A Missão
CAPÍTULO 1 – A MISSÃO
Sentiu nas faces o calor do sol que atravessava o Salão Principal. Uma bela manhã de Sábado. O estômago revirou. Não sabia se por causa da fome ou da idéia de alunos felizes correndo e aprontando em Hogsmeade. Provavelmente era por causa das duas coisas.
Arrancou um bom naco do bacon que estava no seu prato e mastigou sem vontade. Aqueles óculos em meia lua estavam lá de novo, pairando e o observando. Tinha certeza que não tardaria muito até ser chamado pelo diretor e sua folga seria arruinada. E estava certo, sentiu a mão enrugada em seu ombro assim que havia pensado.
- Severo, meu caro, está uma linda manhã de sol não acha?
Engoliu o restante da comida e disse que sim, era o que presumia. O velho lhe sorriu bondoso. E essa era uma das coisas que mais odiava. Toda essa cara de misericórdia e piedade que ele lhe transmitia. Não era digno de pena por apenas querer tomar seu café da manhã em paz e aproveitar sua folga tão merecida. Mas certamente presentia que daquela conversa sairia um pedido.
O velho tomou um lugar ao seu lado ,continuava sorrindo.
- O que fará na sua folga? Presumo que queira apreciar essa linda manhã de sábado...
Snape pensou na resposta que deveria dar, se falasse que estava ocupado talvez o favor fosse realmente importante. Ou poderia acontecer o contrário falar que estava livre e ser obrigado a fazer alguma coisa absurda. Da última vez foi convidado a tomar chá com os demais professores em uma festinha particular de Dumbledore no Natal.
- Pretendo ficar em meu escritório lendo, comprei a nova edição da revista Poções Hoje. Um bom artigo sobre novos métodos de extração de bezoar. Realmente interessante!
Dumbledore o examinou atentamente, e realmente pareceu convencido que aquele tipo de coisa era o que Snape realmente achava interessante para uma bela manhã como aquela. Tornou a sorrir, enquanto enrolava a ponta da barba com os dedos. Respirou fundo e olhou intrigado mais uma vez para o professor de Poções que estava sentado do seu lado pegando mais uma vez um bom naco de comida e engolindo sem ao menos sentir o gosto da comida.
- Vou lhe poupar tempo e ser sincero, Severo. Acho fascinante sua sede para o conhecimento, é uma grande qualidade em uma pessoa. Mas a vida não é apenas livros, caldeirões, frascos com substâncias horríveis... Por que não dá um pulo em Hogsmeade?Saia um pouco! Tome um ar. Veja outras pessoas... Outro dia Rosmerta deixou escapar em uma agradável conversa que você não aparece muito no Três Vassouras.
Engoliu seco e por alguns segundos a imagem de Madame Rosmerta surgiu em sua cabeça. Por pouco não soltou um sorriso. Tomou um bom gole de água e olhou de novo para o diretor que continuava ali o olhando.
- Desculpe-me Professor, mas eu realmente preciso ler esse artigo. Um bom professor deve se manter sempre atualizado. Com licença, mas já terminei e estarei em meu escritório.
Sentiu a mão de Dumbledore segurando seu braço. Sabia que não ficaria livre tão fácil.
- Em todo caso Severo, creio que não se importaria em dar um pulinho até o vilarejo por mim, não?Uma encomenda me espera no Três Vassouras... Iria se não fossem essas dores nas articulações. Velhice, talvez você um dia passe pelo mesmo.
Snape sabia que era mentira, ontem mesmo tinha visto Dumbledore subir com muita agilidade as escadas de seu escritório. Talvez até mais agilidade do que ele. Alguma coisa ele havia de querer. Pensou se deveria perguntar ou seria indiscrição demais.
E no mais se era encomenda importante por que ele não pedira para ser entregue no próprio castelo diretamente em seu gabinete?Era no mínimo estranho. De tantas pessoas ali de confiança Dumbledore tinha que escolher justamente ele? Era perseguição só podia. Que perigo havia em pegar um pacote no vilarejo e trazer de volta ao castelo? Até Longbottom faria isso sem muitos problemas.
Na cabeça um turbilhão de idéias. Várias possibilidades se abriam em questões de segundos. Talvez fosse um serviço de extrema confiança, a encomenda poderia ser algo que somente ele sabia lidar. Talvez o diretor quisesse mantê-lo longe de seu escritório para revirar suas coisas a procura de algo suspeito. Nesse caso deveria mesmo se preocupar. Ou ainda era apenas um pedido descompromissado e ele era o primeiro que tinha aparecido em seu caminho naquela manhã.
- E então Severo? O que me diz?
Snape ainda não tinha tomado uma decisão, sua cabeça tinha as mais variadas teorias sobre o pedido de Dumbledore. E no mais queria distância daquelas pestes. Já bastava ter que lecionar, e dar detenções a torto e a direito àqueles cabeças de vento.
- Muito obrigado Severo. Sabia que aceitaria um simples pedido de um velho. – disse sorrindo e assoviando enquanto saía.
Aturdido voltou para o escritório, sem se lembrar quando tinha dito que aceitava a missão. Dumbledore era de fato um homem muito persuasivo quando queria. Abriu um vasto sorriso. ”Quer dizer que Rosmerta sente falta da minha presença... quem diria...”.
Com o ego inflado, abriu um armário e tirou um pequeno frasco empoeirado onde mal se podia ler o rótulo. Talvez devesse caprichar na barba e passar colônia... Mal também não faria.
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