Capítulo 4
N/A: Gostaria de agradecer a Jessi_Potter pela capa maravilhosa, ficou muito linda menina!
E desculpem a demora, rsrs! Vamos a fic, Enjoy the chapter!
CAPÍTULO IV
Por um instante, Hermione imaginou que sonhava e a qualquer momento alguém iria acorda-la.
--- Sinto muito pelo atraso — Harry enfim falou. O tom era terno, como se os dois estivessem à sós na sala. Como se os dois se conhecessem não por alguns minutos embaraçosos, mas desde sempre. Então seus lábios se curvaram num sorriso maroto. — Dormi demais.
O sorriso irresistível levaria qualquer mulher a perdoa-lo pelo mais sério deslize.
— Está tudo bem — Hermione respondeu. — agradecemos por você gentilmente nos ceder seu tempo. Você e... — ela olhou para os dois que acompanhavam Harry. --- Sinto muito, mas receio que só me lembre de vocês como os Infernais.
Os homens sorriram.
Estes são Draco Malfoy e Ronald Weasley. — Harry fez as apresentações. — Rapazes, esta é Hermione Granger.
Houve um momento de hesitação, em que o dois jogadores pareceram em dúvida quanto a iniciativa e aliviou o embaraço. Transferindo a bengala para a mão esquerda, estendeu a direita.
— Muito prazer em conhece-los, Draco... Ronald.
— E você é Luna, certo? — Harry perguntou.
— Você se lembrou! —Luna confirmou, embevecida. — Draco... Ronald, muito prazer.
— Ele nunca se esquece de um rosto bonito — Weasley comentou, fitando Luna com evidente interesse.
— Cuidado com esse aí, Luna — Draco brincou. — Nós só o soltamos em noites sem lua.
--- Mesmo assim — Harry completou —, apenas acompanhado e por alguns minutos.
Todos riram, e Potter voltou a atenção novamente para Hermione.
— Bem... — Ela observou, procurando ordenar os pensamentos.
— Que tal conhecerem as crianças? — Ao se virar, esbarrou na secretária. Oh, esta é Lilá Brown.
— Lilá? —Hermione chamou, fazendo-a cair em si, atrapalhada.
— E...eu... me desculpem. Adorei as rosas. — Apertou a mão de Harry e, ao dar-se conta do que havia dito, corou. — Quer dizer, sei que não as mandou pra mim, mas vieram aqui pro escritório e... Eram tão bonitas... Pena que Hermione as levou para casa... Oh, meu Deus, não estou falando coisa com coisa, não é?
Todos exceto Hermione, achavam graça da tagarelice de Lilá.
— Que bom que gostou delas — Harry comentou com a secretária e, sentindo o embaraço de sua chefe, sugeriu com tato: — Que tal conhecermos as crianças agora?
Luna deteve a amiga apenas o suficiente para lhe sussurrar no ouvido:
— Quer por favor, sorrir?
— Sorrirei — Hermione respondeu no mesmo tom — ...assim que esganar Lilá.
No decorrer da sessão de fotos, Hermione se apanhou pensando que a idéia desse tipo de promoção lhe parecera boa até deparar-se com os jogadores enviados por Ludo Bagman. Não que Harry Potter não tivesse jeito com as crianças, muito pelo contrário. Ele e os amigos sabiam cativa-las.
O problema era Harry Potter ter surgido de novo em sua vida, estar em seu escritório, agindo como se estivesse em casa. E cada vez que olhava para ele flagrava-o observando-a.
O problema era que ela não sabia qual o problema!
Contudo, por mais tentasse, não conseguia tirar os olhos dele. Tratava-se, sem dúvida, de um homem que jamais passaria despercebido com aquele porte atlético. Sem falar nos olhos verdes realçados pelos cabelos negros.
Mais uma vez flagrou-o a encara-la. Além disso, percebeu que o quadril começava a doer de tanto ficar em pé e, afastando alguns papéis, sentou-se na borda da mesa. Mal conteve uma careta de dor.
"Ela sofre de artrite", Harry pensou. Era a única resposta que fazia sentido. Explicava o andar manco e as mãos marcadas por cicatrizes cirúrgicas, além da participação ativa naquela Fundação.
"Também tem pernas lindas", ele reparou percorrendo o olhar por toda sua extensão. Tratava-se de uma mulher atraente e... "Com dor". Esta se revelava no leve tremor ao redor dos lábios, só perceptível a alguém familiarizado com dores lacinantes. Como atleta profissional, havia mais de uma vez jogado com ferimentos que deixariam a maioria das pessoas de cama. Ele acrescentou admiração à lista de emoções inexplicavelmente evocadas por Hermione Granger.
— Sr. Potter, posso tirar outra foto de vocês três com Jason? — O repórter fotográfico pediu. As duas crianças menores haviam se cansado e ido embora.
— Claro que sim — Harry concordou.
— Poderia ser a última? — Luna sugeriu. — Jason parece cansado.
— E se eu segura-lo para a próxima? — Harry propôs.
— Boa idéia. Depois um refrigerante cairia bem, não, Jason?
O garotinho concordou entusiasticamente com a cabeça.
Com cuidado, Harry pegou o menino no colo e parou no local indicado pelo fotógrafo. Tomado por timidez na presença do jogador que tanto admirava, Jason escondeu o rosto no peito dele.
— Jason a assistente social falou —, conte qual é o seu time favorito.
Não houve resposta.
— Qual é seu time favorito? — Draco insistiu, tentando enxergar o rostinho enfiado no pulôver do companheiro de equipe.
Continuaram sem resposta.
— Eu sei — Ron arriscou. — É o Cannons.
Jason arriscou espiar de seu esconderijo.
— Eles ganharam o campeonato — ele comentou.
— Ganharam sim — Ron confirmou. — É um time com muitos torcedores.
— Não sou um deles — o garotinho refutou, esquecendo-se da timidez.
— Não? Então para quem torce? — Harry instigou.
— Para o Puddlemere.
— Esse menino tem bom gosto — Malfoy brincou.
— Serei jogador de quadribol quando crescer — Jason anunciou com orgulho.
Houve um momento de silêncio compungido, pois cada adulto presente sabia que jogador de quadribol certamente era a última coisa que aquele garoto poderia se tornar quando crescesse,
— É mesmo? — Ron quebrou o silêncio. — O que acha de arranjarmos uma goles oficial pra você?
— Uma goles de verdade? — O menino arregalava os olhos castanhos.
— Naturalmente — o jogador confirmou. — E tem mais: posso pedir a todos os membros do time que a autografem para você.
— Fará isso? — Jason mal cabia em si de contentamento.
Hermione sorria enternecida com o simples prazer da criança quando percebeu que Harry a fitava, como se de alguma forma soubesse exatamente o que pensava e sentia. Instantes depois, tirada a última fotografia, viu-o entregar o menino a Ron e se aproximar dela. O coração disparou, mas para seu alívio a assistente social, sra. Glover, logo se juntou a eles.
— Ele falará sobre isso o dia todo — ela comentou.
— É um menino cativante — Harry observou — Está sob cuidados do Ministério, não?
— Sim, seus pais morreram num acidente há três anos. Não tem nenhum outro parente.
— Quais são as chances de ser adotado?
— Poucas. Em primeiro lugar, devido à idade; a maioria dos casais preferem bebê. Em segundo, por causa do problema de saúde, que faz dele um verdadeiro deficiente em termos de adoção.
Deficiente... A palavra cortou o coração de Hermione com toda sua brutal realidade. Ela sabia exatamente como era sentir-se um deficiente. Felizmente o pequeno Jason ainda não tinha consciência disso. Tomara que demorasse muito até atingi-lo.
Mais uma vez, Hermione reparou que Harry a observava. De repente, ela sentiu como se ele lhe desvendasse os mais íntimos pensamentos, o que a levou a uma posição defensiva. Mais do que depressa, escondeu a vulnerabilidade atrás de muros altos que erguia com a crença de que não se importava com a solidão e continuaria assim pelo resto da vida.
— Lilá, por que não apanha um refrigerante para Jason? —Hermione sugeriu, deslizando da borda da mesa ao mesmo tempo em que se escondia por trás de uma máscara de indiferença. — Verifique também se alguém mais aceita refrigerante ou café.
A secretária seguiu as instruções, e em menos de meia hora todos começaram a sair. O repórter foi o primeiro, seguido pela sra. Glover com Lilá, que havia passado a manhã lançando olhares de adoração para o ídolo, e com muita relutância acatou a ordem de ir almoçar. Mesmo assim, só depois de conseguir um autógrafo. Luna também se despediu, embora parecesse intrigada com o fato de os três jogadores não revelarem a menor pressa em partir.
— Comporte-se — ela cochichou com malícia enquanto a amiga a acompanhava até a porta.
Assim Hermione ficou a sós com três homens.
— Eu... bem, não sei como lhes agradecer...em nome da Fundação de Pesquisas... por terem contribuído com seu tempo dessa forma...
Os jogadores concordaram em uníssono que o prazer era deles.
— Espero que a semana que planeja para os garotos seja realmente um sucesso — declarou Draco.
— Obrigada.
— Onde será? — Ron indagou.
— Se tudo der certo, em York — Hermione respondeu, com um indisfarçável brilho de satisfação no olhar. — Há um hotel fazenda lá, de onde espero uma carta de confirmação da reserva a qualquer momento. Eles atendem especialmente a crianças deficientes.
— Se precisar de mais alguma coisa de nós...— Weasley ofereceu.
— Obrigada. É muita generosidade sua. — Hermione se conscientizou que evitava olhar para Harry. Também se deu conta de que ele não dizia nada. Além disso, queria encontrar um meio de lhe agradecer pelas rosas, porém, só desejava que eles fossem embora. — Mas uma vez, muito obrigada a vocês todos.
Os jogadores já se dirigiam para a porta quando o telefone tocou.
— Com licença — Hermione se desculpou, atravessando a sala com a habitual dificuldade.
— Tchau! — Draco e Ron se despediram . — Foi um prazer conhece-la — um deles acrescentou.
Hermione se virou para acenar antes de atender o telefone. Sentia alívio por vê-los partir. Na verdade sentia alívio por Harry partir. Aquele homem lhe tirava a respiração.
A ligação era de uma mulher interessada numa viagem à Escócia com o marido que vivia preso a uma cadeira de rodas. Enquanto dava as informações, Hermione notou que Harry confabulava com os amigos, que então seguiram sem ele. Seus olhares se cruzaram. Breve, porém significativamente. Em seguida, Potter se pôs a caminhar pelo escritório.
A pulsação de Hermione se acelerou.
— Como? — ela voltou a falar ao telefone. — Sim, a viagem aérea é muito confortável.
"Por que ele ficou?"
Como as mãos enfiadas nos bolsos da calça, Harry examinava as menções honrosas penduradas na parede.
— A Inglaterra é um local adorável para visitar — Hermione continuou, distraída, enquanto o acompanhava com o olhar. — Escócia! Quero dizer, a Escócia é um lugar adorável para visitar.
"O que ele está fazendo? Por que não vai embora?"
— Eu lhe proponho o seguinte, sra. Hecker: prepararei um prospecto e o enviarei à senhora, se me der seu endereço. — Enquanto apanhava uma caneta, ela fitou de relance.
"Meu Deus! Ele está lendo todas as menções?"
— Muito bem, entrarei em contato com a senhora. E obrigada.
Harry se virou, então, e se aproximou da mesa como se tivesse todo tempo do mundo.
— Estou impressionado — comentou, indicando com a cabeça a parede com as menções.
— Não fique. Adoro trabalhar para a fundação, e eles insistem em me dar... isso. — Ela apontou para os documentos emoldurados.
— Continuo impressionado, apesar de sua modéstia. — O sorriso de Harry morreu ao indagar sem rodeios: — Há quanto tempo sofre de artrite?
— Dez anos.
— Nossa, você era tão jovem!
— Não tanto quanto Jason, por exemplo. E centenas de outros como ele.
— Quantos anos você tinha?
Hermione deduziu que aquele homem era do tipo que nunca fazia rodeios . Sem dúvida, alguém que se aproximava de uma mulher estranha e a convidava para fugirem juntos não se prestava a subterfúgios. Ela ainda desejava que aquela noite de sexta-feira não tivesse acontecido. Muito embora, no fundo de sua alma, a atenção dele a lisonjeasse.
— Mal tinha completado vinte e dois — respondeu, afastando pensamentos perturbadores. Felizmente ele mudou de assunto em seguida.
— Faz tempo que tem esta agência de viagens?
— Pouco mais de dois anos. Antes disso, trabalhava para o Ministério da Magia.
— Por que decidiu seguir sozinha no negócio?
— A maioria dos empregados podem trabalhar em período integral e com assiduidade. Às vezes, preciso faltar ao serviço porquê simplesmente me faltam forças para trabalhar. Como chefe fica mais fácil, e conto com a cobertura de Lilá — Enquanto respondia , ela se deu conta de que retomava a posição defensiva. A resposta objetiva que recebeu, porém, a desarmou .
— Parece-me uma decisão acertada tanto pessoal quanto profissionalmente. Além de ser fascinante.
— Realmente gosto do que faço. — Hermione sentia-se aliviada porque Harry a tratava como uma mulher de negócios, e não como deficiente.
— Viaja muito?
— Um pouco.
— Suponho que só não aceite fugir para um lugar romântico com um estranho. — Um sorriso malicioso brincava nos lábios de Harry, contagiando-a.
— Por acaso, já encontrou alguém disposta a fugir com você?
— Não. É surpreendente como poucas mulheres, mesmo com a atual liberação de valores, fugiriam com um homem sem ao menos saber seu primeiro nome.
Na verdade, Harry queria dizer que jamais havia proposto a outra mulher que fugisse com ele, que não tinha a menor idéia do que o possuíra naquela noite. Aliás, nem o que ainda o possuía.
Ela por sua vez queria ouvir que aquela proposta jamais fora feita a outra mulher, que não fora uma "cantada" comum.
Em vez disso, Harry dissera o que nenhum dos dois desejava.
— Sinto muito tê-la tirado para dançar naquela festa. Não fazia a menor idéia...
— Não precisa se desculpar. As flores também não eram necessárias.
— Talvez não, mas fiz questão.
— Achei as rosas lindas e as levei para casa.
— Eu sei...Graças a Lilá.
— Nem me lembre disso.
— Ela parece uma moça muito impressionável.
— Naturalmente você sabe que Lilá nunca mais será a mesma depois de conhecer Harry Potter.
— Por quê?
— Ela não fala noutra coisa desde que as flores chegaram. Parece que o considera uma celebridade.
— Uma opinião da qual você não compartilha, suponho.
— A bem da verdade, não tenho opinião nenhuma. Não acompanho quadribol. Você é uma celebridade?
— Sim. — O largo sorriso do jogador era irresistível. — E também um grande amante, com muito dinheiro e dono, dentre outras coisas, do Big Ben.
Ambos riram. De repente, porém, ele ficou sério.
— Vamos almoçar juntos. — Um convite impulsivo. Inesperado. Bem ao estilo de Harry Potter.
Hermione também assumiu um ar sóbrio.
— Não posso. Mesmo assim, obrigada.
— Por quê?
— Eu...bem, Lilá não está aqui para cuidar do escritório.
— Esperamos por ela, o que não é má idéia. Assim lhe pedirei que conte a celebridade que sou e a loucura que seria perder a oportunidade de ser vista comigo.
— Pensei que estava com seus amigos. — Não se tratava de motivo para não almoçarem juntos. Entretanto, foi a única desculpa que lhe ocorreu.
— Draco alugou um carro, e eu tenho o meu. Onde quer comer?
— Não posso...
— É só dizer o lugar.
— Realmente, não posso...
— Meti os pés pela mãos outra vez? Por acaso artríticos não comem?
— Não é isso. Acontece que...
— Então que tal o Três Vassouras? — Antes de receber outra recusa Harry acrescentou, desta vez com ansiedade:
— Por favor, Hermione, deixe-me compensa-la pela noite de sexta.
Era o pior argumento que ele poderia usar, pois levou Hermione a interpretar o convite apenas como uma extensão do pedido de desculpas. Ela se traiu novamente, escondendo-se sob a máscara de indiferença.
— Você já se desculpou.
Harry não entendeu a súbita frieza, mas percebeu que não adiantava insistir. Aquela mulher não ia sair com ele. Pelo menos não naquele dia. Assim, tomou a única decisão sensata: recuou para não a constranger.
— Quem sabe outro dia, então? Ficarei na cidade por mais algum tempo.
— Foi um prazer. — Harry se despediu com relutância e se dirigiu para a porta. Antes de sair, porém, fitou-a longamente.
Só depois que ele se foi, Hermione se deu conta de não ter agradecido pelas flores. Havia dito que eram desnecessárias e lindas, contudo não agradecera.
O telefone tocou na noite de terça-feira quando Hermione jantava.
— Alô?
— Hermione?
— Sim?
— É Harry Potter. Como vai?
--- Estou bem, obrigada. —Ela sentiu o coração acelerar-se de repente. E você?
— Muito bem. Estou ligando por causa da bola que prometemos a Jason Holland. Precisamos do endereço para onde manda-la.
Uma inesperada sensação de desapontamento tomou conta dela.
— Na verdade, não sei. Mas posso averiguar...
— Que tal eu manda-la a você para que providencie a entrega ao garoto?
— Está bem.
— Levará algum tempo para colher a assinatura de todos os rapazes, mas enviarei a bola assim que puder.
— Jason ficará radiante. É muita generosidade sua...
— É um prazer — Harry a interrompeu, aparentemente tão embaraçado com o elogio quanto Hermione em relação às menções honrosas. Houve uma breve hesitação antes de a conversa tomar outro rumo. — Teve um bom dia?
— Não foi ruim. E o seu?
— Pura benção divina. Dormi até as onze, assisti a um filme, fiz ginástica no salão do hotel e depois fui à sauna. Agora pretendo comer lagosta suficiente para afundar um navio.
— Vocês, jogadores de quadribol, certamente levam uma vida muito dura. Não deviam estar jogando ou coisa parecida?
— Realmente não entende nada de quadribol, hein?
— Eu disse que não. Por quê?
— A temporada acabou. Estamos de folga até o reinício dos treinos no verão.
— Ah... Então por isso entregou-se à preguiça o dia todo.
— Exatamente. — Então, sem perda de tempo, ele acrescentou: — Jante comigo amanhã à noite. — Mais uma vez, recorria ao elemento surpresa. — Antes que responda, deixe-me lembra-la de que sou uma celebridade.
Hermione riu com uma naturalidade que sequer teve tempo de questionar. Aliás, o riso parecia uma constante na companhia daquele homem.
— E um grande amante, muito rico e dono do Big Ben, certo?
— Acertou. Jantará comigo então?
O sorriso desapareceu dos lábios de Hermione. Nada havia mudado. Conhecia a razão do convite. Ele já tinha deixado bem claro no dia anterior. Como naquela ocasião, ela sentiu a mesma necessidade ditada pelo orgulho de recusa-lo.
— Obrigada, mas infelizmente não posso.
— Tem certeza?
— Sim.
Harry deixou o assunto morrer com tanta facilidade que apenas confirmou a suspeita de Hermione. A sensação de desapontamento voltou a assedia-la.
Nos minutos seguintes, conversaram sobre banalidades. A certa altura, ela disse:
— Eu... bem, não lhe agradeci pelas flores. Olhou para a mesa onde os botões, já completamente abertos, continuavam viçosos e perfumados.
— Não há necessidade de me agradecer.
— Mesmo assim, obrigada.
— Nesse caso, considere-me agradecido...Preciso desligar agora. Tem alguém batendo a minha porta.
— Sim, claro. Então me mande a bola.
— Combinado. Tchau.
— Tchau.
Ela afastava o fone do ouvido quando ouviu chamá-la.
— Hermione?
— Sim?
— Eu menti.
— Mentiu?
— Sim. Não sou dono do Big Ben.
A ligação foi interrompida antes que ela pudesse retrucar. Quem será que havia batido à porta dele? Uma mulher? Teriam partilhado, entre outras coisas, lagosta suficiente para afundar um navio?
— Está pronto? — Ron foi logo perguntando quando Harry abriu a porta do quarto de hotel.
— Sim. Só vou apanhar o paletó.
— Hum, mal posso esperar para comer aquelas lagostas. Dá água na boca só de pensar naqueles pedaços suculentos...
— Ei, Weasley, assim você faz lagosta parecer melhor que sexo.
O ruivo alto e forte abriu um largo sorriso.
— É o máximo de prazer que provavelmente terá esta noite.
— Calma, só porque você é feio demais para conquistar uma garota, não pense que somos todos iguais.
Os dois continuaram a trocar insultos bem-humorados a caminho do elevador.
— Não se esqueça da festa na sexta-feira — disse Ron. — Vai levar alguém?
Harry não hesitou em responder.
—Sim — E a imagem de uma morena de olhos castanhos lhe veio à mente. — Só que ela não sabe ainda.
O companheiro deu uma sonora gargalhada.
— Potter, alguém já lhe disse que é convencido demais?
— Nunca, meu amigo — Harry retrucou com ironia, enquanto saíam do elevador. — Vamos às lagostas.
O telefone tocou na noite de quarta-feira justamente quando Hermione saía do banho.
— Alô?
— Hermione? Espero não ter telefonado muito tarde. Só agora reparei que já passa das dez e meia.
Por mais que ela tentasse negar, o telefonema a deixou exultante.
— Não, acabo de sair do banho. — A pausa subseqüente fez com ela se arrependesse pela resposta.
— Não está... molhada ou coisa parecida, está?
— Não, não!
— Posso ligar mais tarde, se...
— Não, não! Estou vestida... quero dizer, não estou molhada.
— Em todo caso, não a deterei por muito tempo. Sei que é tarde. Só gostaria de saber se está livre sexta à noite. E não custa lembrar — ele acrescentou mais do que depressa — que sou uma celebridade...
— ...e um grande amante e muito rico — ambos concluíram juntos e caíram na risada.
O riso de Hermione, porém, logo se desvaneceu. Por que sorria quando não tinha a menor razão pra isso? Por que aquele homem não a deixava em paz? Por que insistia em invadir seu mundo tristonho e solitário?
— Então, aceita?
Ela continuou relutante, embora não soubesse por quê, pois não tinha a menor intenção de aceitar o convite.
Harry interpretou mal o silêncio.
— Eu a apanharei por volta das...
— Espere! Não, eu...
Por mais que tentasse, ele não compreendia por que ela se recusava a aceitar um simples convite para sair.
— Pense no assunto, está bem?
— Não creio que...
— Por favor. Conversaremos amanhã. Agora preciso me apressar. — Desta vez ele mentia. Queria apenas desligar logo o telefone. — Boa noite.
— Boa noite... —Atordoada, Hermione afastava o aparelho do ouvido quando o ouviu chamá-la.
— Hermione?
— Sim?
— Eu menti.
— De novo?
--- Sim. Não sou rico. — E desligou o aparelho. O esboço de um sorriso surgiu nos lábios de Hermione, embora não durasse mais que um instante. E por que seu coração batia com esperanças vãs toda vez que falava com ele?
N/A: Eu juro que o próximo capítulo não vai demorar tanto! Foi mal pelo atraso!
Bjs,
Jéssica Malfoy
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