A Morte de Alguém Querido



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Noites de Silêncio

1. A Morte de Alguém Querido


- Ei, Lily!

Lily levantou os olhos de seu prato pra ver quem a chamava e localizou James Potter vindo em sua direção, com o seu habitual sorriso.

- Ah não. – Gemeu, cobrindo os olhos com a mão.

Era sempre assim. James Potter, o garoto mais popular de Hogwarts, membro titular do grupo mais bardeneiro da escola, e ainda assim um dos melhores alunos da classe. Os cabelos negros e espetados caindo sobre a testa displicentemente, os olhos profundos por trás das lentes dos óculos e um corpo digno de ator de cinema somados ao seu charme “irresistível” arrebatavam suspiros femininos por onde quer que ele passasse.
Mas não era bem assim que ela se sentia em relação ao garoto. Os dois se odiavam desde o primeiro dia, quando se conheceram no trem. Nunca perdiam a oportunidade de incomodar um ao outro se ela surgisse. Lily começava a pensar que nada mais que o garoto fizesse iria conseguir faze-la odia-lo mais.
E então, no seu quinto ano, o maroto (como ele se autodenominava) dera pra convidá-la pra sair, sem mais nem menos. Lily lembrava-se de ter começado a gargalhar e não conseguir parar de jeito nenhum. Com lagrimas nos olhos ela saiu andando, deixando James no vácuo. Mas o convite se repetiu uma, duas, três mil vezes, até chegar ao ponto que a ruiva já gritava “Não!” mal ele abria a boca.
E de uns tempos pra cá ele havia adquirido o habito irritante de chamá-la de “Lily” em vez de “Evans” uma intimidade que ela absolutamente não aceitava.

- Que é isso Lil, isso é maneira de me cumprimentar? – Falou James, sorrindo e se sentando ao seu lado.
- Oi Potter. – Cedeu a menina, seca, ainda lamentando o fato de ter se atrasado para o jantar, o que significava que a mesa estava quase vazia e que os dois – infelizmente - tinham liberdade de conversar. – O que você quer?
- Que você saia comigo. – A ruiva suspirou.
- Ta bem. Mas só com uma condição. – Respondeu. O queixo do garoto caiu.
- S-sério? – O sorriso dele se alargou – Qual?
- Que você nasça de novo! – Retrucou Lily, batendo o copo de suco na mesa com mais força do que o necessário.
- Pra que? – Perguntou James, apoiando o cotovelo na mesa e arrepiando os cabelos – Se eu já nasci perfeito?

Primeiro motivo para ela odiar o garoto: Ele era um prepotente sem igual.

- Potter, no dia em que você for perfeito, a Murta-Que-Geme vai casar com o Pirraça e o Sirius vai se apaixonar pelo Snape. – Respondeu, sem olhá-lo. O garoto ia responder quando a Profª. McGonagall se aproximou.
- Sr. Potter. – Chamou. Lily percebeu que a voz dela estava estranhamente rouca. James levantou os olhos, intrigado. – O senhor poderia me acompanhar?
- Ta bem. – Respondeu ele com um suspiro e se afastou da mesa com a profª. Lily supôs que ele devia ter azarado algum sonserino de novo.

Segundo motivo: Ele vivia atacando o pessoal da sonserina a torta e a direita, como se fosse o maioral.

Alguns minutos depois ela descansou os talheres e seguiu para a torre da Grifinoria. No meio do caminho Lily deparou-se com duas alunas da corvinal que conversavam agitadas no corredor. Ao passar, pode entreouvir o que diziam.

- Ele não foi demais no ultimo jogo? – Vibrava uma.
- Ah, ele é tão lindo – Suspirou a outra – Eu daria qualquer coisa pra ser a senhora Potter...

Terceiro motivo: James não parava de se exibir por todo o castelo só porque era um bom apanhador.
E quarto e mais importante motivo: O garoto saíra com mais da metade das garotas da escola, o que lhe dava uma certeza mais do que absoluta de que, se aceitasse sair com ele, seria apenas mais uma na lista.

- Delicias Gasosas – Falou para a mulher Gorda, alcançando a entrada da torre.

O quadro girou pra frente, revelando uma cena estranhíssima. Há essa hora, o aposento geralmente estava barulhento e cheio de estudantes voltando do jantar. Mas quando ela passou pelo buraco do retrato, se surpreendeu ao perceber que a maioria das pessoas falava em tom baixo e pesaroso, como num funeral.
Confusa, ela olhou em volta procurando as amigas Clara e Anna. Os seus olhos bateram em uma poltrona no canto da sala. James estava sentado lá, rodeado por um grupinho de amigos. Estava de cabeça baixa e com os olhos estranhamente vermelhos. Sirius estava sentado ao seu lado, branco como papel e sem conseguir falar nada além de uma espécie de tossida rouca.
Estranhando aquela cena ela se aproximou das amigas, sentadas em um outro canto.

- O que aconteceu com o Potter e o Black, meninas? – Perguntou, em voz baixa. Anna ergueu os olhos até eles e balançou a cabeça.
- Coitados. - Lily se sentou. – A mãe do Potter veio até a escola pra contar.
- Contar o que? – Indagou ela, confusa. Clara suspirou.
- O pai dele. Ele... – A garota tomou fôlego e baixou a voz. – Ele foi morto ontem por Você-Sabe-Quem.

Lily ofegou e levantou os olhos até o menino. Ele parecia nem notar a rodinha de colegas que tentava consolá-lo e olhava fixamente para o chão.

- Meu Deus. – Sussurrou. E não encontrou mais o que dizer.

(...)

Lily abriu os olhos e encarou o mostrador luminoso de seu relógio. Ele piscou meia-noite e treze. Com um suspiro a garota se levantou e esfregou os olhos. Agora já não adiantava querer dormir. Sempre que ela demorava mais de duas horas pra pegar no sono era porque a noite já estava perdida mesmo.
Lily desceu para a sala comunal, pensando vagamente em ler alguma coisa. No entanto, assim que pisou no ultimo degrau, ela notou um vulto na mesma cadeira que James estava sentado na noite anterior. A ruiva se aproximou vagarosamente, temendo que a pessoa estivesse adormecida. Então as chamas da lareira estalaram e iluminaram por um momento o canto onde o vulto se encontrava.

- Potter? - Ele levantou os olhos ainda vermelhos e a encarou.
- Ah, oi Lily. - A garota se aproximou, percebendo que sua voz estava rouca e desanimada.
- Você não consegue dormir? – O garoto concordou com um aceno breve de cabeça.

A menina ficou parada vários minutos, tentando pensar em algo para dizer que não parecesse idiota ou indiferente. E no fim, com um suspirou, decidiu apenas dizer a verdade, por mais que ela parecesse apenas uma frase feita.

- Eu sinto muito por ele. – Murmurou, com uma entonação verdadeiro de pesar. James fez um som estranho, como se estivesse cuspindo e tentando engolir algo ao mesmo tempo, ainda encarando a lareira sem realmente ver. Os dois ficaram muito tempo em silencio, até que ele falou.
- Ele era um ótimo auror. – Sussurrou. Lily percebeu que ele precisava desabafar e deixou-o falar. – A minha mãe disse que ele foi morto por Voldemort em pessoa. – James suspirou – Eu tinha dito pra ele que queria me tornar auror também. Eu dizia isso desde que era pequeno. A última coisa que ele me disse, antes de eu vir para a escola, foi para eu aproveitar. – Ele apoiou o rosto nas mãos – Ele disse pra eu aproveitar o ultimo ano... E estudar o quanto pudesse, se eu realmente queria me tornar auror... Ele falou que havia decidido ser auror pra proteger as pessoas que eram importantes pra ele. Mas no final das contas, ele não pode se proteger...

James parou de falar e continuou olhando para baixo. Lily se sentou no braço da cadeira e suspirou.

- Eu sei mais ou menos como é.
- Como assim? – Ele encarou-a.
- O meu avô. – Ela respondeu, olhando-o nos olhos – Ele morreu nessas férias. – A menina baixou os olhos. Ele fez o mesmo. – É horrível receber a noticia.
- É. – Sussurrou James. – Eu sinto falta dele.

Lily encarou-o. O menino continuava olhando para o chão. De repente ela percebeu que ele estava fazendo força para não chorar, e que estava realmente confuso e muito abalado.
Vindo do nada e sem nenhuma explicação, um sentimento quente e terno subiu pela sua garganta. A ruiva sentiu uma vontade inexplicável de abraçá-lo.
Ela sabia como ele devia estar se sentindo e percebeu, quase irracionalmente, que queria dar liberdade para ele chorar quando ficasse triste. Não queria que o maroto se segurasse por ela estar presente. Percebeu que queria poder ajudá-lo e que vê-lo nesse estado era muito, quase insuportavelmente doloroso para ela.
Então, quase inconscientemente, ela debruçou-se e o abraçou ternamente.

- Lily... – Murmurou James, por entre seus braços, estupefato.
- Você não precisa se fazer de forte na minha frente, Potter – Sussurrou carinhosamente, com o rosto perto do ouvido dele. A menina afagava levemente seus cabelos, e o abraçava como uma mãe abraçaria o filho. – Eu sei que você precisa chorar. Todo mundo precisa nessas horas.

Então, Lily sentiu algo molhar a sua camisola e percebeu que ele estava chorando baixa e discretamente. Ela continuou afagando os cabelos deles, protetoramente e deixou-o chorar em paz durante muito tempo, apoiado em seu ombro.
Lily percebeu, tempos depois, que ele havia silenciado. Quando afrouxou um pouco o abraço, o corpo de James caiu molemente em seus braços. Havia adormecido. A menina, lentamente para não acorda-lo, deitou-o na poltrona. Um ventou frio passou por ela, fazendo-a subir até o dormitório correndo e voltar com um cobertor. A garota cobriu-o.

- Coitado. – Sussurrou.

Lily afastou seus cabelos, inclinou-se e beijou-o de leve na testa. Ela ficou parada por um minuto, olhando-o com carinho, a mão ainda em seu rosto. Depois, bem lentamente, ainda relutando em desviar o olhar, levantou-se e subiu até o dormitório.
A menina deitou-se e ficou observando o luar entrar pela janela.

“Porque eu fiz aquilo?”

Ela virou-se para o outro lado, pensativa. Passara os últimos seis anos discutindo e brigando com ele. Sempre o odiara por milhares de motivos e nunca, nunca antes tivera o menor motivo para acreditar que o que sentia por ele era algo diferente de ódio. E agora...
Por quê? Porque ela havia se sentindo tão mal por vê-lo daquele jeito? Claro que nunca era agradável ver alguém tão triste, mas... Mas era mais do que isso. Havia doído tanto quando ela percebeu o quanto ele estava triste... Era como se alguém tivesse explodido seu coração deixando apenas um buraco negro no lugar.
E ainda por cima, admitiu, a contra gosto, ela havia gostado de abraçá-lo. Havia se sentindo feliz em poder consolá-lo. Era um sentimento tão estranho...

“Eu senti...” pensou “como se nós dois fossemos as únicas pessoas no mundo. Era como se nada mais importasse a não ser nós dois... Porque eu me senti assim?”.
Foi mais do que isso sussurrou uma vozinha em sua cabeça você sentiu que queria sempre poder tê-lo por perto.
“É verdade” suspirou Lily “talvez o que eu sinta pelo Potter não seja o que eu pensei que era. Mas se não é apenas ódio... O que eu sinto por ele?”.
Bem, no fundo você sabe. Cutucou a voz. Você só nunca parou pra pensar.
“Como assim?”
Você briga bastante com ele, Lily, mais do que seria normal, mas ainda assim, ficou mais do que provado que você também se importa com o bem-estar do James, não é?
“Aonde você quer chegar?”
Pense bem, Lil. O que tudo isso indica?
“Acho que eu sei.” suspirou a menina. “De repente ele não me parece mais tão idiota como antes... Agora o Potter parece mais... Mais humano.”
Humano?
“É... Quer dizer, eu nunca pensei que ele fosse chorar na minha frente. Ele sempre me deu a impressão de ser tão orgulhoso e insensível....”
...e agora que você viu que ele também tem sentimentos está começando a repensar seus conceitos sobre ele. Acertei?
“Na mosca. Acho que não conheço o Potter tão bem quanto eu pensava que conhecia... Mas sabe de uma coisa?”.
O que?
“O que eu fiz foi mais ou menos a mesma coisa que ele fez no dia em que o meu gato morreu.”
É verdade. Vocês parecem estar sempre juntos, não é?

Virando-se novamente, Lily adormeceu. E sonhou com aquele dia.

- Lily, você não vai jantar? – A menina levantou os olhos e viu James olhando para ela com uma expressão preocupada.
- Não. – Respondeu ela, sem animo para ser grossa.
- Lil.... – James se sentou do lado dela. – Não precisa ficar assim.
- Eu tinha ele desde que tinha nove anos. – Respondeu, desanimada, pensando no aniversario em que ganhara o gato.
- Por isso mesmo. Ele já era um gato velho, Lil. Já tinha aproveitado bastante a vida.
- É eu sei, mas... – A menina suspirou – Eu era apegada a ele.
- Ei. – Ele se levantou e tomou o rosto dela entre as suas mãos para fazê-la encara-lo – Se você ficar aqui remoendo isso e não for jantar vai morrer de fome. Ficar se lamentando não vai ajudar ninguém, muito menos você mesma. – O garoto sorria. Ele secou uma lágrima que ela havia deixado cair com o polegar. – Além disso, eu vou sentir falta de você gritando comigo. O que vai ser do meu jantar sem o acompanhamento da sua doce voz no ultimo volume? – Lily deu uma risada, e sorriu agradecida.
- Obrigada Potter.
- Lily, será que eu vou ter que implorar para que você me chame de James uma vez na vida? – Perguntou, com um sorriso. A menina o retribuiu.
- Obrigado James. – Lily olhou-o nos olhos.

Os dois lentamente pararam de sorrir. A ruiva sentiu-se ficar vermelha, encarando o rosto dele, tão perto. A menina começou a reparar cada detalhe de sua fisionomia, desde o formato dos olhos até a cor dos lábios deles.
Ela começou a se aproximar, meio puxada, meio por conta própria. A garota sentia o perfume dele, o hálito quente... Sentia o próprio coração batendo desembestado e a própria respiração entrecortada. Lily começou a fechar os olhos, deixando-se a deriva desse momento...
Um fio de eletricidade desceu por sua coluna quando ela sentiu o toque leve dos lábios dele sobre os seus. Delicadamente ele foi aprofundando o beijo, puxando-a mais para perto devagar. Lily sentiu-o acariciar seus cabelos e enlaçou-o pela nuca, quando...

CRACKT

Lily se assustou e separou-se de James, olhando para os lados. Mas era apenas um vaso partido. A menina corou até a raiz dos cabelos e saiu correndo pelo buraco do retrato.


- James... – Sussurrou Lily, em seu sono.
- Lily... – Murmurou James, adormecido na poltrona.

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