Venha...
Gina, abraçada a seus pesados livros de medi-bruxaria, andava tranqüilamente pelas ruas do campus. Localizado num complexo antigo de prédios baixos, era um lugar cheio de árvores e caminhos estreitos e simpáticos. “O silencio leva a reflexão. Reflexão leva ao conhecimento.”, era a inscrição na entrada da praça onde Gina parava todos os dias antes de entrar em sua primeira aula. Naquela manhã algo, ou melhor, alguém interrompeu a reflexão matinal da jovem... - Um doce pelo seu pensamento! A garota estremeceu assustada. Os pássaros que ciscavam tranqüilamente foram bem mais espalhafatosos, voaram pra longe, reclamando em piados agudos. - Draco! Quando você vai perder essa mania de me assustar?! – ela berrou. Ele aspirou e assumiu uma expressão muito estranha. Bem, para Gina não era nada estranha, ela sabia muito bem que aquele rosto contraído e aquelas sobrancelhas abaixadas significavam que o namorado estava segurando o riso. O mau humor matinal da ruiva não demorou a se manifestar. - Veio aqui especialmente para me irritar? – ela levou as mãos às têmporas e disse devagar, tentando se acalmar - Você sabe como meu humor é péssimo de manhã, Draco! - Eu sei... Deve ser excesso de estudo! Você leva essa coisa toda muito a sério, sabia? – ele disse cheio de propriedade. Gina começava a respirar rapidamente quando ele recomeçou. – Mas, não se preocupe! Eu vim para salvar seu dia! “Lá vem ele...”, a ruiva passou a mão pelos cabelos. E logo ela começou a explicar que tinha uma aula importantíssima em menos de dez minutos e que não tinha tempo de ficar de brincadeira. Lembrou inclusive que ele também deveria estar na aula e ordenou que ele aparatasse na sua Universidade imediatamente. O louro recebeu todo aquele discurso com seu petulante ar de quem já sabia tudo de cor. - Virgínia, hoje nós não vamos à aula porque eu tenho um lugar pra te mostrar e você não vai conseguir recusar o meu convite. – ele disse em tom desafiador ignorando todos os argumentos da namorada. Ela estava pronta para recomeçar com aquilo de “temos responsabilidades com os estudos...”. Mas ela havia sido selecionada para a Grifinória e não para a Corvinal, não é? E por mais que ela gostasse e valorizasse os estudos havia algo que a despertava mais do que tudo: um bom desafio. E Draco sabia disso e abusava dessa fraqueza para qual ele mesmo perdia algumas vezes. - Aonde você vai me levar? - ela perguntou tentando disfarçar a curiosidade. - Eu te mostro quando chegar. – disse sorrindo vitorioso. Gina balançou a cabeça em negativa (frustrando a comemoração interior de Draco) com tanta convicção que até desarrumou os cabelos. Ela tentava colocar os fios rubros no lugar enquanto falava. - Não! Dessa vez você não me pega, senhor Malfoy. Ou você diz aonde nós vamos, ou nós não vamos a lugar nenhum. – ela disse resoluta. Draco deu de ombros ligeiramente desapontado. - Ok, você venceu... A gente passa na minha casa para pegar minha varinha e eu te explico tudo. Gina concordou feliz por ter convencido o garoto tão depressa, mas também ficou desconfiada. “O que será que ele está aprontando?”, ela tentava descobrir enquanto ele se preparava para desaparatar. - Vamos? – ele disse sumindo num “plop!”. Ela o seguiu imediatamente. *** No segundo seguinte Gina estava lá, na pequena sala do apartamento alugado de Draco. Mas Draco não estava lá... “Ora, ele saiu primeiro, já deveria estar aqui quando eu chegasse.”, ela raciocinou enquanto examinava o lugar. - Ok, Draco, qual é a piada dessa vez? – ela disse para as paredes, cruzando os braços no peito e fazendo cara de professora de primário que pede silencio para a classe. Nada. Ela repetiu o chamado mais alto. Nada. Ela sentou no sofá e bufou. Draco estava aprontando alguma e ela não tinha nem noção do que poderia ser. Isso era tão revoltante... Plop! - Weasley, que você está fazendo aqui? – Draco perguntou surgindo em cima da mesinha de centro com as mãos na cintura. – Eu fiquei te esperando! A ruiva se levantou rapidamente e encarou o namorado, muito brava. Ela sabia que quando ele dizia “Weasley” é porque vinha alguma gozação/piadinha/surpresa cômica por aí. - Não tente me fazer de boba! Você não disse que viria em casa buscar a varinha? Pois bem, eu vim para sua casa e você me fez ficar esperando e te procurando! Qual é a piada? Sem poder mais manter a cara de inocente, Draco se permitiu uma risada. “Legal, agora ele vai rir da minha cara.”, ela azedou e voltou a se sentar no sofá. - Eu não estou tentando te fazer de boba, meu amor. – ele disse sentando ao lado de Gina e passando o braço em volta do ombro dela - Até porque eu não preciso tentar: eu já consegui. - Draco... – ela começou com os olhos vidrados, a voz firme e o rosto cada vez mais vermelho. Os primeiros sintomas do fogo Weasley. Draco os reconheceu e achou melhor continuar falando antes que ela explodisse. - Eu disse que vinha pra casa mesmo. E eu fui! – o olhar inocente estava lá denovo. Tão convincente que se Gina não o conhecesse tão bem teria acreditado que era sincero – Eu disse “casa”... Se você achou que esse apartamento péssimo era minha casa aí é um problema de interpretação da sua parte... Gina franziu a testa, sinal de que estava processando as informações. - Vamos! – ele disse divertido enquanto a segurava pela mão se preparando para desaparatar mais uma vez. - Espera! – ela gritou mais alto do que o necessário – Eu não sei onde é sua casa! Não posso simplesmente aparatar lá... Pela expressão de Draco ficou óbvio que ele tinha esquecido desse pequeno detalhe. - Eu tenho flú aqui comigo... – ela sugeriu. - Não temos outra saída né? – ele disse nada animado pela perspectiva de ficar todo imundo de fuligem de lareira. Os dois se aproximaram da lareira do apartamento (que era meramente decorativa, já que era impossível acender qualquer fogo ali) e disseram “Mansão Malfoy”, Draco primeiro, Gina logo depois. Antes de dizer ela ponderou por um milésimo de segundo que estava indo para o último lugar da Terra para onde um Weasley gostaria de ir.
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