O meu antigo e ruivo eu.
Às avessas.
Capítulo 10 – O meu antigo e ruivo eu.
Depois de tanto tempo como um garoto, fico até emocionada em passar um batom nos lábios.
Porque eu voltei a ser uma garota. E não voltei a ser qualquer garota: voltei a ser Lily Evans.
O meu bom, velho e ruivo antigo eu.
Tá legal, o meu antigo eu versão Estou-apaixonada-pelo-meu-melhor-amigo-e-não-consigo-parar-de-sentir-vergonha-dele.
Por que eu me sinto envergonhada perto dele? Tenho sete bons motivos.
Motivo #1. A carta que ele me mandou estava cheia de indiretas bem diretas, que me deixaram em dúvida quanto ele saber de que eu gosto dele. Ou talvez que ele goste de mim, mas é melhor que eu descarte isso ou vou acabar me decepcionando – mesmo que o negócio dele ter me desenhado muitas vezes seja bem impressionante e até assustador.
Motivo #2. Eu me despedi nas cartas bem assim “Com amor”. Sou mesmo muito tapada, isso só serviu para ele ficar todo tipo “Então... Com amor...?” para o meu lado. Mais para me irritar, é verdade.
Motivo #3. Um pouco antes de a gente tomar a poção para voltarmos – ou não, quem iria saber – às nossas vidas, ele soltou: “Vou sentir falta” daquele jeito todo maroto. Será que ele sempre teve essas piadinhas e eu não percebia?
Motivo #4. Depois que tomamos a poção e concluímos aliviados que havíamos sobrevivido e tínhamos voltado a sermos nós mesmos, ele me encarou e falou “Mudei de idéia, é bem melhor te olhar desse ângulo”.
Motivo #5. Eu fico vermelha o tempo todo perto dele, já que voltei a ser ruiva e esses comentários dele não ajudam em nada.
Motivo #6. Até a Big que é a mais desligada dos seres e que – eu acho e espero – não sabia que eu gosto do James, me perguntou naquele sotaque francês meio louco dela “Ei, Lily, por que você fica toda vermelha perto do primo? Você por acaso gosta dele ou sei lá?”.
Motivo #7. Ele esteve no meu corpo! E isso SIM é um ótimo motivo para eu me sentir envergonhada.
Bom, o que eu estou fazendo quanto a isso? Simplesmente encarei o desafio de evitá-lo em sua própria casa.
Por exemplo, James acorda às 8:00h e eu, contrariando todas as minhas ideologias sobre “Férias Dormir até às 10:00h”, acordo às 5:00h. Assim, eu como umas torradas na cozinha da mansão – é a única coisa comestível que consigo comer a essa hora – e me tranco na biblioteca.
Tudo bem que a biblioteca da mansão é fantástica, mas simplesmente, estando em um lugar como esse, passar o dia lendo seria a última coisa que pensaria em fazer – Tá legal, talvez jogar quadribol seja a última.
Mas, é claro que James notou isso rapidinho. Veja bem, da última vez que passei as férias aqui gastava meu tempo seguindo ele para todos os cantos da mansão e, não conseguindo conhecer tudo, o fiz me prometer que me mostraria o resto no ano seguinte.
Não falei em outra coisa o ano todo – ou pelo menos antes de eu ter coisas como Estou-no-Corpo-do-Meu-Amigo para me preocupar.
Por isso eu não estranhei que ele tenha vindo me procurar. Só me assustei.
Lá estava eu, sentada em uma das mesinhas da biblioteca lendo um livro sobre trasgos – me lembrando da minha experiência como um deles – quando James vem por trás de mim sem eu notar e faz “Buuu!”.
Ridículo, não? Mais ridículo ainda é que eu completei a sinfonia do Buuu! – aaah, quase acordando todos com o meu berro.
Nem preciso falar que demorou cerca de dois minutos até James controlar o riso e se explicar.
Já parou? – perguntei impaciente, esquecendo-me completamente de todo meu acanhamento por causa da raiva.
Já – ele respondeu ainda com vestígios de riso.
Ótimo – sibilei – explique-se.
Não – ele sorriu se jogando na beira da cadeira em que eu estava sentada. Bom, dividir um espaço tão pequeno com ele me fez lembrar de ficar vermelha. O que só piorou quando ele completou a frase: “Explique-se você.”
Você está louco? – ri cinicamente – Do que está falando?
Ahn... Sei lá... – Ele fingiu pensar – Por que você ainda não me perturbou nenhuma vez nos últimos dias? Isso não é normal.
Há-há – falei só para não ter que me explicar.
Não vai se explicar? – ele insistiu e eu tentei “Tenho tido coisas mais interessantes a fazer...”.
Sei – ele olhou para a capa do meu livro com um sorriso divertido – Como ler sobre trasgos?
É. – eu sorri – Eles são muito interessantes.
Imagino – ele riu – Venha, deixa de bobeira. – E com aquela sutileza impressionante dos marotos, ele me puxou para fora dali até a cozinha. – Vamos comer alguma coisa.
Tá – suspirei contrariada.
Só posso dizer uma coisa sobre o café da manhã que tomei com James: muito melhor do que torrada, mas não graças a ele. Nossa sorte é que a mãe de James acordou com o barulho que fazíamos na cozinha e nos preparou uns waffles (Adivinha de que? Sim, chocolate.), porque se dependesse de James morreríamos de fome.
É o seguinte: ele sabe desenhar, mas de maneira alguma cozinhar. Ele simplesmente é um desastre, obrigando-nos a jogar uma refeição inteirinha de pasta verde gosmenta e pãezinhos queimados no lixo – eu nem me senti arrependida, já que maldade seria se doássemos aquilo às crianças famintas. Aquilo nem comestível era.
Depois de nos deliciarmos com a culinária fantástica da Sra. Potter – Mary, como ela insiste que eu a chame – fomos dar uma volta no campo de quadribol. Em chão firme, claro.
Pode até parecer estranho uma casa ter um campo de quadribol, mas para a família Potter não é. A Mansão Potter não tem só um campo de quadribol – e um nome, o que me parece uma idiotice. Francamente, colocar nome em prédios... – mas, três estufas muito mais interessantes que as de Hogwarts, jardins simplesmente lindos, um lago do tamanho de uma piscina olímpica, uma biblioteca maravilhosa, camas de dossel, quartos tamanho família, e muito mais.
Diria até que não é uma mansão, mas um palácio digno dos contos de fadas.
Bem, um dos lugares que mais gosto lá é exatamente o campo de quadribol, mesmo que eu não suba em vassouras. O que acontece é que não é preciso subir em vassoura alguma para gostar de lá, pois, por ficar no alto, tem-se uma visão de todos os jardins floridos.
Simplesmente lindo – principalmente o campo de lírios (e não é só por causa do meu nome).
Por isso, estávamos sentados lá na ponta do campo, em cima da cerca que impede que uma pessoa distraída role morro abaixo até os jardins, observando o meu campo preferido – o de lírios.
Fizemos isso muitas vezes ano passado, mas agora isso me pareceu estranho. Talvez fosse o fato de agora eu gostar dele.
Por que você está tão vermelha? – ele perguntou sorrindo divertido. Eu que já estava sentindo meu rosto esquentar ainda mais, disfarcei, me aproveitando do vento gelado que batia ali (não se via nenhuma neve ali até o dia de Natal por conta de um feitiço, mas o frio era de um dia de neve rigoroso):
Deve ser o frio...
Sei – ele riu com descrença – Não vai me dizer por que você estava me evitando? Você anda muito estranha...
Eu não estava te evitando – menti – eu não estou estranha!
Se você diz... – ele riu. Odeio quando ele ri sem motivos para isso, porque parece que ele está escondendo algo engraçado para si mesmo e que, por acaso, sempre parece me envolver. – Não quer jogar uma partida? – ele falou olhando em direção ao campo atrás de nós.
Eu ri. Aquilo pareceu tão absurdo que eu simplesmente ri.
Espera ai, você está falando sério? – perguntei ao notar que ele não rira comigo da grande “piada”.
Estou – ele falou divertido – Você não quer?
Não – respondi sem nem parar para pensar.
Ah! Vamos, Lily... – ele insistiu – Não precisamos jogar, damos uma volta pelos jardins de vassoura, se você quiser.
Alôôu! Eu tenho medo de altura, lembra? – ele afirmou com a cabeça, mas como se aquilo não mudasse nada – Não!
Nós não vamos muito alto, eu prometo.
Bem, quando eu digo não é “não” e pronto. Por isso James sobrevoou os jardins floridos sozinho e eu fiquei só admirando – e dando graças a deus de não ter subido naquela vassoura, já que James foi bem alto.
Eu estava tão distraída olhando James e pensando em como seria minha vida de casada com ele que nem senti alguém se aproximando atrás de mim. Só fui notar que Big estava ali quando ela colocou a mão no meu ombro e me chamou com o sotaque forte dela: “Lily!”
AH! O que foi? – me assustei mais uma vez naquele dia.
Admirando a beleza dos jardins? – ela sorriu divertida.
É – eu fiquei um pouco corada – Os jardins...
Olha – ela apontou para um ponto meio distorcido que avançava pelos jardins e que, à medida que diminuía a velocidade, notei ser James colhendo alguns lírios de sua vassoura – São para você – ela disse certa.
Ah... – eu sorri, sentindo meu rosto esquentar consideravelmente – Eu gosto de lírios.
Você é um tanto narcisista, não?
Ah – eu me irritei um pouco e resolvi mudar de assunto – Cadê o Sirius?
O traste está dormindo – ela suspirou e sentou-se ao meu lado – Não consigo acordá-lo. Vim chamar o primo para me ajudar, mas ele está entretido.
Ele gosta de voar. – comentei casualmente.
Não, ele gosta de ruivas. – ela sorriu zombeteira. Eu estava disposta a perguntar um “Como assim?”, mas James chegou bem na hora oferecendo um buquê de lírios a mim e à prima. Nunca me desapontei tanto em vê-lo.
Obrigada – eu murmurei meio confusa – A Big estava te procurando!
É? – ele ergueu uma sobrancelha em direção à prima.Sim, ele ergueu a sobrancelha.
É. – ela respondeu marotamente.
Se você consegue imaginar uma coisa difícil de fazer, imagine algo três vezes mais difícil e terá uma visão aproximada do que acordar Sirius Black.
Está aqui a lista de coisas que fizemos antes de realmente termos algum progresso:
1.Sacudimos ele na cama.
2.Eu dei um berro no ouvido dele.
3.A Big começou a pular na cama.
4.A Big deu um beijo nele.
5.A Big maquiou ele (não acho que isso fosse acordá-lo, talvez ela só quisesse se divertir).
6.James praticamente o espancou.
Até que eu pensei: “Ei, sempre dá certo nos filmes...” e peguei o aquário que tinha encima da cômoda de James (onde Sirius estava dormindo) e despejei a água que continha ali dentro – e o peixe – na banheira. Enchi o aquário com água da bica e, derrubando tudo pelo caminho, levei até o quarto e derramei encima de Sirius.
Sirius finalmente acordou. Pena que a maquiagem saiu com aquilo, estava tão bonito.
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