Antes da Tempestade
Capítulo Oito – Antes da Tempestade
- Mione... Mione acorda... o que você está fazendo?
Hermione olhou para a porta pelo qual Gina acabara de entrar. “Adeus plano de ir embora sem ser vista...”.
- Você não estava se arrumando para ir embora, estava? – perguntou a ruiva erguendo a sobrancelha – quero dizer, você não iria embora antes de me avisar ou... avisar Rony?
- Claro que não! – falou Hermione como se tal coisa fosse um ato abominável – eu nunca faria isso, é totalmente... – ela pestanejou quando a encarou Gina nos olhos – sim, eu estava indo embora.
- Eu sabia – disse a outra sorrindo como se estivesse recebendo um troféu da revista Semanário das Bruxas.
“Pelo amor de Deus, ela está sorrindo como Draco Malfoy!” – observou Hermione não conseguindo esconder a estranheza.
- Escuta Gina, eu... eu não queria que nada disso tivesse acontecido – começou Hermione relutante – foi um erro ter vindo até aqui. Eu preciso ir embora, tenho um trabalho importante pra fazer hoje com os duendes, se é que ainda tenho trabalho. Ontem à noite... bem, eu e...
- Não precisa me contar – cortou Gina olhando para a amiga como se estivesse cuidando de um bichinho de estimação melindroso – Rony já fez isso. Eu sei porque você veio Mione, eu conheço você a muito tempo.
- Ah... – murmurou Hermione não conseguindo encarar a ruiva – certo.
- Eu não vou impedir você – acrescentou Gina balançando a cabeça – aliás, eu não posso, não tenho esse direito. A vida é sua, não é mesmo? Só espero que tenha certeza de que está fazendo a coisa certa.
“Eu queria tanto ter essa certeza Gina... por que as coisas não voltam a ser simples como eram a dois dias atrás? Será que terei de passar o resto dos meus dias com essa dúvida: eu fiz a coisa certa deixando a pessoa que mais amo no mundo ir embora? – mas logo depois se lembrou com amargura – mas naquele dia eu fui embora, e ele não foi atrás de mim”.
- Eu preciso ir. Muito obrigada – e antes que a ruiva pudesse dizer qualquer coisa, Hermione sumiu daquele quarto com um estalo.
Gina continuou olhando para onde Mione estivera ainda alguns por segundos. Mesmo sem querer, lembranças de anos atrás invadiram-lhe a mente. “Parece que faz séculos desde que estivemos todos juntos em Hogwarts... mas faz tão pouco tempo... e olha só o que não aconteceu conosco? Será que somos as pessoas que gostaríamos de ser naquela época?”. Passou a mão nervosamente em frente ao rosto como se quisesse espantar o pensamento. Aquela casa já tinha pessoas depressivas demais.
Mas não pôde deixar de rir e dar um longo suspiro. Jamais imaginou que um dia veria Hermione naquele estado. Ela, que sempre lhe encorajara nos momentos difíceis, a grande Hermione Granger, conselheira de todas as horas e de todos os casos agora estava perdida...
“Quantas vezes não chorei com ela? Quantas vezes não contei a ela as minhas preocupações e anseios por ser apenas a Gina Weasley, caçula de sete irmãos? Quantas vezes ela não me encorajou a seguir em frente e correr atrás do que queria? Oh, Mione... você tanto me ensinou a procurar nas entrelinhas que acabou se esquecendo do que era óbvio!”
A verdade é que Gina sempre imaginou que Mione fosse ficar com Rony. Parecia uma coisa certa na época, só uma questão de tempo. Mas nenhum dos dois parecia ter coragem o suficiente para admitir.
“Eram dois lerdos – pensou a ruiva com uma certa dose de selvageria – e continuam sendo até hoje!”.
Saiu do quarto batendo a porta. Precisava avisar os outros.
- Minha filha! Ah, Deus seja louvado!
Hermione mal terminara de aparatar direito quando um grande vulto a abraçou pela cintura, alisou seus cabelos e a apertou com força como se fosse uma menininha de cinco anos. E ela só conhecia alguém que agia dessa maneira:
- Tudo bem mãe, eu já estou em casa.
- Mas onde esteve durante todo esse tempo? – perguntou Jane Granger deixando a cara bondosa de fada-madrinha para a de bruxa-malvada-eu-exijo-uma-explicação-plausível – eu e seu pai quase morremos do coração. Você saiu daqui correndo feito uma maluca e não disse para onde ia. Não voltou no fim da tarde, ficamos preocupados... ligamos para todos os lugares possíveis: polícia, bombeiro, hospital, serviço de pessoas desaparecidas, até pro necrotério! Seu pai até mesmo enviou uma daquelas aves agourentas para o seu trabalho. Ficou com a mão toda furada... e ele ainda saiu correndo daqui hoje de manhã para um tratamento de canal urgente, mas disse que iria colocar uma foto sua no jornal e que poderíamos ir na TV e...
- Mãe... Mãe. Mãe! – só no último berro é que a outra ouviu não conseguindo controlar o choro e sentando-se numa cadeira próxima – eu estou bem. Sério, de verdade, estou ótima. Agora, se me dá licença, eu preciso estar apresentável para a reunião de hoje.
- Onde esteve durante esse tempo todo? – perguntou a Sra. Granger parando de chorar.
- Na casa de Gina Weasley – respondeu Hermione seca, não queria falar no assunto. Pelo menos não agora.
- Weasley? – repetiu a Sra. Granger puxando pela memória – mas esse não é o nome daquele...
- Sim – falou Hermione melodramaticamente.
As duas permaneceram em silêncio por alguns segundos até que a mãe falou num suspiro como se estivesse contando que havia colocado o lixo pra fora naquela manhã:
- O convite de casamento era dele. Você, que apesar de afirmar que já o esqueceu, resolveu procura-lo. Foi até a casa dele com o pretexto de ver sua amiga quando na verdade pretendia impedir o casamento. Só que as coisas não saíram como planejado.
O queixo de Hermione caiu. Sempre soubera que as mulheres (especialmente as que eram mães) possuíam uma capacidade impressionante de ler pensamentos (“Se ela não fosse trouxa, eu poderia jurar que está usando legilimência”), mas aquilo realmente fora uma das coisa mais bizarras que já vira. “Talvez isso, a vez que Moody transformou Malfoy numa doninha, o dia em que Neville explodiu um caldeirão de poção cria-furúnculos na cara do Prof. Snape e a expressão de Rony no Baile de Inverno quando me viu acompanhando o Vítor... é melhor eu parar de pensar nisso”.
- Ele gosta da noiva, não é? – a Sra. Granger olhou incisivamente para a filha – oh, Mionizinha, você pode me contar, eu sou sua mãe... sei como é horrível levar um fora.
- Mãe, você nunca levou um fora – falou Hermione tentando não parecer o quanto mau-humorada estava – papai te pediu em casamento no segundo encontro e ele foi seu único namorado.
- Você está péssima querida, quer que eu prepare um chá pra você? – prosseguiu ela como se a filha não tivesse dito nada.
- Mãe, eu realmente preciso me arrumar – disse Hermione impaciente. Odiava falar com a mãe daquele jeito mas simplesmente o dia não estava colaborando. “Eu já devia estar morando sozinha a um bom tempo!” – não se preocupe comigo. O Rony ainda me ama e isso é o pior de tudo.
Não é de se admirar que Jane não tenha entendido coisa alguma, aliás, acho que ninguém realmente entenderia.
Nunca se vira coisa assim no Beco Diagonal (talvez algo ligeiramente parecido tenha ocorrido quando As Esquisitonas se apresentaram ali). Os bruxos que sabiam aparatar, aparataram. O Ponto do Flu ficou completamente lotado e o número de pessoas entaladas nunca esteve maior no mundo mágico da Grã-Bretanha. A loja de artigos para quadribol havia sido completamente saqueada, não pelos duendes e sim por desesperados que saíram voando com o estoque de vassouras. Aos que não sabiam aparatar, não conseguiram entrar na Rede do Flú e muitos menos chegaram a tempo de roubar uma vassoura, restou a última alternativa: entrar dentro das lojas e arranjar um lugar para se esconder.
Era nessa última situação que se encontrava Rony. Ao que parecia, nos últimos dois minutos, dezenas e mais dezenas de pessoas haviam se espremido dentro da Gemealidades Weasley. Fred e Jorge não pensaram sequer por um instante em fugir, era preferível ser atacado por um duende do que ter um bando de crianças roubando sua loja. Os que já estavam lá dentro, não ousaram sair. Não depois de ver um duende de barba ruiva sair correndo atrás do velho que ganhara a aposta, brandindo um machado assustadoramente afiado. E os que estiveram lá fora e viram com seus próprios olhos bem de pertinho o que estava acontecendo, preferiam comer bosta de dragão do que ter que sair de novo.
- O que está realmente acontecendo? – perguntou Rony olhando torto para uma bruxa de cabelos cor de cereja que agora gritava que um duende tentara seduzi-la e leva-la para Neverland.
- Será que não é óbvio, Rony? – respondeu Harry um tanto ríspido – é uma revolta de duendes!
- Você tem certeza disso? – Rony sabia que era verdade, mas queria que alguém dissesse isso em voz alta para que pudesse ter certeza de que não era um sonho, ou melhor, um pesadelo.
- Olhe! – Harry apontou a vitrina e o ruivo pôde ver um grupo de duendes abrindo uma faixa de protesto. Não entendeu nada do que estava escrito ali, mas alguma coisa lhe dizia que aquele desenho de braço decepado não significava boa coisa.
“Como se minha vida já não estivesse doida o bastante! – pensou Rony arrepiando os cabelos freneticamente – tudo o que eu queria agora era isso...”.
- Será que não é melhor a gente ir embora? – perguntou Harry observando a situação – quero dizer, esses duendes podem causar um estrago, não? E acho que já tive minha cota de salvamentos para as próximas dez encarnações...
- Claro que a gente não pode ir – falou Rony tentando encontrar uma desculpa rápida – minha mãe e Gina estão lá fora. Eu não arredo o pé daqui até toda a família Weasley estar dentro dessa loja!
Harry levantou a sobrancelha, analisando cada palavra que o amigo dissera e só depois acrescentou calmamente com uma certa dose de sarcasmo:
- Ou talvez a gente possa ficar para salvar todo mundo no fim, não é mesmo?
- Ótimo! – exclamou Rony mais feliz.
- Claro, claro... estou querendo mesmo relembrar os velhos tempos... - “Sinceramente Rony, você é uma das pessoas mais complicadas que já vi na minha vida”.
- Harry, fica de olho na Nádia – falou o ruivo mudando completamente a expressão – eu preciso ir.
- Você o quê? – perguntou Harry – e como fica a parte do “não arredo o pé daqui até toda família Weasley estar dentro dessa loja?”.
“Sim, eu estou num universo alternativo... nada disso é realidade, nada”.
- Hermione – explicou ele um tanto impaciente – você sabe muito bem, eu sei que percebeu. Ela tinha um encontro com os duendes hoje. Esse encontro – e apontou para o lado de fora da loja – alguma coisa de errado aconteceu. Eu quero que você fique de olho na Nádia enquanto eu vou lá ver o que está acontecendo. Além do mais, vou ver o que posso fazer quanto a Gina e mamãe.
Rony mal acabara de falar e a porta da loja se abriu num estrondo. A multidão se virou para ver quem acabara de entrar, Fred começou a gritar qualquer coisa que ninguém deu atenção. Harry viu um jovem loiro entrar berrando a plenos pulmões coisas completamente desconexas. Os olhos estavam um tanto fora de foco, o nariz sangrava e o cabelo faltava alguns pedaços. Logo atrás dele, uma moça vinha segurando um chapéu horrível, visivelmente envergonhada, cutucando de um jeito pouco gentil o homem à sua frente.
- Quem é o imbecil? – perguntou Jorge, a voz se sobrepondo aos gritos.
- Ele não é imbecil! – replicou a moça ligeiramente irritada – só está agindo feito um.
- Gina? – perguntou Fred olhando para a irmã, incrédulo.
Só então a ficha de Harry caiu. E não pôde deixar de dar um sorriso ao ver Draco Malfoy, arquiinimigo dos tempos de escola, numa situação tão... peculiar. Rony obviamente não se conteve, assim como os gêmeos e caíram na risada. Não demorou para Harry se juntar aos três.
- Vocês querem por favor se comportar como gente? – prosseguiu Gina abrindo caminho em meio à multidão – não sei se perceberam, mas o Draco está mal, um duende jogou uma pedra no nariz dele.
Se a ruiva achou que isso faria com que as risadas parassem, o efeito foi contrário. Os bruxos e bruxas que observavam a situação também riram alto.
- Se me derem licença, eu vou cuidar do meu namorado lá nos fundos da loja – e saiu a passos firmes rumo ao depósito.
Imediatamente todos se calaram, o ar de Gina mostrava claramente qual era seu estado de humor. E praticamente toda a comunidade mágica conhecia a fama estourada da pequena Weasley. Tanto, que só ousaram respirar quando ela já estava bem longe.
- Oh, não vamos rir do Draquinho – zombou Jorge em voz falsete. Não antes de verificar é claro, se a porta do depósito estava bem trancada – um duende jogou uma pedrinha nele.
- E que cabelo era aquele? – completou Fred – parecia um periquito depenado!
Os gêmeos se entreolharam e riram com mais força do que nunca.
- Rony – o ruivo se virou para olhar quem o chamara – ainda bem que encontrei você.
Era Nádia. Ela parecia bem mais calma agora, parecia ter dado um jeito nos cabelos e os olhos já não estavam mais tão inchados. Se não fosse o olhar temeroso que ela lançava de vez em quando para a rua, Rony acharia que ela estava até feliz.
- Eu vou dar uma palavrinha com Fred e Jorge – falou Harry achando que era hora de se afastar um pouco e deixar que Rony resolvesse seus assuntos sozinho.
Rony e Nádia observaram Harry passar no meio da multidão que não perdeu a oportunidade é claro, de pedir autógrafos, agarrar e uma garota de blusa rosa não tentou passar a mão na... ah, deixa isso pra lá.
- As pessoas entraram na loja e eu perdi você de vista – disse Rony tentando dar um sorriso. “Agora o que eu faço? Será que Hermione está bem lá naquela reunião dos duendes? E se ela estiver em perigo? Vai saber que esses duendes são capazes de fazer... Rony, Rony pára de pensar nisso. Olha a Nádia bem aqui na sua frente. Você vai se casar com ela amanhã”.
- Rony, eu preciso falar com você – começou Nádia – mas não aqui no meio de todo mundo.
- Tudo bem – concordou Rony tentando passar uma tranqüilidade e felicidade que estava longe de sentir – podemos ir lá para os fundos da loja?
- Ok – concordou a loira sorrindo.
Os dois andaram em silêncio, desviando uma vez ou outra das pessoas que lotavam a loja até chegarem ao depósito. Gina havia conjurado uma maca nos fundos do galpão e parecia concentrada e zangada o suficiente para não se interessar pela conversa do irmão.
- Acho que perdi minhas compras no meio daquela invasão – Rony achou que deveria quebrar o gelo. Pensou que Nádia fosse rir da piada, mas ela não riu.
- Você está inquieto – acrescentou ela mirando-o com certa desconfiança – alguma coisa errada? Quer dizer, é claro que há coisas erradas com duendes sitiando a rua mas...
- Ia me falar alguma coisa.
Rony observou-a respirar fundo e dizer:
- Eu queria pedir desculpas pelo escândalo que fiz. Quer dizer, eu não devia ter feito nada daquilo, não na frente de todo mundo – Rony tentou falar alguma coisa, mas ela fez sinal para que ele se calasse – eu estava nervosa, eu estava fora de mim. Todas as coisas que aconteceram nesses últimos dois dias, foi tudo tão maluco que parece ter acontecido a muito tempo. Eu entendo que você possa estar se sentindo confuso, quer dizer, você não via seus amigos a muito tempo e é normal que velhos sentimentos venham à tona desse jeito, principalmente numa hora importante como essa. É uma coisa grande um casamento. É um passo gigantesco na vida de qualquer pessoa e é normal que você se sinta assim. Não estou dizendo que você fez a coisa certa o tempo todo e não estou dizendo que gostei de tudo isso, mas acho que se vamos realmente nos casar amanhã, precisamos nos aproximar novamente um do outro. Você não acha?
Como ele poderia dizer não numa hora como aquela? Como poderia dizer não a uma criatura tão doce como Nadia? Ele fora um perfeito idiota nos últimos dois dias e agora ela vinha lhe dizer que iria esquecer. Como poderia dizer não àquilo? E como ele podia estar pensando em sair correndo atrás de Hermione quando tinha uma mulher que o amava tanto bem na sua frente?
- É o fim do mundo, eu estou dizendo! – berrou Draco lá do fundo com uma voz que se parecia assustadoramente com a de Gilderoy Lockhart – os duendes estão para acabar com todos nós... os duendes!
- Draco, pára de dizer isso ou eu vou enfiar uma poção pra dormir pela sua garganta e você vai me dizer bom dia daqui a uns dez anos! – falou Gina numa voz firme lá de trás. Ela parecia estar falando sério porque Draco imediatamente se calou.
Rony riu da cena. E Nádia também. Ela era uma bela mulher. Sujeita a alguns desvios temperamentais de vez em quando, mas ainda assim era uma bela mulher. Sem nem perceber direito, Nádia ficou na ponta dos pés e inclinou-se para Rony. Este por sua vez, abaixou-se ligeiramente e beijou-a como não fazia nos últimos dois dias.
- Eu amo você – disse ela quando o beijo acabou – de verdade. Agora eu vou ver como está a situação lá na loja. Esses duendes são espertos.
Sorrindo, Nádia se afastou. Rony observou-a ir embora.
“Nunca foi igual e jamais vai ser. Aquele beijo foi único”.
E não querendo ficar remoendo coisas passadas, deixou o galpão com Gina e seu namorado duendenofobíaco.
Rony parou de beija-la, mas não se atreveu a abrir os olhos. Não. Queria sentir por mais alguns segundos como era toca-la assim tão de perto. E mais, queria guardar aquele momento para sempre e o silêncio era o melhor gravador.
Finalmente resolveu abrir os olhos. Primeiro o esquerdo, depois o direito. Ainda a segurava pelos ombros.
- Rony, isso foi... – balbuciou Hermione olhando-o fixamente com espanto – foi...
- Incrível – completou Rony meio aéreo ainda.
- Eu... – só agora Hermione parecia cair realmente em si. Ele tinha acabado de beija-la! – por que você fez isso?
Rony titubeou um instante. Era tão difícil falar. Por que ela não conseguia entender? Para quem tirara Excede Expectativas em todas as matérias, um simples beijo não era nenhum problema.
- Me deu vontade – falou ele fechando os olhos novamente.
Um silêncio incômodo se instalou e ele abriu os olhos mais uma vez.
A verdade, é que Rony achou que ela fosse beija-lo de volta. Mas não, ela continuou olhando-o fixamente, mas a expressão já não era tão doce.
- Te deu vontade? – repetiu ela agora tirando as mãos dele de seus ombros – então é assim, te deu vontade de me beijar, é isso?
- Acho que podemos encarar dessa forma – respondeu Rony ficando ligeiramente vermelho.
- Mas você não devia dizer isso! – exclamou ela.
- Não?
- É claro que não! – gritou Hermione dando um passo pra trás – Rony, você continua sendo o legume mais insensível que eu já conheci!
- Mas, Mione... eu, eu te beijei.
- Acho que eu percebi essa última parte – Hermione deu as costas a ele e saiu a passadas firmes pela porta da frente. As malas voando atrás dela.
Rony a observou andar em direção ao Noitibus Andante sem saber que ela estava chorando. Não conseguia entender o que saíra errado. Imaginara tudo de um jeito tão diferente! Ou talvez ele fosse um grande idiota. Sempre fazia tudo errado. Dessa vez não fora diferente. “Até parece que um dia Hermione pudesse gostar de um idiota como eu. Ela é muito perfeita pra isso”.
- Eu te amo! – gritou ele pouco antes dela embarcar no veículo.
- Nos vemos depois, Rony – gritou Hermione de volta enquanto entregava alguns sicles para o condutor. Nem escutou o que o homem dizia. “Depois de todos esses anos... quem foi mais idiota? Eu ou Rony?”.
Hermione subiu para seu quarto sentindo-se mais cansada do que jamais estivera. Enjôos, falta de crédito no trabalho, sentimentos confusos, desmaios e discussões pareciam ter sido demais para ela.
“Sinto como se tivesse envelhecido dois séculos nesses últimos dois dias – pensou ela enquanto vestia uma roupa mais apresentável – mas todo sonho acaba um dia. E o meu acabou ontem à noite. Agora só me resta não deixar que minha carreira acabe também”.
Não encarou o espelho de frente. Tinha vergonha de si mesma naquela manhã. Vergonha de ter descoberto tão tarde que amava aquele ruivo cheio de sardas que arrepiava os cabelos de um jeito tão irritante. Vergonha de ter se deixado levar tão fácil e por ter sido tão irresponsável. Respirou fundo, era hora de ir embora e encarar os duendes no Bedo Diagonal. Se obtivesse sucesso naquela reunião, a placa dourada onde havia a gravação Chefe de Departamento – Hermione J. Granger ainda estaria em cima de sua mesa, caso contrário, estaria com o resto de suas coisas numa caixa velha rumo ao rebaixamento e conhecendo bem Percy, à demissão.
Foi pegar a pasta em cima da mesa e levou um tombo. Não percebera antes, mas enfiara as duas pernas na mesma perna da calça. “Sempre odiei calças mesmo...” – pensou enquanto vestia-se do jeito certo. Ainda praguejando contra o hematoma que ganhara no queixo, Hermione foi buscar sua pasta em cima da escrivaninha. Não havia feito nenhum relatório completo, nem um estudo delicado da situação, mas tinha algumas anotações antigas sobre os duendes, juntamente com o depoimento de vítimas de invasões. “Esqueci o ouro do Malfoy... espero que Rob tenha acertado as coisas com ele...”. Sabia por alto o que deveria fazer, apesar de tudo, ela ainda era Hermione Granger, as maiores notas em Hogwarts desde Minerva McGonall, e rezava em silêncio para que Percy não pedisse um plano escrito da reunião.
Reparou que em cima da pasta, havia um pequeno bilhete, obviamente escrito às pressas e entregue via coruja:
“Hermione – como não apareceu aqui no departamento, deduzi que talvez fosse direto para o encontro com os duendes. Não sei o que andou fazendo nesses últimos dois dias e acho que nem quero saber, mas por conta disso Percy Weasley irá pessoalmente supervisionar sua reunião com um cara que é candidato dele ao cargo de chefia. Achei melhor avisa-la.
Os melhores votos – Roberta”.
- E eu achei que o dia não conseguiria piorar – murmurou Hermione um tanto irônica.
Deixou o bilhete lá mesmo, pegou sua pasta e saiu correndo escada abaixo (isso já estava virando um hábito) sem nem olhar pra trás. Era melhor prevenir e não chegar atrasada.
- Filha, seu casaco está ao contrário! – avisou a Sra. Granger assim que viu Hermione passando pela porta da cozinha.
Hermione revirou os olhos e antes de aparatar, teve de vestir o casaco do lado certo.
Ainda eram 8:43, mas Percy Weasley já estava no Beco Diagonal acompanhado de um homem baixo, magricela, cabelos claros e bigode escovinha. Andava impaciente de um lado para o outro em frente à porta do andar reservado da loja de roupas Patil & Brown, que por problemas na administração, brigas infindáveis entre as sócias ou mesmo porque vendiam roupas de má qualidade, andava passando por uma crise financeira. A tradicional Madame Malkin ainda roubava todos os clientes, e as donas do lugar tiveram de alugar algumas das espaçosas salas do segundo andar para conseguirem pagar o exorbitante valor do aluguel da loja. O Ministério da Magia costumava usa-las toda vez que uma conferência não-oficial ou uma reunião delicada que precisava de um local neutro ou uma transação ilegal acontecia. Suspeitavam que ali havia dedo de Michael Corner (funcionário do Departamento das Relações em Magia e marido de Padma Patil), tivesse alguma coisa a ver com isso, mas ninguém tinha certeza de nada.
- Eu sabia – falou Percy num sorriso horrível – sabia que ela não viria. Aposto que está morrendo de vergonha de aparecer aqui depois de tudo que aprontou. Quem diria, pensei que um dia tinha conhecido de verdade a Hermione, mas as pessoas mudam, meu caro Terrance, mudam.
- Ela virá, Percy – acalmou o outro num tom indefinido.
- Como pode ter tanta certeza? – perguntou Percy. Odiava sequer a idéia de que alguém pudesse saber mais do que ele.
- Pelo que já ouvi dizer da Srta. Granger, ela não perde uma chance de se exibir por aí. Um exemplo disso é aquela matéria no Profeta Diário.
- Nem me lembre disso! Ainda me deixa com dor de cabeça. Eu espero que tenha razão e ela venha – prosseguiu Percy parando de andar sem rumo – ou eu teria de despedi-la.
Terrance olhou para o ruivo percebendo um certo brilho no olhar que dizia que nada daria mais prazer a ele do que despedir alguém.
- Ainda faltam – ele consulto o relógio de bolso – quinze minutos. Ela vai chegar. Ela tem que chegar...
Percy lançou um olhar azedo à Terrance. Gostava dele. Era um homem inteligente, destaque em seu departamento. Não chegava atrasado, raramente cometia erros e o mais importante: não questionava as decisões do Ministério. E a soma de tudo isso fazia com que Terrance Macoy fosse o favorito de Percy ao cargo de Chefe do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Mas quando Amos Diggory se aposentou, indicou Hermione que na época havia acabado de escrever seu segundo livro e alcançado relativo sucesso na comunidade mágica. A vontade da maioria ganhou e a Srta. Granger se tornou a mais jovem chefe de departamento de todos os tempos. Percy reconhecia, é claro, que Hermione era funcionária exemplar, com excelentes recomendações. Mas ela fazia muito borburinho sobre as condições das criaturas mágicas, entrava em manifestos. Além do mais, ele conhecia o suficiente das histórias do trio Harry-Rony-Hermione pra saber do que ela era capaz de fazer. E na opinião de Percy, isso ameaçava a ordem estabelecida.
Não haviam passado dez minutos quando um estalo se ouviu e Hermione apareceu. Um tanto desconsertada é verdade, mas elegante, cabelos presos num coque, roupa num tom de bege e a pasta na mão esquerda. Terrance a olhou mais atentamente e percebeu que ela tinha olheiras roxas ao redor dos olhos e um hematoma no queixo. “Ela está dando muito de si mesma para parecer apresentável. Um ato admirável”.
- Bom dia, Hermione – cumprimentou Percy apertando-lhe a mão direita.
- Bom dia, Percy – Hermione retribuiu o cumprimento usando o resto de suas forças para não deixar transparecer o quanto estava assustada e com uma vontade incontrolável de enforcar o ruivo à sua frente.
- Creio que já conhece o Sr. Macoy – prosseguiu Percy tentando parecer casual – ele trabalha na Ligação com os Duendes.
- Sim, eu já o conheço – falou ela apertando a mão do bruxo – foi a sessão dele quem me passou esse caso dos duendes revoltosos.
- O que não era necessário – disse o Sr. Macoy sorrindo de leve – eu poderia cuidar de tudo e não ter de envolver a senhorita num assunto tão desagradável.
- Pelo contrário – respondeu Hermione numa voz firme – dessa vez os duendes passaram dos limites. Invasões a casas bruxas e trouxas, protestos e ameaças. Esse caso é especial e todo o departamento deve ser movido.
O sorriso desapareceu do rosto do Sr. Macoy.
- Estou aqui para supervisiona-la, Hermione – começou Percy – você deve reconhecer que seu comportamento não foi... adequado nos últimos dois dias.
- Foram só dois dias, Percy. Infelizmente não posso ser perfeita sempre.
O ruivo ficou ligeiramente sem graça e mudou de assunto:
- Chamei o Sr. Macoy já que ele está mais acostumado a lidar com duendes e...
- Eu já tive reuniões com duendes antes – interrompeu Hermione – sei como fazer.
- ... o líder atual deles, Lubrico, nos receberá dentro de instantes. Então você poderá tentar um acordo com eles.
- Onde está nossa escolta? – perguntou Hermione olhando em volta.
- Não precisaremos de escolta – respondeu Percy fazendo um gesto displicente com a mão – o Sr. Macoy é um especialista.
Hermione olhou de Macoy para Percy, incrédula:
- Vocês ficaram malucos? Nós sempre vamos às reuniões com uma escolta! Ainda mais uma reunião desse tamanho! Vocês estão querendo o quê? Uma revolta de duendes no Beco Diagonal? Percy, mande uma coruja para o Ministério agora pedindo uma escolta.
- Srta. Granger – disse o Sr. Macoy num tom ofendido – eu sou um especialista. Lido com duendes todos os dias. Saberei o que fazer em caso de alarde.
- Saberá o que fazer? Nós somos três, vai saber quantos duendes vieram! Eles são cheios de truques!
- Assim a senhorita ofende minha capacidade...
- Lamento interrompe-los, senhores – falou uma mulher que Hermione reconheceu ser Lilá Brown – mas o líder dos duendes já chegou e espera os senhores na sala três.
- Muito obrigado, Srta. Brown – agradeceu Percy – vamos logo, não vamos deixa-los esperando. Hermione? Se quiser fique aí, eu cuidarei de tudo junto com Terrance...
Com um gesto de impaciência, Hermione os seguiu. “Percy está só está querendo arranjar motivos para me despedir... mas ele não vai conseguir! Ah, não vai mesmo...”.
Entraram na ante-sala. Hermione fez menção de abrir a porta seguinte, mas Macoy a impediu:
- Sua varinha.
- O quê? – perguntou Hermione.
- Por favor, me dê sua varinha.
- Você está brincando comigo – era um dia horrível. Um pesadelo! – você acha que vou entrar nessa sala sem a minha varinha? Tem um duende aí dentro, estamos falando de duendes aqui!
- Estamos temperamentais hoje, não? – provocou Percy.
Hermione lançou a ele um olhar gélido.
- Lubrico exigiu que nenhum bruxo portasse varinha durante a reunião – esclareceu Macoy numa voz calma.
- Eu não estou sabendo deste acordo! – retrucou Hermione tentando não parecer o quão nervosa estava.
- Você não foi ao trabalho nos últimos dois dias.
Com muita relutância entregou a varinha à Macoy que a guardou numa caixa preta, junto a sua própria varinha e a de Percy.
“Por favor, que esse encontre dê certo... por favor, por favor... estou fazendo tudo isso pelo meu emprego. A única coisa que me restou de sonho”.
- O que está acontecendo lá fora? – perguntou uma mulher vestida de verde esmeralda – o que esses duendes estão fazendo?
- É, o que a droga dos duendes está fazendo? – berrou um homem de cartola laranja.
Começou a gritaria. Todos queriam saber o que estava acontecendo lá fora. Os duendes além das faixas, começaram a correr de um lado para o outro e explosões começaram a ser ouvidas. Mas a uns cinco minutos atrás, o movimento parou e o silêncio da rua começava a ser assustador. Eles estavam tramando alguma coisa e isso deixava as pessoas irritadiças.
- Escutem só uma coisa! – berrou Jorge subindo em cima do balcão – se vocês não se controlarem nós vamos mandar todo mundo lá pra fora!
- É – concordou Fred seguindo o irmão – e isso também vale para quem pegar qualquer coisa nas estantes.
Todos imediatamente viraram-se para olhar um garotinho gorducho de nariz escorrendo, mais atrás.
- O que estão olhando? – perguntou ele assustado – eu não peguei nada!
Com um grande PLOC o menino gorducho deu lugar a um enorme canário amarelo.
- Ah, pelo amor de Deus – disse Jorge revirando os olhos enquanto observava a balbúrdia recomeçar – de qualquer forma, ele fica melhor assim.
A mãe do menino lançou um olhar mortífero à Jorge.
- Olha só, vamos manter a calma! – gritou Fred – a ameaça de mandar todo mundo pra fora ainda está valendo!
Silêncio somente interrompido por um segundo PLOC que trouxe de volta o menino.
- E não há ninguém aqui que trabalhe no Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas? – perguntou uma mulher idosa que segurava firmemente sua bolsa de mão.
- O Sr. Harry Potter está aqui! – berrou a garota que tentara assediar Harry – ele poderá ir lá e salvar-nos a todos!
A multidão fez barulho em concordância. Fred e Jorge voltaram a gritar:
- Será que vocês não podem ficar quietos?
- Preciso de ajuda – começou uma mulher de longos cabelos castanhos – minha filha, Tina, está em estado de choque. Não consegue falar, a coitadinha, não sei mais o que fazer...
- Nossa irmã Gina – começou Fred sem muito ânimo – é curandeira no St. Mungus. Você pode levar sua filha lá no depósito.
A mulher agradeceu e foi levando uma menina de no máximo sete anos que parecia estar petrificada para os fundos da loja.
- Na verdade essa garota foi vítima de um dos nossos feitiços anti-roubo – confidenciou Jorge baixinho à Harry – eu e Fred estamos testando, mas ninguém precisa saber disso, não é mesmo?
E com uma piscadela para o irmão, prosseguiu:
- Tem mais alguém aqui que sofreu um acidente, choque ou qualquer coisa parecida?– perguntou Jorge olhando em volta.
- Se você se enquadra nessas categorias, por favor, o depósito é ali – e Fred apontou a porta dos fundos.
As pessoas se entreolharam durante alguns instantes e praticamente se atropelaram indo rumo aos fundos da loja.
- Hey Harry, olha aquela garota – falou Fred descendo do balcão – dando o maior mole pra você...
- Esqueça, Fred – cortou Rony em tom brincalhão – Harry está completamente apaixonado pela namoradinha dele...
- Falando em Harry – começou Jorge olhando feio para o resto das pessoas que ficaram – eles querem que você vá lá enfrentar os duendes.
- Eu? Enfrentar duendes? – Harry caiu na risada – eu nunca sequer prestei atenção numa aula de História da Magia!
- Imaginem só – falou Fred – o grande Harry Potter, sobrevivente de guerras e maldições, morto por uma pedrada lançada por um duende feio...
- Reportagem de capa para Vincent Key – comentou Jorge – ele adora desgraças.
- Quem é Vincent Key? – perguntou Nádia.
- Um repórter imbecil que adora falar mal dos outros no Profeta Diário – respondeu Harry sem dar muita atenção.
Os cinco se calaram por um tempo. Quer dizer, não havia muita coisa a ser dita. A expectativa que aquele silêncio criava era desconcertante. Cada um imaginando coisas horríveis que os duendes poderiam fazer. Apesar de Harry, Rony, Fred e Jorge jamais terem escutado uma palavra das aulas do Prof. Binns, sabiam que se um povo tão pequeno tinha conseguido realizar o maior número de revoltas sangrentas da história, deveria haver um motivo.
Mesmo alegando que a loja era perfeitamente segura, os gêmeos pegaram duas pás de dentro de um armário e as deixaram ao alcance da mão.
- Acho que os duendes pararam – disse Rony – e mesmo se não tiverem parado, eles não vão entrar aqui, vão?
- Claro que não – respondeu Nádia dando um grande sorriso amarelo para o noivo, o que só contribuiu para que Fred e Jorge agora empunhassem as pás com uma expressão semelhante à de soldados indo para a guerra.
- Nádia, você sabe alguma coisa sobre duendes, não sabe? – perguntou Harry tentando aparentar serenidade.
- Sim.
- O que acha da situação?
Ela não respondeu de imediato. Passou as mãos lentamente pelos cabelos loiros, suspirou fundo e disse:
- Duendes não costumam se organizar. Normalmente, eles explodem um monte de coisas, fazem reféns, saqueiam lojas... – Fred empunhou a pá com mais força enquanto Jorge se agarrava ao balcão – nesse caso, eles estão se organizando. Vejam como estão nos fazendo esperar... é como se estivessem cumprindo ordens... talvez seja provável que exista um mandante por trás disso, alguém que sabia da reunião do seu Ministério com os duendes hoje. Alguém que gostaria que essa reunião não acontecesse. Eu sinto dizer a vocês, mas os representantes do seu Ministério aqui hoje estão correndo sério perigo, e não só pelos duendes...
Nádia definitivamente estava subindo no conceito de todos eles. Inclusive nos conceitos de Rony. “E eu que pensava que ela era só uma jornalista de esportes...”.
- Não vai demorar muito para que eles mostrem as verdadeiras intenções – terminou a loira deixando o ar gelado.
- Mas alguém tem que fazer alguma coisa! – gritou uma voz não muito longe – se é tão grave assim, por que estão aí parados?
- E quem é você afinal? – perguntou Jorge observando a garota fã de Harry aproximar-se deles.
- Meu nome é Rebeca Bason – falou ela abrindo um sorriso – eu acho que Harry Potter deve ir salvar os representantes do Ministério.
Fred e Jorge começaram a rir e falar em voz de falsete, provocando Harry, que muito encabulado ficou quieto.
- Mas do que é que vocês dois estão rindo? – Rebeca parecia indignada – ele é o maior herói do mundo mágico, a obrigação dele é ir lá e salvar todo mundo!
- Garota – começou Fred num sorriso maroto – você pode ser muito bonitinha, mas infelizmente não tem nada na cabeça.
- Estamos falando de duendes – completou Jorge.
- E o que você sabe sobre duendes? – perguntou Rebeca num ar desafiador.
Fred pestanejou por um instante, mas logo disse felinamente:
- O suficiente para proteger a minha loja.
- Com uma pá? – a garota soltou uma risada – por favor, enquanto estão todos aqui dentro se escondendo atrás de um balcão, eles podem estar arrancando as cabeças daquele pessoal do Ministério!
- Não estamos nos escondendo! – indignou-se Jorge saindo de trás do balcão e indo encarar a garota mais de frente.
- Ah, não está? – provocou Rebeca – então por que todos vocês não estão lá fora ajudando aquelas pobres pessoas?
Fred veio em defesa do irmão e os três começaram a discutir. As palavras “fracotes”, “maricas” e “projeto de elfo doméstico” foram ouvidas inúmeras vezes saindo da boca de Rebeca. Os gêmeos, lívidos, não deixavam por menos e provocavam a garota chamando-a de Rebeca ‘McGonall’ Bason.
- Acha que é seguro ir lá fora? – perguntou Harry à Nádia.
- Claro que não – replicou a loira encarando Harry – seria loucura. Se meter numa revolta de duendes? Pelo amor de Merlin, queremos voltar todos inteiros para casa hoje, não é mesmo?
Harry abriu um grande sorriso. Não fizera a pergunta à toa. Sabia que naquele momento sonhos delirantes deveriam estar se passando na cabeça de Rony. Sonhos onde ele vestido com uma armadura brilhante salvava Hermione de uma torre guardada por um duende. Sonhos em que ela caía de amores por ele logo depois e os dois fugiam juntos para qualquer país com nome estupidamente alegre.
“Apesar dos pesares meu amigo, nossos tempos de trio-maravilha já terminaram a algum tempo”.
Rony estava incrivelmente inquieto. Parecia ter sido alvo da Maldição das Pernas Dançantes. Mexia com as mãos, com os pés, arrepiava os cabelos (que agora estavam parecendo com os de Harry, tão bagunçados era o estado) e olhava de um lado para o outro como se uma bomba estivesse prestes a explodir e mandar tudo pelos ares (na verdade essa era uma grande possibilidade no momento).
- Acalme-se, Rony – disse Nádia numa voz doce e reconfortante – nada de mal vai nos acontecer. De qualquer forma o pessoal do seu Ministério deve estar vindo ajudar.
“Você não conhece o pessoal do meu Ministério” – Rony não se sentia nem um pouquinho melhor com essa declaração – “mesmo depois de tudo o que aconteceu, eles continuam sendo os mesmos incompetentes de sempre. Tão idiotas quanto eram a três anos atrás. Oras, se o Ministério fosse realmente eficiente mais da metade das revoltas de duendes não teria acontecido o que faria minha vida escolar decididamente mais agradável”.
- Esses duendes – começou Rony tentando aparentar calmaria – eles têm algum ponto fraco?
- Bem, eles são... – mas Nádia observou o noivo com mais atenção antes de completar – completamente imunes a todo tipo de magia. Só um esquadrão especializado pode lidar com eles.
- Isso nos trás grandes esperanças! – exclamou Rony ironicamente.
Nádia estava inquieta também. Olhava para Rony a todo instante como se esperasse que ele saísse correndo a qualquer momento (e convenhamos, isso também era outra grande possibilidade). “Ele não faria isso. Ele me pediu em casamento não faz nem meia hora! Precisamos ir embora daqui... eu preciso arranjar as coisas para o dia mais feliz da minha vida!”.
- Vamos embora? – sugeriu a loira cruzando os dedos.
- Como? – perguntou Harry achando a proposta tentadora.
- Aparatando – disse Nádia simplesmente – vamos embora antes que as coisas piorem.
- Peraí, as coisas podem piorar? – Rony parecia estar vendo o fantasma do Barão Sangrento.
- Eu não sei... – murmurou a loira se arrependendo do que dissera.
- Fred e Jorge nunca abandonariam a loja – falou Rony apontando para os irmãos que ainda se encontravam entretidos na briga com Rebeca.
- Seria melhor que fôssemos, Rony – disse Harry se envergonhando do fato de querer fugir de uma situação perigosa – precisamos avisar os outros lá na Toca de que estamos bem.
Rony ponderou o que Harry disse e viu que o amigo tinha razão. Sim, eles deveriam voltar à Toca e dizer aos outros que estavam bem. Tudo entraria nos eixos mais tarde.
- Então vamos.
Nádia quase soltou um berro de tanta alegria. Iria embora daquele loja e finalmente comemorar o fato de que Rony seria seu para sempre. Quanto antes, melhor. “Meu vestido está na Toca, juntamente com todas as coisas que preciso... Rony diz que se perdeu de suas compras, provavelmente foram roubadas durante a invasão. Mas isso não é problema, posso improvisar vestes e o que precisar. Não importa. Nada disso importa...”.
Harry fez sinal em concordância. Olhou para Rebeca mais ao lado e sentiu um certo peso na consciência. “Eu não sou mais o Harry Potter salvador... mas, de qualquer forma vou agora mesmo ao Quartel General dos Aurores ver o que posso fazer pela situação. Isso mesmo, vou entrar para o grupo que será enviado para cá, mesmo que hoje seja meu dia folga. É meio difícil se livrar de velhos hábitos..”.
Mas antes que os três pudessem dizer “quadribol” a porta da loja se escancarou. Fred e Jorge saíram correndo para perto do balcão, apanharam as duas pás e brandiram-nas como se fossem duas espadas. Rebeca abriu um grande sorriso antes de gritar “Maricas!”. Rony, Harry e Nádia espicharam os pescoços para ver quem entrara. E se fosse um duende? Os remanescentes da demanda rumo ao depósito imediatamente sumiram da frente da loja, levando suas bolsas, filhos e mercadorias roubadas.
Harry e Rony já começavam a tirar a varinha do bolso quando ouviram:
- O que vocês dois estão fazendo com essas pás? Isso é perigoso!
- Mãe? – Fred olhou horrorizado para a figura que acabava de entrar.
- Quem pensou que fosse? Um duende?
- Mais ou menos – balbuciou Jorge – o que, o que você está fazendo aqui?
- Eu estava escondida na Madame Malkin, mas não ousei aparatar. Como simplesmente sumir sem antes saber se meus filhinhos estariam bem? – era sem sombra de dúvida Molly Weasley – imaginei que provavelmente vocês estariam na loja e graças a Merlin encontrei vocês... oh, meus queridos... – e num impulso ela correu e abraçou os gêmeos com força. Rebeca começou a rir como nunca.
- Mãe, dá pra largar a gente agora? – Fred tentava se livrar do abraço.
- É mãe, estamos sufocando – gemeu Jorge deixando sua pá cair no chão.
- Oh, meu filhos – disse ela se afrouxando o abraço – não sei o que faria se algum duende fizesse alguma coisa a vocês... provavelmente morreria, morreria... – e apertou-os no abraço novamente.
- Sra. Weasley – perguntou Harry – a senhora aparatou para chegar aqui?
Os gêmeos fizeram uma anotação mental para agradecer a Harry mais tarde porque a mãe os soltou.
- Não, não está se podendo aparatar – explicou ela – os aurores suspeitam que há algum bruxo por trás disso e não querem que ninguém aparate, nem faça magia por causa dos detectores.
- Tem um grupo de aurores aqui? – perguntou Harry se sentindo mais entusiasmado.
- Tem sim querido – confirmou a Sra. Weasley num sorriso carinhoso – estou aqui graças a uma deles. Eu estava desesperada porque não conseguia encontrar nenhum de vocês e disse que viria atrás de vocês de qualquer jeito, quando perceberam que eu estava falando sério, uma essa moça veio comigo até aqui.
Rebeca caiu no chão de tanto rir, Fred e Jorge fuzilaram-na com os olhos.
- Pelo menos encontrei Fred e Jorge – prosseguiu Molly aliviada – e você, Harry, que é como um filho para mim... – ela o abraçou com força também.
- Mas Gina também está aqui – acrescentou Nádia.
- Onde? Onde está minha filhinha?... oh, nem por todo ouro do mundo eu...
- Nem nos fale em ouro – reclamou Fred.
- Tivemos de pagar quase sessenta galeões para aquele velho da aposta...
- Que aposta? – perguntou a Sra. Weasley com um olhar perigoso.
- Gina está lá nos fundos cuidando das pessoas que estão passando mal – explicou Harry levando a Sra. Weasley para os fundos enquanto os gêmeos faziam sinal de positivo para ele.
- Levamos a senhora lá – falou Jorge indo acompanhar a mãe juntamente com Harry, Nádia e Fred, que vinha mais atrás.
Os cinco (Rebeca obviamente, não queria perder nenhuma oportunidade para pentelhar os gêmeos Weasley) levaram Molly até o depósito, que se encontrava apinhado de gente. Bem no fundo, podiam ver uma Gina suada e nervosa cuidar das pessoas. Imediatamente, a Sra. Weasley correu até a filha.
- Oh, os queridinhos da mamãe... – disse Rebeca assim que a outra se misturou na multidão.
- Você realmente se acha muito esperta, não é mesmo? – retorquiu Fred.
- Não me acho esperta – respondeu Rebeca sacudindo os cabelos castanhos – eu sou esperta. Há uma grande diferença.
Os dois começaram a discutir e não demorou muito para que Jorge entrasse no meio.
- Acho que agora é melhor irmos – sugeriu Harry ignorando a briga – vamos até a Toca, depois irei me encontrar com os aurores e ver no que posso ajudar.
- Ótimo – concordou Nádia num suspiro – vamos, Rony... Rony? Onde está o Rony?
Aparentemente em lugar nenhum.
Harry olhou em volta e não o viu. Nádia empalideceu ligeiramente e saiu correndo em meio à multidão procurando o noivo. Harry a seguiu. Mas nem sinal do ruivo. Ele parecia ter aparatado. Depois de concluir que era praticamente impossível encontra-lo no depósito, Nádia se dirigiu à frente da loja. O lugar estava completamente deserto e não se podia ouvir nada. Minto. Assim que Nádia se aproximou mais do balcão pôde ouvir nitidamente um BANG. A porta da frente acabara se fechar bruscamente.
- Encontrou Rony? – perguntou Harry que chegou alguns segundos depois da loira.
- Não... mas encontrei isso – murmurou Nádia em resposta, segurando um pedaço de pergaminho nas mãos – estava na porta.
Bruscamente, Harry tirou o pergaminho das mãos dela e sua intuição estava certa: era um bilhete. Mais, de despedida.
Eu sinto muito. Era o que se podia ler em uma letra borrada, que obviamente fora escrita muito às pressas, num pedaço arrancado da caderneta de contas de Fred e Jorge. A pena dourada dos gêmeos estava caída não muito longe. Não havia dúvidas: Harry conhecia muito bem a letra de Rony Weasley. Afinal, copiara os deveres dele inúmeras vezes.
Quando levantou os olhos para falar com Nádia, Harry viu que a loira saía correndo de trás do balcão e antes que pudesse impedi-la, a porta já tinha se fechado com um segundo grande BANG.
- Legal, agora tenho que sair correndo atrás dela – exclamou Harry para as paredes – e daquele idiota do Rony também. Sabe, acho que é meio impossível negar nossas raízes...
E num terceiro BANG, Harry deixou a loja também.
N/A: eu espero que vocês tenham tido um ótimo Natal e um Ano Novo excelente! Vocês me deram o melhor presente que eu poderia desejar num fim de ano, reviews! Muito obrigada de verdade. Poxa pessoal, vocês são muito legais escrevendo pra mim (podem continuar viu? Eu adoro! Quem não?). Eu sei que isso deveria entrar na lista dos ‘Agradecimentos’ ali embaixo, mas eu quero falar agora o quanto estou feliz. Um obrigada também para a Profa. Minerva que analisou minha fic na Ed, foi realmente de grande valia! E por causa disso eu sinto ainda mais por não ter postado esse capítulo mais cedo, mas infelizmente, tive um certo bloqueio para com ele.
No próximo capítulo...
Existe alguém mais cabeça dura que Rony Weasley? Acho que não... mas finalmente parece que ele criou juízo e vai atrás da Hermione. Ou será que não? Que espécie de plano maligno ele tem em mente? O que aconteceu de errado na reunião dos duendes? As respostas de várias perguntas estão em ‘Corra Rony, corra’.
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