Capítulo 4



”Put under the presurre of walking in your shoes”



Enquanto Draco se contorcia sem conseguir definir se a dor era física ou psicológica, Snape escutou Rabicho se movimentar no chão encardido da cozinha. Rumou para lá e não deu tempo ao bruxo para que ele entendesse o que acontecia. Murmurou alguns feitiços que Draco não fez questão de entender e ordenou que Rabicho fosse para a cama e só se levantasse no dia seguinte. O homem rato temia Snape e não ousou desobedecê-lo debaixo de seu teto. Enquanto isso, os joelhos de Draco cederam e ele se deixou deitar no chão frio da sala. A lareira não era suficiente para aquecer o piso de cimento batido, assim como o fogo não trazia alento ao coração confuso do jovem. Encostou a bochecha no chão e deixou a mente descansar, a dor se afastando lentamente e dando lugar à figura de sua mãe, brilhando da maneira mais bela que ele era capaz de se lembrar em seus pensamentos.

Os Malfoy resolveram dar uma grande festa para comemorar os vinte anos de casamento de Narcisa e Lúcio. Draco tinha quase 13 anos e estava muito feliz. Acabara de ser nomeado o novo apanhador do time de Quadribol da Sonserina, depois que seu pai presenteou todo o time com as novas vassouras Nimbus 2000. Era o que havia de mais moderno em matéria de vassouras para a prática de Quadribol: velozes, aerodinâmicas e fáceis de controlar. O garoto escolheu pessoalmente os modelos e fez o elfo doméstico da família naquela época, Dobby, limpar e lustrar os cabos, aparar as cerdas e reforçar os feitiços antiqueda. Uma semana antes da festa para a qual ele recebeu autorização de deixar o Castelo, a Sonserina conseguiu um treino extra no campo de quadribol, autorizado pelo professor de Poções e diretor da Casa, Severo Snape. O prazer de Draco foi ver o time da Grifinória ser impedido de treinar. Mas o que causou ainda mais deleite ao jovem sonserino foi xingar Hermione Granger de sangue-ruim. Ninguém mandou ela se meter em assuntos nos quais não era chamada. O pobretão do Weasley tentou enfeitiçá-lo para punir o insulto, mas a ridícula família traidora do sangue não tinha dinheiro nem para manter o filho com uma varinha decente. A azaração voltou para o Weasley e ele passou a vomitar lesmas, sendo carregado pelos amigos para a cabana de Hagrid. O treino da Sonserina se tornou muito mais divertido depois do acontecimento, gerando vários comentários preconceituosos em relação aos grifinórios.

Draco voltou para casa no fim de semana para participar das comemorações dos pais. Contra a sua vontade, foi escoltado pelo mestiço Hagrid até Hogsmead, onde embarcou num trem de passageiros comuns. Quando chegou à Estação de Kings Cross, nem mesmo a mãe o esperava por lá, mas sim o elfo Dobby, que carregou suas bagagens e acompanhou-o até a Rede-de-Flu para que pudessem seguir para a Mansão Malfoy. De maneira educada, o elfo questionou como seu senhor estava em Hogwarts. Draco respondeu de mau humor. Dobby insistiu e acabou falando sobre o senhor Potter. O jovem loiro deu-lhe uma bordoada na cabeça e mandou que se calasse, percorrendo o resto do caminho que levava à sua casa em silêncio.

A festa foi entendiante pela falta de jovens da mesma idade que Draco para que ele pudesse hostilizar. Mas, a uma certa altura da noite, o pai decidiu que era a hora de introduzir o filho na roda de adultos. Draco descobriu, então, que todos eram partidários das Trevas e que lamentavam a derrota de Voldemort. Mas muitos diziam que ele iria se reerguer, e que apenas os fortes e realmente fiéis seriam novamente aceitos em suas fileiras. Os outros seriam, aos poucos, eliminados como incômodas baratas. Draco não sabia onde estava a força daqueles homens, fumando charutos e enchendo a cara de bebidas enquanto o Lorde deveria estar perdido por aí. Alguns dos amigos de seu pai trabalhavam no próprio Ministério da Magia. Apesar de ter nascido numa casa onde as Artes das Trevas eram constantemente enaltecidas e estimuladas, Draco ainda não sabia tantos feitiços e não tinha tanto conhecimento da história bruxa quanto seu pai gostaria de exibir aos amigos. Por causa disso, ele foi repreendido por Lúcio durante um bom tempo da conversa. Narcisa, percebendo o olhar apreensivo e cansado do filho, disse que já estava tarde e que era o momento de criança estar na cama. Os convidados compreenderam perfeitamente e voltaram a conversar animados. Apesar de estar sendo hostilizado, Draco queria continuar ali e lançou seu olhar de desagrado para a mãe. Mas este olhar não foi pior do que aquele que Narcisa viu nos olhos do marido, evidenciando reprovação.

Draco foi para seu quarto, mas não conseguiu pegar no sono. Quando percebeu que os barulhos da festa tinham cessado e os pais haviam se recolhido, rumou pé ante pé até a porta entreaberta da suíte do casal. Lá dentro as vozes estavam alteradas, a do pai muito mais pela presença do excesso de uísque de fogo correndo nas veias junto ao sangue nobre dos Malfoy:

- ... que Draco deveria ter ficado na sala comigo! – Lúcio gritava, os olhos crispados de fúria. – Seu filho ainda tem muito o que aprender para se tornar um verdadeiro membro da elite Malfoy.

- Talvez ele esteja certo em não querer aprender e ser como o pai, um homem frio e preocupado apenas com suas tão amadas Artes das Trevas, que...

Narcisa não continuou a frase. A mão pesada de Lúcio desceu sobre o rosto bonito e ainda meticulosamente maquiado da esposa. Imediatamente o sangue brotou, quente, produzindo uma pequena gota vermelha no lábio inferior, que poderia ser facilmente confundida com um dos batons que Narcisa costumava usar. Os olhos azuis da mulher se tornaram quase fendas quando ela franziu a testa, adquirindo um tom ainda mais vívido. Sem desviar do rosto impassível de Lúcio, ela colocou a língua para fora de maneira delicada e lambeu o ferimento. Então, virou-se e rumou para fora do quarto, decidida. Draco não teve tempo de se esconder, mas não foi repreendido. A mãe apenas o encarou e depois deixou cair os cabelos sobre a face, embora a cabeça estivesse levantada e a pose continuasse altiva. A mulher se trancou no quarto de hóspedes no fim do corredor e passou a noite lá. Lúcio tentou segui-la, esmurrou a porta, mas só recebeu como resposta o silêncio opressor que enchia a casa. Ao voltar para seus aposentos, notou a presença do filho parado diante da porta, o olhar crispado de raiva mas sem coragem para protestar. Como seu pai se atrevia a tocar e macular a figura de sua mãe? Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Lúcio encarou o filho com um olhar de desprezo e trancou a porta, indicando claramente que não havia porque gastar suas palavras com ele.

Draco só percebeu que o pai havia deixado os sapatos para fora do quarto porque tropeçou neles ao voltar para a cama.


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