Hora extra



Gina sentiu o sol bater no seu rosto, incomodando – droga, odeio acordar com sol na cara! – pensou, e se enfiou debaixo das cobertas para voltar a dormir – Ahn, ok! Eu não durmo de cortinas abertas, então..?

Levantou rápido, curiosa, e sentiu uma leve tontura que a fez fechar os olhos.

– Bom dia, raio de sol! – a frase vinda do corredor a fez gritar alto.

– AAAH! Mamãe, o que está fazendo aqui? – tomou ar e se sentou na cama. – Já disse para avisar quando vier, está tudo uma bagunça!

– É, eu percebi. Não sabia que você andava tão ocupada para arrumar a casa, querida. Preparei seu café da manhã também, vá pentear esses cabelos e vamos comer!

– Uhn.. certo mamãe, obrigada. – a garota trocou a camisola e penteou os cabelos, que pareciam ter vida própria, arrumando-os numa trança mal feita. Notou que suas roupas não estavam mais jogadas pelo chão, a mãe devia as ter arrumado. Assim como as cortinas estavam todas abertas, clareando a casa. Botou um par de sapatos e foi sentar-se com Molly. Uma música rápida e cheia de palavrões vinha do piso de baixo

– Céus, Gina! Como você consegue? – a mãe parecia preocupada com ela, e tinha os olhos tristes.

– Ah mamãe – dizia enchendo a boca de torradas – ultimamente eu tenho gostado de estar sozinha, me sinto bem assim. E não é tão ruim, aqui é confortável, já até me acostumei com o gosto musical do cara do andar de baixo! – pegou outra torrada com geléia - Hum, há tempos não como uma torrada que não pareça papelão, isso tá ótimo!

– Continuo sem entender... você sabe, seu pai não está nada feliz com essa idéia de sair de casa tão cedo quando não se tem porque! Sabe, uma casa tão cheia se esvaziando tão rápido, e agora Rony com esses planos de se casar! – a voz da mãe parecia embargada, como se estivesse prestes a chorar – ele ainda é novo! E não quero ver nossa casa tão vazia!

– Mamãe – a garota tentava acalmá-la, mas de pouco adiantava – é só por um tempo, e Rony só tem planos por enquanto. Não se preocupe, vocês não vão ficar sozinhos. Mesmo morando longe nós sempre os visitamos, vocês sabem. E eu estou bem! Gosto daqui, sinto falta de você fazendo tudo por mim, mas preciso me acostumar.

– Ginevra, um lugar tão pequeno, e você sozinha aqui! Se você morasse com uma amiga, ou tivesse um namorado. Sabe, nunca mais te vi interessada por rapazes como antes. – disse Molly, ainda abalada.

– Bom, tem um rapaz. Quem sabe um dia não possamos morar juntos? – Gina riu com a possibilidade quase impossível.

– Ah, então já tem um namorado e nem conta à família? – Um sorriso surgiu no rosto da mãe, aliviando um pouco a garota.

– Não é namorado, só nos falamos uma vez, num bar aqui no bairro e então eu venho notando ele. Sabe, ele não deve saber que existo, assim como mal sei o nome dele, onde mora, ou em que trabalha. Sei que pediu um Martini e que se veste bem, e só. De qualquer modo acho que eu não saberia levar um namoro sério, ou algo parecido ultimamente, já disse que preciso de um tempo para mim, sozinha. – disse com as bochechas corando, lhe parecia idiota estar contando como fora gostar de alguém que mal conhecia, mesmo que para a mãe.

– Ahh meu bem, não vá sofrer por estes rapazes que não lhe dão bola. – a senhora Weasley parecia estar se recuperando do medo de ser abandonada pelos filhos, e começou a cortar um pedaço de bolo para Gina.

– Longe de mim, sofrer por rapazes! Não preciso de namorado por enquanto, mãe. – disse fazendo um gesto exagerado com as mãos.

– E quando precisar sei que aparecerão muitos assim que você estalar os dedos, princesa!

Molly foi embora assim que Gina saiu para ir trabalhar. Era outono, mas o sol estava forte como no verão. Aparatou no Beco Diagonal e andou até o Fran’s Café, um lugar aconchegante, de bancos acolchoados de veludo vermelho e boa iluminação, onde iam muitos casais. Era garçonete lá e sempre encontrava algum ex-aluno de Hogwarts, fosse para contar fofocas da antiga turma, ou se gabar do sucesso no emprego enquanto ela servia capuccinos com creme.

Em seu horário de almoço se divertia conversando com Madame Francine, dona do local, ouvindo os casos de amores antigos da senhora, e como ela falava sobre fazer amor como quem fala de escovar os dentes, pior era quando falava de escovar os dentes com completos estranhos.

Gina achava engraçado como as pessoas pareciam sempre estar buscando romance, e como isso era essencial em suas vidas. Como se fosse impossível viver sem alguém ao seu lado. Para ela, ou você conhecia alguém legal, ou não conhecia. E se não conhecesse, esperaria até aparecer alguém. E se não aparecesse, você aprendia a conviver com as pessoas ao seu redor. Certo, não era exatamente assim. Ela acreditava que uma hora ou outra alguém apareceria, só não precisava passar a vida procurando por esse alguém. Ela gostava das coisas espontâneas. Como quando encontrou o rapaz do Martini no bar.

- Uma tônica, por favor! – disse a ruiva com um sorrisinho para o barman. Fora seu primeiro dia no trabalho, assim como sua primeira semana no novo apartamento. Tudo aquilo parecia finalmente uma nova vida e resolveu conhecer melhor a região, já tarde da noite.

– E pra mim um Martini com azeitonas. – um homem de pouco mais de vinte anos sentou-se do lado de Gina, vestia uma camisa clara, já amarrotada e para fora da calça social. Parecia estar voltando do trabalho, devido à maleta que colocou no chão. Sorriu – odeio segunda-feira, só álcool consegue me animar.

Gina riu e assentiu com a cabeça - Não preciso do álcool, mas detesto segundas também.

– Só de pensar que ainda tenho trabalho para hoje. Queria ver um pouco de Tv e dormir – fez uma pausa, como se imaginasse a si mesmo vendo tv despreocupado - Mas afinal, qual seu nome? - ele bagunçou um pouco os cabelos de um modo adorável, e sorriu simpaticamente.

– Gina, Gina Weasley. - respondeu animada, e antes que pudesse perguntar o nome dele, ouviu um toque. Provavelmente era um daqueles aparelhos trouxas de comunicação que ela tanto via pelas ruas, um celular, isso!

Ele atendeu rapidamente e disse poucas palavras, confirmando que iria onde o chamavam. – Certo, Gina! Trabalho me chama, quem sabe um dia não te pago uma tônica! – e lançou outro sorriso que depois ela julgou como encantador.

A garota bebeu sua tônica rapidamente e voltou para sua nova casa, tinha de arrumar os móveis e ajeitar a decoração. Voltou cantando uma música agradável, e assim o fez até a hora de dormir.

Encantador. Na verdade aquele sorriso quase a fez derreter. Se lembrou de como Harry sorria para ela logo que se conheceram, e como ela corria para se esconder e ficar sonhando pelo resto do dia em como seria ter o garoto que sobreviveu só para si.

– Giiiiinny, Gaby não vem hoje, aquela esperrtinha tem um encontrro hoje à noite! – Gina ouviu Madame Francine falar do balcão, com seu sotaque francês que para muitos parecia forçado demais – Você poderria cobrrir o turrno dela agorra à noite, querrida?

“Aw, droga! Aquela espertinha sempre tem um encontro com qualquer um, no lugar dela eu cobraria, e então já estaria milionária!” – pensou, mas acabou por dar uma resposta pouco menos rude.

– Claro, Madame! Posso ficar sim! – deu uma resposta bem menos rude que seu pensamento, aliás. Gostava de sua chefe, e não faria mal passar algum tempo a mais ajudando.

– Obrrigada, docinho! Te compensarrei porr isso!

– Sei que sim. Da próxima avise antes. – disse baixinho, colocando de volta o avental rendado que tirara para ir embora. O lugar era mais movimentado à noite, teria mais trabalho que o habitual, mas quem sabe poderia faltar um dia para conhecer melhor os lugares trouxas da área, ou conhecer gente nova.

– Clientes chegando, doçuuurrrra! – cantarolou Francine, do balcão.

– É Gina, longa noite! – disse para si mesma, dirigindo-se ao casal que acabara de chegar.

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