outro homem, por que o que você lhe deu não bastava?

Harry não respondeu, mas a expressão de seus olhos dizia o que Hermione queria saber.

-Quer que eu diga o que a maioria das mulheres deseja realmente do casamento? Elas querem a proximidade e o carinho de um homem por toda a vida, Harry. Cuidar dele, se importar com ele, fazer pequenas coisas por ele, amá-lo... Dividir com ele os tempos bons e maus. Um bom casamento não tem muito a ver com dinheiro, mas a confiança e a dedicação mútuas fazem toda a diferença. O dinheiro não pode comprá-las.

-Bonitas palavras - disse ele, com amargura.

-Bonitos ideais. Eu acredito neles e algum dia encontrarei um homem que também acredite.

-Em algum cemitério talvez.

-Você é tão cínico!

-Tive bons professores. Você está pronta? - concluiu ele, colocando o chapéu na cabeça e baixando a aba sobre os olhos.

-Sim, estou.

Ele pegou a mala com uma das mãos e abriu a porta do apartamento com a outra. Hermione o seguiu e trancou a porta com um suspiro e guardou a chave na bolsa. Sua vida estava tão imprevisível! Tal qual o homem que estava a seu lado.

O vôo comercial pareceu demorar uma eternidade. Hermione comprara algumas revistas no Aeroporto Internacional de Atlanta e isso foi bom, porque Harry puxou o chapéu sobre os olhos cruzou os braços e não falou mais nada. As comissárias de bordo já estavam servindo comida. Hermione sabia ao mordiscar um sanduíche de queijo e presunto, que ele devia estar furioso ou doente, pois nunca recusava comida por nenhum motivo.

Ela suspirou e olhou para ele. Lá vinha guerra outra vez.

-Não está com fome?

-Se tivesse com fome, eu estaria comendo,não estaria?

Ela deu de ombros.

-Então vá em frente e morra de fome. Estou pouco me importando.

Harry ergueu a aba do chapéu e olhou-a irritado.

-Uma pinóia que não se importa! Você e sua conciênciazinha pura sofreriam durante meses.

-Não por sua causa. Afinal é você mesmo que está se matando de fome. Eu não fiz nada.

- Você estragou meu apetite.

-E como foi que eu fiz isso? Mencionando a palavra casamento? Algumas pessoas não se importam em casar, sabe? Eu mesma espero fazê-lo qualquer dia destes. Como vê, eu não tenho sua opinião doentia. Acho que tiramos de um relacionamento aquilo que colocamos nele.

-E exatamente o que planeja colocar nele?

-Amor,riso e muito diálogo. Eu espero ser tudo o que meu marido desejar, na cama ou fora dela. Portanto, siga em frente e tenha seus casos,sr. Potter, até ficar velho demais para isso, e então poderá viver sozinho e contar seu dinheiro. Eu deixarei meus netos irem visitá-lo de tempos em tempos.

Ele parecia todo inchado de indignação.

-Eu posso me casar a qualquer hora se quiser, as mulheres me perseguem para que eu me case com elas!

Hermione assobiou baixinho.

-É mesmo? E você está chegando aos quarenta ainda solteiro...

-Eu estou chegando aos trinta e seis e não aos quarenta.

-Que diferença faz?

Ele abriu a boca para responder, olhou-a ferozmente e então puxou o chapéu sobre os olhos com uma prega sussurrada. Não falou com ela de novo até o avião pousar em San Antonio, Texas.

-Vai me ignorar durante o resto do caminho? - Hermione finalmente perguntou, quando estavam no carro a apenas poucos minutos de Ravine.

-Eu não posso manter uma conversação civilizada sem que você estoure comigo

-Eu pensei que fosse o contrário. É você quem está aí rosnando, não eu. Eu só disse que queria me casar e ter bebês.

-Quer parar com isso? Eu fico com urticária só em pensar nisso.

-Não vejo por quê. Os bebês serão meus, não seus.

Ele rangia os dentes. De repente, se lembrou de algo em que não havia pensado. O primo Rick era jovem, bem apessoado e queria se estabelecer. Ele daria uma olhada em Hermione e se apaixonaria por ela. Rick não era como Harry, era despreocupado e suas emoções ficavam quase na superfície. Não tinha cicatrizes de Alisson, e não tinha medo do amor. E lá estava Harry, trazendo para ele uma vítima perfeita. A única mulher que já desejara e não conseguira. Rick talvez fosse o felizardo... De repente, ele pisou no pedal do freio com força.

- O quê foi? - gritou Hermione, ofegando ao segurar o painel - O que foi?

- Apenas um coelho. Desculpe.

Ela o fitou com os olhos arregalados. Não vira nenhum coelho, e ele estava realmente muito pálido.

-Você está bem? - perguntou cautelosamente, com a voz refletindo preocupação.

E essa foi a gota d'água para Harry. Ele se sentiu vulnerável com ela. Não queria saber de casamento, laços ou bebês! Mas, ao olhar para ela sentia anseios tão doces, um prazer tão intenso. Não tinha nada a ver com sexo ou paixão despreocupada. Era... Perturbador.

-Sim, eu estou bem.

Um pouco mais adiante, ele entrou numa estrada de fazenda que era pouco mais que sulcos na grama.Ela seguia até além de uma cerca fechada e atravessava um pasto em direção a um grupo distante de árvores.

Ele comentou, ao desligar o motor do carro:

-Está propriedade era de meu avó. Meu pai nasceu exatamente ali, onde você está vendo aquelas árvores. Era uma cabana de um cômodo só naquela época, e minha avó uma vez enfrentou um grupo comanches com um velho rifle, enquanto meu avó estava no Kansas conduzindo uma boiada.

Então,saiu do carro e abriu a porta para ela, acrescentando:

-Eu conheço o proprietário. Ele não se incomoda que eu venha aqui. Às vezes, gosto de rever este velho lugar.

Ele não perguntou se Hermione também queria vê-lo. Apenas estendeu-lhe a mão. Sem hesitação, ela segurou-a e sentiu um arrepio por todo o corpo quando os dedos se encontraram.

Hermione se sentia pequena ao lado dele enquanto caminhavam. Ele abriu e fechou a porteira,sorrindo ao ver seu olhar de curiosidade.

-Qualquer criador de gado sabe o valor de uma porteira fechada - comentou ele ao segurar outra vez a mão dela e caminhar ao longo dos sulcos úmidos. Chovera recentemente e ainda havia poças de lama. - Antigamente, um rancheiro seria capaz de atirar em algum vaqueiro novato que largasse a porteira aberta e deixasse seu gado fugir.

-Houve realmente, ataques de índios por aqui?

-Ora, claro, pequena. Principalmente comanches... Sabe, eu nunca me canso desta terra. Acho que é por causa de minha descendência irlandesa. Minha avó diz agora que é britânica, mas cá entre nós, eu não creio que Evans seja um nome britânico e esse era o nome de solteira de minha bisavó.

-Vai ver que sua avó não gosta de irlandeses.

-Talvez não, desde que ela tomou um fora de um impetuoso irlandês durante a guerra.

-Qual guerra?

-Eu tenho até medo de perguntar. Eu não sei ao certo que idade ela tem. Ninguém sabe.

-Oh! Puxa! - Hermione exclamou com uma risada.

Ele a observou com um sorriso franco, fascinado com a mudança que se operava nela, quando estava em sua companhia.

Aquela mulher pálida e silenciosa do banco não tinha nenhuma semelhança com está, alegre e bonita. Ele franziu a sobrancelha, observando-a perambular por entre um grupo de árvores.

Hermione se virou de repente, com o rosto iluminado de encantamento.

-Harry, veja!

Havia rosas perto dos degraus da velha cabana. Uma profusão de rosas cor de vinho em pequenos cachos, e seu perfume estava em toda parte.

-Não são lindas? - disse encantada, curvando-se para cheirá-las - E que perfume divino!

-Conta a lenda que a avó de meu pai, a sra. Evans trouxe essas mesmas rosas do Condado de Calhon, Geórgia, plantou-as e cuidou delas como bebês até que elas criassem raízes aqui. Ela as trouxe num vaso, atravessando a fronteira numa carroça, e salvou-as do fogo, de enchentes, de travessia de rios, de ladrões, índios e criancinhas curiosas. E elas ainda estão aí, como a terra... A terra estará aqui por mais tempo que qualquer um de nós e mudará muito pouco, apesar de toda nossa interferência.

Ela sorriu.

-Você parece mesmo um rancheiro - comentou.

Harry virou-se

-Eu sou um rancheiro.

-Não é um homem do petróleo?

Ele deu de ombros.

-Eu costumava achar que o petróleo era a coisa mais importante do mundo. Até que consegui bastante dele. Agora não sei mais qual é a coisa mais importante. Toda minha vida parece ter ficado de cabeça para baixo ultimamente. Eu era um homem feliz, até que você chegou - concluiu ele, olhando-a diretamente.

-Você era um vegetal quando cheguei. Achava que era direito roubar das pessoas - provocou-o sem piedade.

Os olhos verdes reluziam.

-Ora, sua diabinha. Sua diabinha!

Hermione riu porque havia tanto de travessura quanto de ameaça naquele olhar. Ela começou a correr pela campina, uma figura de sonho com uma saia rodada cinza, uma blusa cor-de-rosa e cabelos escuros cintilando ao sol. Harry correu atrás dela em tempo de captar o brilho colorido de alguma coisa se movendo bem em frente a ela na grama.

-Hermione! Pare!

Ela o fez, com um pé estacionado no ar. Não olhou para baixo. Com seu terror inato por cobras, sabia instintivamente o que ele estava lhe avisando.

Parado perto de um tronco de carvalho caído, ele murmurou:

-Não se mexa, querida. Não se mexa, não respire. Está tudo bem. Apenas fique quietinha...

Ele moveu-se com a velocidade de um raio, apanhando um ramo pesado e descendo-o com toda a força. Houve um chocalhar febril, e então só uma massa sangrenta,retorcida e enrolada no chão.

Hermione ficou muda de terror, seus olhos presos naquilo que, poucos segundos antes, podia ter-lhe tirado a vida. Começou a falar, para dizer a ele como estava agradecida, quando ele a tomou nos braços e a beijou impetuosamente.

Ele a machucava, e ela mal notava. A boca dele dizia coisas que as palavras não conseguiam. Ele temia por ela, e a protegeria. Hermione deixou-o dizer tudo isso dessa maneira, feliz com a força dele. Seus braços enlaçaram aqueles ombros fortes, e ela suspirou debaixo da boca masculina, quente e faminta, saboreando seu tempestuoso ardor.

-Meu Deus - ele desabafou,com os olhos sombrios, pálido debaixo do bronzeado - Meu Deus, mais um passo e ela a teria picado!

-Eu estou bem,graças a você - ela conseguiu sorrir trêmula, com os dedos deslizando pela face áspera, pela boca exigente. - Obrigada.

-Então me agradeça - murmurou, abrindo a boca ao se curvar para seus lábios. - Me agradeça...

Hermione o fez, com tanta volúpia que ele teve que afastá-la ou não seria capaz de controlar-se. Segurou-a pela cintura, respirando irregularmente, observando seu rosto afogueado.

-Nós concordamos que isto não aconteceria mais - lembrou-a Harry.

Hermione assentiu, sondando os olhos dele.

-Mas as circunstâncias eram... inusitadas - continuou ele.

Ela olhou languidamente para aqueles lábios firmes.

-Sim. Inusitadas - repetiu rouca.

-Pare de me olhar desse jeito, senão não vamos parar nos beijos. Você sentiu o que estava fazendo comigo.

Ela desviou os olhos e afastou-se.

-Bem, obrigada por me salvar - disse, cruzando os braços sobre os seios ao caminhar de volta ao carro e evitando olhar para a cobra ao passar.

Ele falou atrás dela:

-Olhe bem onde pões os pés, está bem? Um susto como este já basta.

Susto para quem. Ela quis perguntar. Mas estava extenuada demais para fazê-lo. Sua boca ansiava pela dele. Mal podia suportar ficar tão perto e tão longe. Como iria agüentar duas ou mais semanas neste tormento? Estar perto dele e não ter nenhuma esperança de um futuro que o incluísse?



Obs: Primeiramente eu gostaria de agradecer a Monalisa pelo toque sobre o pequeno erro do capitulo anterior... Como essa história não é minha, as vezes acabam passando pequenos erros pelos meus olhos e eu não vejo. por isso peço que caso eu esqueça de trocar algum nome no capitulo vocês me digam, ok? Proximo capitulo quem sabe amanhã?Hoje também estou terminando "Da magia à sedução"... espero que tenham gostado dessa fic!!!!Até amanhã atualizo "O Senhor da Paixão"!!!!Bjux!!!

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