Um momento sem pensar



Capítulo 19: Um momento sem pensar

-- O que foi, Rony? – Harry perguntou, inocentemente, um sorriso brincando em seus lábios- Dormiu mal?
Harry nunca vira Rony daquele jeito durante todos os anos em que se conheciam.
Os cabelos estavam revirados, o seu mau humor poderia até ser palpável no ar e havia duas profundas olheiras embaixo de seus olhos; não parecia ter dormido muito bem, isso era óbvio.
-- Se eu ainda tivesse dormido...- ele comentou, de um jeito brusco.
Rony poderia não perceber, mas Harry e Gina notavam que, toda vez que os olhares de Rony e Hermione se encontravam, ambos ficavam imensamente vermelhos.
-- Por que? Aconteceu alguma coisa? – Harry se ouviu falando; Rony parecia querer levantar naquele mesmo momento e enforcá-lo.
-- Nada – o ruivo respondeu, seco, engolindo uma quantidade de torradas exageradamente grande.
Hermione revirou os olhos.
-- É...- Gina comentou, os olhos passando de Rony para Hermione – Parece que nenhum de vocês teve uma noite muito boa.
Não era preciso dizer que Hermione tinha o estranho desejo de mergulhar sua cabeça no pequeno pote de cereais a sua frente.
-- Coincidência! – exclamou Harry.
Nenhum dos dois respondeu.
-- Sabe de uma coisa Harry?- Gina perguntou, as sobrancelhas levantadas de um jeito maquiavélico.
-- O que, Gina?
-- Você por acaso ouviu uns sons ... estranhos ontem a noite na sala comunal? – os olhos de Gina brilhavam em malícia; se Harry havia pensado que ela daria um desconto ao casal depois de ter feito o que fizera com eles no último sábado, estava completamente errado.
Não seria... mal dele entrar no jogo de Gina, seria?
-- Bem... Eu definitivamente ouvi algo estranho. O que você acha que era? – a pergunta veio à tona, e parecia para Hermione uma sentença de morte.
-- Hum...Os sons eram meio...abafados. Eu não tenho muita certeza do que era... – era possível ver a aura de alívio a qual emanava de Hermione ao pensar que aquilo tudo tinha acabado, mas - Você sabe, Mione?
As pessoas em volta dos quatro amigos pareceram surpresas com a forma assustadoramente rápida que o rosto de Hermione ficara vinho.
-- Eu não ouvi nada – ela comentou, olhando para o seu pote de cereais, na esperança de que as pessoas não conseguissem ver seu rosto.
-- Ah... Bem, eu pensei que você tivesse... – Gina parou por alguns segundos, apenas admirando o desespero de Hermione – ouvido.
-- O que faz você achar que eu poderia ter ouvido, Gina? – Hermione falou incrivelmente rápido.
-- É, o que leva você a achar isso, maninha ?- Rony perguntou, a voz completamente seca.
-- Você não tinha combinado comigo que ia ao meu dormitório antes de dormir?- Hermione concordou lentamente com a cabeça- Pois é. Eu não me lembro de você ter ido. Então eu pensei que talvez você estivesse na sala comunal e pudesse ter ouvido alguma coisa.
-- Bem- Hermione começou, tentando controlar-se, a vermelhidão se dissipando, embora suas bochechas continuassem vermelhas- Mas eu não estava.
-- É – Rony concordou, depois de engolir algumas torradas – Ela não estava.
Harry e Gina trocaram olhares risonhos.
-- Ah, é! – Harry disse, fingindo lembrar-se de algo – Vocês saíram juntos do salão comunal. Está explicado agora.
-- O que está explicado? – perguntou a voz autoritária de Hermione.
-- Bem... Vocês não ficaram fora do salão o tempo inteiro. Então, obviamente, eram vocês quem estavam lá no salão comunal – Harry completou, um grande sorriso no rosto.
Enquanto Rony se engasgava com uma quantidade( dessa vez pequena ) de torradas, Hermione virava o seu potinho de cereais.
Potinho esse que continha leite.
Leite derramado em todas as roupas de Neville.



-- Ok, então, Rony – Harry disse, enquanto tirava os óculos dos olhos, colocando-os sobre a mesa de cabeceira – Boa noooooite – completou, um bocejo no meio da frase.
Harry esperou por alguns instantes, mas Rony nada respondeu.
Mesmo com sua visão embaçada, Harry podia ver Rony com a boca fechada de um jeito muito estranho olhando para o teto, mas não o focalizando realmente.
Harry acomodou-se na cama, puxando as cobertas até a cintura. Quando ele estava prestes a fechar todo o cortinado, pôde ouvir a voz do colega, mas não o entendeu muito bem.
-- O que? – ele perguntou, olhando Rony pela fenda da cortina.
-- Eu...- Rony começou, não olhando para Harry – Eu a beijei.
Rony parecia estranhamente sonhador.
Harry reprimiu um riso; talvez não ajudasse no seu estado físico e muito menos no estado psicológico de Rony.
-- Bem, Rony... – a voz de Harry saiu devagar, como se ele tentasse se controlar – Isso eu meio que já sabia. Você...Você beijou-a no meio do salão comunal, lembra?- Harry perguntou, cauteloso, parecendo muito empenhado em procurar furos na cortina.
-- Lembro...- o garoto comentou e, depois de mais um instante sonhando acordado, seu olhar pareceu se focalizar . Ele sentou-se tão rápido na cama que Harry chegou a se assustar – Como assim?
Harry levantou as sobrancelhas: o que Rony estava tentando dizer?
-- Como assim o que? Por Merlim, Rony! – Harry exclamou.
-- Ah... Como assim? Não sei, não sei, Harry – ele disse- como se a pergunta tivesse sido feita a ele- parecendo muito mais calmo e, assim, deitou-se novamente na cama.
Os olhos de Harry estavam arregalados: Rony estava agindo de um modo muito estranho. Pensou em perguntar-lhe sobre o que raios estava falando, mas seu sono era maior.
Deixou o braço cair com um baque ao lado de seu corpo; o cansaço tomando conta dele por inteiro.
Seus olhos fechavam-se e permaneciam cada vez menos tempo abertos. A visão foi tornando-se escura...
-- Todo mundo viu! – a voz de Rony exclamou ao longe.
Harry deixou a cabeça pender para o lado. O que será que Rony estava falando? Ele não tinha realmente entendido... Seria melhor dormir...
-- TODO MUNDO VIU! – Rony gritou tão alto que Harry literalmente caiu da cama. Seu queixo bateu no chão, e ele enrolou-se de tal modo no cortinado que foi preciso a ajuda de Neville e Simas – acordados pelo grito de Rony –para tirá-lo dali.
-- Que foi que aconteceu, Rony?- perguntou Harry com a voz um pouco fina, as pernas ainda bambeando por causa do susto.
-- É, Rony –comentou Dino, os olhos fechados de tanto sono – O que, raios, todo mundo viu?
Em dois segundos Rony já havia levantado da cama, os cabelos tão revoltos que chegavam a ser piores que os de Harry. Ele torcia as mãos de um jeito compulsivo, como se pensasse que o quarto explodiria a qualquer momento.
-- Hermione... Eu... Todo mundo viu, Harry – ele falou, parecendo realmente assustado.
-- Eu sei, Rony – Harry disse lentamente, não sabendo o que exatamente dizer.
-- Você a beijou no meio do salão comunal! – exclamou Dino, o rosto inchado, muito irritado.
-- Oh... – Rony se mexia como se tivesse feito algo errado –Por isso ela não falou comigo o dia inteiro.
-- Será que você não percebe que essa já é a segunda noite na qual você não nos deixa dormir direito? – Simas perguntou, girando os olhos, enquanto Neville concordava com a cabeça -Na noite passada você simplesmente sumiu, e agora você se dá ao direito de gritar em plena madrugada?
-- Rony – Harry começou, sentindo-se mal por saber que, involuntariamente, concordava com Simas – Tenho certeza de que não foi esse o motivo pelo qual ela não falou com você.
-- Você a beijou, não beijou? – perguntou Dino, alto, enquanto Neville e Rony o olhavam assustados – Então pronto! Você já fez o que tinha que fazer, já descobriu o que todo mundo já sabia...
-- O que todo mundo já sabia? – o ruivo perguntou.
-- Que vocês dois se gostam! – ao receber um olhar desfocado como resposta de Rony, Dino levou as mãos ao rosto – Tudo bem, você ainda não descobriu, mas tenho certeza de que pode fazer isso amanhã, certo?
-- A-Acho que sim –gaguejou Rony.
-- Ok, apenas tenha em mente – Dino falava, enquanto empurrava o colega até a cama – Você conseguiu a garota! Não se preocupe com mais nada.
Rony caiu na cama e, com um gesto brusco, Dino fechou seu cortinado.
Quando receberam o olhar assassino de Dino, os três garotos se apressaram em voltar às respectivas camas.
-- Ah, isso sim é paz – Harry pôde ouvir Dino falando ao longe, quando acabava de se deitar.
Quando estava quase dormindo, um pensamento fez com que um sorriso brincasse no rosto de Harry: Rony sofria de reconhecimento tardio das ações as quais fazia.
O que ajudou Harry a dormir ainda mais rápido foi a lembrança do que fizera com o casal de amigos na noite anterior...

“Quando ele estava prestes a perguntar o que poderiam fazer, os olhares dos dois se concentraram em um certo ponto da sala comunal. Ao contemplar o rosto de Gina, percebeu que os dois apresentavam imensos sorrisos malévolos.
-- Você... tem certeza disso? – perguntou Harry, por um momento sentindo-se incerto.
Gina virou-se rapidamente para o olhar de frente:
-- Por que? – ela perguntou, mostrando-se também incerta – Você acha que eles podem descobrir ou algo assim?
-- Hum... Sinceramente, não sei- o garoto admitiu, enquanto passava as mãos pelo cabelo- Mas acho que não há uma forma melhor de fazer isso, não é? É rápida, quase certeira...
-- E você está morrendo de sono- completou a ruiva, sorrindo de leve.
-- Não me acuse de nada! Eu não sou o único aqui com sono, além desses dois! – disse o garoto, apontando para o casal a alguns metros deles.
-- Eu, pelo menos, consigo me controlar, tá?- falou Gina ao mostrar a língua para o moreno- Então, faremos mesmo isso, né?
-- Claro!- concordou ele- Devo fazer ou...?
-- Não, pode deixar que eu faço!
Ambos encontravam-se longe do sofá no qual os amigos dormiam, porém perto o bastante para poderem distinguir o que viam apesar da falta de luz.
Enquanto Harry mantinha sua varinha acesa, Gina pegava a varinha de seu bolso e se preparava para fazer algo extremamente ridículo aos seus olhos.
No momento no qual pôde enxergar com maior nitidez o sofá, a garota ergueu mais a varinha e sibilou um feitiço desconhecido aos ouvidos de Harry.
Uma estranha luz prateada envolveu o estofado do sofá logo depois de Gina guardar sua varinha.
-- Harry, vamos!- Gina falou em seu ouvido, puxando os braços dele para que andasse- O combinado foi sairmos o mais rápido possível daqui!
-- Mas, Gina... Além daquela coisa prata, nada mais aconteceu! Tem certeza de que você falou o feitiço certo?
-- É claro que sim! Eu sei muito bem o que faço, okay?- a garota disse, irritada, finalmente conseguindo fazê-lo andar a passos largos.
-- Mas o efeito não deveria ser mais...rápido?- Harry perguntou, extremamente confuso.
-- Esse feitiço foi feito particularmente com esperteza. Essa demora é justamente o tempo o qual precisamos para sumir, Harry!
Ao chegarem na ponta das escadas dos dormitórios, Harry apagou rapidamente a luz de sua varinha.
O casal, agora totalmente no escuro, virou-se para o sofá iluminado pelo prata do feitiço no meio do salão comunal.
-- E agora? – Harry perguntou, impaciente.
-- Fale baixo! E aprenda a esperar, por Merlim!
De má vontade, Harry moveu seus olhos novamente para o sofá e, sinceramente, se assustou, arrancando bons risos de Gina.
O sofá e as almofadas em que o casal estava deitado passaram a se mover em todos os lados e maneiras possíveis. Com um grande susto, Hermione e Rony foram derrubados no chão devido à rapidez com a qual as almofadas mexiam-se.
Harry estava muito curioso para ver como Hermione reagiria ao descobrir que algo ou alguém os tinha visto mas, antes que pudesse vê-los acordarem, Gina puxou-o e subiu com ele as escadas para o dormitório masculino.
-- Gina... Eu só queria ver...
-- Deixe de ser teimoso, Harry. Acredite em mim, a última coisa que você quer é o Rony saber que nós o vimos lá.
-- E porque você subiu comigo? Você deveria ter ido direto ao seu dormitório! Nem quero pensar em quando você descer as escadas e der de encontro com os dois!
-- Harry – Gina disse, respirando fundo- Quem em algum momento disse que eu ia descer as escadas agora?
-- Hum...- Harry coçou a cabeça, literalmente confuso- Não existe nenhuma outra hora pra você descer! Tem de ser agora, e rápido!-ele disse, empurrando a garota alguns degraus abaixo.
-- Harry, pare de me empurrar! – a garota resmungou, tirando as mãos dele de seus ombros – Eu não vou descer nem agora nem em momento algum enquanto os dois estiverem lá embaixo!- ela finalmente falou, subindo as escadas até o degrau em que Harry se encontrava.
-- Oras, se você não vai descer, você vai fazer o que?- ele perguntou, impaciente.
-- Vamos lá, pense! Se eu não posso descer as escadas, mas estou nelas, o que eu faço?- ela perguntou, visivelmente impaciente.
-- Eu..Eu não sei!- Harry exclamou, enquanto Gina balançava a cabeça.
-- Eu simplesmente não acredito no fato de você não saber as duas únicas coisas que uma pessoa faz em uma escada!
-- Não fique me pressionando! O que eu posso fazer se...?- os olhos dele finalmente se arregalaram- Não!
-- Sim!- ela exclamou, puxando-o para os degraus acima.
-- Não!- ele a empurrou para baixo – Você não pode simplesmente subir para o meu dormitório! Você tem que descer agora, antes que...
-- Ronald Weasley!- eles puderam ouvir uma voz fina ao longe – Por sua culpa, alguém nos viu aqui!
-- Antes do que?- Gina perguntou, sorrindo.
De má vontade, Harry passou a empurrar Gina nos degraus acima assim que ouviu passos no salão comunal.
Harry abriu rapidamente a porta do dormitório e, antes que pudesse entrar, Gina já estava no meio do quarto.
-- Então, onde é a sua cama? – ela perguntou, baixo, enquanto olhava tudo a sua volta.
Harry arregalou os olhos e passou as mãos na cabeça, visivelmente derrotado; Rony e Hermione não eram os únicos a sofrerem as conseqüências de um ato sem pensar...”

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