Capítulo 1
CAPÍTULO I
Harry Potter saiu do chuveiro no hotel bem à tempo de ouvir o noticiário esportivo da rede de TV bruxa WEC, canal quatro.
— A agitação é geral aqui em Londres para a grande final de quadribol — o repórter anunciava . — E não faltam especulações sobre o time que conquistará o título de campeão este ano, se a ofensiva dos Cannons ou a defesa acirrada dos Tornados...
Enquanto enxugava com vigor os cabelos negros, Harry tentava convencer-se de que, havia sido melhor que seu time, Puddlemere United, não tivesse chegado a final naquela temporada. A expectativa pelo jogo, a partida em si e a volta à realidade depois da vitória ou da derrota eram desgastantes demais. Mesmo os jogadores mais jovens sofriam com a tensão.
— ...os dois times entrarão em campo sem nenhum dos titulares contundidos...
Harry enxugava o peito quando a menção do trio Infernal chamou sua atenção. Ele não resistiu à curiosidade de se ver na televisão.
— ...três rapazes que dispensam apresentação. Em campo, eles são conhecidos como os Infernais, um trio certamente tempestuoso.
Nu e descalço, Harry foi para quarto assistir à entrevista que havia concedido juntamente com seus dois companheiros de equipe.
— Como vocês vão se sentir no domingo ao assistir à batalha entre Cannons e os Tornados? Se alguém por acaso não os conhece, estes são, Draco Malfoy, Ronald Weasley e o Maroto em pessoa, Harry Potter.
Foi o loiro Draco Malfoy quem respondeu à pergunta do repórter.
— Vou me sentir realmente muito bem no domingo vendo os Cannons e os Tornados se massacrarem em vez de os massacrados sermos eu e meus companheiros.
— Mas é bom lembrar — Ronald Weasley, de olhos azuis e cabelos ruivos, ressalvou — que o Puddlemere United fez uma campanha... posso dizer... — ele cochichou a palavra ao ouvido de Draco — ...na televisão?
O loiro respondeu negativamente com a cabeça.
— Bem, chutamos um bocado de b...
Malfoy interveio a tempo com a tossida.
— Chutamos um bocado de traseiros — Ron corrigiu, provocando o riso da equipe de filmagem.
Harry Potter ria enquanto amarrava a toalha na cintura. Foi sua imagem na tela quem salvou a situação hilariante.
— O que meu companheiro está querendo dizer é que tivemos uma boa campanha e não há por que nos envergonharmos.
— Não há como contestar isso — o repórter concordou — Como um apanhador que já foi campeão, Harry, que tipo de pressão os apanhadores dos Cannons e dos Tornados estão sofrendo hoje?
— Muita. Assim como os demais integrantes do time. Todos estão tentando colocar a cabeça no lugar, para evitar o menor erro no domingo.
— Os dois times estão em pé de igualdade? — a pergunta se dirigia a Harry.
— Eu diria que sim. Os Cannons contam com a experiência; enquanto que os Tornados, com a garra de jogadores novos. Deve ocorrer uma disputa palmo a palmo até o final.
— Agora a pergunta que todos fazem — o repórter anunciou, finalizando a entrevista: — quem vencerá no domingo?
— Essa, caro amigo — Harry sorriu —, é uma pergunta fácil de responder. Vencerá o time que marcar mais pontos.
Vendo-se no vídeo, Harry balançou a cabeça divertido, logo, porém, o sorriso morreu em seus lábios. Quem era ele, afinal? O homem bem-humorado que há pouco vira na televisão?
Sua imagem revelava o glamour de uma carreira de grande projeção, sobretudo no que se referia às mulheres, no entanto, no fundo não passava de um produto da mídia. No íntimo, Harry ainda se sentia o garoto cheio de inseguranças da Rua dos Alfeneiros, que ficava em um bairro ao sul de Surrey onde vivia com os tios. Só que os temores da infância haviam cedido lugar às incertezas de um profissional veterano num meio de jovens. Preocupado com a idade, mantinha o físico em forma através de exercícios intensivos e várias poções. Afligia-o estar com trinta e cinco anos e não ter nenhuma carreira alternativa. Dedicava a vida ao esporte.
Preocupava-o também uma incômoda sensação de vazio. Temia acordar um dia e se descobrir sozinho num mundo indiferente. Não era isso que desejava. Estava cansado das mulheres que entravam e saíam de sua vida, numa sucessão indistinta de noites partilhadas. Por outro lado, ainda não encontrara uma que lhe despertasse um sentimento especial. Nenhuma até então tinha conseguido chegar até sua alma. Pior ainda, nenhuma mostrara interesse em conhece-lo a fundo, nem mesmo a ex-esposa.
Harry riu amargurado. Seria o telefonema de Cho, naquela manhã, a causa da depressão que o perturbava o dia todo? Depois de três anos de separação amigável, ela pretendia casar-se novamente. Com toda honestidade, concluiu que não tinha sido a notícia que o abalara, mas sim a consciência do vazio interior. Sentia-se muito só. Muito sentimental! E precisava sair urgentemente desse estado de autocomiseração.
Ao consultar o relógio constatou que era mais tarde do que imaginava. Havia perdido a noção do tempo enquanto se exercitava no salão de ginástica do hotel. Se não se apressasse, perderia a festa em antecipação à final do campeonato.
Se bem que não perderia grande coisa...O desânimo ameaçava voltar quando o telefone tocou, interrompendo o curso de seus pensamentos
— Oi, maroto, por acaso viu aqueles bonitões no noticiário das seis?— Era Ron.
— Vi, sim. O ruivo e o loiro eram bem apessoados, concordo, mas o outro... parecia ter caído de uma árvore de cara no chão.
— Eu o lembrarei disso na próxima vez que houver apenas esse sujeito entre você e o Super-Homem — ele se referia a Viktor Krum, atacante do Falmouth Falcons, um verdadeiro gigante de mais de dois metros de altura. — Deixaria realmente um amigo ser massacrado em campo? — Harry reprimia o riso.
— Não se preocupe Potter, farei um discurso comovente no seu funeral. —Ambos caíram na risada. — Ouça amigão, você me daria uma carona até a festa naquele seu reluzente carro esporte? Aliás, quanto estão pagando para um apanhador? Goleiros dirigem reles Ford Anglias.
Ron achava estranha a mania de Harry de utilizar coisas trouxas, no começo era só o telefone, mas depois que Harry havia comprado o potente carro esporte, até Ron se rendeu ao luxo.
— Quer dizer que vocês, goleiros, tentam dirigir Ford Anglias, certo? Seja como for, a carona está garantida. Isto é, se não se sentir humilhado por andar ao lado de um verdadeiro jogador.
Após nova troca de provocações, combinaram horário de partida. Harry desligou o telefone com Ron gritando em seu ouvido:
— Festa! Festa! Festa!
Um sorriso se esboçou nos lábios do apanhador. Uma festa era exatamente do que precisava para dissipar a melancolia.
"Vou me atrasar para a festa", pensou Hermione Granger enquanto se sentava cuidadosamente diante da penteadeira, reprimindo uma careta de dor. O motivo de seu atraso era simples. Estimava-se que cerca de 120 milhões de pessoas assistiriam à final de quadribol no domingo. Uma verdadeira multidão invadira Londres... congestionando as ruas no percurso entre o consultório do médico e a casa dela.
O consultório do médico... No fundo, era um alívio para Hermione ter de se arrumar às pressas. Assim não lhe sobrava tempo para pensar na notícia que recebera do Dr.Stratton. Embora não fosse inesperada, a havia chocado do mesmo jeito.
Para ajudar a combater o nervosismo e romper o silêncio opressivo da casa, apanhou o aparelho de controle remoto e ligou a televisão. Começava o noticiário do canal quatro.
— ...E não faltam especulações sobre o time que conquistará o título de campeão este ano...
Hermione ouviu distraidamente o repórter enquanto se maquiava.
— ...se a ofensiva alegre dos Cannons ou a defesa acirrada dos Tornados...
Realçando os olhos castanhos, cobriu os lábios com um batom rosado que combinavam com a pele alva. Em seguida, penteou os cabelos também castanhos, ajeitando a franja com os dedos.
— ...os dois times entrarão em campo sem nenhum dos titulares contundidos...
— ...três rapazes que dispensam apresentação. Em campo, eles são conhecidos como Os Infernais, um trio certamente tempestuoso.
O bom humor dos entrevistados chamou a atenção de Hermione. Dos três homens na tela , um era loiro e consideravelmente mais baixo do que os companheiros; o outro, um ruivo altíssimo; o terceiro, um moreno forte e atraente. Ao vê-lo sorrir, ela o reclassificou como terrivelmente atraente.
— Agora a pergunta que todos fazem: quem vencerá no domingo?
Um sorriso maroto se desenhou nos lábios de Harry Potter, e Hermione se viu à espera da resposta, embora não se interessasse por quadribol.
— Essa, meu caro amigo — o tom de ironia era deliberadamente carregado —, é uma pergunta fácil de responder. Vencerá o time que marcar mais pontos.
Hermione sorriu não tanto pelo gracejo quanto pelo sorriso contagiante em close de Harry Potter.
— Muito bem pessoal, vocês acabaram de assistir a uma entrevista exclusiva para a WEC — o repórter finalizou. — Obrigado, rapazes, e...
O toque do telefone assustou Hermione, dissipando seu encantamento pelo jogador de futebol. Aliás, ela deixara de lado o interesse por homens há muito tempo...exatamente dez anos.
Apoiando as mãos na penteadeira, Hermione se ergueu com dificuldade. Uma dor aguda percorreu sua perna esquerda, obrigando-a a fechar os olhos para reprimir as lágrimas. Só não conseguiu conter o suor que brotava na testa. Apoiando-se na bengala, andou até o telefone.
--- Alô?
— Vou me atrasar — uma voz feminina informou sem rodeios. — Tive de atender um paciente na última hora.
— Não se preocupe, também estou atrasada.
— Ainda bem. Devo chegar aí em meia hora.
— Estarei pronta. Até logo.
Ao desligar o telefone, Hermione imaginou o que o Dr.Stratton diria se soubesse que iria a uma festa, apesar da recomendação de repouso. Entretanto, não podia deixar de comparecer. Fazia parte do seu trabalho
Luna Lovegood era alta e esbelta, com cabelos loiros cortados a altura dos ombros. Os olhos azuis, destacavam-se no rosto de pele clara.
— Foi ao médico hoje?— Luna perguntou enquanto dirigia pelo trânsito intenso com a impaciência que caracterizava sua personalidade. Rumavam para o sofisticado bairro dos Jardins. Por causa de sua condição, era arriscado para Hermione aparatar.
— Sim — Hermione confirmou, segurando-se na porta quando a amiga cortou um caminhão para trocar de pista. — Não viu o caminhão?
— Claro que sim. Senão teria batido nele. — Sem a menor pausa, Luna acrescentou: — O que ele disse?
— Nada, mas só o olhar mataria...
— Refiro-me ao médico.
A imagem dos raios X iluminados numa tela voltou à mente de Hermione. Para ela, não passavam de um aglomerado bizarro de sombras que não sabia interpretar, embora pudesse prever o que revelavam. A dor e a imobilidade crescente no quadril a obrigavam a se apoiar numa bengala, apontando para um único diagnóstico plausível: a artrite havia destruído a junta de sua bacia, apesar da cirurgia que lhe deixara uma cicatriz acima da coxa direita.
A idéia de uma nova operação lhe trazia lampejo de pânico. Sentia-se presa numa armadilha sem escapatória. Procurou, contudo, afastar a sensação. Tudo acabaria bem, como sempre. Além do mais, era mulher forte. Tinha de ser.
— Ele disse que preciso de uma nova cirurgia — finalmente respondeu, sem deixar que os sentimentos transparecessem na voz.
Houve um momento de hesitação em que Luna sufocou ímpeto de dizer o quanto lamentava a situação. Esse tipo de comentário aborreceria a amiga.
— Você já esperava por isso, não?
— Sim.
— Precisa de uma prótese no quadril, é isso?
— Exatamente.
— Quando será a cirurgia?
— Não antes de terminar o projeto do hotel-fazenda.
Luna virou bruscamente a cabeça.
— Mas isso é só em...
— Poderia, por favor, olhar pra frente?
— ...meados de abril — Luna concluiu, voltando a atenção para o tráfego congestionado.
— Tem razão.
Desta vez Luna não hesitou em expressar o que tinha em mente:
— Está louca menina?
— Por quê? — Hermione sorria com cinismo.— Ouviu algum boato a respeito?
Não banque a engraçadinha comigo. O lado profissional da fisioterapeuta veio à tona. — O assunto é sério. Se você sente dor agora, daqui a três meses...
— Vou até o fim com meu trabalho. — O tom categórico não dava margem à objeção.
A reação de Luna fora idêntica à do Dr. Stratton, embora ele soubesse apenas que sua paciente estava envolvida num projeto que não podia delegar a outra pessoa. Hermione não tinha entrado em detalhes. Não contara, por exemplo, sobre o trabalho voluntário que desenvolvia na Fundação de Pesquisas sobre Doenças Reumáticas, ainda a indignava o fato de não haver tratamento para esse tipo de doença em hospitais bruxos tão renomados como o St. Mungus. Hermione ainda administrava uma agência de viagens especializada no atendimento a deficientes físicos. No momento, ela se empenhava em convencer empresários de Londres a patrocinar uma semana num hotel-fazenda em York para crianças artríticas. Depois de tanto esforço, recusava-se a desapontar fosse o empresariado já comprometido com o programa ou a fundação e muito menos a garotada. Faltavam dez semanas para o evento e havia trabalho à perder de vista. Nada, nem mesmo sua dor, a impediria agora.
No final,o Dr. Stratton se conformara em fazer o máximo ao seu alcance: havia receitado um forte analgésico e recomendado muito repouso, lembrando que a artrite reumática progredia com o estresse e a hiperatividade.
— Além do mais — Hermione completou — preciso do dinheiro para a operação. — Tratava-se de outro aspecto que ela não mencionara ao médico.
— Se o problema é dinheiro... —Luna começou, mas se interrompeu em seguida diante do olhar fulminante da amiga. —Está bem, está bem! —Ela ergueu o olhar para o céu e suplicou: — Oh, misericordioso Senhor, perdoe-me pelo terrível pecado de oferecer ajuda a uma amiga.
Hermione sorriu.
— Um dia desses, Hermione Granger, esse seu teimoso senso de independência vai mete-la numa grande encrenca.
O sorriso de Hermione se dissipou, cedendo lugar a lembranças dolorosas.
— Talvez. Mas nunca tão grande quanto o problema que a dependência me traria.
Luna suspirou inconformada, porém não disse mais nada. Aquele assunto constituía o pomo da discórdia entre as duas. A fisioterapeuta sabia que jamais venceria essa batalha. Infelizmente, Hermione sempre impunha a vontade, inconsciente de que assim acabaria perdendo a guerra
No silêncio que se seguiu, Hermione recordou como havia conhecido a amiga. Luna estudara em Beuxbatons, assim como Hermione, mas por serem de anos diferentes quase não se falavam. Anos depois quando já havia descoberto a doença, Luna fora sua fisioterapeuta após a primeira cirurgia no quadril, cinco anos atrás. Luna a instigara implacavelmente, por vezes até além de seu limite de resistência física, levando-a a odiá-la. Na época da alta do hospital, porém, o ódio se transformara em gratidão, e assim nascera uma grande amizade. Hermione ainda achava estranha a escolha de profissão da amiga, mas esta sempre dizia que ajudar as pessoas, mesmo com uma profissão trouxa era algo que magia alguma poderia ofuscar.
— Obrigada — Hermione quebrou o silêncio — Por me oferecer o dinheiro. Mas, realmente, não precisarei de nenhum empréstimo.
— Se precisar...
— Não precisarei.
Era o fim do assunto.
Era o fim do trajeto.
Hermione agradeceu em silêncio pela chegada em segurança.
O Bairro dos Jardins em Londres abrigava as residências mais distintas da cidade. A festa daquela noite se realizava numa mansão construída por volta de 1800. Embora a arquitetura a impressionasse, foram os degraus amplos que davam na porta a frente que mais chamaram a atenção de Hermione.
— Diga-me que aquilo tudo não são degraus — ela balbuciou.
— Conseguirá subir?
— Não tenho escolha.
— Tem mesmo de aparecer nessa festa?
O anfitrião era um dos empresários que haviam generosamente colaborado com a semana das crianças no hotel-fazenda. Todos os envolvidos na campanha e um meio de informar o público sobre a doença. Ela pretendia acertar os últimos detalhes na festa.
— Infelizmente tenho — respondeu.
Luna deu um suspiro de resignação.
Com a ajuda da amiga e da bengala, Hermione se pôs , então a subir a escadaria. Na chegada ao topo, uma dor intensa corroia-lhe o quadril. A respiração era ofegante e a testa estava coberta de suor.
—Você está bem? — Luna indagou, a voz revelando tanto preocupação quanto admiração. Ela sabia que os artríticos tinham uma força de vontade excepcional. Hermione talvez mais do que a maioria.
— Não poderia estar melhor — ela respondeu brincando. — Lembre-se de quando comprar minha mansão mandar instalar uma escada rolante.
Bateram à porta e, enquanto esperavam alguém vir atende-las, Hermione forçou um sorriso, no fundo ansiando por estar em casa com um frasco de linimento, uma almofada elétrica e um comprimido para dor. Na impossibilidade de ter tudo isso, contentava-se com uma cadeira para sentar.
Fazer concessões, ela pensou com um pouco de tristeza e muito de sabedoria, era o verdadeiro segredo para uma vida bem sucedida
N/A: Depois da decepção com o sétimo livro, aff! Só uma H² pra levantar os animos, rsrs! Outra fic baseada em um livro, eu sei que tá meio estanha, mas eu não resisti gente. Li este livro mês passado e a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi H². Se vcs gostarem eu continuo, se não paciência. O penultimo capítulo de agora e sempre foi postado hoje, comentem lá tbm!
Bjs, Jéssica Malfoy!
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