O Negócio



O Negócio




Era um dia de sol muito forte, mas a sensação à beira do mar, com as ondas resvalando por seus pés descalços, a brisa marítima lambendo-lhe os cabelos negros e o marulho suave chegando à seus ouvidos, era de total conforto. A jovem de cabelos negros ia caminhando, elevando o vestido a cada onda que vinha, evitando assim molha-lo. Cada vez que fazia isso sentia o sorriso e o olhar do jovem que a acompanhava. Ela divertia-se como uma criança, enquanto ele tentava manter o ar mais sério, mas falhava a cada sorriso que não conseguia conter. A jovem, de aparência muito nobre, tinha as longas madeixas negras soltas sobre os ombros, voando ao sabor do vento, olhos de um azul escuro quase negro e pele corada, como era saudável, segundo diziam seus pais. Bellatrix Black sempre fora uma jovem saudável. Já seu acompanhante, era pálido como um cadáver, e isso era realçado pelo negro de seus olhos e cabelos. Rabastan Lestrange, ao contrário de Bellatrix, nunca fora tão saudável assim...
Rabastan parou um instante, com o olhar perdido na imensidão azul que era o oceano. Bellatrix notou sua parada, e voltou até onde o jovem estava. Parou ao seu lado, e um tanto receosa, perguntou:
- Rabastan, tudo bem? Você parece um tanto desligado, está com algum problema?
Rabastan não respondeu imediatamente. Estava pesando cuidadosamente as palavras que queria dizer. Tinha medo da reação que Bellatrix poderia ter. Mas sabia que era o momento certo de dizer o que sentia, talvez nunca tivesse outra oportunidade...
- Bella, eu tenho que lhe dizer algo muito importante. - Os olhares de ambos se encontraram, e isso deu coragem a Rabastan, que sem pestanejar, disse o que vinha pretendendo- Eu... uhm... não sei outra forma de lhe dizer isso..., mas é simples: Eu te amo.
Pronunciou as palavras o mais rápido que pôde, para não correr o risco de se amedrontar no meio da frase. A primeira vista, Bellatrix nem ouvira o que ele dissera, pois apenas continuou olhando-o sem qualquer reação. Os segundos arrastavam-se, e Rabastan começou a sentir a ausência de oxigênio a sua volta. Já se passara uma eternidade, uma vida toda, pensava ele, e ela não respondia. Mas então, ela sorriu, e sem pronunciar nenhuma palavra, começou a se aproximar. Com a mão acariciou o rosto do rapaz, e foi chegando mais perto. Estavam quase com os narizes se tocando, quando ela fechou os olhos, e então...

- Hora de acordar meu senhor. Duas mãos ossudas de elfo doméstico sacudiam-no freneticamente, tentando despertá-lo do sonho. Ele lutava inconscientemente para continuar a dormir, mas sabia que agora o sonho já tinha perdido sua magia.
- Chega Dibs, já acordei. Não entendo porque me sacudir assim, eu estava dormindo, e não em outro plano. Das palavras que dissera, o elfo só entendera "Dibs", que era seu nome, e parou de sacudi-lo.
- Milady Eugênia manda acorda-lo , ou então perderá o café da manhã. O elfo circundava a cama puxando os cobertores e tentando livra-los de seu jovem amo. Rabastan levantou-se mal-humorado, e vestindo o primeiro sobretudo que encontrou, rumou diretamente para o lavabo. Lavou vigorosamente o rosto, na esperança de livrar-se das imagens ainda nítidas do sonho que tivera, porém fora um esforço inútil.
Caminhou displicentemente em direção a sala de jantar, onde seus familiares já estavam comendo e conversando. Seu pai, Adolfo Lestrange sentado ao extremo da mesa, lia o jornal enquanto tomava café. Era um homem corpulento, sempre bem vestido, mesmo que recém acordado ou à mesa. Seus cabelos cinzentos, eram bem cortados e penteados, assentados exatamente como mandavam as leis da boa apresentação. Já a mãe, Eugênia Lestrange sentava-se no outro extremo da mesa. Muitos achariam estranho a distância entre ambos, mas Rabastan sabia que aquele casamento era somente fachada a muito tempo. Apesar de ter a mesma idade de seu marido, seus cabelos ainda apresentavam o castanho-escuro pulsante de sua juventude. Também prezava a imagem acima de tudo, o que ficou explicito quando ela viu Rabastan entrando na cozinha de pijamas. A cara de indignação que fez foi horrível. O rapaz contornou a mesa e foi sentar-se em frente ao irmão mais velho, Rodolfo, que comia animadamente, enquanto cantarolava baixinho. Ao ver o irmão mais novo sentar à sua frente, Rodolfo não se conteve e começou a gargalhar exaltadamente.
- Será que é impossível para você acordar na hora certa, pelo menos uma vez Rabastan? Eugênia perguntou tão ácida e repentinamente que varreu a gargalhada de Rodolfo dos pensamentos do jovem. Mas o irmão fez questão de deixar claro o porquê de estar tão "alegre".
- Ora mamãe, não pode cobrar tanto do Stan, afinal ele teve uma noite muito ocupada, sonhando com sua "amiguinha". Rabastan corou imediatamente ao ouvir aquelas palavras, mas não de vergonha, e sim de raiva.
- Eu já lhe disse para não usar sua maldita Legilimência em mim enquanto durmo! Rodolfo apenas voltou a rir, enquanto sua mãe olhava-o com um misto de pena e divertimento, e seu pai ignorava a cena categoricamente.
- Ora Rabastan, se você deseja tanto assim ter alguma coisa com a jovem Bellatrix, tome uma atitude digna de um Lestrange e convide-a para jantar conosco. O jovem apenas baixou a cabeça e começou a comer seu mingau de aveia. Rodolfo, mais uma vez aproveitou-se da frase da mãe para emendar um comentário irônico:
- Não peça a ele coisas que ele não pode fazer mãe. Ele já cerca a Bella a muito tempo, mas nunca sequer segurou sua mão. - Rabastan fingiu que não ouvia, mas Rodolfo continuou- Mas seria uma boa idéia convida-la para jantar, pois se ele não tomar uma atitude, tomarei eu. Aquela Black não é de se jogar fora... Rabastan perdeu a paciência e jogou uma colher em Rodolfo, acertando-lhe o meio da testa. Isso foi demais, tanto para sua mãe quanto para seu pai. Eugênia correu ao filho mais velho, para ver se este estava bem, enquanto Adolfo dobrou o jornal, e bateu na mesa, chamando um criado. Dois elfos domésticos vieram correndo da cozinha, e pararam prontamente ao seu lado.
- Tirem o prato do jovem petulante aqui, pois ele já terminou seu café. Virou-se para Rabastan, com sua expressão muito particular de mercante, próximo a fazer um excelente negócio. - Rabastan, por mais inútil que você possa ser, essa idéia de casamento é muito boa. Unir nossa família com os Black, conhecendo-se o poder que eles tem seria uma jogada de mestre. Façamos o seguinte: Eu marcarei esse jantar, e negociarei... ou melhor, arranjarei o casamento com a jovem Bellatrix. Todos saímos felizes, não é verdade? Agora vá para seu quarto, e esteja apresentável no jantar.
Rabastan nem respondeu, apenas levantou-se da cadeira e, segurando com todas as suas forças a vontade de pular de alegria, rumou para seu quarto.
- Tem certeza de que isso é uma boa idéia Adolfo? Eugênia esquecera do filho mais velho, olhando boquiaberta para seu marido. Sempre soubera que ele era um negociante genial, mas parecia que agora a idade anuviava suas habilidades.- Não consigo acreditar, nem por um momento, que os Black aceitarão o casamento de sua primogênita com um palerma como o Rabastan.
Adolfo olhou para Rodolfo, e um entendimento criou-se entre ambos. Rodolfo apenas sorriu, e olhando para a expressão ainda confusa da mãe, ergueu-se da cadeira dizendo:
- Bem mamãe, papai disse que o casamento entre um Lestrange e um Black seria bom, mas não mencionou “qual” Lestrange...

***



O sol da manhã ardia no céu, quando Rabastan terminou de se arrumar e escorou-se à sacada de seu quarto. Esquadrinhava o horizonte a procura de algum sinal de sua coruja, Fable. Mandara a coruja à casa de Bellatrix. Desejava falar com ela antes do jantar, para tentar adiantar o assunto e talvez, prever sua reação. Apesar de serem amigos a dez anos, jamais soubera, ou entendera, de que forma funcionava o coração de sua amiga. Talvez ela adorasse a idéia, talvez isso fosse o suficiente para que uma paixão nascesse entre ambos, mas talvez, esse pedido de casamento acarretasse uma desgraça.
Rabastan e Bellatrix foram colegas em Hogwarts, ambos na Sonserina. O fato de serem de famílias puro sangue os uniu desde o início. Juntaram-se já no vagão do trem, insultando os sangue-ruins que passavam, os pobretões que entravam no trem com roupas puídas e malões descascados, e as pessoas deploráveis que despediam-se na estação. Ambos foram sozinhos a estação. União familiar era uma expressão que não conheciam. Bellatrix tinha duas irmãs, porém ambas mais novas que ela, logo, seria a primeira a entrar em Hogwarts. Já Rabastan, sempre vivera a sombra de seu irmão Rodolfo, e agora em Hogwarts não seria diferente. Rodolfo já estava no quarto ano, e era muito conhecido por ser colega de Tom Riddle, um aluno brilhante da Sonserina.
Absolutamente todos que conhecia queriam apenas aproximar-se de seu irmão, e poder tirar vantagens. Era assim que Rabastan pensava quando jovem, até que conheceu Bellatrix. Lembrava-se todos os dias da primeira vez que ela viu seu irmão, esparramado na sala comunal, rindo, e paquerando algumas alunas que ali estavam.
“- Que otário! Disse Rabastan, não conseguindo ocultar a inveja.
- Ora, até parece que tem inveja Stan, talvez você quisesse um monte de menininhas histéricas, estúpidas e sem nenhum conteúdo pulando ao seu redor, como macacos.”

Aquilo, sem dúvida, criou um laço de amizade entre ambos. Laço esse que perdurou durante toda a época de escola, e nos anos seguintes. Jamais tiveram outros amigos, colegas sim, inúmeros, mas amigos mesmo, só eles. Após o término da escola, perderam um pouco o contato, apesar de morarem na mesma cidade, pois Rabastan fizera uma viajem à Bulgária, afim de aprimorar-se nas “Artes Eficientes”, que era como seu irmão chamava as Artes das Trevas. Retornara havia seis meses, e desde então reatara a amizade com Bellatrix, trocando corujas e visitando-a sempre que possível. E agora, esse casamento.
Vislumbrou ao longe a silhueta de Fable aproximando-se, com a resposta de Bellatrix. A coruja pousou em seu braço, e dando-lhe uma leve bicadinha, esperou o bilhete ser removido para voar para sua gaiola. No bilhete, viam-se só duas palavras; “Pode vir”. Rabastan amassou o bilhete e, sem pestanejar, girou nos calcanhares, desaparatando.

***


Bellatrix conversava com a irmã mais nova, Narcisa, sobre o último baile de gala londrino em que estiveram, ambas discutindo sobre Lucius Malfoy, o jovem que tirara Narcisa para dançar no baile.
- Ele é tão charmoso, e vem de uma família de sangue puro e muito rica. Seria muito para mim, desejar que ele casasse comigo... Suspirava Narcisa. Bellatrix caminhava pelo quarto, rindo-se da atitude da irmã. Achava ridículo aquele “desejo” de arrumar um bom marido.
- Ora Cissa, não seja ridícula, Lucius é que deve suspirar por você, e não o contrário. E lembre-se do que eu digo, desses riquinhos, tire o dinheiro, e depois, livre-se do corpo.
Narcisa sorria, mantendo a classe, mas divertia-se muito conversando com sua irmã. Bella era um exemplo de Lady, sempre fria, sempre altiva, sem expressar qualquer abalo ou sentimento, que eram coisas da plebe, como ela mesmo vivia a dizer. Essa sua imagem de indiferença só era prejudicada por sua amizade com Rabastan. Somente quando em companhia dele ela demonstrava um pouco de humanidade. Para o amigo, dispensava um tratamento especial, mantendo a ironia, mas com muito respeito. Seu principal divertimento era humilhar pessoas “menos dotadas de inteligência”, e quando tinha Rabastan a seu lado, eram o terror dos criados. Fora assim em Hogwarts, e isso mantinha-se até hoje.
Ambas ainda conversavam quando ouviram a campainha soar no térreo. Bellatrix interrompeu a irmã e dirigiu-se ao hall de entrada, chegando no momento que Rabastan entrava na casa.
- O que há de tão urgente assim Stan, que o fez vir até aqui? Bellatrix descia as escadas, sua mão deslizando pelo corrimão, os cabelos, ainda apresentavam resquícios da noite de sono, pois vinham despenteados e soltos, porém mesmo assim, ela não perdia a beleza. Vestia um vestido casual preto, e sem maquiagem ou jóias, estava completamente descontraída, porém na presença de Rabastan sempre comportava-se formalmente.
- Não é tão importante, vim aqui apenas porque desejava sua companhia, e também porque não suportava mais aturar meu irmão pavoneando-se pela casa, como se tivesse ganho o torneio Tribruxo.
Rabastan terminou a frase e correu o olhar pela sala, nitidamente desviando-o do olhar de Bella. Ela, conhecia bem demais o amigo para não notar essa esquiva. Parou de chofre ainda a uns três degraus do chão, e olhou-o de cima a baixo. Ele já tivera dias melhores. Em Hogwarts ele, no mínimo, seguia as regras de etiqueta, mas agora, estava completamente perdido. O cabelo não seguia nenhum padrão imaginável. As roupas, vestidas sem critério, aparentemente eram usadas com o único intuito de cobrir o corpo. Mas, apesar de tudo, ele ainda mantinha a beleza “exótica” que sempre possuíra.
Bellatrix desceu a escada e dirigiu-se para a cozinha, chamando Rabastan com um gesto. Entrou na cozinha e ordenou as criadas que trouxessem o café, pois estava faminta. Rabastan sentou a mesa, e correu os olhos pelo Profeta Diário ali estendido. A manchete falava sobre o assassinato de uma nobre senhora, encontrada envenenada na própria casa. Aparentemente a responsável teria sido a elfa doméstica, não por maldade, e sim por um engano, causado pela idade avançada.
- Uma legítima herdeira de Hufflepuff não acha? Bellatrix sentara-se a frente de Rabastan, e ria-se da manchete.
- Olhe a foto. Ela não morreu envenenada, morreu por excesso de comida. Por Merlin, olhe o tamanho dessa mulher.
Ambos gargalhavam, sem a mínima consternação pela morta. As criadas chegaram carregando travessas repletas de comida, e foram repousando-as na mesa, entre os dois jovens, que ainda apresentavam os olhos marejados de riso.
Bellatrix recobrou o fôlego, e olhando fixamente para o amigo, resolveu matar a “pulga que se instalara atrás de sua orelha”.
- Sem esquivas agora Stan. Olhe nos meus olhos e me conte o que há de tão importante, que o fez vir até aqui a essa hora da manhã. E não tente me enrolar, eu te conheço a tempo demais para cair em qualquer truque.
Rabastan engoliu em seco. Nunca conseguira enganar aqueles olhos azul-escuros. Era como se ela estivesse usando Legilimência contra ele. Mas não podia lhe contar sobre o casamento. Não agora. Talvez, se fingisse muito bem, poderia passar a idéia de que também não sabia do casamento. Mas nunca fora um bom ator. E seu irmão com certeza daria com a língua nos dentes. Propositalmente. Não, era melhor não lhe contar nada. Mas como fugir àqueles olhos?
- Bom, a notícia que tenho para lhe dar é um tanto revoltante... - Bellatrix empertigou-se na cadeira, triunfante por ter vencido as resistências do amigo – mas eu ouvi uma conversa dos meus pais com meu irmão. Parece, que ele está pensando em casar. Bellatrix começou a rir.
- E...? Sinceramente, é o rumo natural das coisas. Só quero saber uma coisa, quem é a infeliz? Eu quero ter alguém de quem poder rir nos próximos dias.
- É. Ai é que está a parte engraçada da história. - Ele bebeu um gole de chá, aumentando a tensão do ambiente. Bella já estava sentada na ponta da cadeira, embevecida pelas palavras que seu amigo ia dizer. – A infeliz... – ele parou e suspirou, enquanto ela pulava de curiosidade reprimida - é você.






N/A; uhm... por onde começar... bom, esta é minha primeira fic solo, então sei lá o que esperar... não tenho muito o que comentar. Só para evitar mal entendidos, a Bellatrix descrita no sonho é apenas um sonho... nada de real...
Bom, agradecimentos especiais a minha assistente (huahauha) que me ajudou a postar o cap... tadinho de mim, um menino tão inexperiente...
Grazi, fico te devendo uma...
Bom, ai está... Enjoy it...and see ya!!!
P.S: criticas são bem-vindas! Indesejadas, mas bem-vindas...

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