LADY LOHANA E OUTROS MISTÉRIOS



CAPÍTULO XXIV


LADY LOHANA E OUTROS MISTÉRIOS



Sobressaltada por um sonho ruim, Hermione acordou por volta das oito e meia da noite sentindo a incômoda ardência na garganta e o peito doendo; na boca, um gosto de água barrenta e lodo, o corpo quente e suado. Sentou-se na cama e procurou algo para se calçar. Precisava beber alguma coisa. A lareira acesa havia aquecido o quarto no momento oportuno, mas agora este estava absurdamente quente. Olhou a sua varinha sobre uma cômoda e resolveu apagar o fogo da lareira.


_ Finite Ignis! – murmurou com voz rouca e apontando a varinha para o fogo na lenha que ardia em brasas. A mão estava trêmula, mas o resultado foi positivo. O fogo sumiu rapidamente. Dirigindo-se, então, para a janela, Hermione abriu-a e deixou uma brisa suave e fresca penetrar no ambiente. Caminhando para a porta, abriu-a e começou a descer os degraus, evitando pensar nos três andares que a separava da cozinha dos Weasley. Não podia simplesmente aparatar por lá... Estava se sentindo muito fraca e sua aparência devia estar horrível... “Quantas horas tinha dormido? Talvez umas quatro horas ou mais...” Chegando aos últimos degraus, ela escutou vozes de pessoas conversando na sala e a voz grave de um determinado ruivo se destacava dentre as outras.


_ Obrigada por ter vindo, Srta. Renge, mas Hermione não poderá escutar o que a senhorita tem a dizer. Na verdade, não creio que ela queira ouvi-la ou vê-la, de qualquer forma – dizia Rony em tom seco.


_ Não me agradeça, Sr. Weasley. Estou aqui, praticamente por que Harry Potter me intimou e os seus irmãos “engraçadinhos” ficaram de observar se eu cumpriria o acordo. Não estou mais “feliz” do que o senhor... – respondeu a bruxa de forma atrevida. _ E quero acrescentar que não tornarei a vir aqui falar com a sua namorada. Meus pais não irão gostar de saber que estou fora da escola. – completou Vacância Renge com um sorrisinho maldoso.


Hermione escutou as vozes de Fred e Jorge fazendo gracinhas. Ela não estava compreendendo bem sobre o quê eles conversavam. “Quem seria aquela moça?” Parou nos últimos degraus da escada ao voltar a ouvir a voz de Rony.


_ Quer dizer que o fato de ter destruído a minha vida não significa nada pra você? – Rony perguntou de forma já alterada. _ Só podia ser uma sonserina mesmo! De que outra forma você poderia conseguir um cara que não fosse enfeitiçando ele, hein? Maldita seja! – seus olhos azuis emitiam chispas de ódio.


_ Oh, Ronald Weasley! Quanto drama! – falou a bruxa de forma debochada _ Mais um pouco disso e eu me desmancharei em lágrimas... Você é um idiota! É claro que nem você nem a sua vidinha insignificante não significam nada pra mim... Não me arrependo do que fiz. Coloquei a bruxa maravilha na sua bebida, sim. E daí? Não é para isso que ela serve? Queria me divertir com as minhas amigas. Fiquei com vários caras naquela noite. Foi ótimo... Aliás – disse ela levantando-se e aproximando-se de Rony sedutoramente, o qual ainda estava sentando no sofá – Você beija muito bem... Tem “pegada”... Podíamos repetir nosso pequeno encontro... _ Rony sentiu asco e os músculos de sua face se retesaram. “Não podia bater em uma mulher, por mais ordinária que ela fosse...”


_ Eu sinto nojo de você, sua doida! – ele levantou-se tão rapidamente, empurrando a moça para longe dele que os gêmeos levantaram-se de chofre e Hermione, ainda na escada, tropeçou, quase caindo ao ver o que Rony fizera. Ao cambalear, ela derrubou um jarro da Sra. Weasley que ficava sobre o parapeito no final do corrimão. Todos se voltaram para ela, por causa do barulho.


_ Mione! – exclamou Rony correndo em sua direção. _ O que faz fora da cama? – disse ele, passando os braços em volta dela. Na sala, os gêmeos apoiaram Vacância Renge que se desequilibrou com o empurrão de Rony e quase caiu estatelada no chão.


_ Eu vim tomar água. – Mione respondeu, a voz ainda muito rouca. – Quem é ela, Rony? – perguntou. Mas antes de Rony poder responder a outra já havia se aproximado e estendeu a mão para Hermione, falando:


_ Muito prazer! Sou Vacância Renge. Aquela que ficou com o seu namorado na festa de formatura do ano passado... – disse isso com mórbido prazer e um sorrisinho patético nos lábios.


Hermione estreitou os olhos e, então, lembrou-se da outra. Apesar de tê-la visto apenas uma vez, jamais se esqueceria daquele cabelo louro-acinzentado de patricinha-metida-a-besta. Vacância ficou com a mão suspensa no ar, completamente ignorada por Hermione. Então, a ficha de Hermione caiu e ela entendeu toda a conversa que escutara da escada. Sem pensar duas vezes, ela fez o que deveria ter feito desde o dia daquele maldito baile de formatura. Uma súbita energia tomou conta de todo seu corpo e ela deu um tremendo soco no rosto da outra bruxa que caiu no chão gemendo de dor e xingando Hermione de todos os palavrões possíveis e inimagináveis.


_ Tirem ela daqui! – gritou Rony exasperado para Fred e Jorge, mas não porque a quisesse protegê-la, mas sim porque queria proteger Hermione das maldades daquela bruxa inconseqüente. Fred e Jorge desaparataram com Vacância Renge e a levaram direto para a enfermaria de Hogwarts. Antes de saírem, informaram para Rony e Hermione que de lá, voltariam para o apartamento no Beco Diagonal. Eles ainda escutaram os gêmeos ameaçando Vacância, caso ela contasse a alguém o que acontecera ali hoje, eles tratariam dela com alguns feitiços Weasley...


Rony e Hermione sentaram-se na cozinha. Antes, Rony pegou água para ela beber e conjurou algumas pedras de gelo, as quais envolveu num pano e passou a fazer compressa na mão de Hermione que o olhava enternecida.


_ Lembre-me de nunca merecer um soco de direita de Hermione Granger. – disse ele com um ar divertido. _ Pronto! Acho que não vai ficar inchada, apenas com uma leve mancha roxa. – ele beijou-lhe a mão.


_ Eu acho que nunca agradeço a você como deveria e da forma que você merece. Obrigada por tudo, Rony. – ela disse encabulada. _ Obrigada por hoje. Obrigada por cuidar de mim.


_ Acho que você pode pensar numa outra forma de me agradecer. – disse ele rindo maliciosamente. _ Posso fazer uma sugestão? – Hermione ficou tão desarmada com a maneira dele dizer essas palavras que empalideceu mais do que já estava.


“Quantas peças ela já perdera naquele jogo? Provavelmente umas sete” – pensou Rony – “Só agora abatera mais duas peças, talvez um bispo e um peão. Só faltava o xeque-mate, mas precisava analisar sua estratégia e pisar no terreno do inimigo cautelosamente, afinal, poucas peças restavam...”


_ Rony? – a voz de Hermione o trouxera de volta à realidade. Ela mudava de assunto. _ Onde estão sua mãe e Eileen?


_ Mamãe levou Eileen para dormir pouco antes de você descer. E já deve estar dormindo também... Ela acorda cedo, você sabe. Mas, diga-me Mione: Por que você sumiu no lago? Por que nadou pra tão longe?


_ Vai ser meio difícil de acreditar, Rony, mas eu vi alguém no lago... Dentro d’água, sabe? Uma mulher. Ela estava me chamando... Parecia querer me mostrar alguma coisa. – Hermione mordeu o lábio inferior e torceu as mãos nervosamente. O gesto não passou despercebido por Rony que colocou suas mãos sobre as delas para passar segurança.


_ Continue – ele pediu.


_ Eu mergulhei porque percebi que a algema ficou nítida em meu braço quando submersa na água, Rony. – ela suspirou – Queria ver o que acontecia.


_ Mesmo? – ele perguntou espantado.


_ É – ela olhou para ele. _ Desculpe-me pelo susto que fiz vocês passarem hoje, Rony.


_ Você não teve culpa, Mione. Olha – disse ele levantando-se e puxando Hermione pela mão. _ Vamos fazer um teste, ok? – Rony pegou uma bacia no armário da cozinha e colocou água dentro dela. Hermione logo entendeu o que ele queria fazer. A experiência revelou-se algo bem interessante. Enquanto observavam o que acontecia, ambos fitaram seus rostos refletidos na água. Os dedos se procuraram e se entrelaçaram.


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_ Minha senhora... Minha senhora... Preciso falar com a senhora...


_ Deixe-me, Ilis. Não está vendo que estou ocupada? – Lady Lohana começou a ficar indignada, apesar da paciência e serenidade que eram suas características principais. Ela estava ansiosa, dividida entre a preocupação com o irmão que havia sido molestado por uma maldição imperdoável em sua última viagem e estava debilitado e as responsabilidades que tinha como guardiã daquele local. Como se não bastasse, ainda era seguida por um fantasma que a perturbava insistentemente. Mesmo quando foi à cozinha dar ordens à cozinheira, ela percebeu que o espectro a seguia. _ Ainda está aqui? Não vê que enfrento problemas?


_ Mas minha senhora, é importante... – o fantasma insistia.


Lady Lohana suspirou resignada. Depois, foi aos aposentos da cozinheira e, desculpando-se por acordá-la da sesta vespertina deu ordens para que o chá fosse servido na sala de jantar.


_ Diga logo o que quer, Ilis. – ela disse, sem se voltar para o fantasma, continuando com alguns afazeres, agora, segurando uma pilha de lençóis brancos, recentemente lavados e dirigindo-se aos seus aposentos.


_ Temos visitas, minha senhora.


_ Visitas? Aqui em Avalon? – Lady Lohana sorriu de forma serena e desconfiada. _ Impossível, Ilis. – Então, ela percebeu que o fantasma ficara sério. _ Verdade? E quem é?


_ Harry Potter e um amigo. – o fantasma sorriu diante da cara de espanto de sua patroa.


_ Harry Potter por aqui? Isto é realmente algo surpreendente. Por que não me disse logo? – ela entregou a pilha de lençóis ao fantasma que, sem poder segurá-los, deixou-os cair ao chão e seguiu Lady Lohana até o saguão principal do castelo.


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Rony observava encantado a dança frenética daquelas micropartículas que rodeavam seu pulso e o de Hermione, formando o símbolo do infinito. Então, eles soltaram as mãos, mas ainda assim as deixaram dentro da água. Notaram que o símbolo se desfazia, mas as algemas permaneciam em cada um, tornando-se mais nítida. Porém, nada mais aconteceu. Cansados de esperar por mais algum fenômeno, eles retiram as mãos da água e as enxugaram.


_ Com fome? – Rony perguntou para ela. _ Ainda tem um pouco de jantar... É só esquentarmos.


Somente após Rony perguntar, Hermione percebeu que estava faminta. Talvez fosse bom comer algo quente... Talvez sua garganta melhorasse. _ Quero sim, Rony. Obrigada. Então, Hermione viu Bichento se aproximando e o colocou no colo, acariciando seu pêlo fofo e macio. _ E você, gatinho? Está com fome também?


_ Já o alimentei, Mione. Aliás, nós formamos uma bela dupla no jantar, não é mesmo, Bichento? _ Rony piscou de modo cúmplice para o gato enquanto mexia com uma enorme colher de pau a sopa de legumes e vegetais preparada pela Sra. Weasley. Bichento pulou do colo de Hermione e foi se enroscar nas pernas do ruivo.


_ Traidor. – murmurou Hermione para seu gato, sorrindo. Ela cuidou de pegar o pão no armário, pratos e talheres e colocou-os sobre a mesa.


_ Sente-se, Mione. Você ainda está muito fraca. – disse Rony. – Deixe que eu faço isso.


_ São só uns pratos, Rony. Esqueceu-se que já passamos coisas piores que essa? Que eu sou dura na queda? – respondeu ela, mas obediente, sentou-se.


Rony sorriu, mas por dentro sentia-se péssimo. Sabia muito bem a quê ela se referia e não gostava dessas lembranças. Durante a guerra, Hermione foi torturada e ele nada pôde fazer para ajudá-la. Estava preso por um feitiço. A dor que sentiu foi tão grande que se tornou algo indefinível. Ele acreditou que fosse perdê-la naquele dia, sem poder beijá-la, sem poder abraçá-la, sem poder declarar todo o amor que tinha guardado em seu coração, sem que tivessem tido a chance de viver aquele sentimento tão puro... Os Comensais da Morte só a deixaram viva porque pensavam que assim capturariam Harry mais rápido. Ledo engano... Isso só serviu para aumentar a fúria do amigo que, com a ajuda de Neville libertou Hermione e Rony. Ele cuidou dela durante dias...


_ Rony? Você ainda está aqui comigo? – Hermione perguntou preocupada, pois já o havia chamado três vezes e o semblante do ruivo não estava nada agradável.


_ O quê? – ele então a olhou afugentando aquelas lembranças. Terminou de mexer o caldeirão e, servindo dois pratos fundos, sentou-se à mesa.


_ Está tudo bem com você? – ela perguntou. _ Já te chamei três vezes... O que te preocupa? – ela o observava, enquanto ele empurrava um prato fumegante em sua direção... O aroma da sopa estava delicioso e ela sentiu um grande apetite.


_ Não se preocupe, nada sério... – ele encheu a colher de sopa e levou-a a boca. _ Acho que já estou precisando adquirir uma penseira. Hermione sorriu ao ouvir o que Rony disse. "Por que será que ele queria uma penseira?".


_ Eu já... Tenho uma. – ela falou entre uma colherada e outra de sopa. Rony achou maravilhoso que ela estivesse com um bom apetite. Normalmente Hermione não comia muito.


_Sério? – ele a olhou curiosamente, pois não sabia dessa novidade. _ Quando você a comprou? – Rony partiu um pedaço de pão.


_ Há pouco tempo. – ela o olhou esperando alguma reação. Mas não sabia bem o que esperar e acrescentou: _ Depois que voltei de Paris.


_ Hum... – Rony resmungou com a boca cheia. _ E você já colocou muita coisa lá? – ele não sabia o que pensar daquilo. Será que ela quisera se desfazer das lembranças dele? Colocá-las em segundo plano?


_ Já coloquei muita coisa lá, Rony. – Hermione sorriu quando Rony franziu o cenho e baixou a cabeça sobre o prato de sopa depois de outro resmungo. Ela entendia bem o que ele queria saber, mas como sempre, Rony rodeava antes de ir direto ao ponto. Mas ela se divertia muito deixando ele curioso e alterado. Como sentia saudades disso!


_ Posso saber o quê você colocou lá? – Rony nem se empenhou em erguer a cabeça. Continuou mordendo vigorosamente seu pedaço de pão e colocando seguidas colheradas de sopa na boca. Hermione abriu um largo sorriso. Ia fazer Rony ficar bem sisudo antes de dar a resposta que ele queria ouvir.


_ Ah, Rony. Nada de mais. Coisas sem importância. – Depois de dizer isso, Hermione manteve a cabeça erguida e sentou-se ereta, pronta para o confronto. Rony parou de comer e ergueu a cabeça lentamente, no lugar da boca, havia um lindo bico rosado, as bochechas estavam da cor de caqui maduro e os olhos azuis se estreitaram e a fitaram perigosamente.


_ Eu quero saber QUAIS pensamentos você colocou lá, Hermione Granger! Não se faça de boba! – disse de um só fôlego, as orelhas incandescentes e ele quase se levantando da cadeira, os braços estirados sobre a mesa e os punhos cerrados.


_ Oh! Só isso? – Hermione agora exibia um largo sorriso. Por que você não me disse logo, Ronald Weasley? – Rony arregalou os olhos e a fitou surpreso. Então, entendeu tudo: Hermione brincava com ele. Relaxou. Os dois mergulharam, um nos olhos do outro, e trocaram um olhar de cumplicidade que há muito não existia. Ambos desataram a gargalhar. Quando recuperaram o fôlego, Rony foi o primeiro a falar.


_ Vamos, Mione. Diga-me. O que colocou na penseira? Não me mate de curiosidade.


_ Ah, Rony! Várias coisas: reflexões, acontecimentos triviais e momentos de tristeza. – ela falou. _ Preferi deixar aqui (e apontou para a própria cabeça) apenas meus momentos mais felizes e importantes. É muito bom, sabe? Tira um enorme peso, alivia a pressão e ficamos com mais memória. É como se comprássemos uma estante ou arquivo novinhos, prontos para serem usados... Você devia experimentar.


_ Vou pensar nisso – disse ele, feliz por ver Hermione filosofar e explicar sobre o que sabia. Desde sempre a conhecera assim... Ficaram alguns segundos se olhando e um certo constrangimento começou a tomar conta deles. Hermione queria conversar sobre um determinado assunto agora.


_ Então, Rony. – Hermione quebrou o silêncio que se formara entre eles. _ Como foi mesmo que aquela moça disse que se chamava? Vacan o quê?


_ Vacância Renge. – ele respondeu entre os dentes, sem olhar diretamente para ela. “Droga! Por que ela queria falar sobre isso logo agora que estavam se divertindo tanto?” – ele pensou ensimesmado.


_ E ela veio até aqui para falar comigo? – ela observava as reações do ruivo.


_ Sim – ele disse a contragosto, permanecendo sem olhar para ela. Hermione sabia o quanto era difícil arrancar palavras de Rony quando ele não queria falar. Sempre começava a proferir monossílabos...


_ E o que ela queria me falar, além de dizer que ficou com você na nossa festa de formatura, Rony? – ela queria provocar uma reação nele. Algo que o fizesse falar além do que ela já havia escutado.


_ Não quero falar sobre isso, Mione! – disse ele se levantando e agitando sua varinha sobre as louças para que se arrumassem e se lavassem na pia. Em seguida, guardou manualmente o resto dos objetos e sobras de comida. Hermione seguia seus gestos nervosos com um olhar perscrutador. A cozinha estava ficando impecavelmente arrumada.


_ Por que não, Rony? – ela lhe lançava um de seus melhores olhares desafiadores. _ Por que você não quer falar sobre isso? – ela insistia.


Rony olhou duramente para ela, querendo encerrar aquele assunto de uma vez. Amarrou a cara e respondeu jogando um pano de secar pratos sobre a mesa, de forma bem malcriada. Feito isso, dirigiu-se para a sala e sentou-se no sofá observando a pequena chama que crepitava na lareira. Seus pensamentos estavam invadidos por palavras como: “Teimosa... Irritante... Persistente...” E ela... Bem, ela levantou-se calmamente de sua cadeira e o seguiu.


Com uma serenidade que não era peculiar em Hermione Granger, ela sentou-se no sofá em frente a ele e ficou fitando-o sem dizer palavra, examinando detalhadamente cada centímetro daquele rosto tão íntimo seu, cada músculo enrijecido pela tensão e pela contrariedade.


Com o corpo curvado para frente, e os braços apoiados nos joelhos pelos cotovelos, Rony enfiou o rosto nas mãos. Percebendo que estava encurralado, virou lentamente o rosto para Hermione e a fitou de forma demorada antes de começar a falar, sem deixar a posição em que se sentara. Apenas gesticulou com as mãos, de vez em quando. Ele estava cansado. Cansado de idéias e cansado de lutar uma batalha invisível.


_ E o que você quer saber, hein? – seu olhar era frio. _ Todas as vezes que tocamos nesse assunto terminamos em briga. É isso que você quer? – Agora ela entendia o que Rony estava pensando e ficou muda. Ele continuou. O tom de voz aumentando, consideravelmente. _ Fala pra mim, Mione. É isso que você quer? Brigar comigo? – ele estava exaltado. _ O quê adianta falar nesse assunto se você não vai acreditar em mim? Hein?


_ Mas já que você quer saber, então lá vai. – ele falou aborrecido. Os olhos de Hermione marejaram. _ Aquela maluca encontrou-me por acaso, depois de nossa briga na festa e me deu a Bruxa Maravilha para beber misturada com Uísque de Fogo. Eu, com a raiva em que me encontrava, peguei o copo da mão dela e bebi de um só gole. O resto você já sabe... Ela veio até aqui hoje pra te falar isso. Veio escoltada por meus irmãos malucos a mando de Harry. Eles descobriram a história toda já há algum tempo. – ele se levantou. _ Acho que era só isso que eu tinha pra dizer. Tem mais alguma coisa que você queira saber? Por que se não tiver eu vou subir e me deitar. Estou cansado. – ele disse isso sem olhar para ela, retirando os cabelos da testa com as mãos. Como Hermione não dissesse nada, ele seguiu rumo às escadas.


_ Rony... – ela sussurrou, mas ele não a ouviu.


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Harry e Arthur já estavam se preparando para sair daquele lugar, quando uma voz feminina chamou seu nome. _ Harry Potter! – a voz era suave e musical, sutil como a água e ele virou-se, olhando na direção dela. Ele não conseguia piscar, mover-se ou emitir som algum. Jamais vira algo assim em todos os seus dezenove anos de existência e oito de bruxaria. A mulher caminhava levemente como uma suave brisa e ao seu redor havia uma aura como a luz do luar (a lua em alto céu) que ia transformando as imagens conforme ela passava. Estrelas brilhavam ao redor dela. Tudo que era escuro, sujo e sombrio se mostrava um ambiente claro, limpo e acolhedor. O grande hall onde se encontravam mostrou-se como realmente era. Haviam belíssimos quadros nas paredes, um enorme tapete persa cobria todo o chão, lustres e luminárias pendiam do teto. Haviam vasos com plantas, sofás, cadeiras, cortinas, estantes e aparadores. Tudo se encaixava e decorava o ambiente de forma harmoniosa. Arthur e Harry trocaram um olhar e engoliram em seco.


Lohana era pura energia e força, seus cabelos negros como azeviche polido e suas vestes prateadas e diáfanas formavam um contraste enigmático. Os olhos escuros tinham um brilho especial e emanavam amor e paz. O rosto e mãos emitiam uma luz ofuscante. Ao lado dela vinha Ilis, o fantasma, que era quase invisível ante a proximidade de sua patroa. Apenas alguns reflexos coloridos de seu espectro esfumaçado eram visualizados.


_ Sejam bem vindos a Avalon. – e cumprimentou-os sem apertar-lhes as mãos. Apenas as aproximou de seus rostos, irradiando luz, o que fez Harry e Arthur se sentirem menos exaustos. – e para Harry disse: _ Sempre quis conhecê-lo, Harry Potter. – a voz era doce, melodiosa. _ Você não ficou famoso apenas nas Terras Inferiores. É muito conhecido também aqui, nas Terras Médias. Sou Lady Lohana.


_ Terras Inferiores? – perguntou Harry, sem entender a quê ela se referia.


_ Muito prazer, Lady Lohana. Meu nome é Arthur Weasley. – disse Arthur cutucando Harry.


_ Muito prazer. – disse Harry. _ Mas o que são as Terras Inferiores?


Lady Lohana convidou-os a se sentarem. Foi Arthur quem deu a explicação a Harry.


_ As Terras Inferiores são o nosso mundo, Harry. O mundo profano. Já o reino de Avalon é conhecido por Terras Médias, por ser um lugar místico que separa o mundo profano do mundo divino. – Arthur fez uma pausa e colocou sua mochila bruxa no chão, antes de se sentar. Harry fez o mesmo.


_ Captei. – disse Harry. _ Então, o mundo divino são as Terras Superiores.


_ Exato, Harry. – disse Lady Lohana, sentando-se em uma cadeira de madeira de espaldar alto ornada por ramos retorcidos e folhas de ouro. Sua postura era inigualável. _ Podem haver transições entre os habitantes das Terras Inferiores e Médias, mas nunca haverá transposição entre estes e os habitantes das Terras Superiores. Uma vez que conseguimos alcançar o estágio superior, jamais voltamos.


_ Você não é bruxa, estou certo? – perguntou Harry com evidente curiosidade. Arthur ficou nervoso.


_ Não se preocupe, Arthur. Está tudo bem. – disse Lady Lohana. Ela não sorria com os lábios, mas sim com os olhos e todo o corpo. Seu semblante era sereno. _ Não Harry, eu não sou bruxa. Sou mestiça de humano trouxa e elfos. Não faço magia. Tenho apenas alguns poderes extra-sensoriais e longevidade, herdados da minha mãe. Além disso, comunico-me com os humanos mortos. – apontou para Ilis que assistia à conversa sobrevoando um vaso de flores.


_ ELFOS? – Harry não conseguiu esconder a surpresa e a incredulidade. _ Como assim, elfos? - “Como criaturas tão grotescas como elfos poderiam dar origem a um ser tão belo e puro? Pareciam mais orcs em miniatura...” – ele pensou e, observando melhor a fisionomia de Lohana, percebeu-lhe as orelhas pontudas e olhos levemente puxados,as únicas coisas que a diferenciavam dos humanos.


_ Sei no que está pensando, Harry. – ela o olhou, serena. O brilho de seus olhos fez Harry se empertigar e sentir um tornado de emoções positivas. Coisa rara para o coração do jovem bruxo. – Há, pelo menos, três espécies de elfos. Os que vocês conhecem mais de perto são os goblins, que foram anões gerados pelos deuses em uma forma mais embrutecida a partir da transformação de elfos puros para ajudar estes na Grande Guerra. No fim da guerra eles partiram para as Terras Inferiores. A miscigenação existe desde o início dos tempos e há relatos entre seres gerados, por exemplo, da união entre elfos e orcs. Existem ainda os elfos-negros. Eles têm a pele negra e olhos e cabelos brancos ou prateados. Habitam a Floresta da Noite Eterna e vivem de forma ainda mais fria e reservada que os elfos puros sendo, portanto, mais perigosos.


_ E os elfos puros? – Harry quis saber.


_ Os elfos puros habitam a Floresta da Alvorada. São seres pacíficos, mas não apreciam muito contato e convivência com humanos, apesar das características físicas serem idênticas, com exceção dos olhos e orelhas... – neste momento ela apontou para essas partes de sua anatomia, firmemente acompanhada pelos olhares de Harry e Arthur. – e com exceção das mágicas e da forma de vida, totalmente arborícola. São exímios arqueiros.


_ Minha senhora – Ilis que havia sumido temporariamente, reapareceu interrompendo-os. – Vim lhes dizer que o chá está servido.


_ Por favor, me acompanhem. – Lohana levantou-se convidando Harry e Arthur para tomarem chá com ela. – Ilis, leve as bagagens dos senhores ao quarto de hóspedes. _ Nós também temos o costume de tomar chá, no fim de tarde, como vocês ingleses. – ela disse para seus visitantes. – Enquanto tomamos o chá, vocês podem me dizer o que vieram fazer em Avalon. – Eles seguiram Lady Lohana até a sala de jantar.


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Ofegante, a jovem tentava inutilmente se livrar daquelas plantas que prendiam seus pulsos e tornozelos. Por mais que se debatesse elas a apertavam mais e mais. Ela observou ao redor assustada, aquele lugar parecia o fundo de um precipício. Não havia para onde fugir, não havia como fugir. De repente, ela ouviu um estrondo e, a rocha rompeu-se, no alto da montanha, abrindo um enorme buraco. De lá, começou a sair um forte jato de água que começou a encher o buraco onde se encontrava. Ela clamou por ajuda, mas seu grito transformou-se em um eco que se perdeu no espaço. Já não conseguia mais pensar no que fazer. A água que já chegava a sua boca era tão densa que parecia um gel azul-esverdeado borbulhante. Ela esticava o pescoço o máximo que podia, tentando em vão, manter-se respirando. A água continuava a subir rapidamente. Antes de ser totalmente coberta pela água, ela emitiu um som abafado enquanto se debatia. Galhos grossos apertaram seu pescoço e envolveram sua boca. Sentiu-se fraca e um aperto tomou conta de seus pulmões; fechou os olhos. _ Rony...


Então, ela sentiu que uma força a arrancava de sua prisão, puxando-a pelo braço direito, até que atingiu a superfície. Sentiu que alguém a amparava e protegia, dizendo-lhe baixinho que se acalmasse.


_ Está tudo bem, Mione. – sussurrou Rony.


Ela tentou desesperadamente livrar-se do pavor daquele pesadelo e, quando acordou, estava sentada em sua cama na Toca, seus braços enlaçando o pescoço de Rony, que continuava a lhe dizer que se acalmasse. Sentiu dor ao respirar. Ela começou a chorar e ele afagou sua nuca, seus cabelos.


Depois de alguns minutos suficientes para que ela se acalmasse, ele desvencilhou-se delicadamente do abraço e tomou-lhe as mãos entre as suas.


_ Com que estava sonhando? – Rony perguntou.


_ Eu... – ela começou a falar, ainda em soluços. _ Acho que foi com a tarde de hoje. Foi horrível, Rony! Pensei que fosse morrer.


_ Mas isso não aconteceu, graças a Merlin e você está aqui, sã e salva.


_ Eu sei... Mas tudo era tão real no sonho...


Rony beijou-lhe a testa e a aconchegou novamente junto ao peito. Hermione sentia-se tão segura assim... Como se nada de mal pudesse lhe acontecer enquanto estivesse ao lado daquele homem.


Fitando-a nos olhos e sorrindo com ternura, ele acariciou-lhe os cabelos.


_ Está se sentindo melhor? – Rony perguntou.


_ Agora estou... Que horas são? – ela, já completamente desperta, notou que o ruivo vestia apenas um minúsculo calção de seda. O calção de pijama com o qual ele costumava dormir. Ela ruborizou-se, e percebeu também o estado em que se encontrava. Dormira de roupão e, talvez pelo sono agitado, este agora estava entreaberto deixando a mostra parte de sua barriga, um de seus ombros e colo. Ela tratou de se recompor. Seus cabelos estavam desgrenhados. Rony tinha uma expressão inabalável e parecia não notar nada. “Melhor assim...” – pensou ela.


_ Já passa da meia-noite, Mione. – ele falou já se levantando da cama, dando a Hermione uma visão sem igual de seu corpo proporcional e bem talhado pela mãe-natureza, alto e forte. Ela piscou repetidas vezes. Saindo desse torpor, falou:


_ Desculpe-me pelo que aconteceu antes de subirmos para dormir, Rony... Eu... Eu só queria entender por que você não me falou nada.


_ Bem, agora você já sabe. – ele disso seco. _ Acho que não há mais nada para eu fazer aqui. Boa noite, Mione.


_ Rony... Por favor. – ela pediu num fio de voz. Ele já estava alcançando a porta. _ Não vá. Precisamos conversar. – Ela viu quando as costas dos ruivo subiram e desceram lentamente. Ele emitira um profundo suspiro. Ela insistiu. _ Vamos dar uma volta lá fora. A noite está quente e sei que não vou conseguir voltar a dormir tão cedo...


Ele resolveu ceder. Era bom que tivessem logo essa conversa e colocassem os pingos nos is. _ Vou subir e me trocar. – ele disse por fim. _ Nos encontramos lá embaixo, nos jardins.


_ Certo. – disse ela e depois que Rony saiu, Hermione tomou uma chuveirada rápida por causa do calor que sentia, vestiu um vestido de bruxa, de cetim azul, longo, leve e solto, arrumou os cabelos num coque frouxo e desceu as escadas para encontrar-se com Rony. Ele já a aguardava sentado no tanque de águas verdosas brincando com alguns sapos.


_ Espero não ter demorado. – ela sentou-se ao lado dele e o observou de soslaio. Rony parecia mais descontraído, mas ainda não sorria.


_ Gostei da sugestão do passeio, mas posso escolher o local aonde vamos? – ele perguntou soltando os sapos no tanque.


_ Sim, Rony. _ ela respondeu, simplesmente.


_ Ok. Então vamos. Venha... – Hermione acompanhou-o, embora não fizesse a mínima idéia do que ele estava planejando.


Começaram a caminhar, respirando a brisa da noite de Ottery St.Catchpole. Cruzaram os portões da Toca e seguiram por uma estradinha de terra, característica daquela área rural. Não havia necessidade de iluminação, pois a luz da lua banhava o local. Ela não se sentia nem um pouco cansada. Apesar de alguns contratempos, esperava que seu relacionamento com Rony adquirisse um novo estágio de solidariedade e confiança mútua. E nada poderia deixá-la mais feliz. Foi então que percebeu para onde ele a estava levando.


_ Ah, Rony! Obrigada. – ela sorria. _ Adoro esse lugar.


_ Preparada para a escalada? – ele perguntou, com um sorriso maroto nos lábios.


Eles tinham entrado na Floresta Pantanosa, que era perigosa, mas Rony conhecia todos os segredos daquele lugar. Quando garoto ele passeava por ali, catando pedras, caçando pequenos animais ou envolvido em brincadeiras com os gêmeos, Fred e Jorge. Foi em uma dessas andanças que ele descobriu a passagem para aquele maravilhoso monumento escondida por trás de uma hera espessa e florida. Desde então, este passou a ser o seu lugar secreto.


_ Finite Incantatem! – Rony fez a conjuração para quebrar o feitiço que escondia a passagem secreta e que os levava a uma quase interminável escadaria. Subiram. No alto, transpuseram um grande portão de ferro e pararam diante da cena que se descortinava a frente deles. Era um templo bruxo construído em pedra que tinha cerca de 1500 anos e uns quinze a vinte metros de altura. Estava protegido por uma densa vegetação e iluminado apenas pela luz do luar naquele momento.


Hermione, emocionada, contemplou o monumento.


_ Ainda me lembro daquela vez em que a trouxe aqui nas férias do segundo ano. _ disse Rony. _ Você tinha treze anos e, ao ver o templo, parou mais ou menos onde está agora, e começou a chorar de emoção. Nunca me esquecerei disso. – Tomou-lhe a mão e caminhou até o santuário em ruínas, o qual não possuía mais tetos ou escadas e ajudou-a a entrar.


Hermione sentia-se no paraíso. Caminhou até o centro do templo e contemplou a paisagem por entre as colunas de pedra. As inúmeras orquídeas traziam ainda mais fascinação à beleza rústica daquele lugar.


Rony não a acompanhou para poder observá-la melhor de longe. Não fazia outra coisa ultimamente. Com seu bonito perfil clássico, o corpo esguio e gracioso, vestindo uma túnica azul, ela se parecia com a deusa Dana, para a qual o templo fora construído e, que por sua vez, era patrona dos feiticeiros, dos rios, das águas, dos poços, da prosperidade, da abundância, da fertilidade, da sabedoria e da magia. Rony sabia que não devia amar aquela mulher e tentava controlar as emoções, mas Hermione era como um ímã que o atraía irresistivelmente.


_ Eu nunca mostrei este lugar a outra pessoa. – ele quebrou o silêncio que ameaçava se instalar entre eles. Nem ao Harry, meus pais ou meus irmãos. Sempre foi o meu lugar secreto...


_ Eu nunca contei o seu segredo pra ninguém, Rony. – Hermione deparou-se com os olhos dele. O amor que sentia por Rony naquele instante era tão arrebatador! Talvez fosse a aura de magia daquele lugar.


_ Eu também nunca contei o seu segredo pra ninguém, Mione. – ele buscou os olhos dela com cumplicidade e ela ficou fascinada, como sempre, pelo azul dos olhos dele. _ Lembra-se do que você me confessou naquele dia?


_ Sim. - ela abaixou a cabeça, a voz saía como um sussurro. _ Que eu queria me casar aqui. – ela suspirou antes de continuar. _ E você prometeu guardar esse lugar só para mim.


_ E estou cumprindo minha promessa. – ele aproximou-se e, sem dizer mais nenhuma palavra, tomou-a nos braços. Lentamente, começaram a se movimentar como se dançassem ao som de uma música que apenas os dois podiam ouvir. Sobre o mármore gasto pelo tempo, traçaram círculos perfeitos e harmoniosos... A túnica de Hermione roçando suavemente pelo chão.


Com as mãos entrelaçadas às dela, Rony sussurrou:


_ Sinta meu coração, Hermione. Veja como dispara sempre que a tenho em meus braços.


_ O meu também. – ela respondeu, encostando a cabeça no peito dele, como que procurasse ouvir as batidas. _ Mas seria perigoso se nos envolvêssemos ainda mais. – Quis se desvencilhar, mas ele não permitiu.


_ Eu amo você, Hermione... Acho que te amei desde que te conheci... Olhe pra mim, não há nada que eu queira mais do que o seu amor.


Hermione suspirou e desviou o rosto. Lá embaixo as luzes da vila brilhavam na noite perfumada e eram notadas por eles.


_ Hoje você pensa assim. Mas e amanhã ou no ano que vem ou na próxima briga que tivermos?


_ Não entendo, Mione. O que está querendo me dizer?


_ O que estou dizendo, Rony, é que os fantasmas do Krum e da Lilá sempre vão estar entre nós dois. Talvez o nosso amor não seja forte o suficiente para se sobrepor a essas lembranças. Sentimos-nos atraídos um pelo outro e isto é tudo.


Rony segurou-a gentilmente pelos ombros e a fez encará-lo.


_ Não é verdade, Mione. Ambos cometemos erros na nossa adolescência. Magoamos um ao outro por puro medo. Você era apaixonada por mim e ficou com o Krum e, eu apaixonado por você, fiquei com a Lilá. Foi uma atitude inconsciente e inconseqüente. Tenho certeza que se fosse agora, jamais teríamos feito isso.


_ Sei agora que você não teve culpa em relação àquela menina da festa. Mas só o que consigo pensar é que todas as vezes que nos desentendermos, por qualquer motivo, você irá se atracar com alguém que nem conhece direito, apenas para me magoar. É o fantasma da Lilá rondando a minha cabeça, Rony. Como também, e você já me deu mais do que provas disso, o fantasma do Vítor Krum paira sobre você.


_ Entendo você e admito que não consigo pensar em você junto ao Krum sem que um acesso de raiva tome conta de mim. Mas acredito também que podemos superar tudo isso, juntos... – ele colou o corpo ao dela e afundou o rosto naquele pescoço macio e cheiroso. Hermione sentiu as pernas amolecerem. Rony continuou. _ Jamais amei alguém como amo você e tenho convicção que jamais amarei. Você é a mulher da minha vida. Aquela que deverá ser a mãe de meus filhos. Sei que não devo pressioná-la, mas quero deixar bem claro meus sentimentos para que não haja mais desencontros entre nós. – Ele tomou-lhe o rosto entre as mãos. Hermione sentia-se ébria. _ Mione, minha querida Mione. Sei que me ama também...


Ela tentou interrompê-lo, mas Rony tocou-lhe os lábios com as pontas do dedo.


_ Está bem. Se há algo que eu venho aprendendo a ter nos últimos meses é paciência... – ela sorriu, os olhos já estavam tomados pelas lágrimas e uma delas teimou em escorrer por sua face. Rony afastou a lágrima teimosa com o polegar e prosseguiu. _ Eu te perdôo se você me perdoar também.


_ Perdoado. – ela murmurou e fungou.


_ Esperarei por você, Hermione Granger. O tempo que você precisar. – beijou-a avidamente e, então, sussurrou-lhe ao ouvido: _ Mas não faça isso durar uma eternidade.


Já era alta madrugada quando voltaram para a Toca. Despediram-se emocionados e foram cada um para o seu quarto. Antes ela perguntou a ele como havia conseguido escutá-la de seu quarto, durante o pesadelo... Rony abriu um largo sorriso e respondeu apenas:


_ Feitiço, Hermione Granger! Feitiço... Esqueceu-se que sou um bruxo?


Hermione levou algum tempo para conciliar o sono. Os acontecimentos daquele dia pareciam girar em sua mente. Sabia o quanto amava Rony e não tinha mais dúvidas de que ele também a amava... Não era apenas atração física... Não podia ser... Havia outras coisas que os unia, além de uma sólida amizade... No entanto, se ele lhe declarara seu amor, de uma forma tão sincera, por que ela teimava em resistir?


Finalmente adormeceu. Teve sonhos confusos. Ora Rony a beijava e passeava com ela por Hogwarts, ora ele despedia-se dela friamente e Hermione, em vão, implorava-lhe que não a abandonasse. Os rostos de Lilá, Krum e Vacância escarneciam dela. Acordou assustada, levantou-se e escolheu um livro na estante. Recostada na cama, esperou amanhecer.


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