Capítulo Único



Esta fic foi criada para participar do I Challenge Livros criado no forum Grimmauld Place. A Idéia era criar uma fic baseada no título de um livro ou mesmo na estória da obra em questão.

O livro escolhido para inspirar a fic é o A Menina que Roubava Livros. Apesar do livro original contar uma estória séria, a fic resultada dele é uma comédia (ou pelo menos uma tentativa de comédia...rs...)


Um Plano “Quase” Perfeito


- Isto é inadmissível, Dumbledore! – falava McGonagall, as narinas se estreitando num claro rompante de nervosismo. – É a terceira vez só este mês!
- Não ficaria admirado se essa situação vazasse e saísse no Profeta Diário – comentou o Professor Flitwick.
- Oras, Fílio! Até parece que o Profeta Diário vai se interessar por um sumiço de livros da biblioteca quando tem assuntos mais importantes para vasculhar. Talvez uma nota sobre o acontecido apareça no Pasquim, sob o título “Gnomos Eruditos Recuperam os Livros Roubados pelo fantasma de Godric Gryffindor” – retrucou Snape sarcasticamente.
Dumbledore, que até então estava quieto, as pontas dos longos dedos unidas em sinal de que pensava no assunto, pôs-se de pé e caminhou até ficar entre os três professores que discutiam com ele o sumiço dos livros da biblioteca.
- E o que Madame Pince disse a respeito desse sumiço? – perguntou calmamente.
Os três professores se entreolharam. Até aquele momento não haviam falado com a bibliotecária. Aliás, ela nem dera pela falta dos tais livros. Apenas os professores, que procuraram alguns exemplares para preparar suas aulas, é que notaram que os livros foram retirados da biblioteca sem a devida anotação no pergaminho de empréstimos.
- Ela... ela ainda não foi informada sobre o assunto – respondeu McGonagall, contrariada.
- Então, nos cabe a princípio comunicá-la e ver o que ela tem a dizer a respeito. – sentenciou Dumbledore, retornando a sua cadeira com a mesma calma com que se levantou.
O professor Flitwick se ofereceu para procurar Madame Pince, mas Snape se precipitou, dizendo que poderia chegar até a biblioteca mais rápido.
Enquanto se dirigia à ala em questão, foi raciocinando o quanto pareceu ridículo ao acompanhar Minerva e Filio para alertar Dumbledore sobre um provável roubo de livros na biblioteca. Nem sequer haviam checado nada com a responsável pelos tais livros, como poderiam fazer aquela queixa ao Diretor sem ter bases concretas?
Madame Pince já ajeitava todos os seus pertences, arrumando os pergaminhos e penas sobre a mesa para adiantar o expediente da manhã seguinte. Snape entrou com sua determinação de sempre.
A bibliotecária não se espantava com aquelas aparições. Severo tinha o costume de buscar seus livros sempre no último minuto para, segundo ele, evitar que os alunos bisbilhotassem suas preferências literárias.
Ela só não entendia o que tinha demais em saber que um professor só pega livros de poções ou de herbologia. Se ele ainda se interessasse pela Seção de Livros Reservados Para Professores Adultos, como “Duendes Ardentes” ou ainda “Uma Poção para Mil e Uma Noites”. Mas nunca! Todos os professores já passaram por aquela seção, até mesmo Minerva e Cutbert Binns. Menos ele! Ou se tratava de alguém extremamente puritano ou com gostos demasiado bizarros...
- Boa noite, Irma! – disse Snape arrancando a bibliotecária de suas divagações sobre as preferências sexuais (ou falta delas) do professor de Poções.
- Boa noite, Severo! Precisa de algum livro?
- Não, Irma. Hoje só vim trazer um recado do professor Dumbledore. Ele precisa vê-la imediatamente em seu escritório.
O recado sobressaltou Madame Pince. Era anormal Dumbledore querer vê-la. Desde que foi admitida em Hogwarts só se encontrava com o diretor nos eventos da escola. Até mesmo os pedidos de novos livros ela tinha autonomia para fazer, desde que não ultrapassasse a verba destinada anualmente para a biblioteca.
Pegou o pesado molho de chaves com que trancava as portas da biblioteca antes de lançar um feitiço imperturbável e seguiu Snape até a sala de Dumbledore. O professor de Poções murmurou “Caramelo de barata” à gárgula e subiu os degraus num silêncio acusador.
No escritório de Dumbledore, Minerva McGonagall e Filio Flitwick esperavam ansiosos. Ainda debatiam as possibilidades do acontecimento, enquanto Dumbledore comia calmamente algumas balas de alcaçuz.
- Professor! - chamou Snape, entrando na sala seguido por Madame Pince.
- Ah, sim, Irma! Que bom que pôde acompanhar Severo!
- Professor, eu fiquei preocupada. Aconteceu algum problema?
- Não estou bem certo disso, Irma. Acredito que se trate apenas de um mal-entendido. Os caríssimos professores aqui presentes me procuraram para informar que alguns livros simplesmente sumiram da biblioteca.
Madame Pince olhou chocada e ofendida para os colegas. Jamais em toda estória de Hogwarts um livro sumiu da biblioteca. Era uma tradição da família Pince cuidar dos livros de Hogwarts como se cuidassem das próprias vidas.
- Não pode ser, Alvo! – respondeu indignada. – Todos os livros que saem da biblioteca durante o horário de funcionamento são devidamente registrados por mim.
- E os que saem depois? – insinuou Snape maldosamente.
- O que quer dizer, professor?
- Não é segredo para ninguém que os alunos dessa escola andam por toda a propriedade bem depois do horário permitido. Eles podem entrar em sua biblioteca e retirar os livros que quiserem.
- Não podem, pelo simples fato de eu lançar um feitiço bastante potente para deter os livros em suas prateleiras, professor! – Madame Pince bateu categoricamente um dos pés ao chão, dando a entender que a discussão sobre seus cuidados com os livros se encerraria por ali.
- Então, só nos resta checar a biblioteca e ver onde os livros podem estar – sugeriu Minerva.
- Sim. Vamos todos e eu irei lhes mostrar que os livros estão em seus devidos lugares!
A pequena comitiva de professores desceu as escadas e se dirigiu à biblioteca. Madame Pince desfez os feitiços de segurança, destrancou a porta e todos entraram.
-Quais livros vocês dizem que sumiram?
À medida que os professores indicavam os nomes, Madame Pince consultava seu caderno de anotações e constatando que os livros não estavam oficialmente emprestados para ninguém executava um feitiço convocatório.
E a expressão da bibliotecária foi de pura surpresa quando nenhum dos livros respondeu a seu feitiço. McGonagall precisou convocar uma cadeira rapidamente, antes que Irma caísse desolada.
As lágrimas rolavam pela face da bruxa, que ficou se lamentando, dizendo que “durante gerações tal coisa nunca aconteceu, que seria uma vergonha para os Pince se os livros não fossem achados”.
O estado de choque de Madame Pince foi tão grande que ela precisou ir até a ala hospitalar tomar um calmante.
Quando a deixaram em seus aposentos, Dumbledore chamou os professores a um canto do corredor e falou:
- O sumiço dos livros em questão não me preocupa, mas o estado de saúde de Irma sim! Portanto, precisamos recuperar esses livros. Façam o que for preciso! E tenham uma boa noite.
Cada professor voltou para seus aposentos imaginando um meio de solucionar aquele problema. E involuntariamente, um nome suspeito pairava na cabeça de cada um deles: Hermione Jane Granger.

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- É sério, Harry! Eu ouvi dizer que ela foi estuporada por um comensal! – falou Rony enquanto andava atrás do amigo até o Salão Principal para o almoço.
- Deixa de bobagem, Rony! – retrucou Hermione. – Você acha mesmo que um comensal ia conseguir entrar aqui no castelo? E mesmo que entrasse, o que ele ganharia estuporando a bibliotecária?
- Livros da Seção Reservada, Mione! Eles estão atrás de um ritual de magia negra para trazer Voldemort de volta!
- Sua imaginação é absurdamente fértil, Ronald Weasley! Pena que você a use para pensar apenas bobagens sem sentido – falou uma voz feminina às costas do ruivo.
- Professora McGonagall! – exclamou Hermione. – é verdade que a Madame Pince precisou dos socorros de Madame Pomfrey esta noite?
A diretora da Grifinória encarou os olhos castanhos da menina, esperando que eles se denunciassem. Mas Hermione continuava firme, interessada no estado de saúde da funcionária com quem ela mais conversava no castelo.
- Sim, Srta. Granger. Madame Pince teve um pequeno mal-estar e nós a levamos até a ala hospitalar, onde ela foi devidamente medicada. Agora ela está repousando e deve ficar assim até amanhã pela manhã.
- E a biblioteca vai ficar fechada esse tempo todo? – questionou numa indignação muito convincente.
- Sim! Os deveres também serão adiados em um dia para que ninguém seja prejudicado, podem ficar tranqüilos.
McGonagall saiu de perto dos três amigos, ainda ouvindo os cochichos sobre o assunto. Em cada parte do salão os comentários eram de que Madame Pince fora atacada, vários livros da Seção Restrita desapareceram e uma enorme pichação foi feita na parede, mandando todos tomarem cuidado, nos mesmos moldes de quando a Câmara Secreta fora aberta. A imaginação do grande número de pessoas que espalhavam a história a tornava cada vez mais cheia de detalhes que não condiziam exatamente à verdade dos fatos.
A professora de Transfiguração balançou a cabeça desanimada. Sabia por experiência própria, que quanto mais secreta fosse uma história em Hogwarts, mais ela seria fantasiada pelos alunos.
Quando a biblioteca reabriu, muitos alunos aplicados foram prestar seus sentimentos à Madame Pince, mais no intuito de descobrir alguma coisa sobre os comensais e os livros roubados do que por interesse na saúde da bruxa amargurada.
Hermione, no entanto, parecia extremamente preocupada, e aproveitou todos os seus horários de folga para ajudar Madame Pince na biblioteca, colocando os livros em ordem, recolhendo pedaços de pergaminho esquecidos pelos alunos e até trazendo água para a bibliotecária.
Apesar da boa vontade, a jovem não sabia que cada um de seus gestos não era visto com bons olhos. Snape, Flitwick e McGonagall vigiavam a garota de perto.
Assim, tudo correu normalmente por mais três dias, quando Madame Pince notou o sumiço de mais dois livros.
- Impossível! Isso não está certo! Eu vigiei a Srta. Granger o tempo todo na última semana – comunicou Flitwick.
- Você não deve ter feito sua tarefa direito, Filio. Nós até entendemos que deve ser difícil enxergar os lugares mais altos. Ela pode ter passado por cima das estantes.
- Basta de zombaria, Snape! – ordenou Dumbledore, embora sua voz continuasse complacente. – Se não confia na vigilância de Filio, você pode assumir essa investigação.
O professor de Poções imaginou toda sorte de impropérios para aquele velho caduco. E ficou agradecido ao imaginar que Dumbledore não era tão desconfiado de seus professores para sair por aí usando legilimência a torto e a direito. Deu seu menos falso sorriso amarelo e questionou:
- Não seria mais fácil convocarmos Alastor Moody para fazer essa investigação? Se forem mesmo bruxos das trevas que estão sumindo com os livros...
- Duvido muito que os comensais da morte se interessem por livros empoeirados como “Grandes Feitiços Domésticos”, “Poções Para Tirar Manchas” e “Como Transfigurar sua Coleção de Verão para Inverno” – ralhou Dumbledore, que já estava ficando cansado de tantos problemas.
Se Madame Pince não fosse tão estranhamente zelosa com seus livros, ele teria mandado comprar outros exemplares, ou mesmo teria deixado aquilo passar. Aqueles livros que estavam sumindo apenas ocupavam espaço nas prateleiras e até então ele achava que somente aqueles três professores se interessavam pelos volumes em questão.
A citação dos títulos ali na sala de Dumbledore, amplamente iluminada pela luz do luar, fazia com que a situação ficasse ainda mais ridícula. E todos os professores sentiram as bochechas assumirem um calor incômodo, típico de quem está envergonhado.
- Eu assumo a tarefa! E garanto que até o fim da semana terei desmascarado a Srta Granger! – falou Snape dando as costas ao grupo e saindo da sala sem se despedir.
Dumbledore sorriu e dispensou os outros professores. Precisava pensar em inúmeras coisas naquela noite. A segunda tarefa do Torneio Tribruxo aconteceria em pouco menos de dois meses e ainda havia muito o que preparar.
Intimamente, não deixou de torcer contra Severo Snape pela primeira vez em sua vida. Torcia para que a Srta. Granger não fosse a culpada, embora todas as evidências apontassem contra ela. Era a única que freqüentava com assiduidade cada canto da biblioteca e poderia ter passado inocentemente desapercebida pelo olhar confiante de Madame Pince.
Hermione não notou que durante toda a semana, Snape sempre estava por perto. Apenas Harry parecia dar importância àquela presença sinistra do professor de Poções em todos os cantos do castelo, como se conhecesse cada uma das passagens secretas descritas no Mapa do Maroto.
- Ele está me seguindo! Acha que vou trapacear na tarefa! – falou entre os dentes para Rony e Hermione durante o café da manhã.
- Você está exagerando, Harry! Por que ele o seguiria? Se pensasse que iria trapacear, cuidaria de denunciá-lo para o Ministro - raciocinou Hermione.
- Mas então por que ele sempre aparece onde nós estamos? – questionou Rony, que depois da Tarefa do dragão, decidiu que apoiaria Harry em tudo, mesmo na idéias mais absurdas.
- Talvez ele queira se certificar de que você está fazendo as tarefas, mesmo que Harry tenha sido dispensado de algumas. – gracejou Hermione, referindo-se a Rony.Em seguida, dobrou sua edição do Profeta Diário e saiu da mesa.
Harry ainda deu um último olhar para Snape antes de acompanhar a amiga para fora do Salão e buscar seu material para a primeira aula do dia.

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- Então eu não fui o único que falhou nessa história? – questionou divertido o professor Flitwick, diante de um irritado Snape.
- Não foi falha, Filio! – zangou-se o professor de Poções. – O que aconteceu foi apenas uma sondagem de território. Estamos lidando com Hermione Granger, esqueceu? Ela é a bruxa mais insuportavelmente capaz num raio de 500 quilômetros!
- Esta é a primeira vez que vejo você dizer alguma coisa positiva para um aluno da Grifinória, Severo – interpôs-se Minerva.
- Não foi um elogio, eu garanto!
- Bom, de onde eu venho, isso é uma qualidade e creio eu que sua única implicância contra a Srta. Granger é a capacidade que ela tem de conquistar pontos para a Grifinória em todas as aulas, com exceção das suas.
- Minha única implicância com essa menina intragável é que ela é uma ladra de livros e não me espantaria que ela os roubasse apenas para testar suas tão fabulosas habilidades com feitiços.
- Eu adoraria que vocês parassem de discutir como duas crianças que brigam para ver quem vai primeiro ao balanço – interrompeu Dumbledore. – Guardem suas energias para o que realmente importa.
Os professores olharam empertigados para o diretor de Hogwarts. O que quer que tenha acontecido parecia sério e o tom de voz usado por Dumbledore não era dos mais amistosos.
- Enquanto vocês se preocupam em ser mais ou menos eficientes do que seus colegas, um novo roubo aconteceu na biblioteca, e desta vez os livros foram um pouco mais interessantes do que as trivialidades de rotina.
- Quais exemplares sumiram desta vez? – perguntou McGonagal.
- Sumiram dois livros únicos sobre Rituais Holísticos e um volume particularmente raro sobre Encantamentos Para Amansar Animais Mágicos.
- Se a tarefa com os dragões não tivesse passado eu diria que esse sumiço teria a ver com o Potter – resmungou Snape.
- Acho que precisamos de uma vigilância integral. Se durante o dia a Srta. Granger não se apropria indevidamente dos livros, então só pode fazer isso à noite. E para vigiá-la nesse período, creio que sou a pessoa mais adequada. – comentou Minerva assumindo a tarefa da semana para si.
Os dias e as noites se passavam sem que Hermione desse nenhum passo em falso. Por vezes seguidas, Minerva McGonagall até se transfigurou em gato para tentar uma comunicação com o meio-amasso de estimação da garota. Mas Bichento sabia bem pouco sobre as atividades noturnas de sua dona, já que passava boa parte desse tempo caçando ratos ou se encontrando às escondidas com Madame Nora.
Decidida a descobrir o que Hermione fazia para conseguir passar despercebida, McGoganall tomou uma medida drástica. Esperou que todos os alunos fossem para seus dormitórios e quando não havia mais ninguém olhando, desiludiu-se.
Assim, camuflada pelo feitiço, subiu lentamente os degraus que davam para o quarto que Hermione dividia com Lilá Brown e Parvati Patil. Lá chegando, tomou todo o cuidado para não ser ouvida. Verificou em cada uma das camas e, tendo a certeza que todas as alunas estavam adormecidas, resolveu montar guarda na porta do quarto.
Na manhã seguinte, saiu de seu posto extremamente fatigada e desfez o encantamento que a deixava camuflada. As olheiras eram visíveis e nenhuma das poções revigorantes oferecidas por Madame Pomfrey conseguiram diminuir o efeito da noite não dormida.
- Minerva, você não é mais uma adolescente para varar a noite assim, estudando – ralhou Madame Pomfrey.
- Papoula, eu sei bem a minha idade! Mas foi uma ocasião rara. Tem certeza que não pode dar um jeito nessas olheiras? Nenhuma compressa, pomada, nada?
- Infelizmente usei tudo o que tenho e as manchas escuras continuam aí.
- Ai, eu mais pareço um zumbi! O que os alunos vão pensar?
- Nada! Elas não precisam pensar nada, se você disser que está indisposta e que irá descansar. Aproveite que hoje é sábado e durma um pouco!
McGonagall olhou-a como uma criança que olha para um prato de doces. Havia esquecido completamente que já era sábado. Num arroubo de alegria bem incomum, abraçou Madame Pomfrey, dando-lhe um estalado beijo na bochecha.
Saiu da ala hospitalar com a animação de uma adolescente e caminhou pelos corredores ainda silenciosos. Chegou a seus aposentos e lançou um olhar apaixonado a sua cama. Os travesseiros fofos pareciam mais convidativos do que nunca. E os cobertores feitos da mais pura lã de cabra-mocha ofereciam um irresistível calor aconchegante.
Minerva despiu as vestes de professora e vestiu sua camisola de algodão, estampada de florzinha. Calçou as meias listradas que sempre usava para dormir e deitou-se. Ainda se lembrou de fechar as cortinas com a varinha, antes de cair num sono profundo.
BAM! BAM! BAM!
Ao longe, Minerva ouvia algumas batidas. Seria aquele musculoso lenhador que vez ou outra a perseguia, chamando-a de bela vovó?
BAM! BAM! BAM!
Mas as batidas eram diferentes. Eram mais secas que as machadadas do lenhador. Talvez, pensou esperançosa, o lenhador tivesse mudado de ferramenta. Só para variar!
- Professora McGonagal! – berrou uma voz seguida de novos “BANS”!
Minerva olhou para os lados. Seu lenhador nunca a chamara de professora.
- McGonagal, abra! É um assunto urgente!
Só então é que Minerva entendeu que as batidas não vinham de seu sonho, mas da porta do dormitório. E era Dumbledore quem a chamava com tanta pressa.
Saltou da cama, ainda envergonhada de seus próprios sonhos, vestiu o roupão matelassado e, ainda ajeitando os cabelos sob a touca, abriu a porta.
- Professor, desculpe-me! Tive uma noite particularmente difícil e...
- É sobre isso que quero falar com a senhora! Diga-me, a Srta. Granger permaneceu a noite inteira no quarto?
- Sim, a noite inteira. Só deixei o corredor após ter amanhecido – respondeu alarmada.
- Então o nosso enigma é ainda maior!
O tom de voz de Dumbledore indicava que a situação saía de uma ridícula travessura de adolescente para um caso de total importância na escola.
Meia hora depois, todos os professores, sem exceção, reuniam-se na sala do diretor. Dumbledore explicou em termos gerais tudo a respeito do sumiço dos livros e não se mostrou surpreso quando todos perguntaram sobre Hermione Granger.
- Temos que concordar que a menina é anormalmente inteligente – falou a professora Vector.
- Eu temo concordar com vocês – comentou Sibila Trelawney. – Mas a Srta. Granger é deveras muito inteligente e revela uma aura ambiciosa, capaz de qualquer coisa para desmoralizar os professores desta instituição.
Dumbledore acompanhava as considerações dos colegas, preocupado com o fato de que todos acusavam Hermione Granger. Quando os ânimos se acalmaram, ele tomou a palavra.
- Gostaria de informar aos senhores que suas suspeitas também foram as nossas. E por isso, há exatas três semanas a Srta. Granger está sob severa observação, sem que tenhamos qualquer sucesso em apanhá-la. Até durante a madrugada ela ficou sob vigília e de nada adiantou.
- A menina é mais esperta que nós, Dumbledore! – exasperou-se Flitwick. – Lembro que na primeira aula que dei a turma da Grifinória no primeiro ano, ela conseguia conjurar qualquer feitiço sem a menor dificuldade. Deve ter um truque que nós desconhecemos.
- Prefiro pensar que ela, ou quem quer que esteja fazendo isso, conte apenas com sorte e não com conhecimentos que vão além de suas devidas idades – considerou o diretor.
A discussão recomeçou e Dumbledore precisou falar mais alto que de costume para fazer todos aqueles professores se calarem.
- Eu tenho um plano para desmascararmos essa pessoa. Proponho o seguinte...
Cada professor ouviu atento às palavras de Dumbledore. No final, o plano foi aprovado por unanimidade. Era simples, limpo e discreto como tudo que Dumbledore se dispunha a fazer. E por isso mesmo, teria todas as chances de funcionar.


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As luzes da biblioteca foram sutilmente apagadas. Madame Pince preparou tudo com esmero. A mesa que antes servia para aparar suas anotações sobre os livros solicitados pelos alunos de Hogwarts agora estava coberta com uma toalha de linho vermelha. Sobre ela, alguns pratos com queijos finos, temperados com ervas e azeite, para acompanhar o fino vinho dos elfos que serviria para seu convidado tão especial.
Nas outras noites em que se encontraram naquele mesmo lugar, eles apenas conversaram. Mas ela estava disposta a mudar um pouco o relacionamento deles.
Encostou a porta da biblioteca alguns minutos antes do horário previsto e aguardou. Sabia que ele era pontual. E não se decepcionou. Logo que tomou assento junto à mesa e acendeu as velas que iluminariam aquele jantar, ele entrou.
Passava nervosamente as mãos pelos cabelos. Os passos fortes se fizeram ouvir por toda a biblioteca. E a pessoa se aproveitou mais uma vez do encontro clandestino dos dois funcionários de Hogwarts para entrar sem ser notada na biblioteca.
Rumou para um dos corredores cercados pelas estantes de livros e foi procurar algo que lhe interessasse.
Do lado de fora da biblioteca, os professores se preparavam para colocar em prática o plano de Dumbledore.
- Veja – chamou Minerva. – Há uma movimentação em um dos corredores.
Os professores atentaram à janela para a qual McGonagall apontava e observaram um vulto magro, de cabelos fartos e cacheados, passar resoluto e entrar num dos muitos corredores cheios de livros.
- Vamos entrar agora mesmo – sugeriu Snape.
- Não! – protestou Dumbledore. – Precisamos pegá-la quando deixar a biblioteca com os livros em mãos. Não estamos aqui para punir alunos que simplesmente vêm estudar fora de hora. Vamos nos dividir e vigiar.
Assim, cada professor foi para uma das muitas janelas da biblioteca, cercando assim todas as possíveis saídas. Se Hermione quisesse sair sem ser vista, deveria saber atravessar paredes. E isso não era uma habilidade que se ensinava em Hogwarts.
Lá dentro, a gatuna escolhia tranqüilamente quais volumes leria na própria biblioteca, enquanto esperava que o encontro terminasse, e quais levaria para ler depois.
- Ah, você veio, Rúbeo! – disse Madame Pince com uma voz anormalmente sexy.
- Eu não podia recusar um convite seu, Irma! – respondeu o guarda-caça tomando a mão da bibliotecária e dando um beijo, num gesto que ele jurava ser elegante, mas que era absolutamente desajeitado na figura do meio-gigante.
- Fico feliz! Tenho apreciado e muito as nossas conversas, sabe? Nunca pensei que um dia fosse aprender mais com alguém do que com os meus livros.
Hagrid deu uma risada sem graça e respondeu:
- Mas eu ainda não lhe ensinei a metade das coisas que sei!
Do seu lugar, a pessoa que esperava o final do encontro sentiu o estômago revirar. Era muito estranho ouvir Hagrid flertando com alguém. Ainda mais com Madame Pince, que todos juravam ter um caso com Filch.
- Este livro, por exemplo – falou Hagrid para mostrar todo seu conhecimento que parecia capaz de seduzir a bruxa. – Está completamente equivocado. Onde já se viu dizer que para conseguir colher os fungos das orelhas de um rumbaláceo é preciso fazer cócegas em suas bochechas...
- Mas não é assim? – perguntou a bruxa enquanto servia vinho para os dois.
- Não! Escute o que eu digo, Irma. Se você encostar nas bochechas desse bicho, vai direto para o St. Mungus com uma infecção generalizada. É a parte mais suja do rumbaláceo. Se quiser um pouco dos fungos que eles cultivam nas orelhas, deve se aproximar com cautela e beijar as pontas dos dedos dos pés deles.
A mulher deve ter feito uma cara de nojo, pois Hagrid riu divertido e completou:
- Acredite, é o jeito mais fácil e mais higiênico que existe!
Madame Pince riu do gracejo, ficando séria logo em seguida. Bebericou da taça em silêncio e desviou os olhos do seu convidado.
Hagrid notou a mudança. Não precisava ser nenhum [i]expert[/i] na alma feminina para entender que Irma o provocava. Ela queria dizer alguma coisa, mas só o faria se fosse instigada. Fazendo o jogo da bibliotecária, ele perguntou:
- Algum problema, Irma? Eu disse alguma coisa que lhe ofendeu?
- Não, Hagrid! – respondeu forçando um tom de voz triste e aborrecido, que beirava ao cômico. – Não foi algo que você disse, mas algo que você fez!
Pela primeira desde que começara com aquele estranho hábito de pegar os livros da biblioteca sem que ninguém visse, jamais se interessou pelas conversas entre Hagrid e Madame Pince.
Mas toda aquela preparação, as velas, as risadas forçadas, o vinho dos elfos, chamaram sua atenção. Observava a cena com a nítida sensação de que assistia uma peça de teatro mecanicamente encenada. Cada gesto de Madame Pince parecia saído de um desses romances de bolso que as mulheres mais velhas costumam ler para passar o tempo.
- O que eu fiz de tão grave assim, Irma? – perguntou Hagrid dando à voz seu melhor tom de preocupação.
Madame Pince depositou a taça com uma força calculada para fazer o barulho de vidro se chocando à madeira ecoar pela biblioteca e levantou-se, dando as costas ao meio-gigante.
- Pensa que eu não soube? Achou mesmo que ninguém me contaria que você levou aquela grandalhona para ver os dragões?
Então era isso! Madame Pince estava com ciúmes de Madame Maxime. Do seu canto, atrás dos livros, a “gatuna da biblioteca” abafou uma risada. E teve que se controlar mais ainda quando Hagrid tentou se aproximar da bibliotecária, com um pedido de desculpas e uma explicação nada convincente.
Vendo que Irma não estava disposta a voltar para a mesa, retirou da lapela uma flor já levemente ressecada (a mesma que ele usou no encontro com Madame Maxime) e estendeu na direção da bruxa.
Madame Pince olhou a flor, comovida. Pegou-a e alisou carinhosamente as pétalas secas fingindo que podia sentir algum resto de perfume naquele presente.
- Eu não poderia levar você, Irminha! Entenda, por favor! Os dragões são muito perigosos, especialmente aquele rabo córneo húngaro... Você viu o que ele quase fez com o Harry...
- Mas você a levou, não é mesmo? E eu soube que vocês ficaram admirando o rabo córneo sob as estrelas!
- Não foi bem assim, Irminha! Eu queria ter levado você para ver o rabo córneo comigo, mas você é tão delicada! Tão sensível! Poderia se assustar.
- Não sou tão delicada assim – retrucou aborrecida. – E posso provar!
E antes que Hagrid ou qualquer outro pudesse se virar, Madame Pince desabotoou a gola do vestido e tirou a parte de cima no mesmo instante em que virava de costas e revelava uma enorme tatuagem recém-feita.
Hagrid ficou encantado! Nas costas da bibliotecária agora se via um belo hipogrifo, empinado com as asas abertas, ameaçadoras.
Antes que o meio-gigante pudesse colocar as mãos no desenho, Madame Pince tornou a cobri-lo com o vestido e encarou, desafiadora, seu convidado.
- Eu lhe disse que seria capaz, Rúbeo. Afinal, eu não sou uma velha bruxa cheirando a poeira de livros!
- Nunca pensei isso de você, Irminha – respondeu apressado, tentando evitar que a bruxa se irritasse sem necessidade.
- Oh, você não, Rúbeo. Mas a escola inteira comenta isso às minhas costas. Essas roupas, essa profissão, tudo conspira para me deixar com esse ar de rata de biblioteca.
Hagrid abraçou a bibliotecária para conter seu ataque histérico. De seu posto de observação, a intrusa ladra de livros pôde ver Madame Pince sorrir. Sim, era tudo um jogo. Cada palavra, cada alteração na voz não passava de um plano para seduzir o guarda-caças do castelo.
O cabelo farto e cacheado lhe caía na cara, tampando a visão e a toda hora precisava abaixá-lo com as mãos. Decidiu que não mais veria a cena e que se concentraria na leitura. Abaixou a cabeça, agitou a varinha murmurando [i]Lummus[/i] e apontou para as páginas amarelas.
Do lado de fora da biblioteca, Snape estava impaciente e andava de um lado para o outro. Não gostou da idéia de Dumbledore de colocar Fltiwick na porta. Se a Granger passasse por ali correndo, o professor de Feitiços seria incapaz de detê-la.
- Talvez – pensou Snape – seja isso mesmo que Dumbledore quer. Ele não ia gostar nada de castigar a melhor amiga do Potter. Ainda mais num ano tão complicado quanto este.
Mas ele não deixaria que a insuportável sabe-tudo da Granger passasse sem receber o devido castigo. Sairia de seu posto e ficaria espreitando a uma certa distância. Quando a garota saísse da biblioteca, com certeza ele a pegaria. Mesmo que lhe custasse ter que aturar os olhares tortos de Dumbledore depois.
Na mesa de Madame Pince, estrategicamente colocada fora das vistas de todas as janelas, o queijo já havia sumido por completo e todas as garrafas de vinho já haviam sido bebidas. A anfitriã agora voltava a fazer seu jogo de sedução, dando indiretas em Hagrid, dizendo o quanto ele ficaria bem com uma tatuagem de um espinheiro venezuelano no braço.
Tal comentário chamou novamente a atenção da ladra de livros. Balançou a cabeça, pensando o quanto aquela frase fora idiota. Madame Pince parecia uma adolescente, e esse tipo de atitude não ficava nada bem para uma bruxa da idade dela.
Largou o livro aberto sobre a mesa, empilhou os que pretendia levar e tornou a observar o “namoro” do guarda-caças com a bibliotecária. Não pôde evitar pensar que Filch ficaria arrasado quando descobrisse o tórrido romance que estava começando entre os livros e na calada da noite.
Entre um elogio e outro, a bibliotecária se levantou. Provavelmente iria buscar a sobremesa. Nem bem deu dois passos e acabou tropeçando sobre o meio-gigante, caindo de encontro ao peito largo e coberto pelo grosso casaco de peles.
- Ou foi um truque muito bem ensaiado ou o vinho subiu à cabeça da “Irminha” – a intrusa murmurou para si mesma.
Independente do que motivou aquele tropeço, o importante é que a bibliotecária conseguiu o que tanto queria desde o começo da noite. Hagrid encarou-a, com as bochechas muito vermelhas de vergonha, segurou-lhe o queixo e se aproximou para lhe dar um beijo.
Assustada com a possibilidade de presenciar aquela cena, a ladra se afastou apressada da estante, batendo contra a mesa e derrubando a pilha de livros que havia arrumado instantes antes.
O casal se sobressaltou com o barulho e Madame Pince ficou de pé, extremamente embaraçada enquanto falava:
- Quem está aí?
- O barulho veio de lá – falou Hagrid apontando para lado em que a gatuna agora rearrumava os livros.
Hagrid tinha uma audição muito apurada, fruto de anos e anos trabalhando na Floresta Proibida. Precisava pensar rápido. Tinha certeza que Hagrid detectara com precisão a origem do barulho e logo chegaria ali.
Apanhou os livros que podia carregar e saiu correndo pelo outro lado da estante, pensando unicamente em alcançar a porta e subir para seu dormitório. A saia e o sapato alto lhe impediam de correr com mais velocidade. Mas não teria tempo de tirar os sapatos, teria que correr daquele jeito mesmo.
- Pare! – ouviu Madame Pince gritando atrás de si, mas nem se virou para ver a que distância a bibliotecária se encontrava.
Alcançou a porta da biblioteca, empurrando-a com um feitiço. A porta abriu com um estrondo e acertou o professor Flitwick com muita força, arremessando-o de encontro à parede.
De seu posto, Snape viu os cabelos fartos de Hermione esvoaçando pelos corredores. Deu o sinal combinado para os outros professores que correram para o local. Agora todos eles, inclusive Hagrid e Madame Pince, seguiam a garota, que revelava uma agilidade felina se esgueirando pelos corredores.
Finalmente, depois de muita correria, eles conseguiram encurralá-la num corredor sem saída. Os ombros da garota tremiam de nervoso. Ela colocou os livros com cuidado no chão, mas se recusou a virar de frente para os professores.
Cansado de ser feito de bobo pela menina, Snape gritou:
- Hermione Granger!
- Exatamente, professor! – disse a voz de Filch atrás de todos.
Os professores se viraram e observaram, estupefatos, o zelador se aproximar arrastando por uma mão a garota da Grifinória e pela outra o aluno da Durmstrang, Vitor Krumm.
Snape olhava de uma Hermione de costas para a outra sendo arrastada por Filch. Seria possível que aqueles alunos mal-criados tinham se atrevido a preparar a poção polissuco sem o conhecimento dos professores? Agora, ele torcia para que aquela não fosse nenhuma das idéias estúpidas de Draco Malfoy para prejudicar a Grifinória.
- Eu os encontrei numa das salas de aula, diretor! – explicou Filch.
Todos os olhares passaram de chocados para curiosos. Hermione não parecia ser dessas meninas que marcam encontros amorosos na madrugada.
- Srta Granger! – exclamou McGonagall – Pode nos explicar o que estava fazendo?
- Eu...eu só estava dando aulas de inglês para o Vitor, professora – respondeu de cabeça baixa.
- Filch, quando os encontrou, o que lhe parecia que eles estavam fazendo? – perguntou Snape tentando encontrar um meio de complicar a situação da garota de qualquer jeito.
- Isso mesmo que ela disse, professor. Ela estava explicando os tempos verbais e ele anotava tudo num pergaminho que eu também confisquei.
Dumbledore, que até então não havia aberto a boca, ordenou:
- Pode soltá-los, Filch! Não posso condenar ninguém por querer aprender uma nova língua. E menos ainda por aceitar ensinar, mesmo que isso signifique correr alguns riscos.
Os lábios de Snape crisparam de ódio. Dumbledore sempre era condescendente com os alunos da Grifinória.
- O que me importa agora é saber quem se fez passar pela Srta Granger, para sumir com os livros da biblioteca.
Os olhares se voltaram para a grande cabeleira castanha ainda voltada com a cara para a parede no fim do corredor. Respirando fundo, a ladra de livros levou a mão ainda trêmula até os cabelos e os puxou.
Um “oh” de espanto percorreu todo o lugar. Até mesmo Hermione levou uma das mãos à boca, abafando um grito de contrariedade.


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Os cabelos vermelhos de Ronald Weasley agora se confundiam com o tom de seu rosto envergonhado. Estava sentado na sala de Dumbledore desde que tirara a peruca diante de todos os professores, do zelador, da amiga e do maior jogador de quadribol do mundo.
A idéia do quanto deve ter parecido ridículo, usando as saias do uniforme que pegou escondido do malão da irmã e os sapatos velhos de sua mãe, o atormentava.
No fundo, sentia-se grato por Dumbledore não permitir que nenhum professor falasse com ele. Daria as explicações somente para o diretor e seria ele quem escolheria o castigo.
Quando o diretor entrou, exibia um sorriso contido. Ronald ainda usava saias e meiões, mas já havia tirado os sapatos. Dumbledore circulou a mesa e sentou-se de frente para o rapaz. Inclinou o corpo na direção dele e falou:
- Pode começar a se explicar Srta. Weasley. Perdão, Sr. Weasley.
Rony não conteve uma risada nervosa e então começou a explicar que há muito tempo observava o quanto Hermione gostava de ler. Pensou que não devia ser uma coisa tão chata, acabou se interessando por alguns livros.
Mas nunca conseguia terminar de lê-los no tempo estipulado pelas regras da biblioteca. Aí que veio a idéia de pegar os livros escondidos e devolvê-los depois de ler. Não queria ficar com nenhum dos livros para si, só queria mais tempo para ler.
- E por que não devolveu os livros que pegou antes de buscar outros?
- Eu ainda não terminei de ler aqueles, professor. – as orelhas de Rony ficavam cada vez mais vermelhas e o menino sentia que elas poderiam cair fritas a qualquer momento – E também não consigo me concentrar numa única coisa por muito tempo, entende?
- Entendo, Rony! Entendo perfeitamente. A única coisa que não compreendi ainda nessa história toda é a necessidade de se vestir como a Srta Granger.
Dumbledore finalmente havia tocado na parte mais delicada da questão. E o bruxinho ruivo respondeu sem ter a certeza que o diretor poderia acompanhar seu raciocínio:
- Bem... foi só uma precaução! Se alguém visse Hermione passando com um monte de livros nas mãos não iria estranhar. Mas se me visse, o senhor sabe, iriam todos apontar e tirar sarro da minha cara.
- E não lhe passou pela cabeça que se fosse desmascarado, o sarro que seus amigos tirariam seria ainda maior?
Os olhos de Rony se arregalaram com a possibilidade. Não, ele não tinha pensado naquilo. Como todo adolescente, ele só pensou que seu plano funcionaria sem ressalvas.
- O senhor... o senhor não vai contar, vai?
- Fique tranqüilo, Rony! Não tenho essa intenção. Mas preciso pedir que devolva todos os livros ainda esta noite e vou ter que lhe dar uma detenção.
Rony concordou com a cabeça e se pôs de pé. Queria voltar ao banheiro masculino, trocar de roupa e ir até o seu dormitório pegar os livros para devolver.
- Sua detenção começa amanhã, Sr Weasley – disse em voz alta para que os professores que aguardavam do lado de fora do escritório pudessem ouvir. – O senhor irá colocar todos os livros da Seção de Uso Diário em ordem alfabética. Agora, por favor, diga à Madame Pince e Hagrid que quero falar com eles.


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- E o Roniquinho ficou arrumando os livros esse tempo todo? – perguntou a Fred a velha senhora de cabelos vermelhos com mechas grisalhas.
- Ficou, tia Muriel – respondeu o rapaz soltando uma sonora gargalhada. – A senhora precisava ver o quanto ele ficava bravo sempre que um dos colegas aparecia para fazer alguma pesquisa.
- Então foi por isso que o Snape freqüentemente te chamava de Srta. Weasley?! – riu-se Harry.
Todos davam sonoras gargalhadas. Molly tinha até lágrimas nos olhos, e só Rony parecia não se divertir nada com a recordação.
A Tia Muriel chegou pouco antes do casamento de Gui e Fleur, para dar total apoio ao sobrinho-neto preferido e ajudar Molly numa época tão conturbada. Não só a proximidade da guerra, mas também uma carta dos pais de Fleur dizendo que não apareceriam para ver a filha se casando com um mestiço, haviam deixado a família Weasley muito entristecida.
Pensando em dar um jeito naquela tristeza toda, Tia Muriel pediu justamente aos membros mais bem humorados daquela família que contassem todas as novidades e todas as histórias da família nos últimos anos. Mas Rony não esperava que eles lhe contassem [i]todas mesmo[/i] .
- E como é que vocês sabem dessa história? – perguntou emburrado. – Dumbledore me prometeu que nem ele nem os professores contariam isso para ninguém. Só se... Hermione! Você também prometeu que...
- Eu não contei nada! – defendeu-se a moça sentada próxima à Gina.
- Ninguém nos contou, maninho! – falou Fred.
- Mas Filch tem um arquivo onde registra cada detenção que supervisiona e ele faz questão de relatar o que ocasionou a detenção – completou Jorge.
- E quando você chegou com aquela “estória” fajuta de que estava de detenção por ter entregado os deveres trocados da McGonagall e do Flitwick, nós resolvemos checar isso de perto – explicou Gina.
Fred pegou uma toalha de mesa, enrolou na cintura enquanto Jorge lhe passava uma capa de almofada que ele colocou na cabeça e fez uma imitação de Srta. Rony Weasley, arrancando novas risadas até de Fleur, que continuava muito chateada com a postura irredutível dos pais.
Rony se levantou e falou na direção de Hermione:
- Ainda acho que tem dedo seu nessa descoberta!
- Olha, já lhe disse que não fiz nada. Mas se você prefere descontar seu embaraço em mim, acho bom que eu faça alguma coisa para merecer isso. Tia Muriel! – falou em voz alta chamando a atenção de todos – Se a senhora gostou dessa história, vai adorar saber a de um tal Won-Won.
As orelhas de Rony se avermelharam mais do que quando foi pego vestido de Hermione. Vendo que não teria chances naquela batalha de recordações, jogou-se novamente no sofá, emburrado.
Mas logo o riso dos familiares o contagiou, e sem que notasse a própria mudança, acabou ajudando a narrar as desventuras de seu primeiro relacionamento amoroso.
- Hahaha – ria Tia Muriel enquanto falava. – Eu espero estar viva para contar essas histórias pros seus filhos, Roniquinho. Já imaginou? Eu chego para sua filha e digo, “você sabia que seu pai já foi uma menina que roubava livros?”

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