~ Quem é você?
- É melhor você acordar logo. Ta babando no meu travesseiro!
- Biscoitos... Delícia! O quê? Quando?
- Acorda, meu! Que nojento.
- Ah, amor. Deixa-me dormir mais um pouquinho – virando para o lado com o rosto sob as cobertas.
- Desculpa acabar com o seu sonho, queridinho. Mas eu não sou quem você está pensando!
- Céus, Hermione – o moreno pareceu despertar de vez. – O que você está fazendo na minha casa à uma hora dessas?!
- Na sua casa, cicatriz? – a mulher sorriu irônica. – Aqui é a minha casa, se você se esqueceu! Esse é o meu quarto, a minha cama e o meu travesseiro! – puxando o objeto repentinamente. – Bem, era o meu travesseiro... Pode ficar, ta cheio de baba mesmo.
- Como eu vim parar aqui? Ai! – segurou a cabeça apertando firmemente os olhos.
- Ressaca, querido. Também pudera! Bebeu todas ontem na festa do ministério. Um vexame, Harry. Caso tenha esquecido é uma figura conhecida por lá... Ah, e pra refrescar sua memória está atrasado para o trabalho!
- Para de falar um segundo – suspirou ainda tonto. – Eu acabei de acordar...
- Beber não vai trazê-la de volta. Você pisou no balaço feio, dessa vez.
- Não é minha culpa se a Gina insiste em falar com aquele primo estranho! Eu a preveni e ela está ciente disso... O cara é um crápula. Não pára de dar em cima dela!
- Está se remoendo de ciúmes por dentro não é, Tiago?
- Nunca me chamou de Tiago...
- Não fuja do assunto! Está com ciúmes sim, apenas não quer admitir – e mesmo com o homem na cama, a castanha insistia em dobrar-lhe os lençóis.
- Quer saber? Estou mesmo e daí? Não quero dividir a minha namorada com ninguém!
- Ex-namorada.
- Ta tão ruim assim?
- Foi o quarto chilique que você deu! Queria que ela estivesse se amassando contigo como se nada tivesse acontecido?!
- Mas...
- Desista! – ela o fulminou com o olhar. – Você mudou muito, Tiago. Não quero que a minha amiga sofra ainda mais por causa disso. – e derrubando-o da cama, continuou a arrumar a bagunça.
Desistindo de começar uma nova briga ele rumou para o banheiro. Olhou no espelho e por um momento não reconheceu a imagem mirando-o novamente. Lembranças do passado retornaram a sua cabeça; talvez eu tenha mudado, pensou meio inseguro, apenas um pouco. Para esquecer de tais coisas achou sensato fazer a barba, segundos depois a ouviu chamando para o almoço.
- Você demorou, eu... Não! – após sentir o aroma da loção pós-barba que ele exalava, acabou deixando o copo cair.
- Tudo isso é susto, nervosinha? – cruzou os tornozelos apoiando-se no vão da porta da cozinha – Deixa eu te ajudar com isso.
- Não. Tudo bem!
- Mas eu insisto – sorriu marotamente tentando tirar os cacos pontiagudos da mão da mulher.
- Eu faço sozinha... Ai!
- Perdão! – o moreno pareceu apavorado. – Não foi minha intenção, eu não queria!
- Ouvi um barulho, o que... Amor, o que aconteceu?! – um ruivo entrou no local e em passos rápidos correu até a mulher que apertava a mão agonizando.
- Eu...
- Não foi nada! – ela cortou o moreno. – Apenas fui descuidada, só isso.
- Precisamos cuidar desse corte. Venha querida, minha varinha está lá na sala.
- Obrigada, Ronald. – ela o seguiu, deixando o outro para trás, que dali ainda conseguiu ouvir algo sobre a conversa. – Como foi o jogo hoje?
- Exaustivo! Mas eu guardei o gol direitinho. – numa voz manhosa Rony foi se aproximando e beijou a boca da mesma. – Pensei em você o tempo inteiro - as palavras saindo contra os lábios.
- É? – ela pareceu ansiosa.
- Muito, muito, muito...
- Amor, tem gente aqui!
- É só o Harry.
Perdendo-se nos pensamentos, o moreno se sentou à mesa e comeu quieto o resto do tempo. Tentando evitar imagens que vinham a sua mente, no qual ele empurrava Ronald e iria ajudar a mulher. Não sabia o motivo, mas sempre sentiu ciúmes dela, apesar de achar que ela estava com o cara certo.
~*~*~*~
- Então... Quem diria Hermione Granger um auror!
- Poupe-me, Potter.
- Só estava comentando... Pensei que gostasse de trabalhar naquele hospital trouxa.
- Mas eu gostava! – ela se virou de repente para pegar o casaco, ainda no hall. – O problema era o salário.
- Eu ouvi alguém reclamando de dinheiro? – Ronald desceu as escadas e estalou um beijo na bochecha da jovem. – Sabe que não precisa se preocupar com isso! Com os jogos eu ganho o suficiente para sustentar toda a minha família. – enquanto ele falava, Harry o imitava às suas costas; porém parou de repente quando Hermione lhe lançou um daqueles olhares de advertência.
- Mesmo assim, Ronald! Eu necessito ser independente, oras.
- Mione... – a mulher encarou Harry, esperando a próxima bomba. – Foi você mesma que nos ensinou a ser independentes! Está mais do que certo que o Ron te sustente!
- Chega de discursos, meninos. Vamos, vamos, senão iremos nos atrasar para o Ministério! E você – espetando o moreno com o dedo indicador – Harry James Potter. Têm que dar o exemplo!
- Não posso fazer nada se estou cercado de gente chata pensando que um segundo Voldemort invadirá o Ministério; eles são assim comigo porque esperam que eu derrote todo o mau, assim como foi à oito anos atrás.
- O que infelizmente é a sua obrigação. E você sabe que muitos vilões estão loucos para aparecer agora que a vaga está vazia.
- Deixe-o um pouco em paz, amor – o ruivo enlaçou a mão na dela atravessando a porta. – Dessa vez ele irá se comportar, não é? – Ronald deu uma piscada. – E iremos aparatando... Somos bruxos! E chegamos rápido se você se esqueceu.
- É que...
- Está bem. Está bem – Harry a cortou. – Não farei novamente, nervosinha.
- Não me chame de...
- Então pare de me chamar de Tiago!
A castanha bufou e se rendeu ao ruivo, que a puxada insistente pela mão.
~*~*~*~
Desde que saíra de Hogwarts, Harry recebera inúmeras propostas de trabalho. Até uma no qual ele recusou porque ficaria longe dos amigos e afinal, não era o seu sonho ser tipo um vice-ministro do Ministério americano. Ele gostaria de algo normal, sem muita bajulação; para ao menos as pessoas esquecerem que um dia ele salvou o mundo, o que ocasionou na morte de seu amigo Hagrid.
- Senhor! Senhor!
- O que foi agora, Colin?
- Houve mais três ataques de dementadores em locais trouxas!
- Quais são os relatórios?
- Eu os deixei preparados em sua sala.
- Ótimo Colin. Volte ao trabalho e me mantenha informado sempre que possível.
- Sim senhor!
- Entendi o que você quis dizer Tiago. Deve ser muito chato ser chamado de senhor e se desviar de todo o trabalho teórico.
- Você irá ser meu trabalho teórico, nervosinha.
- Como?!
- Seu emprego... Irá trabalhar comigo!
- Mas.
- É isso ou voltará ao hospital – sorrindo marotamente ele lhe mostrou os dentes muito brancos. – Aceita não é?
A mulher balançou a cabeça em confirmação não deixando de fechar a cara na mesma hora. Foram em passos rápidos até o escritório dele, que consequentemente pelo trabalho não tinha tempo de arrumar; era um dos maiores do local por ser considerado o chefe dos aurores.
- Você vive num ninho! – Hermione disse num tom de censura enquanto desviava das caixas e dos objetos espalhados pelo chão.
- Vou mandar o Dobby dar uma ajeitada para mim.
- Pagará quanto? – ela quis saber desconfiada.
- Pagar? – ele riu gostosamente enquanto se sentava na sua poltrona preferida. – Eu não sou o dono dele e, aliás, acabaria me pedindo de joelhos para me fazer esse favor.
- Ele é um elfo livre, Tiago! Esqueceu que eu consegui os livrar de toda aquela escravidão que estavam sendo julgados?!
- Alguns morreram de desgosto após saber que seus donos queridos pagariam por seus serviços.
- Você sabe muito bem que isso estava previsto!
- Pobres coitados, não mereciam esse triste fim – ele fez voz de sentido enquanto matutava com a cabeça arqueada para os papéis em sua mesa.
- Foi um sacrifício que melhorou o mundo bruxo... – a castanha pareceu chateada. – Você costumava me apoiar com isso.
Harry tirou a atenção dos relatórios em tempo de vê-la ficar em pé, desviando o olhar para um ponto fixo por cima de sua cabeça. Ela abaixou a cabeça e fez menção de sair do lugar; mas num momento ágil ele a segurou pelo braço.
- Espera, Mi.
- Você sabe que essas mortes ainda me machucam. – a voz dela ela tomou uma tonalidade meiga, muito incomum com a mulher que se tornara. Era como presenciar novamente uma Hermione assustada, enquanto um trasgo a encurralava.
- Eu sei, eu sei. Fui um completo idiota agora.
- Já faz oito anos que tem agido assim! – ela o encarou com os olhos marejados, enquanto ele lutava firme para não derramar algumas lágrimas. – E acho que é por isso que Gina quer distancia de você.
Ele engoliu em seco, apenas escutando todo lamento da mulher à sua frente.
- Sinto falta do passado, Harry. Não foi você o culpado pela morte do Hagrid; quem cruza o caminho de Voldemort quase nunca sai vivo.
- Eu saí! – o moreno explodiu ao relembrar desse fato. – Quando era apenas uma criança!
- Foi diferente – agora as lágrimas percorriam as bochechas dela.
- Acha fácil acordar toda manhã e ter que encarar essa maldita cicatriz?! – nesse ponto ele não mais ligava se gritava ou sussurrava. – Eu tenho que agüentar esse peso em minhas costas à vida inteira, Hermione! Então me desculpa se eu não consigo sorrir sempre. – voltando aos papéis, ele se sentou. E não tentou impedir que ela corresse de sua sala.
- Droga! – respirou compensadamente após mirar inúmeros socos em sua mesa. – Eu me odeio.
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