Capítulo I
Capítulo I – Malfoy e Granger
Havia uma enorme propriedade perto de Londres que parecia sempre impecável, como se o tempo se esquecesse de agir sobre ela e de torná-la ruínas. Em seu centro a mansão ostentava todo o poder da família que há séculos a ocupava.
Os Malfoy começaram a fazer fortuna desde a época que ainda eram grandes proprietários de terra, a indústria surgida na Inglaterra fez com que alguns de seus membros investissem cada vez mais alto e em seu auge, eles controlavam a maior parte da indústria têxtil inglesa.
Naquela casa moravam apenas duas pessoas, além da criadagem. Lúcio Malfoy morrera havia dois anos, deixando suas empresas nas mãos do filho mais velho, Jim. Farrista nato, deixava quase tudo nas mãos de administradores e advogados careiros enquanto fazia festas e gastava mais dinheiro do que ganhava, se era possível. Após um grande abalo nas finanças, Jim viajou para a Austrália e acabou ficando por lá. Sua mãe ocasionalmente recebia notícias de seu paradeiro. Draco, o caçula, gostava de dizer que ele já nem vivo estava.
No fim a mãe, Narcisa, continuou administrando os negócios.
Draco era bastante mimado. Não era difícil reparar que odiava seu irmão mais velho, mas isso era mais ciúme do que ódio. Todos sabiam o quanto era apegado a sua mãe. Entretanto, Narcisa sempre fora mais atenciosa com Jim, o que perturbava profundamente o caçula.
Draco tinha lá seus dezenove anos, a pele branca e o queixo fino somavam-se aos cabelos muito claros e davam-lhe um ar bastante discreto, entretanto, os olhos azuis acinzentados e os lábios um pouco mais tonificados que sua pele tornavam a rapaz bastante atraente. Algumas garotas esperançosas tentavam vencer sua frieza, mas ele nunca permitiu a nenhuma seu amor.
Draco entrou na sala de jantar a tempo de ver sua mãe a beira das lágrimas.
- O que houve? – suas sobrancelhas se aproximaram.
- Perdemos um monte de contratos. Os acionistas estão desistindo e há um comprador na jogada, agora nós não temos nem metade da empresa, o que nos torna sujeitos a qualquer um que aparecer.
- Nosso dinheiro está escoando – ele falou irritado. – Eu soube das demissões. – Draco encarou Narcisa. - Estamos falindo mãe?
Ela caiu no choro.
- C-claro que... que não.
- Não minta.
Ela fez que sim com a cabeça.
- Como vamos sair dessa? – ela abanava a cabeça para os lados. – Se Lúcio...
- Não se preocupe mãe, a gente dá um jeito. – ele a interrompeu, abraçando-a.
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- Miranda... de novo não. Você só fala nele... de como ela cheira bem, fala bem, sorri bem, ganha bem...
- Mione, eu vou te apresentar a ele, só pra você ver como eu tenho bom gosto.
Hermione ria baixinho. Fazia tempo desde a última vez que a amiga se apaixonara. Ela deveria ter uns catorze ou quinze anos, o rapaz era um playboyzinho do melhor tipo.
Miranda Walker alugava o ouvido de Hermione, falava nele o dia todo. Beleza ele tinha para dar e vender, em detrimento de todo o resto. Miranda parecia ter o fascinante destino de nunca prestar atenção no cara certo.
Agora o escolhido era Harry Potter. Ele parecia ser interessante pelo modo como ela falava, mas Hermione aprendera a não confiar muito nas opiniões de Miranda, de modo que deixou o assunto pra lá.
Na sexta à noite marcaram de ir ao parque que estreara próximo ao centro da cidade. Miranda apareceu com Harry; estava radiante ao lado do moreno de olhos verdes, como Hermione constatou satisfeita.
- Harry, esta é Hermione, a minha melhor amiga de que lhe falei.
Harry paralisou-se por alguns segundos antes de cumprimentá-la.
- Hermione, esse é o Harry... – ela pronunciou sonoramente, fazendo Hermione rir por dentro.
“Minha nossa! Miranda, porque você não apresenta suas amigas mais vezes!” Harry observava cada traço de Hermione, quase boquiaberto.
- Prazer em conhecê-lo, Harry.
Hermione estranhou a forma como Harry olhava para ela, mas obviamente não falaria a respeito disso com Miranda, até por que a garota estava flutuando em sua nuvem particular, só por estar ao lado dele.
- Cuidado! – Hermione segurava Miranda pela terceira vez em menos de uma hora. Ela parecia escolher onde queria tropeçar. Chegaram finalmente ao carro.
- O que achou dele?
- Muito bonito e bem legal. – Hermione dava o braço a torcer. Miranda finalmente acertara.
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A saída para os problemas de Draco veio mais depressa do que eles podiam esperar. Numa festa beneficente, Draco olhava entediado para moças e todas elas pareciam querer olhá-lo. Ele sorriu e pegou uma garrafa de champagne. Viu vários olhares na direção da porta e acompanhou. Entendeu por que todos olhavam...
Era quase divino. Draco paralisou-se ao ver aquela garota de apenas dezoito anos descendo as escadas da entrada. Ela tinha os cabelos alisados e num penteado que prendia a metade e deixava a outra metade solta. Seus grandes olhos castanhos mostravam curiosidade e a boca perfeitamente desenhada esboçava um discreto sorriso. Ela era linda.
Atravessava magistralmente todo o salão, cumprimentando quem conhecia.
- Blaise, quem é ela? – o loiro estava surpreso de nunca tê-la visto.
- Literalmente? A filha do chefe. – ele riu – Ela é Hermione Granger, filhinha do adorável e milionário Sr. Granger. Se a acha bonita deveria conhecer a meia irmã dela, cara... – Blaise ficou olhando para o nada. – Eu soube que o pai dela tá muito doente, ela o está representando.
Draco estava totalmente fascinado por sua beleza. “Pai... Doente...” ele ouvia apenas partes da conversa.
- Como assim pai doente?
- É, eles dão alguns meses pro cara. – Blaise virou o quinto uísque. – Vai ver foi o uísque - ele falou, soltando o copo, rindo. – Debra Smith me aguarda... Vê se não faz besteira, Draco. – ele foi ao encontro de uma mulher de vestido amarelo que acenava sedutoramente.
Draco pegou uma bebida e foi até ela.
- Aceita? – estendeu para ela, que o encarou por algum tempo, como se estivesse tentando ver além da aparência dele.
- Não pôs nada aí, né? – apontou para a bebida, pegando a taça em seguida.
Draco balançou rápido a cabeça.
- E-eu juro que não c...
- Relaxa, eu tava brincando. – ela riu divertida.
Ele sorriu desconcertado.
- Então, como se chama?
- Malfoy, Draco Malfoy. – ele estendeu a mão.
- Granger. Tente adivinhar meu primeiro nome.
- Já ouvi falar de sua família. A mais rica da Escócia. Controla a produção de uísque...
- Hum, está bem informado. Também já ouvi falar de vocês, têxtil né?
Ele riu.
- Seu primeiro nome é... Catherine? – ele tentou.
- Não...
- Osbernia?
- Não! De onde você tirou esse?
- É uma forma de dizer que eu nunca vou adivinhar o seu nome porque existem milhares de mulheres com milhares de nomes.
- Quer dizer que eu sou comum feito essas milhares? – ela ergueu a sobrancelha, como se o desafiando a fazer melhor.
- Não – ele sorriu - eu nunca acertaria o seu nome, mas lembraria de você até se daqui a um século eu tivesse que reconhecê-la entre esses milhares de mulheres.
Ela pareceu insatisfeita.
- Duvido. Daqui a um século eu vou estar bem velhinha sabia?
Ele a puxou para si e falou ao seu ouvido.
- Definitivamente você vai estar. Mas eu te reconheceria mesmo assim porque daqui a um século você ainda vai estar comigo.
Ele a sentiu arrepiar. Levantou seu queixo e pousou um beijo quase inocente no canto de sua boca.
- Eu tenho que ir. – ele falou para a morena, que ainda mantinha os olhos fechados. Ela os abriu rapidamente ao ouvir.
- Como eu posso falar com você de novo? Passa seu celu...
- Não se preocupe. Ainda vamos nos ver. A propósito, eu sei seu nome, Hermione.
Ela olhou surpresa e ele beijou sua mão.
Draco chegou a sua casa e achou sua mãe ainda com dor de cabeça.
- Mamãe, acabei de investir no melhor negócio que já fizemos.
- Hã?
- Eu vou me casar mãe, em breve.
- Que ridículo filho, você nunca nem se apaixonou!
- Mas vou me casar com Hermione Granger.
- A filha de Paul Granger?
- Sim.
Ela pareceu seguir o raciocínio certo.
- Esse casamento poderia salvar nossa fortuna. Associarmo-nos com os Granger pode ser uma saída para ganharmos novos contratos e...
- Manter a empresa.
- Ele está doente mesmo...
- E ela é a mais velha...
- Vai ficar com boa parte do dinheiro... Pode dar certo.
- Vai dar.
- Você é tão perspicaz quanto seu pai. – ela o elogiou. Ele sorriu com a admiração dos olhos de Narcisa.
- Como vai fazer isso?
- Não vai ser difícil. Ela gostou de mim...
- O suficiente?
Ele fez que sim.
- É só segurar os negócios por alguns meses, até a gente se casar.
- Ótimo. Mas e depois?
- Como assim?
- Você não gosta dela, não é?
- Ela é linda e rica mamãe, se não for entediante não vou sair por aí atrás de mulheres. E sim, talvez eu esteja gostando dela de verdade...
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- Não, não, você esqueceu de multiplicar por ½, tem que se concentrar.
- Não consigo com você me dando ordens! – Rebecca revirou os olhos enquanto apagava o cálculo.
- Desculpa.
Rebecca abandonou o ressentimento diante da sinceridade dele.
- Tá, vamos terminar logo isso.
Seth riu de lado e continuou a explicar. A loira se achava sortuda por tê-lo a seu lado. Tornaram-se bons amigos depois do fiasco há uns dois anos, quando Seth descobriu sua paixonite por ele. Rebecca resolveu deixar o que sentia em segundo plano, principalmente porque Seth parecia não demonstrar o mínimo interesse por ela, e o pior, parecia não demonstrar interesse por nenhuma garota. Isso constantemente gerava dúvidas na cabeça de Rebecca, mas preferia a morte a ter que expô-las ao amigo.
- Finalmente. Então, está certo?
- Tudo certo. – ele sorriu, quase a imergindo novamente à tarefa de observá-lo. – Agora vamos à Física.
- Não – ela protestou. – Não tenho estado de espírito para a Física.
- Vai ter que arranjar um A se quiser entrar em Oxford. Vamos revisar eletricidade... – ele era inflexível.
Ela suspirou e abaixou a cabeça entre as dezenas de livros seus que agora apinhavam o escritório de seu pai.
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- Ele é maravilhoso. – Hermione falou alto ao entrar em seu quarto.
Os Granger tinham uma magnífica casa em Londres, apesar de morarem na Escócia. Nela estava Paul e a esposa, Jane, mãe de Hermione. Paul tinha ainda Gina, filha de seu irmão com uma atriz norueguesa. O irmão e a esposa faleceram e agora Gina era criada por Paul e Jane como se fosse sua filha, apesar dos traços bem diferentes. A garota de dezessete possuía madeixas ruivas enquanto sua “mãe” tinha os mesmos cabelos castanhos de Hermione, e Gina tinha a pele mais clara também. Seus olhos esverdeados e seu corpo quase perfeito atraíam muitos rapazes, os quais ela adorava esnobar.
Hermione passou os dias que se seguiram mais feliz desde seu primeiro encontro com Draco. Sua surpresa foi enorme ao atender ao telefone e ser convidada para jantar.
“- Quer saber Blaise, vou convidá-la para um almoço.
- Almoço? Amigos convidam para um almoço, você não quer ser amigo...
Chame-a para jantar.”
Esse foi apenas o início dos encontros de Draco e Hermione. Uma semana depois estavam namorando e em dois meses e meio ele propôs casamento.
- Casamento? – Jane estava espantada. – Mas Hermione, você só tem dezoito anos.
- Em breve dezenove, mamãe.
- Mas é muito cedo, você só conhece esse rapaz há três meses.
- Na verdade um pouco menos.
- Ele nem conhece a família toda. Mal nos conhece.
- Mamãe... Ele disse na primeira vez que me viu que ficaria comigo até que a morte nos separe, etc. Ele é rico, bonito, agradável e inteligente. O que mais a senhora quer?
- Mamãe - Gina interrompeu. – Tecnicamente ela está certa. Foi sorte ela ter achado um Malfoy.
- Eu sei querida, desculpe. É só que é tudo tão rápido.
- Meu pai e a senhora se casaram em duas semanas, e estão juntos até hoje, não?
Jane finalmente cedeu.
- Está bem. Seu pai gostaria mesmo de vê-la casando.
Hermione deu um pulinho.
- Não vamos nos casar agora é claro, vamos ficar noivos alguns meses, talvez. – ela sorria radiante.
Gina retribuiu o sorriso. Vira Draco uma vez ou duas e sentiu-se feliz pela irmã tê-lo encontrado.
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- Ginaaa! Essa dúvida tá me matando!
- Bem... você não pode fazer muita coisa. Principalmente se ele for gay...
- Quando eu penso no desperdício...
- Você precisa sair dessa Rebecca!
- Tô tentando, mas e você, hein? Faz anos que você gosta do Tom.
- Não senhora. Há anos eu não gosto mais dele.
- Agora vai dizer que você não está gostando de ninguém.
- Não estou e pronto. Não vou me apaixonar de novo. Esse negócio dói. – ela falou como se tivesse acabado de tomar uma injeção. Rebecca riu.
- Veremos. Só cuidado pra não falar isso e depois se apaixonar loucamente, por uma pessoa errada.
- Vira essa boca pra lá Becca...
- Já virei! – ela virou o pescoço para ver melhor um belo rapaz que conversava ao lado de uma loira. Gina também pareceu por alguns segundo hipnotizada.
- Gina, pára de devorar o cara!
Ela balançou a cabeça.
- Você também...
- E olha só com quem ele tá conversando, parece que nada pode ser perfeito...
O rapaz bonito conversava com Julia, arquiinimiga de Gina desde os tempos de pré-escola. Ambas eram populares e cada uma tinha seu “lado”. Julia tratava Gina como a um inseto e recebia igual tratamento.
- Estragou... – Gina torceu o nariz ao ver a loira. - Nada é perfeito mesmo...
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Draco e o Sr. Granger conversavam sobre o que iria acontecer no quarto onde Paul estava. Mione estava ligeiramente receosa com essa conversa, visto que seu pai tinha o dom de afastar os garotos em sua adolescência, porém agora ele parecia bastante satisfeito com Draco.
Draco passou por Gina ao sair do quarto.
- Sabe onde está sua irmã? – ele perguntou sorrindo.
- No quarto. – ela corou de leve.
Draco bateu à porta. Hermione havia acabado de se trocar para o almoço. Ele a abraçou.
- Casaremos em três meses, quando você fizer dezenove.
Ela respondeu com um beijo suave. Ele retribuiu e enterrou as mãos levemente entre seus cabelos, massageando sua nuca devagar. Soltou seus lábios e seguiu percorrendo seu pescoço. Hermione fechou os olhos. Ouviram um pigarreio.
- Gente... – Gina chamou envergonhada.
Eles se afastaram, constrangidos.
- Mamãe queria saber se vai ficar para o almoço. – ela dirigiu a pergunta a
Draco, que balançou afirmativamente a cabeça.
- Ok. – ela saiu rapidinho.
Um silêncio ainda permaneceu, até que caíram na risada.
- Vamos almoçar. – Mione puxou sua mão.
“Três meses, só três meses. Daqui a três meses ela vai estar rica e eu, salvo”.
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