Nen
Capítulo 2 - Nen
Os garotos estavam certos ao presumir que aquela revista era a propaganda do jogo. Olharam para a próxima imagem. Nela podiam ver um livro aparecendo em meio a uma nuvem de fumaça, que parecia sair do anel no dedo do garoto. Na outra imagem, o garoto olhava as páginas do livro, onde haviam retângulos numerados, do tamanho de cartas de baralho. Na imagem seguinte, a mulher ruiva dizia "Você deve completar os encaixes numerados! Essa é a condição para terminar o jogo". Sirius e Chris viraram a página apressadamente e continuaram a ver as imagens. Na seguinte havia uma espada, e a fala da ruiva continuava "Quando você adquire um item, ele vira uma carta imediatamente. Por exemplo, se você encontra uma espada...". Na imagem seguinte havia o desenho de uma pessoa segurando uma espada "quando você a pegar, ela se transformará em uma carta". A moça continuava a explicar na outra página "Assim que a carta for inserida no livro, ela não poderá mais ser usada como arma. Mas, se por alguma razão você precise usá-la, você pode usar a magia Ganhar". Chris virou a página novamente e continuou a ler a explicação da ruiva "Quando fizer isso, a carta então vai virar uma arma novamente. Uma carta que foi transformada de volta com o uso Ganhar não pode ser transformada numa carta de novo. Isso é importante". Finalmente os garotos chegaram à ultima página da revista e consequentemente às últimas instruções. A mulher dizia "Imagine que existe um item com limite de 3 cartas, e tem 3 cópias dele em forma de carta. Se cada jogador com a carta guardá-la no livro, o limite de transformações é alcançado. Consequentemente, mesmo se outro jogador encontrar o mesmo item e pegá-lo, ele não se transformará em carta. Você deve guardar as cartas no seu livro! Ou, um minuto depois, a carta voltará automaticamente a ser um item. E nesse caso, retransformá-lo em carta não será possível". Só havia mais três imagens naquela página e consequentemente, no folheto. Em uma delas, a ruiva dava sua última instrução sobre a imagem de um corpo "Se você morrer durante o jogo, o livro e o anel serão destruídos. Tome cuidado". As últimas imagens mostravam o garoto descendo escadas e chegando a uma grande planície. E logo acima da planície estava escrito "Greed Island" sobre o logotipo GI.
Os garotos ergueram os olhos da revista para Lupin.
-É mesmo possível morrer durante esse jogo?
-Ah sim... claro que é. Por isso apenas pessoas muito... hum... especiais, podem jogar.
-Como assim especiais? – indagou Chris estreitando os olhos.
-Ah... deixem pra lá garotos. Vocês não conseguiriam entender.
-É claro que conseguiremos entender. Conte-nos. Por favor. – pediu Sirius.
-Bem... é que para entrar nesse jogo, os jogadores têm de ser usuários do Nen. – explicou Lupin.
-Nen? O que é isso? – perguntou Chris se sentando aos pés de Aluado para ouvir a explicação.
Lupin ao invés de responder, puxou a varinha e conjurou um vaso de porcelana e algumas flores. Segurou as flores uma por uma, para depois lançá-las em direção ao vaso. Para a surpresa dos garotos, todas as flores perfuraram o vaso, sem resistência ou dificuldade.
-Isso é Nen. – explicou Lupin. – Nen é a habilidade de controlar livremente a energia vital, também chamada de "aura" ou "energia mágica", que sai do nosso corpo. Todos projetam uma pequena parte dessa energia vital, mas geralmente é apenas um escape incontrolável.
-Por favor, nos ensine mais sobre Nen.
-Certo. – desistiu Lupin, suspirando. - O Nen divide-se em quatro categorias básicas: Ten, Zetsu, Ren e Hatsu.
-Nós chamamos a técnica que nos permite controla-lo de "Ten". – continuou Remo. - Graças a ele, fortalecemos nosso corpo e o protegemos consideravelmente do envelhecimento; Em seguida vem o "Zetsu". É a técnica que permite que se apague a aura. É eficiente quando queremos ocultar nossa presença ou recuperar do cansaço; "Ren" é a técnica que permite à aura se expandir em situações excepcionais. – Lupin parou de falar e de andar, exatamente à frente dos garotos. Fechou os olhos e pareceu se concentrar. Num instante, tanto Sirius quanto Chris estavam de pé, surpresos. Remo perguntou, abrindo os olhos: – Sentiram isso?
-Sim... senti uma pressão me empurrando para trás. – explicou Chris, olhando abobalhado para Lupin.
-É... isso foi meu Ren. Chegaremos ao Hatsu logo. – fez uma pausa, como se tentasse se lembrar de algo há muito esquecido. – Hum... a aura é a energia que sai do corpo humano. É por isso que podemos usar outros seres humanos para uma melhor utilização. No bom e no mau sentido da palavra. Se um espírito mau ataca um homem sem defesa, ele pode matá-lo apenas com sua aura. E só tem um jeito de proteger seu corpo contra usuários de Nen... usar o Nen também, e proteger seu corpo com "Ten". Repelimos a aura oposta com nossa aura, do contrário... – Lupin parou de falar e encostou a palma de sua mão na parede. - ...o corpo fica em pedaços.
BUM!
***
Sirius e Christopher ainda olhavam desnorteados para a enorme rachadura circular na parede do sótão. Pelo que viram, Lupin fizera aquilo apenas com seu Nen.
-Isso é Nen... uma força secreta escondida em todo mundo. Para despertar essa força que dorme, existem duas maneiras: indo com calma, sem apressar, utilizando orações e meditação; ou forçando o despertar do Nen.
-Você pode despertar o nosso Nen, Lupin? – perguntou Sirius, surpreendendo até mesmo Chris.
-Por quê? Eu achei que só queriam aprender sobre Nen e não o próprio...
-Por favor... queremos muito participar daquele jogo. – repetiu o moreno.
-Por quê?
-Eu estava pensando em que presente dar no aniversário do meu pai... e talvez haja alguma informação sobre isso no jogo... – explicou o pequeno Potter.
-Talvez haja... – analisou Remo – Mas qual o presente que você quer dar ao seu pai?
-Eu queria achar alguma informação sobre o padrinho dele... eu ouvi uma conversa entre meu pai e minha mãe, em que papai dizia que sente muita falta do Padrinho dele, e que ele foi o mais perto de uma família que o papai teve antes de se casar com a minha mãe.
-Ah... entendo. Você quer achar o Sirius. – concordou Lupin, compreensivo. – E você, Chris? Quer aprender Nen? - perguntou o antigo Maroto ao loiro e quando este confirmou, ele perguntou: - Por quê?
-Por três motivos: 1)eu não tenho nada para fazer nessas férias; 2)eu quero realmente aprender sobre Nen, pois parece muito interessante e 3)eu quero acompanhar o Sirius.
-Entendo. Vocês têm certeza disso?
-Sim. – disseram em uníssono.
-OK. – Lupin parou um segundo, para depois continuar. – Normalmente se demora muito tempo para dominar o Nen. Nós, os Marotos éramos considerados talentosos pela nossa mestra de Nen e levamos seis meses apenas para aprender o Ten. Isso porque nós aprendíamos rápido e nos esforçávamos muito. Mas se vocês pretendem entrar no jogo, tem que ser logo. O tempo lá dentro não se passa em igualdade temporal ao tempo do mundo aqui fora, ou seja, um dia lá não é igual a um dia aqui. Mas isso não importa, pois para ganhar, vocês terão que treinar muito seu Nen.
-Certo. – concordaram os garotos ao mesmo tempo.
-Tá bem. Eu irei provocar o despertar de seu Nen.
-E vai demorar quanto tempo? – perguntou Chris.
-Só depende de vocês. Conseguirão dominar a técnica que os permite manter a aura em seu corpo (Ten)?
-Nós conseguiremos. – afirmou Sirius convicto.
-Veremos. Agora vou enviar a minha aura a vocês. É chamado "Hatsu", e se parece com o que já lhes mostrei.
Ambos os garotos ao ouvir aquilo, olharam instintivamente para a enorme rachadura circular na parede.
-Claro, não se preocupem, não tenho intenção de destruir seus corpos. Vou enviar ondas aos seus corpos adormecidos e tornar o Ten mais acessível. Seus corpos estão adormecidos porque os Shoukos, ou seja, as aberturas por onde a aura flui, estão fechados. Por isso sua aura não se desenvolve bem. – explicou o professor. – Graças à aura que enviarei aos seus corpos, forçaremos a abertura dos Shoukos. Tirem as jaquetas e virem de costas para mim. – pediu Lupin. Num segundo os garotos haviam tirado as camisa mais pesadas que usavam e ficaram usando apenas camisetas leves e frescas. Lupin se postou atrás dos garotos e estendeu suas mãos, deixando-as a poucos centímetros das costas dos garotos.
"É quente... ele não nos toca, mas é como se estivesse nos empurrando com força" pensou Sirius, sentindo a aura de Lupin. "Essa sensação... é como se alguém com uma suavidade invisível estivesse deslizando pela minha pele e ficando por lá..." foi a vez de Christopher pensar.
-Lá vou eu. – avisou Lupin.
No instante seguinte, Sirius e Chris sentiram uma rajada de vento passar por eles e em seguida, um grande choque tomar conta de seus corpos. Um segundo depois, ambos estavam cobertos por uma energia esfumaçada, como uma luz, que se desprendia de seus corpos.
-Isso é... – começou Sirius olhando para as mãos, que liberavam uma luz levemente alaranjada.
-Isso é energia vital. Todos os seus Shoukos estão abertos. Vocês conseguem ver, não é? – perguntou o lobisomem no que os garotos confirmaram. – Isso é porque os shoukos dos seus olhos estão abertos também.
-É vapor d'água... Sim. Igual a vapor d'água. – comentou Sirius trazendo a mão mais para perto dos olhos para olhar a energia esfumaçada que fluía.
-Está cobrindo todo o meu corpo. Está brotando de todo lugar. Isso é normal? – indagou o jovem Malfoy olhando em pânico para o próprio corpo.
-É energia vital... então se você deixar ela continuar escapando você se sentirá cansado. No final, você não conseguirá ficar de pé.
-Então é ruim? – arregalou os olhos azuis.
-Vocês estão prontos? Vocês usarão o pensamento, Nen, para tentar conter a aura de vocês. Fechem os olhos, não importa a posição, contanto que possam visualizá-la facilmente.
Os garotos obedeceram. Fecharam os olhos, abaixaram os braços e começaram a se concentrar.
-Agora pensem que sua aura está se transformando num líquido que escorre por todo o seu corpo. Olhos fechados, do topo da cabeça, passando pelo ombro direito, mão e perna... agora o lado esquerdo. Então o fluxo vai parando progressivamente. A figura de uma aura que te cerca ondula em sua mente.
À medida que Lupin dizia as palavras e instruções, os garotos realizavam. Assim que terminou a última palavra, eles conseguiam executar o que ele lhes dissera. "Eles são... inacreditáveis" pensou Remo, surpreso. "Eles entenderam sem que eu diga que a natureza de seus corpos é um lugar extremamente favorável para seu Ten. Apenas um pequeno conselho foi necessário para que eles dominassem essa técnica. É magnífico... mas preocupante".
-Abram seus olhos devagar. – pediu Lupin, calmamente. Assim que eles obedeceram, ele voltou a falar: - Como se sentem?
-Bem... parece que estou dentro de um líquido. – analisou Sirius em voz baixa, voltando a olhar para a própria mão, coberta por aura.
-É como vestir roupas bem leves. – comentou Chris, surpreso com tudo aquilo.
-Tentem imaginar isso em suas mentes todos os dias. Quando se acostumarem, mesmo enquanto dormem, vocês conseguirão usar o Ten.
-Certo. – disseram ambos os garotos ao mesmo tempo.
***
Poucos dias se passaram desde a iniciação de Sirius e Christopher no Nen. Em poucas horas haviam dominado o Ten. Dias depois o mesmo ocorreu com o Ren. Lupin fora bem específico quanto a isso: deveriam treinar Ten e Ren todos os dias, mesmo enquanto o treinamento evoluísse.
-Primeiro passo: acumular a energia de todo o corpo. A força chega mais e mais de cada célula, se concentra e aumenta. Segundo passo: toda a energia concentrada é projetada para fora. – dizia Lupin, andando de um lado a outro do sótão, enumerando os passos do Ren enquanto Sirius e Chris obedeciam às palavras do professor e emanavam energia. No instante seguinte, a grande quantidade de energia brilhava ao redor dos dois garotos, numa plena execução do Ten.
-Está bom agora, já que nos acostumamos. – disse o moreno de olhos esverdeados para o garoto loiro ao seu lado.
-Não era fácil retardar o Ten e encontrar o tempo certo. – concordou Chris.
"Não era fácil?" pensou Lupin, olhando abismado para os garotos. "Eles estão fazendo progressos numa velocidade super-alta. Levei semanas para dominar o tempo certo. Eles levaram cinco dias..." pensou o lobisomem desacreditado. Pigarreou, dizendo:
-Já que dominaram tão rapidamente o Ren e o Ten, acho melhor evoluirmos um pouco. Quero ensinar uma técnica a vocês. Não é muito difícil, mas exige concentração. – explicou Lupin aos garotos que ainda mantinham o Ten, como ele instruira no inicio de toda aula a fazerem. – É chamada Gyou. Consiste em concentrar aura nos olhos para ver a aura inimiga. É bastante útil quando não se conhece a habilidade Nen do seu oponente. Como vocês dominaram o Ren e o Ten, acho que não terão dificuldades. O Gyou exige habilidade em Ten e Ren, e vocês a possuem.
Sirius e Chris se olharam, meio em dúvida, para depois voltarem a olhar para Lupin, que recomeçara a falar.
-O Gyou é incrivelmente útil em oposição a uma outra técnica bastante avançada do Nen. Essa técnica é chamada In e é uma divisão do Zetsu. Consiste em esconder a aura da sua habilidade Nen. Por exemplo, se eu materializar uma espada com meu Nen... – começou Remo e antes que os garotos interrompessem, ele continuou. - ...e sim, isso é possível. Continuando, se eu materializar uma espada com meu Nen e usar In nela, a única maneira de vocês a enxergarem seria usando Gyou. O In pode ser aplicado em qualquer forma da sua aura, por isso, saber Gyou é muito útil.
-OK. – concordou Chris. – Acho que consigo.
-Tem certeza? – perguntou Lupin, com um meio sorriso.
-Aham. – concordou o loiro. – Use In em alguma coisa que eu vou tentar ver.
Depois disso, Chris fechou os olhos, se concentrando. Sirius deu de ombro, imitando o amigo e dizendo um "Também vou tentar" para depois fechar os olhos.
-Tudo bem. – disse Lupin. O homem de cabelo grisalho se concentrou, e um pequeno desenho de Nen surgiu acima de sua mão. Sempre adorara aquilo que era uma especialidade de sua mestra. – Tentem ver.
Quando os garotos abriram os olhos, Lupin quase deixou a criatura de Nen desaparecer. Os olhos dos garotos brilhavam em um Gyou incrivelmente bem-executado.
-Uma fênix! – disseram ambos em uníssono, deixando o queixo de Lupin ir ao chão.
-Vocês são... inacreditáveis. – murmurou Remo, de olhos arregalados.
***
-Só se passaram duas semanas desde que começaram os treinos e já dominaram Ten e Ren e fazem um Gyou muito bom. É realmente impressionante.
-Obrigado. - disseram ambos os meninos, olhando Lupin, ainda concentrados em seu Ten.
-A partir de agora vamos começar a preparação para o Hatsu.
-Mas... e o Zetsu, professor? – perguntou Sirius.
-Concentração Sirius. – disse Lupin, notando que o garoto deixara seu Ten enfraquecer. – Sim, o Zetsu é uma técnica que ainda iremos abordar, mas não agora. É um dos aspectos mais difíceis do Nen, por ter que prender a própria aura dentro do corpo. Precisa-se de um pouco de prática e só ensinarei Zetsu a vocês mais para a frente. A questão agora é o Hatsu. Se conseguirem dominá-lo terão toda a base necessária para controlar o Nen. Depois terão que refinar essa base e adicionar sua originalidade, e então terão seu próprio Nen. Vamos começar. – disse o professor, pegando um quadro negro e um giz. – O Hatsu é a técnica que consiste na liberação do Nen. Em outras palavras, você vai finalizar suas habilidades de Nen. É dividido em 6 categorias: Emissão, Transformação, Reforço, Manipulação, Materialização e Especialização. Aqui, o que importa é descobrir qual delas combina com vocês. As habilidades do Nen estão ligadas ao caráter de cada pessoa. A primeira aptidão é aquela que conseguimos ao nascer, a segunda adquirimos durante a nossa vida. Por exemplo, Sirius tem uma estrutura muscular bem ágil e flexível, com a qual ele nasceu. Ele desenvolveu a precisão de seus cinco sentidos se divertindo lá fora. – explicou Lupin, apontando para a mata que podia ser vista pela pequena janela do recinto. – Seguindo o mesmo princípio, sabemos em qual das 6 categorias pertencemos de acordo com as qualidades da aura que temos desde o nascimento.
Ao terminar de falar, Lupin pegou o giz e desenhou um diagrama no quadro negro.
-As categorias estão situadas por ordem de afinidade. Por exemplo, se a sua aura o predispõe para o Reforço, você o aprenderá facilmente e bem rápido. Depois de Reforço, está Emissão, e você provavelmente terá afinidade e também aprenderá facilmente. Inversamente, será muito difícil conseguir Manipulação, que está do outro lado.
-Professor, é possível aprender uma das habilidades com a qual não se tem afinidade? – perguntou Chris, curioso.
-Sim, é possível. Para adquirir uma habilidade com a qual você não tem nenhuma afinidade, você tem que se esforçar excessivamente, e ter um forte caráter. Mas, mesmo se for habilidoso, a eficiência dessa habilidade é limitada.
-Existe alguma maneira de saber a qual categoria pertencemos? – perguntou Sirius.
-Sim. – respondeu Lupin, pegando a varinha e conjurando uma taça. A colocou sobre a mesa e com um movimento de varinha, a encheu até a borda de água cristalina. Por fim colocou uma folha verde comum e intacta boiando na água, para depois dizer. – É chamado Técnica da Água. Além de nos mostrar a nossa habilidade, também é um bom jeito de praticar Hatsu. Nos aproximamos com as mãos assim... – Lupin colocou as mãos em volta da taça, como se ela fosse uma bola de cristal e ele quisesse ver suas profundezas místicas. - ...e começamos nosso Ren. Graças à mudança que ocorre, podemos saber qual a nossa habilidade.
Os garotos sabiam que o corpo de Lupin estava coberto de aura e ele continuou imóvel, na mesma posição. Segundos depois, um cristal prateado havia aparecido no fundo da taça. Este cresceu pelo fundo vítreo como água se cristalizando ou como se a água se transformasse em um cristal brilhantemente prateado.
-Uma pedra surgiu na taça! – disse Sirius surpreso.
-"Algo apareceu na taça" é um sinal de Materialização. Isso mostra que minha aura tem afinidade com Materialização. Agora tentem vocês. Para saber quem começa, podem usar o Jan-Ken-Po.
-Ganhei de novo. – gabou-se Sirius, indo em direção à taça. Em instantes, o garoto assumira a mesma posição de Lupin, em frente à taça. Se concentrou e em questão de segundos, pequenas gotas de água começaram a escorrer, como se mais água houvesse aparecido na taça.
-"A quantidade da água mudou" é um sinal de Reforço.
-Legal. – murmurou Chris, empurrando Sirius de leve, para tomar seu lugar. Assumiu a posição em frente a taça e se concentrou. Segundos se passaram e Chris abriu os olhos para ver o que havia acontecido.
-Não aconteceu nada. – murmurou Sirius, em dúvida do que aquilo queria dizer.
-É verdade. – concordou Lupin olhando para a taça.
-Quer dizer que não sou bom em nada? – perguntou o loiro, receoso.
-Não, não... prove a água. – disse Remo e quando Chris e Sirius o fizeram, se surpreenderam.
-Está um pouco doce. – disse Chris.
-É verdade. Mas não era água comum?
-"O gosto da água mudou" é um sinal de Transformação. Vocês agora sabem em que categoria se encaixam.
-E as outras categorias? O que acontece?
-Bem, "a cor da água muda" é um sinal de Emissão; "a quantidade da água muda" é Reforço; "a folha se mexe" é Manipulação; "aparece uma impureza na água" é Materialização; "o gosto da água muda" é Transformação e "qualquer outra mudança" é Especialização.
-Legal. – murmuraram os garotos.
-A partir de agora irão treinar essa técnica além do usual Ren e Ten, todos os dias, até que as mudanças que acabamos de ver fiquem bem mais explícitas.
***
-Quer dizer que eles estão dominando o Nen rapidamente? – perguntou o homem.
Lupin concordou com a cabeça enquanto se recostava na fofa cadeira em que estava sentado. Olhou para dentro do pedaço de espelho que estava sobre a mesa à sua frente. Um rosto mergulhado em semi-escuridão o encarava de volta. Os olhos azul-brilhantes do homem se destacavam na penumbra que deixava o contorno de seu rosto quase invisível.
-Eles são bons. Dominam a técnica numa velocidade impressionante. Imagino que estejam dominando a Técnica da Água dentro de poucos dias.
-Ah... sim. Você já passou a Técnica da Água para eles, então?
-Claro que sim. – afirmou Lupin, erguendo uma sobrancelha como se o colega estivesse a questionar seus métodos de ensino.
-E qual o resultado? – perguntou o outro, um quê de divertimento na voz.
-Chris é de transformação e Sirius de reforço.
-Sério?
-É. – Remo parou um instante, observando o contorno irregular do caco de vidro sobre o tampo da mesa.
-Você continua preocupado, Remo? – perguntou o homem de olhos azuis e vendo a confirmação do amigo, continuou. – Com aquela sensação?
-É. Sempre que estou com os garotos, me sinto observado.
-Sim, você comentou isso. Mas observado por quem?
-Eu... não sei. Acho... acho que é Malfoy. – disse o lobisomem, inseguro.
-Malfoy? Draco Malfoy você quer dizer?
-Esse mesmo. – confirmou Lupin.
-E porque Draco Malfoy iria ficar te vigiando?
-Essa é uma boa pergunta, meu caro. E eu gostaria de saber a resposta.
-Eu também. Se você descobrir, me avise. – Lupin notou um tom de ironia na voz do outro.
-Acha que eu estou paranóico? Que estou louco? Pois eu não estou. Quando estou ajudando os garotos na prática do Nen, sinto uma sensação estranha de que estou sendo observado, embora não sinta a presença de ninguém.
-Ele pode estar te observando e usando Zetsu. – sugeriu o homem na semi-escuridão. – Faria sentido, não?
-Sim, mas com que objetivo? E será que Malfoy sabe usar Nen? Acho pouco provável...
-Não foi você que disse estar desconfiado dele? Desconfiado por ele passar alguns dias na casa de Harry Potter, desconfiado por ninguém saber sua profissão, desconfiado pelos sumiços constantes dele.
-Sim, estou desconfiado, mas é que... – Lupin parou de falar instantaneamente, se levantando de sopetão e se virando para olhar o quarto que estivera às suas costas até aquele momento. Aquela estranha sensação de estar sendo observado voltara. Com um movimento da mão, a porta se trancou no exato instante em que uma brisa quente de verão entrou pela janela aberta, invadindo o quarto e tentando inutilmente varrer a sensação desagradável que dominava o ambiente. – Quem quer que esteja aí, usarei Nen para encontrá-lo. É melhor sair agora. Irei materializar meu Nen e depois atacarei sem piedade.
Dizendo as últimas palavras, Lupin fechou os olhos e ergueu a mão direita à frente do corpo. Se alguém usasse Gyou agora, veria uma grande quantidade de energia saindo do corpo aparentemente velho e cansado de Remo Lupin. Em um segundo, pequenos anéis metálicos haviam aparecido em cada um dos dedos da mão direita do homem. Em cada dedo um anel e em cada anel uma fina corrente que subia pelas costas da mão, desaparecendo por baixo da costura da manga da blusa, que apesar do calor, tinha mangas compridas. Lupin mexeu levemente o anelar e a corrente presa ao anel desse dedo apareceu, saindo de dentro da manga do homem. Na ponta da corrente havia apenas uma brilhante bolinha metálica, que balançava inocentemente. Com outro movimento do dedo anelar, a bolinha metálica disparou como uma bala na direção da porta, a corrente se esticando e estendendo em linha reta pelo caminho percorrido. Ao chegar à porta, a bolinha virou velozmente, seguindo para um dos lados, no entanto a corrente continuava erguida no lugar por onde ela passara, estática como uma coisa corriqueira. A situação continuou acontecendo. Logo, todo o aposento estava cortado pela corrente que marcava, erguida e reta, o caminho percorrido. A pequena bolinha metálica se virou bruscamente e voou em direção à janela, imobilizando a um centímetro de cruzar a soleira da janela.
Lupin se aproximou e fechou a janela, trancando-a. Um segundo depois a corrente havia desaparecido, assim como a sensação de estar sendo observado. Remo voltou a se sentar na cadeira, voltando a encarar o companheiro de olhos azuis.
-Está tudo bem? – perguntou o interlocutor.
-Agora está.
-Tinha alguém aí?
-Tinha. Minha corrente o localizou, mas ele saiu pela janela.
-Acha mesmo que pode ser Draco Malfoy?
-É muito provável.
-Mas se o que você diz é verdade, ele sabe usar Zetsu e estava invisível. Será que ele está usando uma capa da invisibilidade ou esse é o Hatsu dele?
-Qualquer que seja a resposta para a sua pergunta, não faz diferença. A única coisa que importa é saber por que ele está me vigiando.
-Talvez ele tenha descoberto que você está ensinando Nen para o filho dele.
-Você acha que pode ser isso?
-Logicamente.
-Mas não teria sentido. Muitos garotos podem dominar o Nen, nunca sem um mestre é claro, mas mesmo assim dá para dominar instintivamente. E por outro lado... o que tem demais em ensinar Nen aos garotos?
-Não pergunte a mim... eu adorei aprender Nen e não vejo nada demais também. Na verdade acho muito bom, pois eles já aprendem a se defender também.
-Tem razão. É bastante útil. E tanto o Christopher quanto o Sirius têm talento para a coisa. Vão dominar todas as partes do Nen rapidamente.
-Tenho certeza que sim. Ainda mais com um professor como você. O que foi que a mestre disse? Que você tem o talento que apenas uma em 100 mil pessoas tem.
-Sim foi isso que ela disse. – concordou Lupin, soltando um suspiro. – Mas esses garotos... eu diria que eles têm um poder maior. Um poder que apenas uma entre 10 milhões de pessoas têm.
-Sério? Esse não é o tipo mais raro de manipulador de Nen?
-É. E na velocidade com que evoluem, não duvido que eles tenham tamanha afinidade com Nen e raridade em poder.
-Entendo. Imagino que isso se deva aos pais deles também, não?
-Ah... com certeza. Por Sirius ser filho de Harry e Hermione, é um garoto corajoso, forte e com poderes extraordinários, sem falar na inteligência anormal. Sua criação aqui nessa mata favoreceu seus sentidos também. – Lupin fez uma pausa, na qual conjurou um copo com água. Bebeu um pouco e recomeçou a falar. – Quanto ao Christopher, não sei ao certo. Ele não sabe Zetsu, mas consegue ocultar sua presença com certa facilidade. Mantém-se calmo nas mais diversas situações e seus passos são incrivelmente silenciosos. Se eu não soubesse, diria que ele foi treinado. Seus músculos e sua estrutura óssea favorecem movimentos rápidos e certeiros. Indubitavelmente isso também se deve aos pais. Gina Weasley, como você bem sabe, é a sétima criança e primeira garota em algumas gerações de uma família de sangue puro. O pai de Chris é Draco Malfoy, que nunca teve poderes extraordinários, mas também tem sangue puro. Você sabe tão bem quanto eu que em certas situações, o sangue não importa e na maioria das vezes é assim, mas você também sabe que a magia e a aura fluem mais facilmente no sangue quando esse tem alta concentração de pureza mágica.
-Sim, eu sei. Mas em outras palavras, você está dizendo...?
-Estou dizendo que por serem filhos de quem são, esses garotos vão ser muito poderosos, desde que tenham o treinamento apropriado.
-Entendo. – respondeu o homem de olhos azuis.
Um silêncio incômodo surgiu entre os participantes da conversa. Silêncio esse, utilizado por Lupin para observar uma mesa ao lado. Mesa essa que estava atulhada de papéis, livros e anotações. Haviam também várias poções coloridas sobre a mesa.
O homem de olhos azuis que o encarava pelo grande caco de espelho, não deixou de notar a direção que o olhar do amigo tomava.
-Ainda não obteve progresso na sua pesquisa, Remo?
-Não. – respondeu o homem de cabelos grisalhos, passando a mão pelos mesmos num sinal de visível frustração. – Não obtive nenhum progresso.
-Sinto muito. Mas tenho certeza de que você irá conseguir algo. Sempre foi genial.
-Eu não sei se conseguirei. Já tentei de tudo... – fez uma pausa onde sorriu tristemente para o amigo. E depois acrescentou em tom de brincadeira. – Só falta eu usar Nen para...
A voz de Lupin parou de sair, quando ele arregalava os olhos. O companheiro notou o olhar de compreensão do lobisomem e riu. Riu não, gargalhou. O som de sua risada se espalhou pelo quarto enquanto Lupin se largava na cadeira em que estava sentado, atônito com a repentina descoberta. Como não pensara naquilo antes. A risada única do homem ainda preenchia seus ouvidos, fazendo com que Remo voltasse seu olhar para os olhos brilhantemente azuis do amigo. Os olhos azuis possuíam um brilho de riso que Lupin não via há anos. E aquela risada. Aquela risada única. Nunca se esquecera dela. Nunca se esquecera de quem ria daquela forma. Uma pessoa que sempre o apoiou e o ajudou. Estava a vagar por pensamentos desse tipo quando o homem voltou a falar, o tom de riso, marcando sua voz:
-Aluado, você é demais. Como eu disse, sempre foi genial, mas igualmente... aluado. - e por fim, voltou a rir com aquela risada rouca e altamente escandalosa que cativava a todos ao seu redor. Aquela risada inesquecível e muitíssimo parecida com um latido rouco.
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