Pela primeira vez na história

Pela primeira vez na história



N/a: Desculpa miiil desculpas pela demora!! Mas eu vou poupar o tempo e a paciência de vocês indo logo ao próximo capítulo. Só peço humildemente uma única coisinha: Comenta?*-*

“I never mean
The things I said
To make you cry
Can I say I’m sorry?”
(Too Close to Confort – McFly)


Capítulo V:

Pela Primeira Vez na História.


Capítulo anterior:
- Ela jamais poderia ter sentido algo a mais por mim... – Ele murmurou baixinho, perdido em seus pensamentos. Nunca fora sua intenção fazer com que ela tivesse escutado essa frase, contudo foi o que aconteceu. Ela não pode deixar de ouvi-lo. Assim sendo, também ela sentiu como se estivesse naquele momento, o pior momento de sua vida. Aquele em que haviam sido indiferentes ao seu amor. Incrédulos.

- De novo não, Ron.- Ela soltou as palavras levemente, como que expelindo devagar a sua dor cuidadosamente conservada durante todo esse tempo.

Os sentimentos que pairavam no ar eram: inferioridade e indignação.

Flashback 1 - Hermione:
*Hogwarts, Sala Comunal da Grifinória, 7º ano*


Todo dia era a mesma coisa: ele nunca estava no horário, ela tinha que esperá-lo sempre. Mas tudo bem, ela já havia se acostumado, programado seu cérebro para não se incomodar com isso. Afinal, estavam no meio de uma guerra e tudo que ela menos precisava eram brigas irrelevantes, sem sentido. Mas naquele dia estava sendo demais, os limites de sua paciência estavam prestes a se arrebentarem. O café acabaria em 15 minutos e ele não havia tido nem a dignidade de demonstrar qualquer tipo de importância com o fato dela estar parada ali a quarenta e cinco minutos, como por exemplo, mandar alguém avisá-la que não apareceria. Se tivesse adoecido não haveria problema, ela entenderia, contudo que soubesse, mas para isso ele precisava avisá-la, coisa que naquele momento não deveria importar muito.

Sentada numa das confortáveis e já conhecidas poltronas na frente da lareira, Hermione, com braços e pernas cruzadas, balançava o pé impaciente. Às vezes alternava em tremelicá-lo. Sua respiração era pesada e profunda, como se quisesse aspirar todo o ar do recinto. Ela mordeu o lábio inferior e revirou os olhos mais uma vez. Algumas pessoas entravam para pegarem alguma coisa esquecida. Elas voltavam do café, algo que hoje ela já não tinha esperança de apreciar. Porém, não tinha importância, ela apreciaria muito mais a tremenda bronca que daria em Ron, nunca mais ele a faria esperar. Disso ela tinha certeza. O que ela não sabia era que nunca mais teria motivo para esperá-lo. Não sabia que algum dia ainda imploraria a algo, que nem saberia o que, para que pudesse esperá-lo.

Levantou-se de súbito, jogou a cabeça para trás e balançou os emaranhados cabelos. A raiva emanava de seu corpo.

- Hermione?- Ginny havia acabado de entrar, esquecera o livro de porções e sabia que se não o pegasse agora não o pegaria mais. – O que está fazendo aqui?

Hermione virou-se para Ginny e fuzilou-a com o olhar. Não que fosse essa a sua intenção, mas sua raiva estava incontrolável.

- Merlin meu, o que aconteceu? Eu fiz alguma coisa errada? Desculpe-me, juro que não era minha intenção. – Ginny se desculpava antecipadamente para a possibilidade daquele olhar ser realmente para ela, e se não fosse era uma desculpa acumulada para o dia que fosse.

- Você não fez nada de errado. Agora eu não posso dizer o mesmo de toda a família Weasley.

Percebendo que sua pessoa tinha permissão de se expressar, Ginny aproximou-se, porém, ainda cautelosa com a possibilidade de ter que dar o recado à vítima, com certeza o tonto de sue irmão.

- Você está aqui esperando o Ron?

- O que você acha?- A resposta foi seca.

- Olhe, sem querer me meter ou criar conflito, acho que não vai adiantar muito.

- Por quê?

- Porque ele está lá embaixo. - Ginny falou num tom baixo e apaziguador, bem diferente do de Hermione que se enfureceu:

- Lá embaixo? Lá embaixo onde?

- Bem, no Salão Principal, né?

- Não, não é! Eu não acredito nisso! Fazendo o quê?

- Tomando café?- Ginny sugeriu, e logo tudo se encaixou. Ron não simplesmente deixou Hermione esperando-o durante um bom tempo, como fez isso propositalmente. Ambas ali na sala sabiam que ele não seria capaz de esquecer Hermione, simplesmente. Mas o que mais preocupava era o motivo pelo qual ele havia feito isso. Uma dedução óbvia para uma namorada.

Ginny viu Hermione abrir a boca e sugar boa parte do ar ao seu redor, mas logo então a fechou. Ela encarou Ginny com pesar, e sentiu os olhos umedecerem. A ruiva percebeu todas as barreiras de Hermione caírem. Era dor, era sofrer, uma confusão desenhava-se e anuviava o seu olhar. Não havia outro sentimento para ter-se, do que não dó. Ginny sentiu precisar dar um enorme abraço em Hermione, e foi isso que fez. Caminhou até a amiga e envolveu-a em seus braços, aconchegando-a em seu peito. Ela percebeu a morena tremelicar de leve e soltar leves e reprimidos soluços. Ginny conhecia muito bem esse sentimento de indignação e ao mesmo tempo de impotência. Mas, se era aquilo que eles queriam, elas nada podiam fazer.

Hermione soltou-se de Ginny de mansinho, elevou a mão aos olhos e enxugou as poucas lágrimas que por ali haviam caminhado. Engoliu a saliva acumulada e molhou de leve os lábios com a língua. Falou com calmaria, mas não como alguém que não se importa, e sim como alguém que acha nisso seu consolo:

- Não comente isso com ele, ou com alguém que possa contar pra ele. - Ela pegou sua mochila encostada ao lado da poltrona e virou-se para porta, começou a andar em sua direção. Porém antes de sair pelo buraco do retrato focalizou Ginny:

- Ah, obrigada.

A Ginny restou sorrir-lhe.

Fim Flashback 1

Flashback 2 – Hermione:
*Hogwarts, Corredor de Feitiços, 7º ano*


Pela primeira vez na história, Hermione não estava adiantada para uma aula, mas também ainda não estava atrasada. Se corresse chegaria no horário. Porém, naquele momento, era muito difícil correr, pois parecia que seu corpo não queria obedecer. Pela primeira vez na história, Hermione sentiu uma enorme vontade de matar aula. Contudo, ainda assim, era Hermione Granger. Mesmo que seu corpo não quisesse, sua alma menos ainda, sua cabeça ainda prevalecia racional e ela seguia a passos apressados para sua primeira aula: Feitiços.

Todavia, não podemos deixar de observar que sua cabeça permanecia racional, mas com certas falhas. O nome dele não lhe saia da cabeça. O nome dele e logo em seguida a dúvida. “Ron, Por quê?”. Essa frase pronunciada seria capaz de limpar a alma, o corpo e a mente de Hermione. Mas não era ela fácil de ser dita.

Quando o professor Flitwick estava quase a fechar a porta, viu uma mão feminina e delicada esgueirar-se pela fresta. Puxou a porta e em seguida o ar para dar uma bronca na pessoa que tinha chegado atrasada, para que isso nunca mais se repetisse. Porém, a visão desta o paralisou.

- Srta. Granger?

- Desculpe-me professor, houve alguns imprevistos e acho que perdi um pouco a noção do horário. Mas isso nunca mais tornará a se repetir.

O professor ficou ali parado com a mão na maçaneta e com o olhar fixo em Hermione. Cogitou a possibilidade de algum aluno ter lhe atingido com um Feitiço Ilusório.

- Posso entrar professor, por favor?

Despertando-se de seu estado alienado, Flitwick balançou a cabeça e respondeu com um sorrisinho:

- Oh! Claro Srta Granger. Entre.

Após o professor ter-lhe dado passagem, Hermione entrou e logo procurou seu lugar habitual para sentar-se. Este, ao lado de Ron. Ela dirigiu-se até a carteira e acomodou-se rapidamente. O olhar de Ron era fixo no quadro em branco, ele não executou um mísero movimento. Era como se a presença de Hermione fosse mais descartável do que um grão de poeira.

De repente toda a raiva de Hermione havia sumido, ela já não se lembrava que algum dia tinha ficado braba com ele. Ela não se lembrava que algum dia fora chamada orgulhosa. A única coisa que queria era que ele lhe lançasse um simples olhar. Mas ele não o fazia.

A aula começou, e pela primeira vez na história, nada nela interessava a Hermione. Ron ainda não havia demonstrado notar sua presença. Isso a interessava. Lá dentro de seu peito, seu coração dava cambalhotas clamando por atenção e a cada momento desta não recebida ele se comprimia mais e mais, sumindo aos poucos.

Num súbito de coragem, Hermione mexeu sua mão e com cautela depositou-a em cima da de Ron. Ele pareceu finalmente notar sua presença, pois retirou a mão em seguida. Hermione voltou a colocar sua mão sobre a dele. Ele tornou a puxar a dele para si, mas desta vez se pronunciou:

- Não me toque. – A fala foi rude, seca. O coração de Hermione não vibrou com a atenção concebida, e sim quase se arrebentou pela brutalidade com que foram indiferentes aos seus sentimentos.

- Ron... - Hermione sibilou baixinho, o som agudo vazou com retidão de seus lábios.

Ele não a respondeu.

- Ron, por favor, Ron, fale comigo.

Indiferença.

Hermione fechou os olhos, ela já nem sabia se estava respirando. Sentiu aquela pressão em volta dos olhos de lágrimas que se formavam e lutavam para sair, sentiu junto com aquele arrepio dentro do estômago que subiu por sua espinha e espremeu ainda mais as lágrimas para que elas se libertassem. Pelo menos, descobriu que respirava, pois teve que sufocar o choro prendendo o ar. Ela queria assim também prender seu amor.

- Ron... - Ela gemeu o nome dele com pesar, a angústia a sufocava.

- Fique quieta Hermione, ou você quer chamar a atenção do professor?

- Não, eu quero chamar a sua atenção.

Ele voltou-se a calar, ela voltou a sofrer.

- Ron, por quê?

Ela havia dito a frase, aquela que estava a esmagar-lhe a mente. A única frase que parecia importar naquele momento. Aquela dúvida que a desfalecia mais e mais a cada momento. O por que de tudo aquilo estar acontecendo. Eles estavam bem, eles se amavam, ela sabia, ela podia sentir. Por que ele estava a penalizando daquele jeito, e a ele mesmo também? Não fazia sentido aquela atitude de indiferença. A indiferença. A única coisa que realmente pode acabar com um relacionamento. Ele podia odiá-la, mas ainda assim teria algum sentimento por ela. Mas na indiferença não existe sentimento. Na indiferença você não existe.

- Ron, por quê? – ela tornou a perguntar. A agonia a consumia por dentro e era alimentada a cada momento que Hermione era ignorada. Em algum devaneio ela havia pensado que essa frase pronunciada iria suavizar o pesar de sua mente, corpo e alma. Mas ela estava errada. Não era a pergunta que a aliviaria, mas a resposta, e esta, Ron recusava a lhe dar. Por isso a amargura interna de Hermione permanecia.

- Ron, pare com isto. Ron, Ron. Por quê? Por quê? – A voz de Hermione já começava a tremer.

- Cale a boca, Hermione.

Uma lágrima solitária deslizou pelas curvas da face de Hermione, arrepiando-lhe as maçãs do rosto. Ela pôs todo o seu sentimento num sussurrar:

- Eu te amo, Ron.

Houve um momento de espera, um momento de falsa esperança para Hermione.

- Eu já mandei você calar essa sua boca. Será que é tão difícil de você entender? Pensei que era mais inteligente.

Hermione colocou a mão sobre o peito esquerdo na altura de seu coração. Exercendo pressão começou a comprimir a palma, fechando-a. Esmagando sua blusa e pele ela tentava amenizar a dor que sentia lhe rasgar o coração. Começou a cravar a unha funda em sua pele. Ela queria sentir dor, talvez dor curasse dor, já que o amor não curava dor, só a provocava.

Aquele não era Ron. Ron nunca a havia mandado calar a boca. Ron nunca havia sido tão insensível com ela. Nunca quis feri-la. Mesmo quando lhe nomeou pesadelo, não o fez com essa intenção, desta vez ele queria machucar-lhe. Era proposital essa aflição que ela estava sentindo. Esse não era seu Ron. Esse não era o Ron que ela amava e que a amava. O que haviam feito com ele? E por quê?

- Ninguém sabe responder a minha pergunta? Vamos. Alguém, por favor. Srta Granger, a senhorita com certeza poderá me responder. Srta Granger?

Hermione notou que o professor estava em sua frente que olhava para ela fixamente. Ela retirou a mão do peito rapidamente e disse sem muito se importar:

- Desculpe professor, não sei do que o senhor está falando.

Imediatamente burburinhos começaram a surgir na sala. Pela primeira vez na história Hermione Granger não sabia como responder a uma pergunta. Além de admitir não estar prestando atenção na aula. Detalhe: admitir na frente do professor, na sua cara. Algo muito sério estava acontecendo.

- Está tudo bem com a senhorita? Desde que chegou venho reparando que não está muito bem. Você gostaria de pedir despensa da minha aula? Se quiser, deixo você sair, organizar seus pensamentos um pouco. Afinal, você não está prestando atenção na aula mesmo.

- Que vergonha professor! Prometo que isso nunca mais se repetirá. As coisas estão tão estranhas para mim hoje, não sei nem o que pensar. Mas obrigada, porém vou ficar. Se sair, vai comprometer o senhor, não?

Com um gesto da varinha, o professor Flitwick abriu a porta.

- Eu insisto minha querida, saia e pense numa solução para seus problemas. Do jeito que está hoje, creio que não aproveitará nenhuma aula enquanto não fizer isso.

- Tudo bem então...

Hermione abaixou-se e pegou a mochila, reparou que não havia nem retirado seu material hoje. Realmente ela precisava espairecer. Porém, quando estava prestes a se levantar, virou-se para Ron e perguntou-lhe decidida:

- Ron, você ainda me ama?

- O que você quer que eu te responda?

- O que você se sente.

- Pela primeira vez na história você não terá a resposta para uma pergunta, mesmo que revire todos os livros.

Com medo de o professor voltar a chamar sua atenção, Hermione levantou-se e saiu fechando a porta. Mas ela saiu sem acreditar. Ela realmente não acreditou em nada que Ron havia falado naquela aula. Não acreditou porque não tinha como saber se era verdade, ele não a havia olhado nos olhos, e enquanto isso não fizesse, não poderia saber. Tudo o que tinha a fazer era esperar a próxima aula para poder olhá-lo.

Hermione sentou-se no chão e ficou sonhando acordada, sonhando da forma mais besta e infantil, uma coisa que não se parecia nem um pouco com Hermione Granger. Mas tudo bem, naquele dia ela não parecia, nem um pouco, Hermione Granger.

Ela sonhou com o dia em que se casaria com Ronald Weasley, o amor de sua vida.

Flashback 3 – Ron:
*Dentro dos pensamentos supliciados de Ronald Weasley*


O que quero é não tê-la,
Não tê-la presa a mim
Porque em mim presa
Não teria ela a felicidade
Pois não quereria eu tê-la

Não queria querer tê-la
Porque ela a mim não merece
Nem mesmo merece meu sofrer
Meu sofrer é indigno dela
Mas não por ser ela indigna
Indigno eu,
Indigno porque não a tenho
Nem quereria a ter

Não a tenho e nunca a terei
Porque nunca terei eu
A dignidade de poder sofrer por ela
Sofrendo então
Provo por que não a tenho

Porque, em realidade,
Tudo que quero
É parar de sofrer
Porque quando enfim
Isso acontecer,
É porque a tenho
E para sempre, tê-la

Fim flashback 3

Flashback 4 – Ron e Hermione:
*Hogwarts, Salão Principal, 7º ano*


- Ron, você tem certeza disto que você tá fazendo com a Hermione? Pela primeira vez na história ela quis e faltou todas as aulas da manhã. – A voz de Harry era apaziguadora.

O famoso Harry Potter estava sentado ao lado de seu fiel amigo Ron Weasley na comprida mesa da Grifinória em pleno horário de almoço. O primeiro estava a comer, porém o segundo por mais incrível que possa parecer não havia sequer tocada nos talheres. Pela primeira vez na história, Ron Weasley não estava com fome. Ron Weasley não ter vontade de comer era um fato muito preocupante.

O ruivo estava sentado e olhava fixamente para o prato dourado e limpo a sua frente. Sua expressão era fechada, não havia como saber o que se passava em sua mente. Nem mesmo um legilimente muito talentoso conseguiria penetrar a mente de Ron naquele momento. Ele o bloquearia sem nem mesmo perceber, porque na realidade ele estava a bloquear todos os seus sentimentos e pensamentos.

- Harry, vai ser melhor assim, você vai ver. Eu sei o que eu estou fazendo. – Ron respondeu sem emoção, e continuou fitar o prato.

- Sei, você está sendo tão querido e simpático com ela! Com certeza, ela vai adorar esta nova forma, totalmente insensível, de se terminar um namoro.

- Harry, não enche, vai perguntar pra Ginny se ela achou simpático o fim do namoro de vocês. Um fim de namoro não é simpático.

Harry mudou a expressão brutalmente. Ele estava querendo ajudar, estava tentando ser compreensível. Mas Ron não queria ser compadecedor. Ele havia colocado o dedo sujo na ferida em fase de cicatrização. Resultado: ela havia se aberto novamente. Ele sabia que o assunto Ginny era proibido, falou porque quis, agora, que amargurasse a revolta de Hermione, o que Harry sabia, não seria nem um pouco compadecedora também. Mas mesmo assim falou:

- Ron! Ninguém termina um namoro assim, do nada. Isso não vai dar certo, você nem sabe o por que de estar fazendo isso. Por que você não chega e simplesmente conversa com ela?

“Por que você não chega e simplesmente conversa com ela?”

Como se fosse fácil. Tudo o que Ron mais queria é que as coisas acontecessem de uma forma pacífica, mas ele sabia que não era assim. Hermione nunca entenderia suas razões, nunca as aceitaria. Mas ele estava fazendo isso por ela, pelo bem dela. Ia ser melhor assim. E ele iria ser forte, tinha resistido à manhã toda. Por que não iria dar certo?

Sua resposta chegou rápida e avassaladora.

Por entre a porta rodeada de rococós dourados e maciços adentrou no Salão Principal Hermione Granger. Ela não aparentava estar feliz, mas tinha uma expressão de autocontrole insuperável. Seus lábios sorriam, não por alegria e nem mesmo por orgulho, era para desviar sua atenção. Sorrindo, fazia com que seu cérebro acreditasse que estava bem, uma sensação confortável não exigia explicações. Era esse seu real objetivo, esconder de sua mente o que realmente estava sentindo: Uma sensação de podridão inútil.

Mas o fato é que ela deslizou através das mesas deslumbrante, flutuante como nunca esteve. Uma futilidade nunca vivida por ela antes. Fútil e indiferente. A indiferença, aquela mesma que acaba com um relacionamento. Todavia, uma indiferença aparentada com certa dificuldade, tentando simular um cinismo.

Com seus cabelos que ondulavam ao balançar de seus passos, Hermione terminou de atravessar o salão e foi sentar-se no seu lugar de costume, ao lado de Ron, à frente de Harry. Ela havia espalhado seu encanto, ela havia derrubado as barreiras da resistência de Ron e acabado com sua paz por completo, do mesmo modo que antes ele havia arruinado a dela.

- Harry, poderia me passar os bolinhos de carne? Parecem-me apetitosos! – Hermione pediu com um sorriso doce e cruel ao mesmo tempo. Após estender a mão e pegar a bandeja que Harry lhe alcançava prosseguiu. – E então? Como foi a manhã de vocês?

Harry olhava de Ron para Hermione com receio. Um exultante, outro repugnante. Achou melhor responder:

- Normal.

- Ah, vamos... O que fizeram de excitante?

- Nada Hermione, a gente estudou como sempre.

- Ah! Mas algo de inusitado deve ter acontecido para o Ron estar com esta cara de pura empolgação!

Havia sido despertada uma crueldade nunca experimentada por Hermione antes. Isto foi útil para ela entender qual é a motivação de quem segue estes caminhos. A crueldade é alimentada unicamente pelo ódio. A raiva que corrói as estranhas de um ser. A raiva que Hermione estava sentindo de Ron.

- Diga-me, Ron! O que te passou nesta manhã?

Por mais que Hermione provocasse, Ron não a respondia, e é importante comentar que ela, em nenhum momento, olhava-o. Não conseguia, era demais para a sua atuação. Mas ela prosseguia o falatório:

- Sabe Harry, eu me indigno com essas pessoas ignorantes que não respondem quando a gente pergunta. E o pior é que a desculpa por elas dada depois, é que amam a gente. Eu não igualaria amor à tolice. A ignorância é uma tolice.

- Hermione, eu estudei hoje como sempre. E você o que fez de tão excitante?

Hermione puxou o ar rapidamente, suspirou sarcástica:

- Veja bem, Harry! Acho que hoje dormirei tranqüila, porque finalmente tive a honra de receber palavras dirigidas a mim por Ronald Weasley. – Hermione lançou um olhar cínico de surpresa para Harry, depois tornou a olhar seu prato, continuou. - Mas sabe Ron, esta manhã eu dei um animado passeio pelos jardins, respirar ar puro é extremamente renovador.

Ron bufou e tornou a ficar quieto. Não estava sendo fácil pra ele, mas pelo jeito, para ela era natural. Em pensamentos, ele confirmava que realmente não a merecia. Mesmo em um fim de namoro, ela conseguia se controlar perfeitamente bem, parecendo não se importar. Vai ver não se importa mesmo, enquanto ele agonizava lentamente aspirando o perfume que ela ali exalava. Tão perto, porém, tão distante. Ele sabia que jamais teve direito de tê-la. Sabia, que nunca fora virtuoso o suficiente para isso. Sendo assim, o melhor que tinha a fazer para preservar a pouca honra que possuía, era afastá-la de si. E era o que iria fazer, mesmo que fosse difícil e levasse certo tempo. Gritaria para si mesmo quantas vezes precisasse: “Acabou”. Porém, naquele instante, não estava adiantando muito, pois tudo que Ron pensava e queria era atirar a pesada mesa a sua frente para o alto com apenas uma mão, enquanto com a outra agarrava Hermione apertando com força sua cintura e sugava-lhe a alma com um beijo, para assim então, poder para sempre possuí-la. Não. Iria se controlar.

Era totalmente sufocante, estar ali ao dele, sem poder tocá-lo, sem ao menos olhá-lo. Mas o pior de tudo era não saber o por que de não poder fazer aquilo. Por quê? Por quê? POR QUÊ? No fundo, e na verdade, Hermione sabia qual era o problema e isso era pior do que não o saber: Ron era um estúpido! Um estúpido sem autoconfiança. Mas um estúpido desacreditado que ela amava mais que tudo. Será que era tão difícil dele entender? Bastava ele virar os olhos e perceberia que todo o autocontrole apresentado por ela iria cair, assim como ela cairia em seus braços num leve suspirar. Ela estava desfalecendo.

Perdidos em pensamentos, Ron e Hermione nem perceberam que vários minutos haviam passado. Mas Harry ali na frente, havia notado isso e não sabia quanto tempo iria agüentar. Achou melhor se retirar.

- Olha gente, eu tenho que terminar o dever de Transfiguração. Então eu to indo, depois a gente se fala. – Harry nem esperou a resposta a já se retirou. Foi bom, porque a resposta nunca viria. Ron e Hermione não repararam que Harry havia sido, na verdade, em nenhum momento haviam reparado que Harry esteve ali.

- Então Ron, o que você me conta de bom? Depois você tem que me passar a matéria, você copiou a matéria, né? – Hermione tornou a falar, ela iria ser mais orgulhosa que ele. Se ele queria guerra, ele teria guerra. Contudo, após a sua pergunta, transcorreram longos minutos sem que uma resposta a satisfizesse. Ela o chamou, encorajando-o com ironia:

- Ron?

O ruivo suspirou e murmurou:

- Para de fingir que está tudo bem, Hermione.

- Mas está tudo bem, Ron.

- Não, não está.

- Está sim.

-Não! – Ron aumentou o tom de voz de leve, mas logo tornou a baixá-lo, tudo que ele não precisava era chamar a atenção do resto do salão. – Não está e você sabe disso. Pare de enganar a você mesma.

- Eu não sei quanto a você, mas eu estou ótima. Tem alguma coisa te incomodando? Pode me contar, Ron. Eu to aqui pra tudo que você precisar.

Ron havia esquecido o quão estressante era brigar com Hermione. Mas assim era melhor. Talvez amor se transformasse em ódio.

- Pare com isso, Hermione.

- Não fui eu quem começou! Por sinal, eu nem sei o que eu tenho que parar, nem por quê.

- Você sabe muito bem.

- Não, não sei, Ron. Você pode me explicar o que está acontecendo?

- Eu não vou explicar nada.

- Então você não pode exigir que eu não aja como se nada estivesse acontecendo, afinal, pra mim não tem nada acontecendo.

- Hermione, pare com isso!

- Parar com que, Ron? Me diga, caramba!

- Com esse teatrinho bobo de desentendida! Você pode ser tudo, Hermione, menos burra!

- Eu só quero saber: por quê? – Hermione o questionou firme. Ela não estava fazendo nenhum teatrinho bobo agora.

- Porque...- Ron começou, mas Hermione o interrompeu:

- E não me venha com respostas bobas e pouco convincentes. Você mesmo disse, eu posso ser tudo menos burra.

A resposta de Ron demorou um pouco para surgir, e quando veio, veio engasgada, arranhando a garganta, veio baixinho:

- Eu não te amo mais.

Pela primeira vez em toda a conversa, Hermione olhou para Ron. Seus olhos atravessaram toda a superfície externa de Ron e mergulharam no ser mais profundo dele. Ela entendeu tudo. Ela não conseguia acreditar em tamanha covardia. Ela não iria permitir.

- Se é verdade olha pra mim, diz olhando dentro dos meus olhos que você não me ama mais. Diz que não ama. Olha pra mim e diz. Mas vai ser a última vez que você vai dizer isso. A última. Vamos Ron! OLHA PRA MIM! – O grito de Hermione reverberou pelo céu abobadado que estava enfeitiçado para um dia nebuloso. O alvoroço estava feito. Cabecinhas curiosas começaram a se virar.

Ron virou seus olhos lentamente, cravando seu olhar fundo nos olhos achocolatados de Hermione. Ele penetrou fundo na alma dela, passando sem notar toda aquela casca externa de resistência. Ele enxergou de volta a sua Hermione, ele sentiu em seus olhos a pureza mais profunda que emanava sobrepondo-se a seu pesadelo. Ela era o ápice do alumbramento ao mesmo tempo em que o precipício da obscuridade. Ele a amava e sempre a amaria, não conseguiria mentir ou omitir, não quando a olhava daquela maneira. Não quando ele via a sua Hermione ali na sua frente pedindo, implorando para que ele voltasse a ser como era antes. Ele não voltaria, estava decidido, mas de sua boca foi impossível que as palavras de legitimação saíssem. Apenas ficou mirando-a, admirando toda a sua beleza interior. Era incapaz de se pronunciar. Estagnação. Êxtase.

- Ron, você é um estúpido! – A raiva brotada em Hermione floresceu impiedosa. Ela estreitou os olhos e sentiu os nervinhos da parte interna de seus olhos tremerem. Sua boca crispou-se, encurvando-se para dentro. Pressionava tanto seus lábios que os sentia começar a latejar. Sua respiração era lépida e pesada. Hermione transpassou as mãos pelo rosto, e apertou os braços contra o peito com força, esmagando seus seios. Gritou. – ESTÚPIDO!

Muito devagar meneou a cabeça para trás, esfregando a cara nas mãos. Depois voltou o rosto soltando todo o ar pela boca entreaberta. Engasgou-se. As lágrimas dançavam nos contornos de seus olhos, em movimentos contínuos, indo e voltando. Ela levantou-se rápida, ficando de pé no corredor de frente para Ron. Expeliu todo o rancor que estava se acumulando dentro de si. Berrou quase estourando as suas cordas vocais:

- VOCÊ É UM ESTÚPIDO, MENTIROSO, PREPOTENTE, RIDÍCULO, COVARDE! VOCÊ NÃO TEM CORAGEM DE LUTAR PELO MEU AMOR! VOCÊ NÃO DEVIA ESTAR NA GRIFINÓRIA! VOCÊ NÃO PASSA DE UM COVARDE, SEM CORAÇÃO! – Hermione puxou o ar com pressa, passou as costas das mãos com força abaixo dos olhos para limpar as lágrimas que ela há muito tempo tinha desistido de segurar. Continuou. – MAS UM COVARDE SEM CORAÇÃO QUE EU AMO DEMAIS... SE NÃO ME QUERIA ENTÃO ME DIGA POR QUE ME FEZ APAIXONAR POR VOCÊ, SE DEPOIS ME ABANDONARIA! EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FOI CAPAZ DE FAZER ISSO COMIGO! EU TE AMO! EU TE AMO!

Hermione deu dois passos à frente, acabando com a distância que existia entre ela e Ron. Ela jogou a cabeça para trás e olhou para cima, respirou profundamente. Ron pôde analisar o peito dela que, na altura de seus olhos, dilatou-se e depois se contraiu vagarosamente. Em seguida, ela baixou sua cabeça e o encarou de cima, sua cara não mais transbordava lágrimas, apenas algumas solitárias destas escoriam acariciando-lhe a face. Com calma, ela esfregou as mãos na saia para limpar a umidade, logo após, as depositou uma de cada lado no rosto de Ron. Mesmo com a cara inchada e sofrida ela estava linda, porque em seu olhar via-se amor.

Hermione inclinou sua cabeça para frente e zelosa pôs seus lábios sobre os de Ron, friccionou-os de leve, e mais de leve ainda inspirou. Depositou mais força ao beijo e então o estalou baixinho, devagarzinho. Aquele ruído que acalma os corações e enobrece a alma. Desencostou seus lábios lentamente, eles ainda roçaram um pouco, repuxando-se brevemente para se desprenderem. Ela expirou o ar quente por sua boca entreaberta. Levantou a cabeça. Em seu olhar não era mais possível ver o amor, apenas a sombra deste. Ela disse:

- O que está feito, está feito. Amargure a sua decisão.

Como Harry havia dito, a vingança de Hermione não fora nem um pouco compadecedora. Ela virou-se de costas para Ron e após atravessar o salão sumiu pela mesma porta de rococós dourados e maciços, deixando para trás apenas seu perfume, um perfume doce de melancolia.

Fim flashback 4

No parque:

Ron escutou um leve suspirar de Hermione ao seu lado e virou-se a tempo de ver uma lágrima que lhe escorria pela face. Esta refletiu o brilho do sol e emitiu o pesar de Hermione. Mesmo já sabendo a resposta, Ron chegou perto de Hermione e perguntou-lhe ao pé do ouvido:

- O que houve?

Ela o encarou aflita.

- Por que você fez aquilo?

Sem dar tempo de Ron responder Hermione, virou-se e começou a correr pelo parque, marcando seus passos na pouca neve que ainda não havia derretido. E como há anos, a única coisa que deixou para trás foi seu perfume inebriante, que exalava sua doce melancolia. Aspirando aquele perfume, Ron, pela primeira vez na história, entendeu porque sempre amaria Hermione. Porque não a queria amar. Por medo, puro medo de amá-la mais do que a si mesmo. Mas pela primeira vez na história, Ron aceitou amá-la e a seguiu, correndo pelo parque.

N/a: E mais um capítulo chega ao fim, e mais uma vez eu imploro a vocês amados leitores do meu coração: COMENTEM!!!POOOOOOOOOR FAVOOOOOOOOOR *-* Esse capítulo eu diria que é o mais importante da história, eu gostaria realmente de saber a opinião de vocês, eu vou entrar em profunda depressão se vocês não comentarem. Olhe, se vocês olharem o jornal e a manchete for de um suicídio, enforcamento com os cabos do computador, podem se sentir culpados. Eu me teria me matado por não receber comentários.

E claro eu queria agradecer minha beta mais que perfeita!! Brigada leee!! Você sabe o quanto você é especial neh??Te adoro de montãããoooo. E também quero agradecer a Morganna, o Luisâo e o Rafael, muito abrigada mesmo por terem comentado!!! E a todos aqueles que lêem, estou imensamente agradecida, mas vocês bem q podiam comentar neh?? Não custaria nadinha.

Beijokinhas
=**

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