A batalha interior

NA TOCA

Gina sai do banho e prepara-se para servir o jantar aos gêmeos. Mais um dia e nem notícias do Harry... Se eu não o amasse tanto acho que o odiaria! O que ele pensa que eu sou? Será que ela a essa altura do campeonato ainda me vê como a menininha que precisa ser protegida? Ele poderia ter me contado, eu entenderia...

Gina tenta se controlar para não deixar transparecer sua frustração para as crianças. Ela coloca os pratos na frente de seus filhos e senta-se à mesa com eles. Mas Camy não está comendo, a menina simplesmente brinca com a comida.

Gina – O que foi? Você adora essa torta... (ela pergunta preocupada)

Camy olha pra ela e abaixa os olhos novamente. Seu semblante é triste.

Gina senta-se ao lado dela – O que foi meu bem? Você está sentindo alguma coisa? (a ruiva pergunta enquanto coloca a mão na testa da menina, medindo a temperatura)

Camy – Meu pai... Ele vai voltar, não vai? (a menina pergunta relutante)

Gina sente seu coração doer ao notar a tristeza na voz da filha – Vai sim, meu bem... Ele só foi tentar recuperar a memória dele

Mas Camy não parece muito convencida – E por que a gente não foi com ele? Teria sido divertido. Como foi lá em Hogwarts...

Gina sorri – Você está se esquecendo que tem aula né mocinha, como a gente poderia ir? (ela dá um beijo na cabeça da filha) Agora coma

Camy esboça um sorriso e começa a comer sem muita vontade. Andy, no entanto observa a tudo com ar inquisidor. Gina olha para o filho e pensa. Espero que ele não pergunte nada...

Antes que o garoto fale alguma coisa ela ouve um barulho na lareira – Vocês ficam! (Ela fala para os gêmeos enquanto se dirige apressadamente à sala, no fundo de seu coração a esperança de ser alguma notícia de Harry).

No entanto, o que ela vê é a imagem da cunhada surgir – Finalmente alguém resolveu me dar uma satisfação (fala de forma mais ríspida do que pretendia) será que o menino que sobreviveu não poderia se dar ao luxo de vir pessoalmente?

Hermione interrompe– Depois vocês conversam sobre isso. Agora é melhor você vir comigo

Gina olha a fisionomia preocupada da amiga e sente o chão fugir dos seus pés...

XXXXX

NO ST MUNGUS

Gina chega apressada, seu coração está aos pulos, é como se seu pior pesadelo se tornasse realidade. O que será que aconteceu? Pensa. Será que ele perdeu a memória novamente? Não! Isso não! Eu não suportaria... Ela se assusta ainda mais ao ver Harry deitado no leito. Com o semblante extremamente pálido e a respiração fraca

O que aconteceu? – Gina consegue a custo perguntar, ela usa todo o seu autocontrole para não deixa o tremor transparecer na sua voz

Hermione – Não sabemos. Ele entrou sozinho na casa que foi dos pais. Ficou lá dentro um tempão, quando fomos procurá-lo ele estava assim e não conseguirmos acordá-lo por nada (a morena também está bastante apreensiva, Gina pode ver que ela está se esforçando para não chorar)

Gina passa a mão na face do moreno. Ela assusta-se ao perceber que ele está gelado. Parece morto... Ela tenta afastar esse pensamento, mas não contém as lágrimas.

Hermione a abraça – Não fique assim. Os medi-bruxos estão fazendo o possível.

Gina fala entre soluços – E se o possível não for suficiente?

Gina não sabe o quanto ela tem razão. Harry, mesmo desacordado, está lutando uma batalha maior que a batalha contra Voldemort. A batalha contra ele mesmo...

Na mente do menino que sobreviveu as vozes não param, as mesmas vozes que ele ouviu há sete anos atrás. "Sua culpa Harry! Todas aquelas mortes... SUA CULPA! Como se não bastasse seu pais, Dumbledore, Sirius, Cedrico... Você ainda deixou uma aldeia inteira ser dizimada. Eles pediam socorro e você não os ajudou. E agora? Quem mais vai morrer por sua causa?"

NÃO! Eu não posso deixar! Melhor seria se eu desaparecesse! O grito sai do fundo da sua alma

Gina olha assustada pra Harry. Ela ouviu seu grito. Todos naquele quarto ouviram...

Hermione – Ele está assim desde que chegamos... Num primeiro momento totalmente inconsciente e depois... Isso. Grita como se estivesse sendo torturado. É como se ele estivesse passando por algo terrível. Eu já vi isso em algum lugar (ela fica pensativa e fala consigo mesma)

Rony (irônico) – Num livro talvez?

Hermione olha para o ruivo furiosa e ele não fala mais nada.

O clima está pesado, o casal está com os ânimos exaltados e Gina... Bem, a ruiva olha para Harry e teme pelo pior quando o medi-bruxo chega com as últimas notícias

Gina olha para o medi-bruxo incapaz de perguntar qualquer coisa. Hermione segura a mão da ruiva e Rony arma-se de coragem e faz a pergunta que todos temem – Como ele está?

O semblante do medi-bruxo está sério – Fisicamente está se recuperando. (ele fala enquanto o examina) Mas não temos idéia do que aconteceu com sua mente

Hermione – Será que ele perdeu a memória de novo?

Medi-bruxo – Só temos como saber quando ele acordar... Se ele acordar

Gina novamente não contem as lágrimas e chora abraçada a Hermione – Se ele não acordar... O que vou falar pra Andy e Camy? (ela soluça) Eles não merecem passar por isso...

Hermione apenas abraça Gina sem saber o que falar, mas algo em sua mente diz que ela já viu alguma coisa parecida... Em um livro, é lógico!

XXXXX

Os dias passam, transformam-se em semanas e nada de Harry acordar... Gina divide seu tempo entre o hospital e os cuidados com os filhos. Ela precisou reunir toda sua força para contar a eles, foi uma das coisas mais difíceis que a ruiva fez na vida. A reação de cada um dos gêmeos foi diferente, Camy chorou muito e Andy... Andy apenas olhou pra ela e ficou em silêncio.

Gina tentou ao máximo adiar a visita deles ao St Mungus. Mas todos os dias Camy pedia para ver o pai e ela acabou percebendo que seria uma crueldade não deixar. Até porque ninguém sabe quando ele vai acordar... Se é que vai. Ela não pode evitar o pensamento mórbido

Finalmente o dia chegou e Gina leva os filhos para verem o pai. Ela olha para o prédio, aperta a mão de suas crianças e sobe as escadas. Eles param na porta do quarto onde Harry está. Gina se agacha para ficar do tamanho dos filhos – Vocês lembram do que eu disse? (Ela pergunta)

Andy – O papai está apenas dormindo

Camy completa – E não é pra gente se assustar (ela abaixa os olhos) será que eu posso pelo menos dar um beijo nele?

Gina enxuga uma lágrima discretamente – Claro querida

A ruiva abraça os pequenos e fica abraçada a eles por um momento como se estivesse buscando coragem para ir adiante. Finalmente eles entram no quarto, os pequenos olham Harry Potter adormecido no leito. Camy se aproxima vagarosamente e Andy fica na porta olhando. A menina passa a mão na face do pai. Andy olha Harry e fala – Ele está sofrendo... Está com medo.

Gina olha para o filho. Aquilo não foi uma pergunta, Andy afirmou categoricamente. É como se o menino soubesse exatamente o que se passa com o pai. – Ele só está dormindo, filho... (ela ainda tenta argumentar)

Mas Andy olha para o pai e afirma mais categoricamente ainda – Não... Ele está sofrendo. (o menino fala com convicção)

O garoto se aproxima lentamente do pai. À medida que vai chegando mais perto seu semblante vai se tornando mais duro, é como se ele estivesse sentindo as mesmas sensações que Harry.

Ele segura a mão do pai e seus olhos se enchem de lágrimas. O menino tenta falar alguma coisa mas não consegue, Harry balbucia palavras sem nexo e se mexe incessantemente. O medi-bruxo chega. – É melhor vocês saírem agora. Ele está começando a ficar agitado. Seus filhos vão se assustar.

Eu volto daqui a pouco – É só o que a ruiva consegue balbuciar.

Gina deixa as crianças em casa. Ela coloca os dois na cama e espera que durmam o que ocorre não sem nenhuma dificuldade. A ruiva permanece alguns minutos olhando para os filhos, depois, vai para seu quarto e chora como há muito tempo não fazia...

XXXXX

Dois dias depois, no hospital

Harry permanece inconsciente. No entanto, sua mente trabalha furiosamente. Ele frequentemente vê a imagem de Voldemort sorrindo e falando: "Mesmo perdendo eu ganhei! Você vai acabar com todos Harry. Você não pode salva-los. A sua simples presença é um risco para todos aqueles a quem você ama"

Não. Harry fala consigo mesmo. Eu tenho que evitar. Tenho que partir. Minha culpa... Não! Ninguém mais vai perder a vida por minha causa!

Ele acorda sobressaltado...

No mesmo instante, na toca, Gina deixa um prato cair...

Ela se despede da mãe apressadamente e vai para o hospital. A ruiva aparata na frente do prédio e sobe correndo sem falar com ninguém. Gina pressente que algo aconteceu, ela não sabe como, mas ela sabe que algo está errado. O aperto em seu coração não deixa dúvidas a respeito disso e esse aperto aumenta quando ela abre a porta do quarto onde Harry Potter está

Harry está no quarto, mas não está na cama. Ele olha para a janela, é evidente o sofrimento em seus olhos

A ruiva aproxima-se lentamente. Eu o estou perdendo... Estou perdendo o Harry novamente. A ruiva não sabe explicar como, mas ela sente isso no fundo de seu coração

Como se estivesse sentindo a presença dela. Harry se vira.

Eles se olham. Gina pode ver o amor e o desespero nos olhos dele. É como se ele tivesse perdido algo. Pensa.

Eles se abraçam. Nenhum dos dois fala nada, os corações batendo apressadamente.

Harry segura o rosto de Gina com ambas as mãos e a beija. Como se fosse a primeira e a última vez...

Gina sente seu coração apertado ele está se afastando pensa.

Harry olha pra ela. As palavras não saem – Eu...

Gina deixa escapar uma lágrima – Você está partindo... (não é uma pergunta, ela sente isso no fundo do seu coração)

Harry – Eu preciso... Preciso ter certeza que minha presença não é um risco pra ninguém... (ele fala sem olhar nos olhos de Gina)

Gina – E foi por isso que você sumiu, que você perdeu a memória...

Harry – Eu devo ter feito algum feitiço involuntário... Ou Voldemort fez, não sei dizer. Mas eu queria evitar perder os eu amo... E ainda quero

Gina – Você não vai nos perder.

Harry – Sim eu vou! E nada pode mudar isso. Pode não ser hoje nem amanhã, mas se eu não partir algo terrível vai acabar acontecendo a vocês. Por minha causa...

Gina – Você não vai parar nunca não é? Sempre a víitima! O coitadinho! Será que não percebeu em todos esses anos que era muito mais fácil os outros perderem você que o contrário? Que você correu mais perigo que todos nós juntos? (ela se controla para não gritar, mas não consegue conter as lágrimas que descem) e que a única coisa que me manteve viva foi a esperança de encontrá-lo?

Harry olha pra Gina sem saber o que dizer – Eu não sei... Se acontecesse algo com você ou com as crianças por minha causa eu não me perdoaria... Eu... Preciso de um tempo. Até ter certeza que eu realmente não sou uma ameaça. Mas quero que você saiba... Eu te amo. Aconteça o que acontecer, eu te amo...

Gina – Você vai falar com os meninos? (ela pergunta fazendo força para não romper em lágrimas novamente)

Harry – Não... Eu não conseguiria. Diga a eles que estou colocando minha cabeça em ordem... E que eu os amo também.

Gina olha para a janela ela não quer ver Harry partir...

Antes que ele saia Gina tira algo da bolsa. Um pequeno livro. – Quando você estava desaparecido uma das coisas que mais me angustiava era você não ver seus filhos crescerem. Então a Mione me sugeriu que eu escrevesse. Assim você saberia... (entrega o livro pra ele) é seu...

Harry sai. Gina sente como se tivessem arrancado um pedaço de seu coração, ela só se lembra de uma vez em sua vida ter sentido algo semelhante, quando lhe contaram que Harry havia desaparecido. A ruiva sente seu peito pesar, a pressão é tão forte que suas pernas não mais a sustentam e ela encosta-se na parede e vai escorregando lentamente. As lágrimas caem em profusão e agora ela soluça convulsivamente dando vazão a toda a sua dor. E lá ela fica, encostada a uma parede num quarto frio de hospital, até secarem as lágrimas, até que toda a sua força seja exaurida e ela tenha que escolher entre soluçar e respirar...

Ela não sabe dizer quanto tempo ficou naquele quarto de hospital. Só voltou a realidade quando sentiu a mão de Hermione sobre seu ombro.

Ela se vira lentamente. Hermione percebe na hora que algo aconteceu. Gina fala com as poucas forças que lhe restam – Ele partiu...

Rony (exaltado) – O QUE? Quer dizer que depois de tudo ele simplesmente vai embora? Como ele pode fazer isso? Eu vou atrás dele...

Gina – Não... Deve ter acontecido algo terrível naquela casa, algo que o atingiu profundamente, que colocou pra fora os piores medos dele, ele acha que se ficar algo vai acontecer comigo... Que ele é culpado de todas as mortes que aconteceram e será culpado por tudo que acontecer a mim ou aos filhos (ela enxuga as lágrimas que começam a descer novamente) eu tentei mostrar pra ele que isso não iria acontecer, mas não adiantou... É como se ele estivesse obcecado... Ou enfeitiçado

Hermione – Eu preciso me lembrar onde foi que eu vi algo assim...

Rony interrompe – Quando é que você vai perceber que não vai achar tudo nos livros!

Antes que Hermione possa responder Gina grita – PAREM VOCÊS DOIS! Vocês não percebem? Ele partiu... E não há nada que a gente possa fazer! (as lágrimas descem)

Hermione a abraça e não fala nada. Sua mente trabalha furiosamente Eu já vi isso. Tenho que me lembrar...

Então ela se solta de Gina. Olha nos olhos da ruiva – Eu quero que me prometa que você vai ser forte... Tão forte como foi quando ele desapareceu e todos achávamos que ele estava morto. Ele foi enfeitiçado...

Gina – Você tem certeza?

Hermione – Tenho... Só tenho que descobrir os detalhes (Vira-se pra Rony) avise ao ministério que eu preciso viajar

Rony – Aonde você vai?

Hermione lança um sorriso sarcástico ao ruivo – Mostrar pra você que se pode achar quase tudo nos livros. (vira-se pra Gina) você vai pra casa agora... Assim que puder eu dou notícias.

Gina emite um sorriso fraco e balança a cabeça afirmativamente. A morena abraça a ruiva, dá um selinho no marido e aparata sem maiores explicações...

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