Cap. 02



Cap. 02



Hermione inspirou um grande sorvo de ar e mergulhou o rosto na superfície dos pensamentos de Snape. Na mesma hora, o chão da sala sacudiu, empurrando Hermione de cabeça para dentro da Penseira…

Ela começou a cair por uma escuridão fria, rodopiando vertiginosamente, e então…

Encontrou-se parada no meio do Salão Principal, mas as mesas das quatro Casas haviam desaparecido. Em seu lugar, havia mais de cem mesinhas, todas dispostas da mesma maneira, e a cada uma delas se sentava um estudante, de cabeça baixa, escrevendo em um rolo de pergaminho. O único som era o arranhar das penas e o rumorejar ocasional de alguém ajeitando o pergaminho. Era visivelmente uma cena de exame.

Ela olhou à sua volta e viu apenas uma mesa vazia. Nisso, um homem idoso veio em sua direção, ela reconheceu como Dumbledore muitos anos mais novo.

- Srta. Granger! Finalmente!

Ela empalideceu. Começou a suar frio. Olhou para os lados, mas era realmente a ela que o homem se dirigia.

- Recebi sua carta avisando que teria de chegar mais tarde. Pois bem, sente-se ali, terá direito de fazer a prova com o mesmo tempo de seus demais colegas.

Hermione se dirigiu até a mesa, ainda confusa. No caminho foi observando os outros. Ela queria localizar Snape, afinal, a “lembrança” era dele

E lá estava ele, a uma mesa bem atrás da que seria sua. A menina se admirou. Snape adolescente tinha um ar pálido e estiolado, como uma planta mantida no escuro. Seus cabelos eram moles e oleosos e pendiam sobre a mesa, seu nariz aquilino a menos de cinco centímetros enquanto ele escrevia. Apesar de tudo, não deixava de ser uma rapaz muito bem apresentável, tinha seu charme.

O garoto afastou o cabelo da frente de seu pergaminho, assim Hermione conseguiu ler o cabeçalho da prova: DEFESA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS – NÍVEL ORDINÁRIO EM MAGIA.

Portanto, pensou ela, ele devia ter aproximadamente a sua idade, 15 anos. Sua mão voava sobre o pergaminho; já escrevera pelo menos mais trinta centímetros do que os vizinhos mais próximos, e a caligrafia era minúscula e apertada.

De repente, o Snape jovem ergueu a cabeça e olhou diretamente nos olhos de Hermione. Ela levou um susto e quase tropeçou. Ele continuou a fitando furiosamente, então se voltou para sua prova. Ela se sentou em sua mesa e olhou para Dumbledore, que sussurrou:

- Eles ainda têm uma hora para terminar a prova, mas você terá mais tempo. Faça com calma, eu sei que poderá tirar notas excelentes. Boa sorte.

O velho sorriu e foi embora. No cabeçalho dizia o mesmo que na prova de Snape. Começou a resolver.

Uma hora depois uma voz esganiçada gritou:

- Descansem as penas! Menos a Srta. Granger, é claro.

Hermione olhou para o dono da voz. Era o Prof. Flitwick que andava por entre as mesas. Logo ele já estava lá na frente usando o feitiço Accio para recolher as provas.

Segundo o que Hermione sabia, ela ainda tinha meia hora para terminar a prova. Mas estava na última questão, e a mesma era muito fácil. Respondeu rapidamente, deu uma lida meio por cima na prova e foi correndo entregar. Olhou à sua volta, precisava encontrar Dumbledore para ele lhe explicar o que estava acontecendo. Mas se ela dissesse que havia olhado dentro da Penseira com pensamentos de Snape para chegar ali, ele diria que no mínimo ela ficou louca. Mas antes que pudesse pensar no que fazer, um garoto se aproximou.

- Ei, você! Quem te deu permissão para tentar colar de mim?

- Eu não tentei colar, eu… vi sem querer, quando você… afastou os cabelos…

- Menos mal. Achei que estava querendo colar de mim.

- Pois mesmo se quisesse, não teria de colar de você, eu sou muito boa em Defesa Contra as Artes das Trevas, viu? – disse Hermione não contendo a raiva. Será que até o Snape jovem daria um jeito para humilhá-la?

- O que está acontecendo aqui, Ranhoso? – um garoto de óculos e cabelos muito despenteados e pretos, junto com um garoto loiro e outro de cabelos também pretos, se aproximou.

Hermione quase gritou. Era Harry! Não, não… era o pai de Harry! Tiago Potter! E o loiro provavelmente era Lupin, e o outro… nossa! Era Sirius!

- Não enche, Potter.

- Eu vi você destratando Hermione, Snape, e isso eu não admito!

“Ele sabe meu nome! Ele sabe meu nome!”

- Aqui você não manda nada. E eu não estava a detratando, apenas perguntando sobre sua prova.

- É verdade, Mione?

- É…

- Hmmm… bem, vamos, meninos? Lílian está lá fora… pretendo falar com ela ainda hoje sobre o próximo final de semana em Hogsmead.

Hermione lembrou que Lílian era o nome da mãe de Harry. Estava curiosa para conhecê-la, mas Snape continuou falando.

- Então, foi bem na prova?

“Por que ele quer saber isso?”

- Sim… mas eu não sabia uma questão… a 32.

- 32… Ah, claro, aquela sobre as Maldições Imperdoáveis. Mas o que você não sabia, exatamente?

“Essa eu não entendi…”

- O contra-feitiço da Maldição Cruciatus… eu esqueci completamente.

- Ah… tive o mesmo problema. Esqueci o nome.

Snape olhou-a bem fundo nos olhos, então para o emblema da Grifinória em seu casaco.

- Você é amiga daqueles idiotas?

- Eu? Não sei… quero dizer… conversamos, as vezes, Tiago é legal comigo, mas… sei lá… eu não gosto quando ele xinga os outros.

- Sei… e daquele Black?

- Mesma coisa.

- Ótimo. Vamos até o lago, então? Há uma questão que eu também não lembrei…

Os dois foram até o lago conversando sobre a prova.

Nisso, Tiago, Sirius, Remo e um garoto que quando Hermione viu reconheceu como Pedro Pettigrew, ou Rabicho, conversavam debaixo de uma árvore. Remo lia um livro, quanto Tiago brincava com um pomo de ouro. Ao ver Hermione e Snape se aproximando, Tiago disse em voz baixa para Sirius:

- Olha quem é… de novo.

Sirius virou a cabeça. Ficou muito quieto, como um cão que farejou um coelho.

- Excelente – disse baixinho. – Ranhoso. Vamos nos divertir um pouco, já que ele está aqui.

Snape e Hermione estavam de pé, ainda conversando. A menina estava animada, até esqueceu que algo ali estava muito esquisito, não era para todos a conhecerem, aquele não era seu tempo. Quando os dois começaram a atravessar o gramado, Sirius e Tiago se levantaram.

Lupin e Pedro continuaram sentados: Lupin lendo o livro, embora seus olhos não estivessem se movendo e uma ligeira ruga tivesse aparecido entre suas sobrancelhas; Rabicho olhava de Sirius e Tiago para Snape e Hermione, com expressão de ávido antegozo no rosto.

- Tudo certo, Ranhoso? – falou Tiago em voz alta.

Snape reagiu tão rápido que parecia estar esperando um ataque: deixou cair a mochila, meteu a mão dentro das vestes e sua varinha já estava metade para fora quando Tiago gritou:

- Expelliarmus!

A varinha de Snape voou quase quatro metros de altura e caiu com um pequeno baque no gramado às suas costas. Sirius soltou uma gargalhada.

- Impedimenta! – disse apontando a varinha para Snape, que foi atirado no chão ao mergulhar para recuperar a varinha caída.

- Não! – gritou Hermione, mas Sirius apenas piscou para ela.

Os estudantes ao redor se viraram para assistir. Alguns haviam se levantado e foram se aproximando. Outros pareciam apreensivos, ainda outros, divertidos.

Snape estava no chão, ofegante. Tiago e Sirius avançaram empunhando as varinhas, Tiago, ao mesmo tempo espiando por cima do ombro as garotas à beira do lago. Rabicho se levantou para ter uma perspectiva melhor.

- Como foi o exame, Ranhoso? – perguntou Tiago.

- Eu vi, o nariz dele estava quase encostado no pergaminho – disse Sirius maldosamente. – Vai ter manchas enormes de gordura no exame todo, não vai dar para ler nem uma palavra.

Várias pessoas que acompanhavam a cena riram; Snape era claramente impopular. Hermione se sentiu meio mal ao ver aquilo… aqueles garotos eram muito injustos! Rabicho soltava risadinhas agudas. Snape tentava se erguer, mas a azaração ainda o imobilizava; ele lutava como se estivesse amarrado por cordas invisíveis.

- Espere… para ver – arquejava, encarando Tiago com uma expressão de mais pura aversão –, espere… para ver!

- Esperar para ver o quê? – retrucou Sirius calmamente. – Que é que você vai fazer, Ranhoso, limpar seu nariz em nós?

Snape despejou um jorro de palavrões e azarações, mas com a varinha a três metros de distância nada aconteceu.

- Lave sua boca – disse Tiago friamente. – Limpar!

Bolhas de sabão cor-de-rosa escorreram da boca de Snape na hora; a espuma cobriu seu lábios, fazendo-o engasgar, sufocar…

- Deixem ele em PAZ!

Tiago e Sirius se viraram. Tiago levou a mão livre imediatamente aos cabelos.

Era Hermione quem gritara, estava rubra de raiva. Lupin gostava dela… desde que a conheceram. Adorou vê-la “entrar em ação.”

- Ah, olá, Mione. Tudo beleza? Viemos te salvar dessa coisa – disse Tiago, e o seu tom de voz se tornou imediatamente mais agradável, mais grave e mais maduro.

- Deixem ele em paz – repetiu Hermione. Ela olhava para Tiago com todos os sinais de intenso desagrado. – Que foi que ele lhe fez?

- Bom – explicou Tiago, parecendo pesar a pergunta –, é mais pelo fato de existir, se você me entende…

Não, ela não podia entender. Como Harry poderia ser tão legal com um pai como esse? Talvez Lílian sim fosse uma boa pessoa, mas Hermione ainda não a tinha avistado. E Sirius… ele também era uma ótima pessoa, não acreditou que ele pudesse ser tão baixo a ponto de fazer aquilo. Se bem que ela sempre odiou Snape… mas o adulto, porque o adolescente parecia uma excelente pessoa.

Muitos estudantes que os rodeavam riram, Sirius e Pedro, inclusive, mas Lupin, ainda aparentemente absorto em seu livro, não riu, nem Hermione tampouco.

- Você se acha engraçado – disse ela com frieza. – Mas você não passa de um cafajeste, tirano e arrogante, Potter. – No que disse isso se lembrou que essas características ela dava ao Snape adulto. Mas não importava. – Deixe ele em paz.

- Deixo, claro… você sabe que eu gosto muito de você, Mione, e é claro, Remo também – respondeu Tiago depressa. – Por que não sai com ele? Podemos sair todos juntos… tenho certeza de que será divertido. Eu posso chamar Evans, já que você são tão amigas. Melhor para mim. Anda… sai com ele, conosco, que nunca mais encostarei uma varinha no Ranhoso.

Às costas dele, a Azaração de Impedimento ia perdendo o efeito. Snape estava começando a se arrastar pouco a pouco em direção à sua varinha caída, cuspindo espuma enquanto se deslocava.

Hermione olhou para Lupin, que ainda lia, e corou um pouco. Lembrou dele como seu professor, não conseguiu se imaginar saindo com ele.

- Eu não sairia com ele ou com qualquer pessoa da laia de vocês nem que tivesse quem escolher isso ou a lula-gigante – replicou Hermione.

- Mau jeito, Pontas – disse Sirius, animado, e se voltou para Snape. – OI!

Mas tarde demais; Snape tinha apontado a varinha diretamente para Tiago; houve um lampejo e um corte apareceu em sua face, salpicando suas vestes de sangue. Ele girou: um segundo lampejo depois, Snape estava pendurando no ar de cabeça para baixo, as vestes pelo avesso revelando pernas muito magras e brancas que nunca tomavam sol e cuecas encardidas.

Muita gente na pequena aglomeração aplaudiu: Sirius, Tiago e Pedro davam gargalhadas.

Hermione, cuja expressão se alterara por um instante como se fosse sorrir, disse:

- Ponha ele no chão!

- Perfeitamente – e Tiago acenou com a varinha para o alto; Snape caiu embolado no chão. Desvencilhou-se da vestes e levantou depressa, com a varinha na mão, mas Sirius disse “Petrificus Totalus”, e Snape emborcou outra vez, duro como uma tábua.

- DEIXEM ELE EM PAZ! – berrou Hermione. Puxara a própria varinha agora. Tiago e Sirius a olharam preocupados.

- Ah, Granger, não me obrigue a azarar você – pediu Tiago sério.

- Então desfaça o feitiço nele!

Tiago suspirou profundamente, então se virou para Snape e murmurou um contra-feitiço.

- Pronto – disse, enquanto Snape procurava se levantar. – Você tem sorte de que Hermione esteja aqui, Ranhoso…

- Não preciso da ajuda de uma Sangue-Ruim imunda como ela!

Hermione pestanejou.

- Ótimo – respondeu calmamente. – No futuro, não me incomodarei. E eu lavaria as cuecas se fosse você, Ranhoso.

- Peça desculpas a Hermione! – berrou Tiago para Snape, apontando-lhe a varinha ameaçadoramente.

- Não quero que você o obrigue a se desculpar – gritou Hermione, voltando-se contra Tiago. – Você é tão ruim quanto ele.

- Quê?! Eu NUNCA chamaria você de… você sabe o quê!

- Despenteando os cabelos só porque acha que é legal parecer que acabou de desmontar da vassoura, se exibindo como esse pomo idiota, andando pelos corredores e azarando qualquer um que o aborreça só porque é capaz… e tudo isso para ficar se mostrando para a Lílian, que não está nem aí para você, porque você é um completo IDIOTA! Até surpreende que a sua vassoura consiga sair do chão com o peso dessa cabeça cheia de titica. Você me dá NÁUSEAS, Potter!

Hermione se virou e saiu correndo, chorando. Tiago ficou parado vendo-a se afastar sem saber o que dizer. Snape também ficou sem reação. Achou injusto o que fez com a garota, mas já estava feito. Apenas Remo Lupin se ergueu e foi atrás dela.

- Hermione!

Mas não conseguiu alcançá-la.
- Certo – disse Tiago, que aprecia furioso, agora –, certo…

Houve outro lampejo, e Snape, mais uma vez, ficou pendurado no ar de cabeça para baixo.

- Quem quer ver eu tirar as cuecas do Ranhoso?

Mas nisso apareceu Minerva McGonagall, a vice-diretora, e acabou com a festa de Tiago e Sirius, lhes dando amargas detenções.



Hermione correu até a Torre da Grifinória. Mas ao chegar lá, não pôde entrar, pois não sabia a senha. Então se sentou recostada à parede e colocou o rosto entre as pernas, não conseguindo segurar o choro.

- Hermione…

Ela ergueu o rosto e viu o garoto que ela reconheceu como Remo Lupin.

- Oi…

- Por que está aqui?

- Esqueci a senha – disse ela deprimida.

Remo sorriu e estendeu a mão para Hermione.

- Venha.

Ela segurou na mão dele e se ergueu. O garoto disse a senha e os dois entraram no Salão Comunal. Sentaram-se de frente para a lareira nas poltronas vermelhas.

- Hermione… não fique chateada com Tiago, ele é assim mesmo…

- Eu sei, mas não consigo entender o porquê…

- Porquê do quê?

Por um instante Hermione pensou em contar tudo a Remo, já que ele estava sendo tão amigo, mas achou melhor não falar nada.

- Ah… Severo não fez nada a ele…

- Como pode defender aquele garoto depois do que ele lhe fez?

- Não sei… mais cedo ele estava diferente comigo, era amigo… senti que podia confiar nele, sei lá.

- Hermione, ele é um sonserino!

- E daí? Ser sonserino não significa ser mau! Ele é uma pessoa boa, só que é sozinho… eu pude sentir isso.

- Eu sei, Mione, mas ele te xingou!

- Ele estava atordoado, foi humilhado… por Merlim, você viu o que Tiago e Sirius fizeram a ele! Severo não fez nada! Eu não posso admitir isso… e entendo o lado de Severo. Se ele quiser se desculpar, aceitarei numa boa, mas Tiago e Sirius não merecem a amizade de ninguém, são uns covardes!

Hermione subiu as escadas do dormitório feminino e procurou a porta para o quarto do 5º ano. Ao achar, entrou, fechou a porta, deitou na cama que achou ser sua, fechou as cortinas e começou a chorar. Não conseguia acreditar na cena que vira lá nos jardins… Era muito injusto! Agora ela entendia o porquê de seu Prof. Snape odiar tanto seu amigo Harry Potter. Tiago e Sirius eram as piores pessoas que ela conheceu.



(Continua…)

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