Capitulo 4



Capitulo 4

Se fugir parecia o correto a fazer, na verdade tornou-se algo complicado no minuto em que Hermione desceu a escada com a mala.

A última coisa que ela esperava era encontrar Harry de pé no corredor a observando. Ela trincou os dentes para evitar falar. Harry estava encostado no corrimão, e parecia desconfortável e preocupado quando viu a palidez de Hermione.

Ele estava em pé, mal-humorado.

-Levarei Rebeca de volta esta tarde – ele disse imediatamente, notando a mala de Hermione. – Pode vir conosco.

Hermione forçou um sorriso tranqüilo, desviou os olhos dos dele.

-Obrigada pela proposta, Harry, mas tenho uma passagem de avião.

-Então a levo ao aeroporto – acrescentou ele serenamente.

Seu rosto ficou tenso. Ela sufocou a mágoa.

-Obrigada, mas Luna já se vestiu e se aprontou para ir. Precisamos conversar no caminho – acrescentou ela antes que ele se oferecesse de novo.

Ele a observava constrangido. Hermione agia como uma fugitiva da polícia. Não o encarava e esquivava-se. Teve a noite toda para arrependimentos, e ainda a culpava por isso. Tinha exagerado. Sabia que ela sentira uma atração por ele outrora. Ele a magoara com sua fria rejeição. Estava bêbada mas era inocente, ainda assim ele a responsabilizara pelo fiasco. Ele sentiu-se culpado pelo modo que ele estava.

Antes que pudesse falar, Luna desceu os degraus impetuosamente.

-Tudo bem, estou pronta! Vamos – ela disse a Hermione.

-Estou bem atrás de você. Tchau, Harry – disse sem levantar o olhar.

Ele não respondeu. Observou a porta se fechar. Não entendia suas próprias emoções, esperava passar algum tempo a sós com Hermione enquanto explorava esta repentina mudança no relacionamento entre eles. Mas ela estava claramente desconcertada e fugia assustada. Provavelmente deixá-la partir era a melhor maneira de lidar com a situação. Após alguns dias, ele a veria no escritório para amaciar as coisas. Não conseguia agüentar aquele seu olhar e saber ser o responsável por isso.

Independentemente de sua explosão de mau humor, ele se importava com Hermione. Não a queria magoada.

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-Você parece muito pálida, Hermione – comentou Luna quando acompanhou sua melhor amiga até o guichê. – Tem certeza de que está bem?

-Estou sem graça por ontem à noite, só isso – assegurou. – Por falar nisso, como foram as coisas com Rebeca?

-Não muito bem – respondeu suspirando. – E acho que quebrei todas as peças de cristal no lava-louças.

-Sinto muito não ter feito isso por você – Hermione se desculpou.

-Não é sua culpa. Nada é sua culpa. – Luna parecia atormentada. – Ia convidar você para a festa de aniversário de Jim no mês que vem...

-Luna, realmente não consigo encarar Harry neste momento, entende? – interrompeu ela suavemente, viu alívio na amiga. – Então vou desaparecer por uns tempos.

-Talvez seja melhor – Luna teve que admitir.

Hermione sorriu.

-Obrigada por me convidar para a festa – ela conseguiu dizer. – Me diverti muito.

Era mentira, e as duas sabiam.

-Vou retribuí-la um dia, prometo – disse Luna inesperadamente, e abraçou Hermione firme. – Não sou uma grande amiga, Hermione, mas vou mudar. Vou sim. Você verá.

-Eu não seria muito sua amiga se quisesse mudar seu jeito de ser – respondeu Hermione, sorrindo. – Te vejo por aí, Luna – acrescentou ela enigmaticamente e partiu antes que Luna pudesse perguntar o que ela queria dizer.

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Hermione relutou em chorar durante a curta viagem de volta. Não conseguia se lembrar de nada tão doloroso. Harry não suportava vê-la. Não a queria por perto. Ela o fazia sentir-se mal. Ela... o enojava.

A maioria de suas lembranças de amor girava em torno de Harry Potter. Sonhara acordada com ele antes de perceber amá-lo. Ela apreciava seus encontros inesperados. Sentia desejo só de vê-lo sorrir para ela. Mas tudo aquilo tinha sido mentira. Ela era uma séria responsabilidade, como seu emprego. Para ele, ela não significava nada mais que isso. Era uma percepção dolorosa, e ia levar tempo para a mágoa diminuir.

Por enquanto era difícil suportar, distraiu-se com uma revista de bordo e, quando acabou, o avião aterrissava. Caminhou pelo pátio do aeroporto de Houston com uma nova resolução: esqueceria Harry. Era hora de esquecer o passado e começar uma nova vida.

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Harry estava sozinho na biblioteca quando sua irmã voltou do aeroporto.

Saiu para o corredor para encontrá-la.

-Ela disse alguma coisa para você? – perguntou ele imediatamente.

Surpresa com a pergunta e com sua leve ansiedade, ela hesitou.

-Sobre o quê?

Ele lançou-lhe um olhar ameaçador.

-Sobre o porquê de ela estar partindo tão repentinamente. Sei que sua passagem era para o final desta tarde. Ela deve tê-la trocado.

-Disse que estava muito sem graça de te encarar – respondeu Luna.

-Mais alguma coisa? – insistiu.

-Realmente não. – ela própria estava se sentindo muito constrangida. – Você conhece Hermione. Ela é extremamente tímida, Jim. Jamais bebe. Imagino sua vergonha e desconforto. Vai superar com o tempo.

-Você acha que sim? – ele pensou alto.

-O que vocês dois estão fazendo aqui embaixo? – perguntou Rebeca petulante dando um bocejo. Ela desceu a escada numa camisola de seda vermelha, um robe de seda preta e chinelos, seu longo cabelo loiro roçando os ombros. – Sinto-me como se nem mesmo tivesse dormido. O café-da-manhã está pronto?

Luna moveu-se de súbito.

-Bem, Jessie não está aqui – começou ela.

-Onde está a cozinheira de ontem à noite? – perguntou ela negligentemente. – Ela não pode fazer o café?

-Hermione não é cozinheira – disse Harry, lacônico. – Ela é a melhor amiga de Luna.

-Para mim ela parecia uma alcoólatra – disse Rebeca indelicadamente. – Pessoas assim não deveriam beber nunca. Então ela está com ressaca demais para poder cozinhar?

-Ela foi para casa – disse Luna, ressentindo-se das observações de Rebeca.

-Então quem fará torrada e café para mim? – perguntou Rebeca. – tenho que tomar café-da-manhã.

-Posso fazer a torrada – disse Luna, virando-se. Ela queria a ajuda de Rebeca com a coleção, mas tinha profunda antipatia pela mulher.

-Então irei me vestir. Quer subir comigo para levantar meu fecho éclair? – disse Rebeca de modo arrastado.

-Não – disse ele sucintamente. – Vou fazer o café. – entrou na cozinha depois de Luna.

Rebeca olhou para ele sem entender. Ele nunca falara assim, e Luna fora absolutamente grosseira. Eles também não deviam beber, ela estava pensando enquanto voltava para se vestir. Obviamente havia ressaca e mau humor em toda parte da casa esta manhã.

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Duas semanas depois, Hermione presenciava uma reunião entre Brody e um empregado da informática acusado de ser grosseiro e insultar uma colega de trabalho. Era a função de Brody como gerente de RH supervisionar questões de pessoal, e ele era um diplomata. Isto deu a Hermione a chance de ver que tipos de obrigações ela deveria desempenhar se fosse promovida.

-Sr. Koswalski, está é a srta. Granger, minha assistente administrativa. Ela está aqui para tomar notas. – acrescentou ele.

Hermione estava surpresa, pensava estar lá para aprender. Mas ela sorriu e retirou o bloco de anotações e a caneta, colocando-os sobre o joelho.

-O senhor teve uma reclamação a meu respeito, não foi? – Koswalski perguntou suspirando.

-Bem, sim...

-Um de nossos executivos contratou uma especialista em sistemas sem prática em exploração de petróleo – Koswalski disse a ele. – Estava preparando um artigo para inclusão em nossa revista trimestral e o sistema caiu. Ela foi enviada para consertar. Viu meu artigo e fez alguns comentários sobre os termos que utilizei, e como eles não soavam muito profissionais. Obviamente ela não sabia a diferença entre aparelhador e plataformista. Quando tentei explicar, ela me acusou dizendo que a estava menosprezando e saiu. – ele levantou as mãos. – Senhor, não fui grosseiro, nem me recusei a cooperar. Estava tentando ensiná-la a linguagem do setor.

Brody parecia querer dizer alguma coisa, mas olhou rapidamente para Hermione e, em vez disso, pigarreou.

– O senhor não a xingou, sr. Koswalski?

-Não senhor, não a xinguei – o jovem respondeu com cortesia. – Mas ela me xingou várias vezes. Além disso, para falar muito francamente, ela tinha um olhar turvo e estava com o nariz vermelho. – seu ficou tenso. – Sr. Vance, já vi gente demais que toma remédios para mascarar sinais de uso de drogas. Ela não consertou o sistema e ainda piorou as coisas. Tive que chamar outro especialista para desfazer o estrago. Tenho seu nome e sua designação de tarefa. – acrescentou ele, apresentando um pedaço de papel que entregou a Brody. – Sinto muito por recriminar outro empregado por incompetência, mas minha integridade está em jogo.

Brody pegou o pedaço de papel e leu o nome. Olhou para o jovem novamente.

-Conheço este técnico. É o melhor que temos. Ele confirmará o que o senhor acabou de me contar?

-Claro que sim, sr. Vance.

Brody assentiu.

-Vou verificar com ele e investigar suas acusações. O senhor será notificado quando tivermos uma resolução. Obrigado sr. Koswalski.

-Obrigado, sr. Vance – respondeu o jovem, se levantando. – Gosto muito do meu emprego. Se perdê-lo, que seja por questão de mérito, não por mentira.

-Concordo plenamente – respondeu Brody. – Tenha um bom dia.

-Para o senhor, também. – Koswalski saiu com ar dignificado.

Brody virou-se para Hermione.

-Como você caracterizaria o sr. Koswalski?

-Ele parece sincero, honesto e trabalhador.

Ele assentiu.

-É pontual, respeita a hora do almoço, cumpre suas tarefas, mesmo que isso signifique trabalhar até tarde.

Ele pegou uma pasta de arquivo.

-Por outro lado, a especialista de sistemas, uma tal de srta. Burgen, atrasa quatro de cinco manhãs trabalhadas, falta às segundas-feiras em semanas alternadas, reclama das horas extras, e seu trabalho é insatisfatório. – ele olhou para cima. – O que você faria no meu lugar?

-Eu a demitiria – disse ela.

Ele sorriu lentamente.

-Ela tem uma mãe inválida e um filho de dois anos – disse ele surpreendentemente. – Foi demitida de seu último emprego. Se perder este, terá um futuro incerto.

Ela condoeu-se, concordava com a demissão de um empregado incompetente, mas em vista de sua vida familiar, a decisão era desconfortável.

-Se você ocupar o meu lugar, tais decisões lhe serão exigidas. Na verdade, eu o farei – acrescentou ele. – Não pode ser sentimental. A empresa depende de lucro. Funcionários incompetentes nos custarão tempo, dinheiro, e possivelmente até mesmo clientes. Nenhuma empresa pode existir assim por muito tempo.

Ela olhou para ele com os olhos tristes.

-Não é uma função agradável, Brody.

Ele assentiu.

-É como a jardinagem, separar as ervas daninhas dos legumes.

-Compreendo. – ela olhou para o bloco de anotações. – Então o que você sugere? – ela acrescentou.

-Que a segurança investigue seu desempenho no trabalho – disse ele. – Se estiver envolvida com drogas terá de escolher entre tratamento ou afastamento. A menos que use drogas no trabalho, é claro – acrescentou ele friamente. – Neste caso, ela irá presa.

Ela gelou. O que parecia uma posição maravilhosa estava pesando sobre ela como uma rocha.

-Hermione, é isto que realmente quer fazer? – perguntou ele suavemente, sorrindo. – Perdoe-me, mas você não é uma pessoa insensível, e está sempre dando desculpas pelos outros. Esta não é a característica de um gerente.

-Estou começando a perceber isto – disse ela tranqüilamente. Ela esquadrinhou seus olhos. – Não incomoda você indicar pessoas para serem demitidas?

-Não – disse ele simplesmente. – Sinto muito por elas, mas não o suficiente para arriscar meu contracheque e o seu mantendo-as numa função que elas não estão qualificadas para desempenhar. Isto é negócio, Hermione.

-Suponho que sim. – distraiu-se com o bloco. – Eu era uma fera em computadores na faculdade de administração – ela refletiu. – Não queria ser uma especialista de sistemas porque minha cabeça não é muito mecânica, mas sabia fazer qualquer coisa com software. – ela olhou rapidamente para ele. – Talvez, para início de conversa, eu esteja no emprego errado.

-Se, no final das contar, você assim decidir, relate-o ao gerente de RH e candidate-se ao emprego. – aconselhou sorrindo.

-Você está brincando!

-Não estou, não. Foi assim que consegui meu emprego – confidenciou ele o segredo.

-Bem!

-Não precisa despedir o pessoal de software – ele lembrou-lhe. – E se não funcionar, não sentirá culpa. Mas tudo isto é prematuro. Não decida agora. Além do mais – acrescentou com um suspiro. –, talvez eu nem consiga aquela promoção.

-Vai conseguir – ela assegurou-lhe. – Você é maravilhoso no que faz, Brody.

-Você acha mesmo? – perguntou ele, realmente interessado.

-Claro que sim.

Ele sorriu.

-Obrigado. Receio que Cara não aprecie muito minhas habilidades. Ela é boa de marketing, é promovida o tempo todo. E as viagens! Passa muito tempo longe, mas adora. Estava no México na semana passada e no Peru na semana retrasada. Imagina só! Adoraria ir para o México e ver o Chichen Itza. – ele suspirou.

-Eu também. Você gosta de arqueologia? – ela lançou a isca.

Ele sorriu.

-Adoro. E você?

-Claro que sim.

-Há uma exposição de cerâmica mais – disse ele com entusiasmo. – Cara odeia este tipo de coisa. Gostaria de ir vê-la comigo no próximo sábado?

O próximo sábado, aniversário de Harry. Chorara nas duas últimas semanas desde a festa, infeliz e magoada. Tentava esquecer seu aniversário.

-Adoraria – disse ela com um sorriso luminoso. – Mas... sua namorada não se importará?

-Não sei. – ele olhou para ela. – Podemos manter segredo, não?

Ela compreendeu. Era um pouco desconfortável sair com um homem comprometido, mas ele não era casado. Além do mais, sua namorada o tratava como lixo. Ela não se importaria.

-Claro que sim – ela concordou. – Ficarei ansiosa.

-Excelente! – ele ficou radiante também. – Telefono para você na sexta à noite, tudo bem?

-Tudo bem!

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Tudo lhe era novo, começara a freqüentar um café retro, bom serviço, leitura de poesia no palco ou apresentações de música popular com violões. Hermione entendia-se com este ambiente, conseguiu pela primeira vez ler um de seus poemas, um triste sobre o amor rejeitado inspirado por Harry. Todos aplaudiram, até mesmo John, o proprietário. Estava menos inibida, não tinha medo de multidão, renascera. Era a nova e melhor Hermione, capaz de conquistar o mundo. Brody queria sair com ela. Estava encantada.

O sentimento durou precisamente duas horas, quando voltou do almoço encontrou Harry Potter empoleirado em sua mesa, esperando por ela.

Ela não se recuperara do último encontro. Queria fugir, mas não adiantaria. Ele já a tinha localizado.

Ela caminhou calmamente até a mesa – embora seu coração pulasse – e pôs a bolsa na gaveta de baixo.

-Olá, Harry – disse sombria. – O que posso fazer por você?

Sua atitude deu-lhe vertigens. Hermione sempre fora irrequieta e cheia de alegria quando o encontrava inesperadamente. Ele só percebeu o quanto gostava da reação impetuosa quando ela já não existia mais.

Encarou-a do outro lado da mesa, intrigado e perturbado.

-O que aconteceu não foi culpa de ninguém – disse ele com rigor. – Não se desgaste lamentando.

Ela relaxou um pouco, mas apenas um pouco.

-Eu bebi demais. Não farei de novo – ela assegurou-lhe. – Como está Luna?

-Quieta – ele disse. A palavra em questão era alarmante. Luna nunca estava quieta.

-Por quê? – perguntou ela.

Fingindo desinteresse, falou:

-São seus modelos, esperava sucesso imediato, e não consegue nem mesmo dar o primeiro passo.

-Sinto muito. Ela é realmente muito boa.

Ele concordou e aproximou-se dela.

-Preciso conversar com você – disse ele. – Pode me encontrar lá embaixo na lanchonete quando sair do trabalho?

Ela não queria, e isso era óbvio.

-Não poderia simplesmente me telefonar em casa? – ela reagiu.

-Não. Não posso discutir isso pelo telefone. – ela ainda hesitava. – Tem outros planos? – perguntou ele.

-Não. Não quero perder o ônibus.

-Posso levá-la...

-Não! Quer dizer – ela abaixou a voz. –, não quero te dar trabalho. O segundo ônibus passa uma hora após o primeiro.

-Não vai levar uma hora – assegurou-lhe. Porém percebeu o vazio, ela não o provocou, não zombou dele nem o ofendeu. Na verdade, ela o evitava totalmente.

-Tudo bem, então – disse ela, sentando-se à mesa. – Vejo você às 5h5.

Ele concordou, já saindo olhou-a, um mau momento para lembrar-lhe do gosto da boca suave e carnuda sob a sua. Era inevitável. Ela vestia-se como uma executiva, mas estava vulnerável demais, insegura demais. Não tinha a autoconfiança necessária para chegar a um cargo superior, mas ele não podia dizer-lhe isso. Hermione tinha um complexo de inferioridade enorme. Qualquer coisinha a magoava, mesmo.

Os músculos de seu maxilar afrouxaram-se.

-Isto não condiz com você – disse repentinamente, referindo-se à pequena gaiola estéril de vidro e madeira onde a mantinham. – Não permitem plantas?

Ela ficou perplexa com o comentário.

-Não é permitido – ela gaguejou.

Ele aproximou-se um pouco.

-Hermione, um emprego não deve ser uma prisão. Se não gosta do que faz, de onde trabalha, está desperdiçando a maior parte de sua vida.

Ela sabia disso, engoliu em seco, mas emprego andava escasso e poderia ser promovida neste, esqueceu os comentários de Brody sobre seus defeitos como gerente.

-Gosto do meu emprego – ela mentiu.

Os olhos dele deslizaram sobre ela com um certo sentimento de posse.

-Não gosta, não. Que pena. Tem talento para programação de computadores. Aposto que não desenvolveu um único programa desde que veio para cá.

O rosto dela se apertou.

-Você não tem nada para fazer? Estou ocupada.

-Faça o que bem entender. Vá o mais rápido que puder, por favor – acrescentou deliberadamente. – Tenho um jantar.

Com Rebeca. Sempre com Rebeca. Ela sabia. Ela odiava Rebeca. Ela o odiava também. Mas sorriu.

-Sem problemas. Até lá – ocupou-se e tratou de ignorar Harry, que a olhou longamente antes de deixá-la sozinha.

Sentiu profundamente sua presença. Ele representava uma parte tão importante de sua vida que era difícil imaginá-la sem ele.

Pela primeira vez, ela pensou em mudar-se, a Ritter Oil Corporation tinha um escritório em Tulsa, no estado de Oklahoma. Talvez conseguisse uma transferência... e fazer o quê?, ela perguntou-se. Mal estava qualificada para este serviço, e definitivamente não possuía as qualidades para despedir ninguém, mesmo aqueles que merecessem. Por orgulho aceitou este emprego, pressionada por Harry. Ele fizera um comentário involuntário sobre trabalho, mas ela entendeu assim. Então foi trabalhar na primeira empresa que lhe ofereceu, emprego, só para calar a boca dele.

Soube que deveria ter procurado mais. Foi sondada para um emprego com o Departamento de Polícia local, como especialista em computação. Sabia desenvolver programas e reestruturar software. Era especialista em abrir arquivos protegidos, encontrar documentos perdidos, rastrear e-mails suspeitos e descobrir maneiras de burlar software com proteção. Seu professor a recomendara para seguir carreira no cumprimento das leis como especialista em crime pela Internet, mas ela agarrou o primeiro emprego que surgiu após a conclusão do curso.

Agora aqui estava ela, insatisfeita e subestimada.

Riu com a imagem de si como uma caixa de papelão cheia de suprimentos.

Sempre era perturbador perceber quanta autoridade a empresa tinha obre sua vida profissional, e ela não gostava disso. Ela se perguntava se o velho Ritter, o dono, incentivava esta política. Ao que sabia, ele era um pouco rebelde, avesso a regras e regulamentos, mas não onipresente. Talvez desconhecesse as táticas de opressão aqui.

Falar pouco já era ruim o bastante, cubículos personalizados eram rigorosamente proibidos, mas controlar o tempo que os empregados passavam no banheiro deixou Hermione furiosa. Era a mais nova regra da companhia. Ela tinha uma amiga diabética que ia freqüentemente ao banheiro na escola; alguns professores dificultavam sua vida até que seus pais explicaram o problema de saúde de sua filha. Hermione sabia da ineficácia de uma reunião neste emprego.

Voltou ao trabalho, mas o dia tinha sido perturbador demais em vários sentidos.

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Exatamente cinco minutos após a hora da saída, ela entrou na lanchonete. Harry já a esperava com o cappuccino de baunilha francesa de que ela tanto gostava, junto com biscoitos italianos de chocolate.

Surpreendeu-se por ele lembrar suas preferências. Ela jogou seu velho casaco sobre uma cadeira vazia e sentou-se.

-Bem na hora – disse Harry.

-Geralmente estou – disse distraída, sorvendo o cappuccino. – Isto é maravilhoso – acrescentou sorrindo.

-Você não vem aqui freqüentemente?

-Para falar a verdade, é algo que não consigo encaixar no meu orçamento – confessou ela.

Agora as feições dele foram tomadas de choque.

-Você tem um bom salário – comentou ele.

-Somadas as despesas, não sobra muito. Não estamos todos na sua faixa de imposto de renda, Harry – acrescentou rancorosa.

Ele sorvia em silêncio seu próprio cappuccino.

-Nunca penso em você como diferente – disse ele.

-Não? – ela sabia não ser verdade, e seus pensamentos eram amargos.

Ele endireitou-se na cadeira.

-Alguma coisa a preocupa – disse sem rodeios. – Não é a mesma desde a festa.

Seu rosto tentava esconder os sentimentos e as lembranças.

_por que você não consegue falar comigo? – insistiu ele.

Ela olhou para ele com ressentimentos profundos, orgulho ferido e muita raiva visível em seus olhos frios.

-Seria como falar com o chão – disse ela. – Se você está aqui, é porque quer alguma coisa. Então o que é?

Sua expressão dizia muito.

-Por que acha que quero algo?

-Luna me convida para cozinhar e limpar se Jessie não está disponível, ou se ela está doente e precisa de cuidados. Você, se precisa de assessoria em computadores. Nenhum de vocês se aproxima de mim quando não precisam.

A respiração dele empacou.

-Hermione, não é assim!

Ela olhou para ele firme.

-É sim. Sempre foi. Não estou reclamando – acrescentou ela imediatamente. – Devo muito a você e Luna, mais do que poderei retribuir em toda a minha vida. Sei que algo precisa ser feito, não tem problema. Diga-me o que precisa.

Piscou com uma expressão dolorida. Era verdade. Ele e Luna a tinham usado desavergonhadamente, odiou perceber que tinham sido tão óbvios.

-É tarde para culpa – ela acrescentou sorrindo. – Além do mais, isso não faz o seu tipo. Vamos lá. O que é?

-Eu te disse que estamos seguindo a pista de uma conexão com o cartel das drogas.

Ela assentiu com a cabeça.

-Na sua empresa – acrescentou ele.

-Você disse que eu não podia ajudar – lembrou-lhe.

-Bem, eu estava errado. Na verdade, você é a única que pode me ajudar com isso.

Algumas semanas atrás, ela teria zombado de usar um distintivo ou uma arma. Agora apenas esperava pelas respostas. Os dias de provocação amigáveis tinham passado havia muito tempo.

-Quero que finja que temos um relacionamento – disse ele. – Para eu poder visitá-la freqüentemente.

Ela não reagiu, sentia orgulho de si.

Sua sobrancelha fez um movimento brusco.

-Você está certa. Estou te usando. Mas é a única maneira que consigo encontrar para vigiar. Não posso ficar passeando com Jasper, pois as pessoas vão pensar que estou a fim dele!

Aquela idéia provocou um leve sorriso.

-A esposa dele não iria gostar.

Ele deu de ombros.

-Vai fazer isso?

Ela hesitou.

Ele esperava isso. Puxou uma fotografia e passou para ela.

Ela a pegou. Dois meninos, de cinco ou seis anos, largos sorrisos, cabelo negro liso e espesso, olhos pretos e pele morena. Pareciam latinos. Ela olhou novamente para Harry pedindo esclarecimento.

-A mãe deles cansou-se de ter usuários de drogas no bairro. Eles se encontravam numa casa abandonada ao lado. Havia discussões freqüentes, tiros, ambição, traição e muito movimento – disse imprudentemente. – Mama Garcia ficou de olhou no que estava acontecendo, e manteve a polícia informada. Cometeu o erro fatal de dizer ao seu vizinho pouco assíduo que seus dias no bairro estava contados. Ele contou ao seu fornecedor. Miguel e Juan foram atingidos quase vinte vezes com tiros de arma automática. Morreram numa troca de tiros, junto com o traficante. A mãe deles foi ferida e provavelmente não andará mais.

Ela estremeceu ao olhar a fotografia dos dois menininhos, tão felizes e sorridentes. Os dois estavam mortos, por causa de drogas.

Ele percebeu seu desconforto.

-O distribuidor local que estou procurando encomendou o crime. Ele trabalha neste prédio, nesta empresa e nesta divisão. – ele inclinou-se para a frente, e ela nunca o vira com uma aparência tão ameaçadora. – Vou agarrá-lo. Então, lhe pedirei mais uma vez, Hermione. Vai me ajudar?



Obs:Ai está o capitulo 4 pessoal!!!!!Espero que gostem!!!!Desculpem a minha demora, mas como sabem eu estava doente!!!Próxima atualização em breve....Bjux!!!!!

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