Invasão
Invasão
Sirius dormia calmamente em seu dormitório. Não tinha nada com que se preocupar. Bom, quase nada. Era seu último ano na escola de magia e bruxaria de Hogwarts e os exames deixavam muitos alunos ‘traumatizados’, digamos assim. Mas para Sirius, eram apenas mais provas para fazer, nada muito incomum.
“Voava em sua Firebolt a muitos metros do chão. O vento bagunçava seus cabelos, ele era o melhor. Tinha ganho até mesmo de James Potter, considerado o melhor apanhador de toda Hogwarts. Ele fazia voltas e mais voltas, piruetas, ninguém podia contê-lo. Nada ficava em seu caminho. Ele era simplesmente o melhor.”
- Sirius! – Dizia James aos ouvidos de Sirius num sussurro. O outro estava dormindo a sono solto, o que dificultava muito acordá-lo. Era por volta das duas horas da manhã. – Sirius, acorda, cara!
- Hum... Hã? Ah, mais cinco minutinhos, monstro... – Dizia debilmente, sem abrir os olhos, enquanto envolvia o travesseiro num abraço.
- Sirius, sou eu, James! Acorda! – Disse aumentando o tom. Sirius abrira os olhos vagarosamente, as imagens à sua frente formando-se distantes.
- James, o que faz aqui? Que horas... Que horas são? – Disse num bocejo.
- Ah, eu não acredito que você esqueceu! São duas horas da manhã, agora levante! Nós temos que pôr em prática o plano! – Respondeu James, arrastando um Sirius sonolento para fora da cama, derrubando os lençóis de cima da mesma. – Vista-se logo! Eu vou chamar o Aluado.
- Por que... Por que você me chama de Sirius e chama-o de Aluado? – Perguntou Sirius, ainda sem dar-se conta do que estava acontecendo. Estivera sentado no chão, ainda agarrado ao travesseiro.
- Ah, é porque o nome dele é estranho... Ei, não é hora de discutirmos isso! Vai, Sirius! Troque-se! – E partiu para uma cama mais ao canto. Ao afastar as cortinas, deparou-se com Remus, terminando de abotoar as calças. Este último ficara um pouco corado quando o outro passou pelas cortinas.
- Se não conhecesse você, James, diria que esta é uma situação constrangedora. – Comentou.
- Ah, deixe disso. Pelo menos alguém se lembrou de acordar. – E disse a última frase mais alto que o necessário, afim de que Sirius ouvisse.
- Ta, já entendi o recado. – Bufou Sirius. Ele virou-se para sua cama e puxou a mala que ficava embaixo da mesma. Abriu-a e começou a atirar todas as porcarias que guardava lá. Enfim, bem no fundo da mala, achou o uniforme limpo e vestiu depressa. Colocou também no bolso um lindo lenço bordado nas cores vermelho e dourado. Estivera resfriado nos últimos dias, desde então, levava sempre o lenço consigo, que fora feito por uma garota que ele não conhecia. Em poucos minutos, já estava pronto.
- Até que enfim! – Comentou James. – Eu pensei que jamais sairíamos daqui ainda hoje!
- Ah, cala a boca James e vamos logo, vai! Assim eu ainda terei tempo de dormir mais um pouco. – Retrucou Sirius um tantinho mal humorado por ter de acordar tão cedo.
Os três atravessaram o dormitório com cuidado, abrindo a porta vagarosamente. Antes de descerem as escadas, deram uma boa olhada no Salão Comunal da Grifinória, para ver se havia alguém que pudesse delatá-los. Feito isso, não hesitaram em descer os degraus de uma vez só. Adiantaram-se às costas do quadro da mulher gorda, passando por ele em segundos.
Feito isso, entreolharam-se marotos.
- Pois bem, pessoal, o tema da traquinagem de hoje tem quatro sílabas! Eu pago uma cerveja amanteigada em Hogsmeade para quem adivinhar qual é!
- Hum... Deixe-me ver... Será que não é o mesmo tema de sempre? – Indagou Remus, sarcástico.
- É muito óbvio: Son-se-ri-na! – Disse Sirius, para logo depois sorrir. – E dessa vez eles vão se dar mal.
- Sirius, eu estou tão orgulhoso de você! – Brincava James. – Aprendeu a soletrar!
- É melhor calarem a boca para irmos logo, ou vamos ter de testar a capacidade de soletrar a palavra ‘detenção’ quando o zelador nos pegar! – Alertou Remus.
- É, tem razão. Nada de brincadeiras pelos próximos cinco minutos. – Concluiu James.
- Ah, não! Como vou agüentar? – Indagou Sirius, um segundo depois dos três saírem correndo pela escadaria abaixo. Rumavam ao Salão Comunal da Sonserina.
***//***
Severus Snape, um aluno de último ano da casa de Sonserina, dormia tranqüilamente. Fazia um bocado de dias que não conseguia dormia. Sofria de insônias freqüentes. Agora ele conseguia sonhar. Era difícil aquele ser sonhar. Normalmente eram pesadelos envolvendo humilhação e desgosto causados pelos Marotos, um grupo de garotos da Grifinória. Mas ele não estava pensando no quanto sofrera, e sim no quanto faria-os sofrer em vingança.
“Ele estava primeiro frente a frente a Pedro Pettigrew. Ele era, com certeza, o mais vulnerável dos quatro. Severus sabia como acertá-lo. Qualquer coisa amedrontaria-o, então o rapaz ameaçaria-o. Ele contaria para seus tolos amigos, levando-os até Snape. Frente a frente a Remus, ele derrubaria-o contando, espalhando por Hogwarts seu terrível segredo. Sim, Severus descobrira recentemente que o jovem sofria de uma espécie de maldição. Ele era um lobisomem. O próximo da lista seria o desprezível Sirius Black. Esse era o mais impertinente. Ele destruiria-o com o simples fato de espalhar um boato que teria fundamento, diria que o garoto é gay. Sirius jamais tivera um relacionamento com uma garota que tivesse durado mais de três dias. Por uma razão desconhecida. Assim, ele espalharia isso e tentaria derrubar o rapaz. O último, mais irritante e mais deprimente deles seria James Potter. Esse sim era o pior de todos. O senhor perfeição, que era o ‘melhor apanhador de toda Hogwarts’, que”. humilhara-o e vencera-o centenas de dezenas de vezes. Sim, ele teria de pensar em algo para acabar com aquele ser, mas o que? Ele fora derrotado tantas vezes por James... Ah, mas ele via uma solução: Matá-lo. Sim, ele mataria-o. Não sabia quando nem como, mas mataria-o”
Nos lábios de Snape nasceu um largo sorriso.
***//***
James, Remus e Sirius estavam parados defronte à porta do Salão Comunal da Sonserina. Remus vasculhava o bolso a procura de um papel onde estaria anotada a senha do Salão.
- Vá logo, Remus! O zelador pode aparecer a qualquer segundo! – Dizia James. Se o zelador aparecesse por ali, não teria onde eles se esconderem nem o que dizer. Restaria-lhes pegar, no mínimo, uma semana de detenção.
- Achei! – Avisou o rapaz, enquanto tirava do bolso um pedaço de papel cuidadosamente dobrado. Abriu-o num instante. – Sammael. – Leu.
A porta abriu-se, deixando à mostra um corredor muito úmido, com paredes de pedras irregulares.
- Sammael? Que nome estranho... – Comentou Sirius num sussurro, enquanto entravam no ‘covil’. Andavam cautelosos. Sabiam como eram os sonserinos. Faziam jus a seus nomes, tendo até mesmo sangue réptil. Enquanto passavam pelo canto mais escuro do Salão Comunal, ouviam alguém falando.
- Sim, eu acho isso sim. – Dizia uma voz feminina vinda de uma sala lateral do Salão.
- James, você acha que...?
- Sim, Remus, eu acho que é a prima do Sirius, sim.
- Bellatrix? – Indagou Sirius incrédulo, num tom de voz descuidadamente normal. – Não creio!
- Quieto! – Advertiu-o James.
- Você ouviu isso? – Puderam ouvir outra voz, agora de um rapaz. – Vem do Salão.
Os três marotos ouviram passos e a porta da sala lateral escancarou-se. A luz iluminava parte do Salão, mas para sua felicidade, não chegava até onde estavam. Puderam ver o contorno do jovem à porta e puderam dizer sem nenhuma dificuldade que era Lucius Malfoy.
- Quem está aí? – Perguntou. Os três prenderam a respiração. Não queriam ser descobertos dentro do Salão da Sonserina, do contrário, levariam por volta de um mês de detenção. – Responda!
- Lucius, tem certeza de que há alguém aí? – Indagou uma garota que apareceu pela porta também. Era mesmo Bellatrix Black, a prima de alguns graus de Sirius. – Eu não ouvi nada!
“Ouça-a! Ouça-a!”, pensava Sirius. Já podia sentir o coração bater rápido. Se fossem pegos, não poderiam aplicar-lhes a brincadeira, e isto não teria graça.
- Lucius, esqueça. – Disse uma voz fria e firme vindo do fundo da sala lateral. – Não tem importância.
- Ta bem. – Concluiu Lucius, um tanto surpreso. Ele deu uma última olhada no Salão para depois voltar-se e entrar na sala, fechando a porta atrás de si. Tudo voltou a ficar escuro.
- Essa foi por pouquíssimo mesmo! – Disse James, enfatizando o ‘e’. – Agora vamos logo, antes que sejamos interrompidos novamente! – E ao dizer isto, ele atravessou o Salão, parando no meio, defronte a uma das paredes, onde estivera escrito ‘sonserina’. – Vamos começar, pessoal. Remus, pegue o script da nossa traquinagem.
Dito e feito, Remus tirou um outro papel dos bolsos e entregou-o a James.
- Ta bem, de acordo com o script, eu e Remus ficamos aqui e... Mostramos a arte de verdade que este Salão precisa. E o Sirius... – Dizia James, mas fora interrompido.
- Vai até o quarto do Seboso e tinge o uniforme dele de rosa. – Disse Sirius.
- Não, Sirius. Não é isso! – Advertiu James. – Você NÃO vai fazer nada ao Snape... Hoje.
- Ah, isso é injusto! – Disse o outro, em protesto. – Não vale, não vale, não vale, não vale, não vale, não vale, não vale, não vale, não vale,...
- Ta bem! Mas faça alguma coisa mais legal. Isso de tingir roupas é tão... Quinto ano! – Cedeu James. Sirius quase abraçou-o de tanta felicidade. Ele O-DI-A-VA Snape, completamente, de inteiro, desde a ponta do dedão até o último fio de cabelo sujo do sonserino irritavam-no.
- Er... Alguém sabe qual o número do quarto do Seboso? – Perguntou.
- É... Trinta e oito, se não me engano. – Informou Remus.
- Valeu, cara! – Agradeceu, antes de sair correndo até as escadas e subir os degraus, em rumo ao quarto de número trinta e oito.
- Vamos lá, Aluado! Temos muito que fazer! – Disse James.
***//***
Sirius andava cautelosamente pelo corredor, olhando os números lascados gravados nas portas, a varinha em punho, iluminando o caminho com o feitiço lumus. Notou que muitas das portas tinham marcas de aranhões e manchas. Era completamente diferente da Grifinória. Conforme andava, tinha de desviar de goteiras. O mofo e a umidade no local eram predominantes.
Finalmente, parara defronte à porta de número trinta e oito. O número estava quase ilegível, mas como o anterior fora trinta e sete e terminaram as portas, só poderia ser ali.
- Nox! – Disse. “Se eu ficasse num lugar escuro como a Sonserina e sentisse luminosidade, acordaria de imediato. É melhor não fazer feio, Sirius, ou seus amigos vão ‘cair em cima’!”, pensou o rapaz.
Ele empurrou a porta vagarosamente, abrindo-a aos poucos. O ambiente dentro do quarto estava muito escuro. Não havia luminosidade qualquer no local. As masmorras ficavam abaixo do solo, sendo que não tinha como entrar sol ou calor em demasia no Salão. Com a mesma cautela, fechou a porta atrás de si. Ele pousou a mão sobre a ponta da varinha e murmurou lumus, a fim de que a luz fosse abafada, não agredindo muito o escuro do quarto.
Feito isto, ele pôde ver com clareza o jovem Severus Snape deitado em sua cama. Era estranho, mas não havia mais cama alguma no recinto. Snape estava deitado de bruços, a cabeça escondida debaixo do travesseiro, as cobertas emboladas em volta de si.
- Que coisa... Nunca imaginei que fosse assim que os répteis dormiam. – Comentou Sirius para si. Snape remexeu-se na cama. Parecia ter ouvido o comentário tolo do garoto. Ele puxou o travesseiro de cima da cabeça e levou-o próximo ao peito, deitando de lado, a mão esquerda segurando-o, a direita descuidadamente deixada por debaixo do rosto.
- Dorme como um anjinho... Eta coisa demoníaca! – Disse Sirius, falando mais alto que o necessário.
- James... – Murmurou Snape, quase inaudível. Sirius espantara-se. “James? O que tem James?”, pensou o garoto. Aproximara-se do rapaz, agachando-se ao lado da face do mesmo, para poder ouvi-lo. – James... Você vai acabar... Mal. – Snape disse pausadamente e entre dentes. Suas sobrancelhas curvaram-se, deixando-o aparentemente irritado. A boca abria e fechava-se, sem emitir som. De súbito, Snape parara de mover-se, seus lábios ficando semi-abertos, a face fora ficando sem expressão, os cabelos caindo sobre o rosto.
- Não acredito! Será que Snape vai mesmo fazer alguma coisa? – Dizia Sirius para si. – Ah, se eu pudesse, eu esmagava a cabeça dessa coisa agora mesmo! – Dizia, adiantando-se a Snape, levantando suas mãos, deixando-as a centímetros da face de Snape.
***//***
Remus e James estavam ainda na sala. James equilibrava Remus nos ombros, este último escrevia palavras sobre o emblema da Sonserina. Estava tudo muito quieto no recinto.
- Pronto, James. Terminei. – Disse Remus.
- Até que enfim, Aluado! Mais alguns segundos e eu terminaria derrubando você! – Anunciou James, mas dito e feito, James acabou derrubando Remus no chão. Sorte do garoto que não estava tão no alto quanto antes ao cair. – Ah, foi mal, cara. – Desculpou-se James, desconcertado, mas deu-se conta de outra coisa: - Ei, onde está o Sirius?
- Eu não sei. Acho que ainda está aprontando com Severus! – Respondeu Remus.
- Ah, não! Tinha de ser o Sirius! – Comentou James, ficando ligeiramente irritado. – Vamos ter de...
Ele fora interrompido pelo barulho da porta do Salão Comunal da Sonserina a ser aberta. Eles ouviram passos a aproximarem-se rápido. Sem pensar, atiraram-se atrás de poltronas próximas. O professor da casa entrou no Salão.
- Então entraram não-sonserinos aqui? Hum, eles estão bem encrencados. – Dizia o professor ao caminhar pelo lugar. – Mas... O que é isso? – Indagou ao ler o escrito sobre o emblema da Sonserina usando o lumus.
Sem hesitar, James e Remus começaram a arrastarem-se por trás das poltronas cuidando para não serem ouvidos. Ao chegarem na mais próxima à porta, desataram a correr.
- Ei, vocês! Voltem aqui! – Berrou o professor, mas era tarde demais, eles já tinham passado pela porta. – Que coisa! Isso terá de ser comunicado ao diretor... – Dizia o professor. Ele adiantou-se à sua sala, mas seus olhos pousaram-se em algo que estava junto ao chão. Ele agachou-se ao mesmo e pegou-o. Era uma folha de papel cuidadosamente dobrada. – Número um e dois devem escrever ‘Sejamos unidos como nunca mais, um na frente, o outro atrás’ sobre o emblema sonserino. Número três deve encarregar-se do ‘o aluno mais irritante de todo o universo’. – Ele leu. – Então quer dizer que um dos três moleques ainda está aqui? – O professor, que antes estivera disperso em pensamentos agora notara a luz vinda da fresta da sala lateral. – Mas... Que raios é isso? – Ele adiantou-se à porta e tentou abri-la, mas estava trancada. Murmurou alohomora. Esta abriu-se e ele escancarou-a de sopetão. Olhando à sua volta, pôde ver três sonserinos à olhá-lo de volta: Lucius Malfoy, Bellatrix Black e Tom Riddle.
- O que fazem aqui? – Perguntou o homem. Os três entreolharam-se.
- Professor, ouvimos um barulho vindo do Salão e andamos até ele. Vimos uma luz acesa dentro desta sala, então rumamos a ela. Chegando aqui, vimos que estava vazia. Foi quando ouvimos a porta ser fechada. Tentamos abri-la, mas estava trancada. Nenhum de nós trouxe a varinha, o que foi um tremendo descuido. Assim, ficamos trancados aqui. – Explicou Bellatrix, uma verdadeira tapeação, mas que funcionou.
- Hum, ta bem. Eu acredito. Mas já que estão acordados, terão de me ajuda. Há um intruso na Sonserina. Tome. – Ele entregou à garota o papel. – Quero que vocês achem-no e, feito isso, levem-no à minha sala.
- Sim, professor. – Disse a jovem. O homem virou-se e caminhou para fora da sala, sumindo na escuridão do Salão. – Ah, que saco! Isso não é justo! – Protestou.
- Há muitas coisas injustas, Bella. – Disse Tom, sem expressão, sua voz fria e firme sussurrando. – Assim é até melhor. Ter um daqueles marotos impertinentes em nossas mãos.
- Tem razão, milorde. Perdoe-me.
- Ei, isso é muito óbvio! – Disse Lucius, olhando o papel nas mãos de Bellatrix. – Se eles não estão NOS aborrecendo, só podem estar atrás de Snape.
- Vão atrás dele. – Mandou Tom.
- Você não vem, milorde? – Indagou Bellatrix.
- Não. Não vou perder meu tempo com um verme, muito menos com um verme grifinório. Vão logo. – Ordenou mais uma vez.
- Sim. – Disseram os dois, para logo depois saírem da sala, fechando a porta atrás de si.
- Eles vão se arrepender muito por terem tamanha audácia de virem até aqui poluir meu Salão Comunal com suas presenças. – Disse o jovem, calmamente, controlando sua fúria. – Eu juro.
***//***
- James, o que vamos fazer? – Indagou Remus Lupin, depois de terem passado pelo quadro da mulher gorda, a qual ficara muito aborrecida por terem-na acordado. – Sirius ainda está lá!
- Eu sei... – Dizia o garoto, buscando ar. Eles correram o percurso todo, ouviram o zelador por perto, enfim, quase morreram para chegarem vivos no Salão Comunal da Grifinória. – Eu sei que ele está lá... Mas não podemos fazer nada! Se voltarmos lá, vão nos pegar!
- E se nos formos lá com a sua capa de invisibilidade?
- Olha, Remus, ninguém sabe que ele está lá! O professor provavelmente vai deixar o que escrevemos para os sonserinos verem, a fim de que alguém diga-lhe nomes de suspeitos, ou seja, os nossos. Assim, ele já deve ter-se ido. A única coisa que Sirius tem que fazer é ter cuidado para não acordar ninguém enquanto volta! – Disse James. – Agora vamos lá para cima, para ninguém suspeitar. Daqui a algumas horas será o café. Se alguém madrugar e nos vir aqui embaixo, vai associar o feito aos marotos, o que não é tão impossível assim de acontecer!
- É, você tem razão. Vamos.
E dois subiram às escadas, sem terem idéia do que poderia acontecer.
***//***
- Ah, eu não faço a mínima idéia de como perturbá-lo... – Sussurrava Sirius para si. Estivera sentado ao lado de Snape todo o tempo, tentando pensar em algo que envergonhasse o garoto de verdade, mas fora em vão. Nada vinha-lhe à cabeça. – Ah, é melhor esquecer. Já deve ser tarde... É melhor ir-me embora...
Ele levantou-se, ficando de pé em meio ao quarto de Snape. De súbito, notou algo muito estranho numa cômoda ao fundo do quarto. Ele caminhou até ela e observou os objetos que ali estavam.
Havia vários frascos de conteúdos duvidosos, livros de nomes estranhos, como ‘poções muy potentes’, rolos e mais rolos de pergaminho onde jaziam ameaças, mas não fora nada daquilo que chamara-lhe a atenção. Ele agarrou um porta-retratos e levou para perto do rosto. Na foto havia uma criança com cerca de nove anos, os cabelos sedosos escorridos ao lado do rosto e atrás dela havia duas figuras, um homem e mulher, porém, ao contrário da criança, eles não tinham cabeça, as quais foram recortadas para fora da foto e, ao contrário das fotos bruxas, essa não movia-se.
- Que estranho... – Comentou Sirius para si mesmo. – Será que... Esses são os pais de Snape? Mas... A foto não se move. Eu não entendo...
- Largue! – Ouviu dizer às suas costas. – Largue agora!
Sirius virou-se vagarosamente e seus olhos encontraram-se com os de Severus Snape, que estava sentado sobre a cama, olhando-o furioso.
- Estou lhe avisando... Se não largar agora, não serei responsável pelos meus atos... – Snape movia-se devagar sobre a cama, avançando em direção à Sirius. Os olhos brilhavam em loucura. Era perceptível sua raiva. Sirius descobrira mais do que pretendia.
- Ta, eu largo! Eu largo! – Disse Sirius, falando calmamente para não irritar ainda mais a fera. Ele pousou o porta-retratos de volta na mesa e afastou-se dela vagarosamente.
- Agora saia daqui! – Disse entre dentes o jovem, os cabelos caindo ao lado do rosto, a expressão furiosa cada vez mais evidentemente aguda.
- Eu estou saindo... – Dizia Sirius, hesitante. Severus poderia atacar a qualquer instante, segundo ele. Porém, ambos puderam ouvir passos no corredor. Sirius gelou. Não podia ser nem Remus, nem James. Eles andariam cautelosos, mas estes passos eram pesados, estavam literalmente ‘pisoteando’ o chão.
- Parece que se deu mal, Black! – Disse Severus, um sorriso cortando-lhe a face. Sirius olhou-o, as sobrancelhas curvando-se.
- Severus Snape, se contar a eles ou a qualquer um que estou aqui, eu vou dizer a todos quantos quiserem ouvir que você pode ser... Hum... Digamos que ‘impuro’. Seus amigos gostariam de ouvir isso, é? – Arriscou Sirius. Snape não era nem um pouco bobo. Ele sabia que se os marotos espalhassem esse boato, muitas pessoas tomariam a mentira como verdade, e também sabia que mesmo sendo mentira, nenhum deles aceitariam-no de volta. Sua vulnerabilidade deixava-o irritado, sobretudo, consigo mesmo.
- Só desta vez você vai se safar, Black, mas da próxima eu JURO que você se dará muito, mas muito mal mesmo.
- Ta, ta, já sei, agora trate de não falar nada, nem gesticular, nem apontar, nem NADA! – E dizendo isto, Sirius atirou-se dentro do armário de Snape, um tanto contrariado. Quem teria passado por ali antes dele? O que fora guardado ali? Dava-lhe enjôo só de pensar na possibilidade de Snape guardar ali suas cuecas...
Repentinamente, a porta fora escancarada e a luz, acesa. Lucius e Bellatrix puderam contemplar um Snape só de roupas de baixo sentado sobre sua cama a olhá-los. Para Lucius e Severus foi uma situação bem... Desconfortável.
- Hum... Snape, por um acaso algum dos babacas dos grifinórios passou por aqui? – Perguntou o Malfoy.
- Grifinórios? Aqui? Na Sonserina? No MEU quarto? Está louco? Se algum daqueles... Argh! Daquelas coisas tivessem a audácia de passar por aqui, seria a última coisa que fariam no mundo. – Disse com avidez.
- Hum... Ah, claro. Entendo. – Disse Lucius. Ele e Bellatrix entreolharam-se confusos.
- O que foi? Vai me dizer que as ‘coisas’ entraram no Salão Comunal? – Fingiu Snape.
- Não só isso como escreveram uma de suas perversões em cima do nosso emblema! – Disse Bellatrix, irritada. – Se eu pôr minhas mãos num deles, eu juro que MATO.
- Bom, se não passou por aqui, nós já vamos indo. Vamos, Bella. – Disse Lucius. – E Snape!
- O que foi?
- Não durma assim. É constrangedor! – E ao dizer isso, bateu a porta.
- Como assim ‘constrangedor’? Eu deveria dormir no MEU quarto! Não ser visitado! – Retrucou Snape, irritado, mesmo que Lucius não estivesse ouvindo.
- Eu concordo com ele! – Disse Sirius, ao sair do armário. – E você não deveria guardar suas cuecas sujas no armário!
- Eu guardo minhas cuecas onde eu... EI! Eu não guardo minhas cuecas sujas no armário! – Bufou Snape em protesto. – E vá embora logo! “¬¬
- Hum... É melhor esperar mais um pouco. Eles ainda estão me procurando. – Disse Sirius, odiando pronunciar cada palavra. Sabia que mais um segundo ali e ele poderia explodir, mas não tinha escolha. – E então? Você sabe jogar cartas? – Disse sarcástico.
- Cale-se. ¬¬ Eu odeio você e todos os seus amigos e vou me sentir o homem mais feliz do mundo se você tiver um ataque cardíaco agora mesmo e morrer logo de uma vez. – Disse Snape, mal humorado.
- Não se preocupe, eu prometo votar em você como Miss Simpatia. Não precisa ser tão gentil comigo, não. – Disse Sirius, enfatizando ainda mais seu próprio sarcasmo.
- Você é irritante... – Comentou Snape, olhando para qualquer lugar que não fosse o lugar onde Sirius estava.
- Obrigada pelas palavras que me tocam. – Retrucou Sirius.
- Eu odeio suas tentativas deprimentes de ser engraçado.
- E eu adoro o jeito de como você consegue ser tão sensível e verdadeiro.
- Eu odeio você.
- Eu adoro você.
- Se não calar a boca agora, eu te arrasto para fora daqui e te atiro pela primeira janela que ver.
- Já não está mais aqui quem falou.
E um silêncio desconfortável caiu sobre os dois. Não tinham nada o que dizer um ao outro. Eram completamente diferentes, odiavam-se desde tempos imemoriáveis, simplesmente não suportavam a idéia de ficarem no mesmo lugar, como faziam agora. Os dois queriam ficar quietos e fingir que o outro não estava lá.
E além de tudo isso, se algum sonserino descobrisse que Snape mentiu para proteger um grifinório, por qualquer motivo, seria o fim de seu nome e de tudo aquilo que tivera na vida.
- Bem, eu acho que já posso ir. – Disse Sirius. Snape olhou-o.
- Não! Espere mais um pouco!
- O que? Você quer que eu fique aqui com você, Snapezinho? – Indagou Sirius, mais uma vez sarcástico.
- Claro que não! Só não quero que ninguém o veja saindo do MEU quarto! – Retrucou Snape. Ele puxou sua capa de cima da mesa de cabeceira da cama e vestiu-a. Levantou-se da cama e rumou à porta. Olhou Sirius mais uma vez, que retribuiu o olhar, e abriu a porta vagarosamente, olhando o corredor, que estava vazio. Ele fez sinal para Sirius segui-lo, e este o fez.
Saíram caminhando cautelosos pelo corredor. A cada passo, era um temor. Eles tinham tudo a perder e nada a ganhar.
- Maldita hora que vocês e seus amigos resolveram entrar aqui! – Murmurou Snape.
- Por que? Eu sempre tive curiosidade de ver como eram os outros Salões Comunais. Quase tanta quanto de saber como é o banheiro das garotas. – Sussurrou Sirius de volta.
- Você entrou no banheiro das garotas? – Severus parecera surpreso.
- Uma garota me arrastou até lá no quinto ano. – Respondeu Sirius, indiferente.
- Pra que? – Snape não entendera o motivo que faria uma garota a tomar tal decisão.
- Quando você crescer eu te conto.
- Isso não foi engraçado. – Eles chegavam à porta. Snape empurrou-a de leve, fazendo-a abrir-se. – Vá logo!
Mas antes que o garoto pudesse pensar numa resposta sarcástica, dois vultos apareceram há poucos metros de distância de suas costas.
- Ali estão eles! – Gritou Bellatrix.
Snape gelara. O que faria? O que diria? Antes que pudesse tomar qualquer decisão, sentira-se ser arrastado para longe muito rápido. Sirius agarrara-o pelo braço e correra para algum lugar, sem ter certeza de onde. Logo, foram distanciando-se dos vultos.
Correram por um bom tempo sem rumo. De repentina, Sirius parou. Severus, que não sabia o que o garoto faria, não conseguiu parar a tempo e bateu com força no garoto. Isso aconteceu enquanto eles subiam os degraus que davam ao Salão Comunal da Grifinória, sendo que rolaram em média de dez ou doze degraus abaixo antes que pudessem parar.
- Saia de cima de mim! – Mandou Snape, que estava preso sob o corpo de um Sirius tonto e cansado.
- Eu estou... Já estou sa... Saindo... – Dizia debilmente o rapaz, sem mover-se. Snape estava constrangido. A cabeça do rapaz estava encaixada ao lado da sua, sobre um dos ombros. O resto do corpo Snape tinha medo de olhar. Sem avisar, atirou o garoto ao lado, fazendo-o cair no degrau abaixo.
- Black? Você ainda está vivo? – Perguntou um tanto esperançoso.
- Eu? Claro, eu estou super bem, querida!
- Querida? Argh! – Snape bateu-lhe no rosto, fazendo o garoto sair do transe. – Acorda!
- Já estou... – Dizia Sirius, mas Snape interrompeu-o batendo novamente em seu rosto. – Já estou acordado, está bem?! – Respondeu irritado, afastando as mãos de Snape de perto de si.
- Desculpe. Estava descontando minha raiva. – Disse o garoto nada arrependido.
- Hum, tanto faz! – E Sirius levantou-se, ajeitando as vestes. – Boa noite, Seboso!
- Como assim ‘boa noite’? Eu não posso voltar! – Retrucou Severus.
- Ah, então você quer passar a noite no Salão Comunal da Grifinória, é? – Perguntou Sirius. Snape sentiu um arrepio passar por seu corpo. Doía-lhe só de pensar em passar uma noite na Grifinória.
- Não, obrigado. Eu prefiro dormir com o Salgueiro Lutador a entrar na Grifinória. – Respondeu. – Que horas são?
- Hum... Quase quatro, por que?
- Como assim ‘por que’?!! Eu tenho que saber quanto tempo ainda tenho para voltar ao meu Salão e entrar no meu quarto antes de todos acordarem.
- Se quer saber mesmo, tem pouco tempo! Pouco mesmo! – Disse Sirius.
- Ah, é melhor eu ir... – Disse Snape, olhando à sua volta. De repente, ele deu-se conta de com quem falava. – Ah, Black, essa noite NUNCA aconteceu!
- Absolutamente! – Concordou Sirius. Snape virou-se e foi andando em rumo às masmorras. Logo, ele desapareceu na escuridão do castelo. Sirius subiu os degraus até o Salão Comunal da Grifinória. A Mulher Gorda roncava baixinho, mas ele tinha de interrompê-la.
- Chicle de bola. – Disse.
- Como quiser... – Murmurou a Mulher Gorda, afastando o quadro para que Sirius pudesse passar. Feito isso, ele viu-se finalmente a salvo. Estava dentro da Grifinória, sua amada casa, e nada mais poderia atingi-lo.
Ou foi o que pensou.
Viu um único e solitário vulto sentado numa das poltronas defronte a lareira a olhá-lo. Este levantou-se e Sirius pôde distinguir uma silhueta feminina.
- Sirius? Onde você estava? – Perguntou Lily Evans, também aluna de sétimo ano.
- Eu... Er... Bem, Lily, eu estava apenas... – Mas ele não sabia o que dizer.
- James aprontou alguma coisa de novo, não é mesmo? Vocês todos fizeram mais uma de suas famosas brincadeiras, não é mesmo? – Perguntou a menina furiosa.
- Não, Lily! Fui eu quem saí. James não tem nada a ver com isto! – Mentia Sirius. Finalmente James e Lily estavam namorando e não seria ele quem separaria os dois.
- Mas ele prometeu não se meter em confusão!
- E ele cumpriu!! – Doía-lhe mentir para Lily, mas não queria explicar nada detalhadamente.
- Não acredito em você.
- Eu é que não acredito em você! Pela primeira vez em anos James não tem nada a ver com algo que eu faço e você ainda quer culpá-lo? – Arriscou Sirius.
- Er... Desculpe-me. – Disse Lily. Talvez ela estivesse mesmo sendo injusta, mas ainda assim, por algum motivo, não acreditava naquele garoto.
- Olha, eu vou dormir um pouco, está bem? ‘Té mais! – E o garoto subiu às escadas que davam em seu dormitório.
***//***
- Lucius, você não achou estranho? – Indagou Bellatrix. Eles voltaram à sala lateral do Salão Comunal, mas desta vez, Tom não estava lá. Ele fora esfriar a cabeça tomando um banho.
- O que eu não achei estranho? – Perguntou Lucius, distraído.
- Oras, na folha diziam que um dos três deveria importunar um sonserino, mas vimos dois! Não é estranho? – Disse Bellatrix.
- Bella, eles são quatro, no papel estava escrito sobre apenas três. O quarto pode ter ficado por fora do planejamento inicial.
- De toda forma, ainda acho estranho. – Disse a garota, pensativa.
- Não deveríamos estar discutindo sobre isso agora, sabia? Deveríamos estar aproveitando o tempo para ‘nós’. – Disse Lucius, olhando-a promissor. Bellatrix olhou-o de volta, desconcertada. Ela não queria nada com ele, ela queria Tom. Apenas sorriu e disse estar com dor de cabeça. Logo, partiu, deixando Lucius só e irritado.
***//***
Snape andava pelos corredores dos dormitórios da Sonserina. Aquela noite durou uma eternidade. Estava irritado, constrangido, envergonhado e com dor de cabeça, além de suas costelas estarem doendo por causa do tombo. O tombo... Sirius sobre ele...
- Argh! Que nojo! – Murmurou. Estava distraído, concentrado apenas em seus pensamentos, tanto que nem ouvira passos seguirem-no.
- O que é nojento? – Perguntou uma voz às suas costas. Era Bellatrix.
- Ahn... Aquela frase repulsiva! Aqueles grifinórios nojentos fizeram uma frase que deu a entender de sermos gays! – Mentiu Snape. Vira a frase enquanto entrava, usando-a como uma perfeita desculpa.
- Tem razão... – Disse a garota, pensativa.
- Bem, eu vou dormir, pelo menos um pouco. Boa noite! – Disse a ela e virou à esquerda no fim do corredor, rumando ao seu quarto.
- ‘Noite.
Ao entrar no quarto, Snape deparara-se com Tom Riddle, sentado sobre sua cama. O garoto olhara-o, os olhos lendo seus pensamentos.
- Severus, o que é isto? – Perguntou Riddle e estendeu-lhe a mão. Snape gelou ao ver um lenço bordado em vermelho e dourado.
Continua...
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