~ Tente ser feliz



Não sabia ao certo para onde estava indo. Caminhava de cabeça baixa procurando algum lugar onde se esconder. Entrou na primeira porta que lhe pareceu sensata, e ao perceber que era um banheiro suspirou aliviada. Apoiando as mãos na beirada da pia mirou a imagem que estava a sua frente, e uma lembrança relutante invadiu-a por inteiro.

Flashback.

- Harry?

- Sim, Mi.

- Você acha que algo poderá mudar após essa... – ela engoliu a saliva para prosseguir. – Essa Segunda Guerra?

- Acho – o moreno pareceu fitar a calmaria do lago à sua frente. Ela olhou-o insegura, pensando em todos os momentos bons que passara ali com seus amigos, e se perguntando se isso ainda voltaria a ocorrer algum dia. – Mas eu sempre vou estar contigo... – sorrindo em agradecimento ela abaixou a cabeça – Eu e o Rony.

- Talvez ele não me ame mais.

- Não diga essa besteira! – levantando o queixo dela, Harry observou a imensidão castanha a sua frente. – É só uma pequena crise, só isso.

- Obrigada por estar existir.

Fim do Flashback.

Enquanto a ultima frase transpassava seus ouvidos, ela apertou mais firme a borda da pia e tentou inutilmente engolir o choro que parecia não ter fim. Aquele não era o mesmo olho verde que lhe passava segurança, era um estranho que incrivelmente tentava tomar conta de seu coração... Mas ela não iria permitir, não enquanto o Tiago dentro dela teimasse em existir.

- Hermione?!

Virando-se imediatamente procurou a voz atrás de si. – Luna! O que faz por aqui?! – após abraçar a mulher que a fitava com um olhar indiferente, resolveu enxugar as lágrimas.

- Apenas vim ver como andam as coisas com “O Pasquim”, papai está atolado de serviço. Pelo menos isso está nos custando galeões infinitos, não é? – a loira sorriu com um olhar sonhador.

- É – respondeu evitando encontrar o olhar dela.

- Houve um ataque de “Gafanhotos Albinos” por aqui?

- Quem?

- Gafanhotos Albinos! Quando estão no cio projetam um pólen ultra-sensível que pode ocasionar em irritação nos olhos! – enquanto falava os seus próprios olhos pareciam crescer mais.

- Ah... Não – Hermione sorriu divertida. – Não é isso, querida! – e de repente começou a se contorcer numa risada sincera. Jamais ouviu falar nesses seres da cabeça da amiga, mas com certeza isso lhe rendeu o cessar de sua tristeza. – Apenas problemas, ou melhor, um grande problema.

- Não se preocupe – era como se compreendesse os tais problemas. – Se os ignorarmos, eles passaram a ser o numero um da nossa lista: “quero ser feliz”. Estou indo! Foi um prazer te reencontrar, e cuidado com esses albinos, viu? Criaturinhas sapecas.

- Tomarei cuidado. – sorriu incerta com a capacidade de pensar que Luna possuía. Era a segunda em sua lista: “Pessoas que me deixam segura”. O primeiro era aquele amigo do passado.

~*~*~*~

- Com licença, senhor Potter.

- Sim... – ele levantou o olhar e se deparou com a amiga o encarando numa expressão indeterminada. – Hermione?!

- Vim conferir se precisa de ajuda com o problema dos dementadores.

- Bem – ele tossiu. – Na verdade estou tendo problemas com algumas coisas, sim. Se você puder...

- Vou levar para a minha sala e resolverei todos para o senhor – a castanha foi em direção à mesa e catou todos os papeis que seus braços podiam agüentar. – Qualquer coisa peça para me chamarem. – e seguiu indiferente até a saída.

- Mi?

- Sim? – ela parou ainda de costas. “Por favor Harry. Por favor, me peça desculpas!” Sua cabeça trabalhava enquanto ainda sem se virar, ouviu seu coração ser cortado.

- É... Nada.

Balançando a cabeça ainda determinada em não chorar, saiu da sala sem nada dizer. Era como se o sentimento de amizade tivesse sido pisoteado e transfigurado para outra dimensão. Aquele definitivamente não era Harry.

~*~*~*~

Não muito longe dali...

- Chefe!

- O que foi dessa vez, Smith?

- Os dementadores estão sendo vigiados de perto, agora. Descobriram algo errado, acho que seu plano não deu certo.

- Maldição! – ele espalmou a mesa apoiando-se sobre as mãos. – O que você me aconselha fazer?

- Uma fuga em massa de Askaban? – esse por sua vez, tremeu a voz o tempo todo.

O homem a sua frente sorriu satisfeito. – Vejo que está pensando meu caro Zacarias. – se sentou novamente na poltrona estralando os dedos. – Iremos ver se o Potterzinho consegue resolver essa.

- Isso mesmo, senhor.

- E o nosso Lord será vingado! – um olhar maligno tomou posse daquela íris clara, seguido de uma gargalhada estrondosa e fora do comum. Smith se encolheu.

~*~*~*~

Ronald apoiava a cabeça sob as mãos enquanto focava um ponto fixo do teto. Seus pensamentos foram desviados quando uma cascata de cabelos castanhos lhe cobriram a visão.

- Chegou mais cedo, hoje.

- Consegui terminar o trabalho mais rápido do que o normal.

- O que está te preocupando?

- Como?!

- Não é a primeira vez que devora todo o serviço numa tacada só. Estava tentando distrair-se um pouco... Vamos, me conta o que está te perturbando.

- Ele.

- Mione – o ruivo respirou sentando na cama, enquanto a mulher retirava os sapatos.

- Não, Ronald! Dessa vez quem fala sou eu – e decidida, resolveu encarar o namorado. – Estou me sustentando numa barra invisível aos olhos de quem não entende o quanto estou triste por dentro. Tem horas que eu não consigo respirar o mesmo ar que ele, não consigo encontrar o Harry por trás daquela capa. Céus! Estou impossibilitada de saber o que se passa com os sentimentos dele!

- Talvez, não estamos à altura de ajudá-lo nisso...

- Somos seus amigos, Rony!

- Sim, mas não mais do que amigos, Mi.

- Não concordo! Não teve uma única vez que eu não o reconfortei dos problemas, das injustiças que ele passou e agora ele não desabafa mais comigo, não me olha mais nos olhos com sinceridade... Sinceramente, vou acabar desistindo uma hora, e quando ele perceber...

-... Será tarde – Rony confirmou enquanto a abraçava pelos ombros distribuindo um beijo demorado no topo de sua cabeça. – Não se machuque tentando descobrir o que se passa na cabeça dele. Porque se ele não conta para nós que somos seus melhores amigos, jamais vai contar para algum outro desconhecido. Relaxe, Mione.

- É difícil para mim. Eu sempre o ajudava e estou de mãos atadas agora.

- Eu entendo você, e eu mesmo tento o entender.

- Só queria o nosso amigo de volta.

- Um dia ele volta.

- Tenho medo que demore... Acho que eu não vou agüentar. Uma hora eu irei explodir.

- Melhor eu preparar um capacete, e rápido! – em tom de sarcasmo.

- Bobo! – ela lhe deu um tapa no braço, e logo em seguida ele a derrubou na cama a tomando de carinho.

- Eu amo você, sabia?

A castanha pareceu processar as palavras certas. E não pode deixar de sentir um vazio por dentro. Mas decidiu seguir fiel com a sua decisão e respondeu no seu tom mais sutil:

- Também.

~*~*~*~

- Está pra chegar à festa dos ex-alunos – Hermione comentou enquanto se servia de mais purê de batatas. – Você vai, Tiago?

- Ainda não decidi... Sem Dumbledore lá nunca é a mesma coisa. Às vezes me pergunto como eu consegui superar tantas mortes.

O silêncio se propagou pelo jantar, até Rony decidir quebrá-lo colocando uma de suas musicas que ganhara, no rádio trouxa de Hermione. – Qual é gente? Que silencio de enterro! Vamos... Como se diz mesmo, Harry? Sacudir os órgãos vitais?

- Esqueleto, Ronald. Seu grande tapado!

A mulher começou a rir quando o ruivo puxou o outro para começar uma dança. Os dois pareciam duas periquitas brigando por seus ovos. Literalmente dança não era o forte deles.

- Chamam isso de dançar? – ela comentou tentando cessar o riso.

- Vem fazer melhor então, nervosinha! – dizendo isso Harry a puxou da cadeira começando uma macarena com a concha do feijão.

Após cruciais segundos esparramando gotas de feijão para todos os lados, a castanha decidiu parar com tal ato.

- Harry, pára! – ainda se contorcia de tanto rir, enquanto Rony fingia encoxar o amigo na perna.

- Você me chamou do que?!

Ela se assustou com as próprias palavras e fez uma expressão de profunda surpresa.

- Esquece.

Os dois continuaram rindo e dançando enquanto uma Hermione enfezada tentava tirar-lhes os talheres para poder lavar a louça com sucesso; mas parecia uma missão impossível.

- Vocês querem parar... – Ron a cortou no momento em que a ergueu depositando-a sobre seus ombros. Enquanto ela se debatia e ria presa sob os braços do ruivo, o moreno decidiu acabar com a música e resolver se deitar.

- Harry, seu estraga prazeres! – Ronald o advertiu irônico.

- Amanhã cedo temos que trabalhar seu grande saco de preguiça! Eu e a Mi pelo menos, não é?

- É verdade, querido. Uma única vez na vida o Tiago está certo.

- Sabia que estava bom demais para ser verdade! – o moreno comentou tirando boas risadas de seus amigos.

- Meninos... Cama!

- Precisamos colocar mais músicas no jantar, por um momento pensei que a nervosinha havia se esquecido de nos mandar fazer as coisas!

- Muito engraçado, chefinho – a castanha lhe lançou um sorriso enviesado.

- Dê um sossego a ela... – Ronald assistia a tudo quieto. – Pensando melhor concordo contigo, cara. Acho que música ajuda a acalmar nossa queria mãe.

- Isso é complô?! – ela disse irônica, porém feliz por dentro.

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