Encontro no Caldeirão Furado









Hermione estava sentada sozinha em uma mesa num canto do Caldeirão Furado, ainda incerta se deveria estar ali mesmo. Colocara sua melhor calça jeans e sua jaqueta de veludo cor de uva, bem marcada na cintura. Prendera os cabelos em um rabo de cavalo alto, de onde os cachos grandes e bagunçados caiam. Passara meia hora fazendo uma maquiagem leve e delicada.


O motivo de ter se esmerado tanto em ficar bonita não era por querer agradar, nem por achar que a pessoa merecesse. Era para impressionar, mostrar tudo que ele estava perdendo. Fazê-lo se arrepender e sofrer tanto quanto ela sofria quando via aqueles olhos azuis e o sorriso contagiante atraindo os olhares cobiçosos das mulheres.


Por não ter o que fazer enquanto esperava e não por vontade, ela tirou do bolso a carta que recebera logo de manhã e leu.


Mione,

Acho que depois de tudo que aconteceu você deve estar com raiva de mim.
Sei que eu não deveria ter saído daquele jeito da sua casa.
Precisamos conversar. Pode se encontrar comigo no Caldeirão furado hoje?
Estarei lá ao meio dia.

Um beijo,

Rony



Ela já sabia cada uma daquelas frases de cor. Relera aquele pergaminho centenas de vezes pela manhã, indecisa, sem saber se deveria aceitar ou não. “Tem razão Ronald, eu estou com muita, mas muita raiva de você”. Então por que estava ali? Por que aceitara o convite? Talvez porque fosse uma boa oportunidade de deixar escapar que aceitara trabalhar com o Malfoy, mostrar que da mesma maneira que ele havia saído para festas e seções de autógrafos com fãs eufóricas; ela estava mais linda, feliz e cobiçada do que nunca. “Mas que enorme mentira Hermione Granger” pensou “Você nunca esteve mais arrasada e magoada do que agora”.


- Hum... Oi Mione. Posso sentar?


Ela se assustou ao ouvir a voz dele e guardou o pergaminho no bolso rapidamente. Rony estava parado em frente a ela, com uma expressão ansiosa no rosto e aquele jeito de menino que havia acabado de fazer uma travessura e estava com medo de receber bronca.

- Claro. Sente-se.


Ele puxou a cadeira e se sentou sem encará-la. Parecia estar reunindo coragem para conseguir dizer o que quer que fosse. Hermione manteve a expressão séria e esperou.


Finalmente ele levantou a cabeça e ela pode ver os olhos azuis perfurarem os seus com aquela intensidade que sempre tirava seu fôlego. O cabelo ruivo, desalinhado por baixo de um boné do Puddlemere, aparecia pouco. Ela sentiu sua coragem e determinação faltarem por um momento, enquanto ele a encarava admirado, quase a fazendo suspeitar que talvez pudesse ser parente distante de alguma veela.

- Olha Mione, eu não queria ter saído daquele jeito e... Nem ter gritado e brigado com você – ele começou a dizer, abaixando e sacudindo a cabeça – mas eu... Eu perdi a cabeça.

- Tudo bem. Eu já devia ter me acostumado – ela disse fria.


Ele avançou com a mão pela mesa, buscando a dela e segurando firme.

- Não! Escuta! Me desculpa. Eu sei que você deve ter bons motivos para não me contar por que terminou nosso namoro. E eu não vou te pressionar. Eu confio em você. Sempre confiei.


Hermione sentiu-se amolecer por dentro com o toque e as palavras de Rony, mas sua expressão continuou dura e fria.

- E porque você está me dizendo isso agora? – ela perguntou, sem demonstrar emoção na voz.

- Por quê? - ele perguntou incrédulo – Talvez porque você seja a pessoa mais importante nesse mundo pra mim? Ou será que é porque eu sinto sua falta todos os dias desde que fui pra Irlanda?

- Não é o que parece – ela retrucou tirando sua mão do aperto forte da dele, tentando não ceder à vontade de chorar – Alias, achei você muito contente no jornal de terça-feira. Distribuiu muitos autógrafos para suas fãs?


Rony a encarava abobado sem entender exatamente o que ela queria dizer. Depois de alguns segundos, uma expressão de compreensão se espalhou pelo rosto cheio de sardas.

- É o meu trabalho, Mione! Eu tinha que me apresentar ao time naquele dia! Eu nem sabia que teria aquela recepção toda.

- Mas ficou bem feliz em dar entrevistas e fazer discursos, não foi? – ela não conseguia mais esconder a mágoa na voz – Nem parecia ter brigado com essa pessoa, que você diz tão importante pra você no dia anterior.


Ele soltou uma risada de descrença e se jogou para trás na cadeira. Ela cruzou os braços e virou o rosto. Ele resolveu tentar mais uma vez.

- Então você acha que eu não ligo? – perguntou começando a ficar irritado – Acha que tudo que a gente passou o que eu sofri quando você terminou o nosso beijo na cozinha da sua casa, você acha que não significou nada pra mim? – ela agora relutava em encará-lo – Acha mesmo que eu menti quando disse que ainda sou apaixonado por você?


Hermione não queria ouvir aquelas palavras que tinham tanto sentido e faziam seu coração acelerar, nem encarar aquele rosto cheio de sinceridade. Não podia ceder, não podia acreditar. Rony se acalmou e se escorou novamente no espaldar da cadeira, respirando fundo. Sabia que a batalha estava vencida, porque ela estava demorando muito para encontrar uma resposta.

- Era só isso que você queria me dizer? – ela perguntou, quebrando o silêncio.

- Você acha pouco? – ele não conseguia acreditar na teimosia da mulher a sua frente.

- Não, mas tenho que ir embora ou vou me atrasar pro meu novo emprego - “Droga! Por que eu disse isso? Agora não tem mais volta, ele vai me odiar”.

- Que novo emprego? – perguntou ele desconfiado.

- Esquece Rony – disse ela se levantando – eu tenho que ir agora.


Ele segurou o braço dela e se levantou também, forçando-a a se virar e encará-lo.

- Que novo emprego é esse, Hermione?

- Eu... – ela não conseguia mentir para Rony, mas não queria ver raiva e desaprovação naqueles olhos – Eu aceitei trabalhar para o Malfoy.


Ele soltou o braço dela e se afastou como se tivesse levado um choque. Não conseguia acreditar, não entrava na sua cabeça nenhum motivo que ela tivesse para fazer isso. Por que aquela doninha Albina tinha que estragar tudo?

- Então vai – ele disse amargo – seu chefe deve estar esperando. O trabalho é sempre mais importante. Vem sempre em primeiro lugar.

- Olha Rony... – ela tentou explicar, mas ele cortou.

- Anda logo Hermione! – ele disse fazendo um gesto com as mãos em direção a porta do bar. Todos os olhares já se concentravam nos dois – Você está atrasada.


Ela sacudiu a cabeça arrependida e se virou, querendo sair dali o mais rápido possível. Não adiantava conversar com Rony quando ele perdia a cabeça assim, e ela não estava mais disposta a agüentar as grosserias e a insensibilidade dele. Sentiu uma lágrima quente escorrer pelo canto do olho e se apressou em limpá-la. Saiu pela porta sem olhar para trás.


Rony observou o rabo de cavalo dela sumir pela porta numa revoada de cachos. E no momento em que ela ficou fora de seu alcance ele se arrependeu. Amaldiçoou-se por ter perdido o controle, tinha errado mais uma vez, tinha sido egoísta e infantil, exatamente como sua mãe disse. O engraçado e que o objetivo de ter marcado aquele encontro era justamente seguir os conselhos de sua mãe. Correu até a porta, desviando-se de mesas e pessoas, abriu desesperado. Olhou para a rua a tempo de ouvir um estalo e vê-la desaparecer na sua frente.


“Droga! Droga! Droga! Seu monte de bosta de Dragão podre! Sempre faz tudo errado, sempre perde o controle, sempre magoa ela! Seu ciumento idiota!” sua conversa mental consigo mesmo não estava sendo nada boa. A parte racional, apaixonada e protetora queria esganar o Rony grosso, ciumento e insensível. E ele nem ao menos poderia seguir Hermione e pedir desculpas.


Entrou no bar novamente e se sentou no balcão, tirando o boné e passando as mãos pelos cabelos.

- Um uísque-de-fogo, Tom – ele disse ao barman – duplo!




~~~~ §§ ~~~~





Harry encarava aqueles orbes azuis a sua frente frustrado. Estavam conversando com Olivaras há meia hora, sem nenhuma descoberta mpressionante ou que os ajudasse.

- Você não sabe mais nada sobre os Gamp? – perguntou Gina decepcionada.

- Creio que não – dizia o senhor de cabelos completamente brancos, parecendo desapontado em não poder ajudar.

- E você sabe alguma coisa sobre os vizinhos deles? – perguntou Harry esperançoso – Os Stone?

- Ah... Veja bem, é uma família muito antiga e tradicional – Olivaras começou a dizer, enquanto enrugava a testa forçando a memória – só sei o que todos sabem.

- E o que, exatamente, todos sabem? – perguntou Gina, que parecia ávida por pistas.

- Que é uma família de pessoas inteligentes, gerações e gerações na Corvinal. E vivem naquela propriedade há bastante tempo. Tanto que o nome deles se originou dali: Stone.

- Como assim? – perguntou Harry.

- Pedra da Lua. A propriedade tem a mais famosa jazida de pedras da lua. Mas eles nunca venderam nem exploraram. Dizem que as pedras dão sorte e vida ao lugar e àqueles que ali vivem.


Harry desviou os olhos do homem a sua frente, forçando sua mente a pensar. Ele admirou a loja antiga. Pilhas e pilhas de caixas contendo varinhas por todos os cantos. Tinha certeza que já ouvira falar em pedras da lua. Claro! Poções! Elas eram usadas no preparo de poções. Tentou se lembrar quais os tipos de poção. Poção da Paz era uma delas. Se ao menos Hermione estivesse por perto, ele tinha certeza que ela saberia de cor todas as propriedades da pedra da lua.

- Obrigada Sr.Olivaras – disse Harry se levantando e estendendo a mão para que Gina fizesse o mesmo – Temos que ir agora. Desculpe o incômodo. E peço mais uma vez que essa conversa fique entre nós.

- Não se preocupe Sr. Potter – disse o homem se levantando também – Desculpe não ter sido de grande ajuda, mas como eu disse, meu único negócio com eles é sobre as árvores de onde eu retiro minhas varinhas. Inclusive o azevinho da sua – ele completou fazendo um aceno em direção ao bolso em que a varinha de Harry se encontrava – Sim, sim, uma árvore muito bonita.

- Ah... Ok então – disse Harry desconcertado – Até mais.


Gina apenas acenou com a mão e saiu atrás de Harry. Os dois andando juntos e de mãos dadas pelo Beco Diagonal.

- Onde você está indo com essa pressa, Harry? – ela perguntou curiosa com a seriedade e concentração dele.

- Não sei, mas queria ver a Mione.

- A Mione? Por quê?

- É só que ela sempre tem todas as respostas para as minhas dúvidas - respondeu ele apertando a mão da ruiva de maneira reconfortante.

- Vamos até o St. Mungus? – perguntou Gina achando a idéia de ter a ajuda de alguém tão inteligente mais do que bem vinda.

- Não, não é necessário – Harry deixou a frase enigmática no ar e não respondeu ao olhar de interrogação que Gina o lançou. Apenas puxou a ruiva pela mão e começou a andar mais rápido até o Caldeirão Furado.


Gina já estava começando a se irritar com o silêncio dele quando os dois entraram no bar, mas sua atenção foi desviada rapidamente para um ruivo alto encostado no balcão.

- Rony? – “Claro Gina” pensou “Até parece que você não conhece seu irmão” – Harry, é o Rony! Ali no balcão.


Harry se virou rapidamente para olhar o lugar onde a ruiva apontava. Sem dúvida aquele cabelo ruivo e aquelas costas largas eram de seu melhor amigo. Dessa vez foi Gina quem o puxou com pressa. Os dois chegaram até o balcão e se aproximaram dele.

- Rony, o que você está fazendo aqui há essa hora? – perguntou Gina sobressaltando o irmão – Você está bebendo?


O ruivo encarou os dois com uma expressão assustada por um minuto, depois disse, ignorando a pergunta da irmã – Gina?! O que você está fazendo aqui, mamãe está doida atrás de vocês. Quase me esganou querendo saber onde estavam. Não dói nada mandar notícias, sabia?

- Não fuja do assunto Ronald Weasley! – disse Gina com sua melhor voz de Sra. Weasley brava, enquanto Harry assistia calado e dividido entre cair no riso ou interromper a briga que estava por vir – O que você está fazendo num bar há essa hora? Não devia estar treinando?

- Não é da sua conta! Eu faço o que eu quiser, na hora que eu quiser – Rony
virou de costas pra ela e voltou sua atenção para o copo a sua frente, parecendo chateado.


Gina abriu a boca para retrucar, mas Harry impediu segurando o braço dela e sacudindo a cabeça. Sabia que estava acontecendo alguma coisa de errado com o amigo. Rony estava triste, e ele tinha que saber o motivo. Ele se colocou entre Gina e o ruivo, se aproximando do último e sentando no banco ao lado dele. Gina cruzou os braços e ficou quieta esperando.



- O que aconteceu? – perguntou a um Rony que olhava hipnotizado para o próprio copo.

- Não... Nada de importante – respondeu ele num fio de voz.

- Sem essa, Rony. Sou seu melhor amigo a mais de dez anos, acho que sei quando algo está errado.

- É você sabe. Tudo está errado – disse o ruivo ainda sem desviar os olhos do copo – Eu estou errado, minha vida está errada. Aliás, eu sou todo errado.

- Qual é, cara? Não me vem com essa conversa de “Eu sou Ronald Weasley, o coitado” – disse Harry irritado – Você é o melhor goleiro da Inglaterra! Tem mais dinheiro do que você poderia sonhar! Têm todas as mulheres aos seus pés! Não sei de onde você tira essas idéias.


Rony direcionou seu olhar para Harry pela primeira vez, e Harry pode ver na expressão dele irritação, tristeza e alguma coisa que ele não conseguia identificar, mas que parecia muito algo de merecer pena.

- Eu sei o que eu estou falando – Rony disse sério – Não tenho a mulher que eu quero. Mas não se preocupe, se esse é o seu problema, não vou me lamentar pra você, dessa vez eu vou mudar. Vou concertar minha vida, consertar tudo que eu fiz de errado.


Harry arriscou um olhar para Gina e viu-a mexer os lábios formando uma palavra clara: Hermione. Então era isso. Como sempre, os problemas do amigo tinham a ver com ela. Pelo menos agora ele estava decido a lutar e mudar aquela situação. Gina se aproximou do irmão pelo outro lado, mas não tinha mais a expressão mandona e brava, tocou o ombro dele com carinho.

- Rony, você não tem treino hoje à tarde? – ela perguntou.

- Não, nós treinamos de manhã – disse ele finalmente largando o copo e se virando para a irmã – Eu ia almoçar aqui com a Mione, mas acho que você já notou que deu tudo errado.


Gina lançou a Harry um olhar preocupado. Decididamente, Rony estava estranho, e mais triste do que queria aparentar.

- E você sabe onde ela está?

- Se eu soubesse estaria lá, não aqui – disse ele se levantando e se afastando do balcão. Parecia ligeiramente zonzo, mas nem perto de estar bêbado – Eu vou pra casa Harry. Que dia você volta?

- Não sei – disse Harry se levantando também – Talvez eu passe uns dias em casa, mas o trabalho está longe de terminar.

- Tudo bem – disse Rony já andando em direção à porta do bar, mas parecendo aéreo, como se sua mente não estivesse ali. Harry poderia jurar que o amigo havia sido atingido por um feitiço de confusão, se não soubesse que Hermione tinha o poder de deixá-lo assim – Ah... Gina, não se esquece de falar com a mamãe. Ela está realmente preocupada.


Gina acenou com a cabeça. Harry assistiu ao amigo indo embora, e se sentiu totalmente confuso. Poderia trazer Hermione até o Rony. Não, era melhor que os dois colocassem a cabeça no lugar e se acalmassem antes. Além do mais, tinha coisas mais urgentes a resolver com a amiga.

- Hum... Gina – disse ele voltando sua atenção para a ruiva e percebendo que ela tinha a mesma expressão confusa no rosto – Acho que temos que conversar com a Hermione.

- Sobre o Rony?

- Não. Bem, talvez depois. Mas eu queria primeiro saber sobre a pedra da lua.

- É verdade, eu tinha esquecido – disse Gina se aproximando dele e pegando sua mão novamente – Mas você ainda não me disse como pretende chegar até ela.

- Ela é quem vai vir até nós – disse Harry sorrindo.

- Como assim? – agora sim Gina estava confusa de vez.

- É... – disse Harry olhando a sua volta para alguns curiosos que os observavam – Acho melhor a gente conversar com ela em outro lugar. Mas eu estou morrendo de fome, nem almoçamos ainda.

- A gente podia ir pra Toca – disse Gina empolgada – Assim almoçamos, tranqüilizamos minha mãe e ainda temos um bom lugar pra conversar com a Hermione!

- Hum – Harry analisou a proposta da ruiva por alguns minutos, enquanto ela olhava pra ele com uma cara de cachorrinho pidão – Tudo bem então. Vamos pra Toca.


Gina pulou em seu pescoço e começou a distribuir beijinhos estalados por toda a face do rapaz. Apesar de ter gostado bastante, Harry ficou
ligeiramente encabulado com aquela empolgação “Weasley” e afastou Gina.

- Vamos sair daqui então – disse ele olhando para os lados e percebendo que todas as bruxas que estavam no local olhavam para os dois e cochichavam com suas colegas.


Gina continuava sorrindo quando os dois saíram do bar e, de mãos dadas, aparataram.





~~~~ §§ ~~~~



N/A: Pronto!

Capítulo pra quem estava pedindo mais cenas R/H.
Infelizmente, acho que essa não era exatamente a cena que vocês queriam, mas foi necessária.

Muito obrigada pela paciência e por continuarem me dando força. Comentários são meu combustível pra escrever, me deixam realmente feliz e motivada.

Não vou poder responder individualmente hoje, porque sei que vocês estavam desesperados pelo capítulo e isso só iria atrasar mais.

Gostaram?

COMENTEM

VOTEM

Beijos!

Ana Fuchs

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.