The Eternity Bond
- Harry... Harry, acorde... - uma voz vinha de longe, Harry sentia seu corpo pedindo para ignorar, apesar de sua cabeça ter a ciência de que ele deveria estar em pé. A voz era suave e tinha um "quê" maternal, que fez Harry apertar contra as mãos o frasquinho ao qual havia dormido abraçado. Seus olhos se abriam para uma imagem embaçada e difusa. Com uma das mãos foi em busca dos óculos arredondados como sempre fazia, pela cômoda, mas eles não estavam lá desta vez. Foram colocados em sua mão por outras duas, delicadas e pequenas. Harry colocou os óculos à face enquanto se sentava, e reconheceu então o rosto sorridente de Hermione, que se distanciou em direção à cama de Ron, logo ao lado. Com um suspiro, ele começou a se espreguiçar lentamente enquanto seus pés iam em direção ao chão, ainda mantendo na mão bem fechada o presente mais importante da noite anterior. Harry não pôde evitar o riso quando viu Ron ser literalmente chacoalhado por Hermione, como se estivesse desmaiado em seu sono.
- Ron, acorda!!!! Mas que droga, será que você esqueceu que hoje é o casamento do seu irmão??? Eu ainda tenho que ir me arrumar!!
- Ah... mdexaquet... - Ron murmurou, virando para a parede e puxando as cobertas até o pescoço, sem nem mesmo se dar o trabalho de abrir os olhos.
- Eu não mereço isso... vou ter que apelar... RON, UMA ARANHA ENORME ESTÁ INDO DIRETAMENTE NA SUA DIREÇÃO, CUIDADO!!!!
- ARANHAS?? ONDE???? CADÊ????? - Num susto aterrorizado o ruivo pulou da cama junto das cobertas, puxando-as contra si e estremecendo. Harry explodiu em gargalhadas, e Hermione cruzou os braços, rindo e encarando Ron.
- Sua mãe pediu pra vocês descerem logo, já tem parentes de vocês lá em baixo. Suas roupas estão ali - ela apontou para um conjunto social bruxo pendurado na porta do armário. - O casamento é daqui apenas algumas horas...
- Você me enganou!!!!! - Ron disse incrédulo, seus olhos arregalados fuzilavam Hermione enquanto jogou as cobertas ao chão, que deixava o quarto ainda rindo. - Ela me enganou!!!! - Ron virou-se para Harry pra reclamar.
- Você só acorda assim, o que ela poderia ter feito? - Harry ria, seguindo até seu malão. Imaginava se teria algum conjunto social o suficiente para a ocasião. Junto do malão estavam todos os presentes que ele recebera na noite anterior, e ainda não havia aberto.
Ron ainda resmungava e xingava enquanto deixava o quarto em direção ao banheiro com as roupas nas mãos. Percy não estava em sua cama também, com certeza foi um dos primeiros a acordar e se organizar.
Harry colocou o perfume de sua mãe cuidadosamente sobre um presente que parecia macio o suficiente e começou a caçar em seu malão roupas sociais. O único conjunto que ele tinha assim eram suas vestes formais usadas no quarto ano, pedidas pela escola para o Baile de Inverno, mas agora com 17 anos, com certeza aquelas vestes estariam pelo menos 5 dedos acima de suas canelas e pulsos. Completamente inútil. Harry se sentou no chão, começando a pensar. Não poderia ir com jeans e camiseta velhos de Duda para um casamento, seria uma falta de respeito grande demais com os Weasley. Por que ele não tinha pensado nisso antes? Teve alguns dias na casa dos Dursley, se tivesse pensado poderia ter ido antes ao Beco Diagonal e comprado algo... além do presente, que ele não havia comprado para Gui e Fleur. Se ao menos já tivesse licença para aparatar poderia ir ao Beco e voltar sem ninguém nem perceber. Harry se sentia bastante inútil nesse momento, e não sabia o que fazer. Poderia pedir algo emprestado a Ron, mas provavelmente ele não teria, e se tivesse ficaria grande demais, já que Ron era quase 2 palmos o tamanho de Harry. Algum dos outros irmãos de Ron também poderia ter, mas Harry não gostaria de ter de pedir a eles. Desconsolado Harry bufou, e começou a abrir alguns presentes. Talvez tivesse alguma idéia...
Distraído, ele abriu o presente de Tonks e Lupin. Encontrou um livro grosso, com o título "Truques marotos para marotos de truz", junto de um cartão:
"Esse livro foi uma grande inspiração quando seu pai e Sirius decidiram criar o mapa do maroto, Harry. Foi dele também que tiramos o título do nosso grupo. Espero que goste.
Lupin.
PS: É MUITO DAHORA, Harry! Lê e me diz o que achou!!
Tonks"
Sorrindo, Harry colocou o livro junto dos outros que levava à mala. Mais tarde com certeza iria querer ler. Dentre diversos presentes encontrou mais livros, bolos e doces, um suéter da senhora Weasley ("Poderia ter sido um terno esse ano" - Harry pensou, inconformado) e alguns artefatos das Gemialidades Weasley. Foi quando viu um pacote peculiar embrulhado em papel azul que Harry abriu quase por último. Dentro de uma caixinha, havia uma pequena pedra quadriculada cor de jade presa em uma gargantilha de prata. Porém o que chamou mais a atenção foi o cartão.
"Feliz aniversário... espero que esteja bem, Harry. Estou te mandando um amuleto de jade, tomara que seja útil. Caso você venha a se machucar, qualquer tipo de ferida, da mais leve a mais profunda, se estiver usando o amuleto, ela vai se fechar em segundos, e a dor passa quase que instantâneo. Eu costumava usar desde pequena quando ganhei do meu pai, mas acredito que seja mais útil a você, nos dias em que vivemos.
Carinhosamente,
Cho."
Um presente de Cho? Era a mesma Cho que Harry estava pensando? Só poderia ser, ele só conhecia uma garota com esse nome... Harry achou bastante estranho estar recebendo um presente da garota, nos termos em que terminaram o tumultuado namoro há um ano atrás, sem mesmo terem trocado palavras durante o sexto ano inteiro de Harry. Ele sentiu um leve desconforto nas entranhas enquanto observava a pedra. O poder dela parecia muito com as lágrimas de uma fênix, só que em maior efeito, o que interessou muito a Harry para sua jornada em busca das Horcruxes, que afinal, começaria em muito breve. Sem pensar demais no assunto, ele passou o amuleto pela cabeça e deixou-o preso ao pescoço, enquanto voltou a abrir mais presentes. Um deles, tinha o papel pardo, era maleável ao toque enquanto Harry o desembrulhava, onde ele encontrou um colete leve e fino, feito de um tecido semi-transparente num tom azulado. Era de Hermione.
"Tenho pensado muito em tudo que te ocorreu esse ano que passou, e na missão que nos espera em poucos dias. Procurei em todos os meus livros o que poderia vir a ser útil na sua jornada, considerando o que já sabemos que nos espera pela frente. Decidi que não há presente mais útil pra você esse ano, Harry.
Esse colete vai te proteger contra inferis caso eles entrem no seu caminho mais uma vez. Ao tocarem seu corpo, vão sentir-se como se você tivesse tacado fogo contra eles, de imediato se afastam e os outros nem se aproximam. É muito raro, eu só consegui encontrar em uma loja bruxa na Bulgária em uma visita que fiz ao país nessas férias.
Afetuosamente,
Hermione."
- Obrigada Hermione... - Harry disse a si mesmo, admirando o colete aos sorrisos. Estava se sentindo cada vez mais equipado, o que trazia uma grande força de vontade a Harry. Afinal, sua jornada começava a ganhar esperanças de vitória. A vingança por todos aqueles que foram meramente arrancados de seus destinos por capricho de Voldemort e seus seguidores estava próxima.
Por último faltava um pacote, o qual Harry tinha deixado o perfume de sua mãe em cima. Colocando este cuidadosamente dentro da mala entre as roupas para não quebrar, ele abriu o último embrulho. Não conseguiu acreditar no que seus olhos mostravam: VESTES BRUXAS SOCIAIS! Os olhos de Harry brilharam intensamente, incrédulo.
"Achei que ficaria bem em você pro casamento do Gui assim que bati os olhos na vitrine da Madame Malkin. Claro, se já tiver outras, não precisa usar. Espero que goste, sinceramente.
Ginny."
Sentindo sua respiração travar dentro dos pulmões, Harry leu o bilhete duas vezes seguidas. Era dela... parecia ter lido sua mente. Por mais que tivesse ganhado presentes de extremo uso, presentes mágicos e divinos, naquele momento em específico ele não queria nada mais do que aquelas vestes bruxas que Ginny o dera. Sorrindo como uma grande criança feliz, Harry seguiu para o banheiro - já vazio - e em 10 minutos saiu pronto, descendo as escadas d'A Toca em direção à cozinha.
Esta estava bastante tumultuada, a mesa, a pia e algumas cadeiras estavam repletas de bandejas de comes e bebes feitos pela senhora Weasley quais Fred e George já atacavam às escondidas quando cumprimentaram Harry.
- Bonitão, hein?? Curti o detalhe da camisa. - George disse rindo a Harry quando atravessou o caminho para o jardim da casa com Fred. Realmente ele estava bem. Sua calça era comum, porém a camisa era preta e detalhada em babados estilo medieval, usando por cima uma capa semelhante a um longo sobretudo negro de veludo com um forro em azul-musgo, apesar de não ter gola. A única coisa que destoava ali eram os cabelos desalinhados, mas sabendo que não tinham jeito Harry nem se deu ao trabalho de tentar arrumá-los.
Ele seguiu o mesmo caminho dos gêmeos, desviando de alguns docinhos na cadeira à frente, e se deparou com uma claridade intensa que fez seus olhos quase se fecharem. Não deveria passar das 9:00h da manhã ainda, mas ao invés de se deparar com um longo canteiro de flores apenas, Harry encontrou diversas cadeiras distribuídas em um círculo com diversas fileiras igualmente por um longo caminho, onde a outra ponta interna do círculo encontrava-se um grande arco de flores brancas que brilhavam dourado magicamente. Haviam diversas pessoas em grupos conversando, quais Harry nunca viu antes. Algumas de cabelos tão vermelhos como qualquer um dos Weasley, outras bem distintas, mas ele não pôde deixar de reparar que havia um grupo de moças simplesmente estonteantes a um canto do jardim conversando em francês. Harry não soube quanto tempo perdeu imaginando como seria capaz de arranjar um par de alianças e pedir para cancelarem o casamento de Gui com Fleur, já que, obviamente agora era ele que estaria se casando com uma delas - ele não sabia qual ainda - quando sentiu duas mãos tapando seus óculos e um corpo o puxando para trás rapidamente. Sua visão foi liberada novamente, e totalmente confuso Harry se virou para ver quem foi capaz de afastar ele de uma cena tão divina, quando um grande montante de saliva travou em sua garganta, o impossibilitando de falar. Era Gina que havia o puxado de volta para dentro de casa, e agora o observava rindo. Não poderia estar mais deslumbrante. Ela usava um vestido dourado destacando bem suas curvas. Harry notou a leveza dele à brisa que batia em suas pontas, próximo aos joelhos da Weasley mais nova, e os cabelos vermelhos presos para cima em um coque arranjado em flores deixava seu rosto mais vivo, ressaltando os olhos.
- Vejo que conheceu as primas da Fleur já... tivemos que prender o Ron dentro do quarto dos meus pais pra ele parar de recitar declarações de amor eterno. - ela contou prendendo um riso, mas Harry ainda se sentia incapaz de falar. Ao invés disso apenas fitava aqueles olhos acastanhados, procurando a voz no fundo da garganta. Como o silêncio se colocou entre os dois incomodamente, o sorriso do rosto da garota se amarelou, e um tom mais rosado tomou seu rosto. Harry não conseguiu sustentar aquele olhar durante muito tempo, preferindo admirar o soalho da cozinha, enquanto sua mão foi prontamente levada à nuca entre seus cabelos desarrumados.
- Você ficou bem com a roupa... espero que tenha gostado... - ele ouviu a voz de Ginny, e fez um esforço maior para engolir aquilo que lhe travava.
- Ah, eu gostei sim... muito obrigado... eu não saberia o que fazer se não fosse o seu presente. Você também está... está muito bonita...
- Obrigada... Ah, que isso Harry, foi tão simples... não consegui pensar em nada tão "mirabolante", a Hermione e o Ron já haviam feito isso por mim... - Ela o encarava atentamente, e Harry sentiu um gelo deslizar por sua coluna ao que a mão de Ginny subiu em sua direção. Por um momento pensou que ela fosse lhe acariciar o rosto, uma idéia frustrada quando de fato Ginny nem chegou perto de sua face.
- Muito bonito! Nunca te vi usando antes... é novo?
- Ahn? - Harry olhou para baixo, e viu que ela se referia a corrente que usava em seu pescoço com a pedra jade que Cho lhe dera. - Ah... é sim, estava entre os meus presentes, ganhei da Cho de ani...versário... - sua voz perdeu um pouco a força após ter dito o nome de sua ex-namorada, ao notar que Ginny pareceu ao mesmo tempo surpresa e desapontada.
- Ah, aí está você!! - Hermione entrou na cozinha nesse exato momento, fazendo tanto Harry quanto Ginny a olharem de imediato. Devia estar se referindo a Harry, já que ao ver Gina parou estática. - Ah, eu posso... voltar depois...
- Não precisa Mione, eu preciso levar isso aqui lá pra fora... - Ginny pegou nas mãos uma bandeja de salgadinhos e deixou a cozinha.
- Eu não queria atrapalhar, desculpe... - Hermione tinha um olhar sentido para Harry. Estava muito bonita também, em um vestido longo arroxeado e brilhoso, os cabelos presos para trás com o detalhe de uma rosa branca os prendia.
- Não atrapalhou. Mesmo! - ele ressaltou quando ela tomou um ar incrédulo. - Mione, agente não está mais juntos... não tem o que ser atrapalhado.
- Bom... se você diz... eu precisava mesmo falar com você. E com o Ron, mas aquele energúmeno não consegue ver uma saia mais curta que já começa a sair gritando pelos ares igual uma grande lesma saltitante, não é mesmo? - agressiva, Hermione aumentou um pouco o tom da voz quando falou do amigo de ambos. Harry riu do termo.
- Hermione, até eu perdi meus sentidos... Não foi uma saia curta qualquer, elas devem ser descendentes de veela, dá um tempo!
Hermione nada fez além de bufar, e resmungando algo onde Harry só conseguiu distinguir "garotos!", ela passou à frente em direção ao quarto em que Ron estava trancado.
- RONALD, você PROMETE não entrar em pânico e sair correndo atrás das primas da Fleur se eu abrir essa porta?? - Hermione perguntou de uma forma meio bruta demais, ao ponto de vista de Harry, quando chegaram lá.
- Ah, mas faça-me o favor, abre logo essa m-
- PROMETE? - a garota estava tão agressiva que Harry deu dois passos para trás, um tanto assustado. Houveram uns três segundos de silêncio, antes da resposta sem ânimo do outro lado.
- Prometo...
- Se você sair corren-
- PROMETO!! - Ron tomou o mesmo tom, e Hermione então destrancou a porta, entrando no quarto junto de Harry. Ron estava sentado na cama dos pais emburrado, usando roupas bastante semelhantes as de Harry, tirando que sua camisa era creme e sem babados (o trauma fora grande demais em seu quarto ano pra aceitar qualquer babado depois daquilo), e sua capa era inteiramente preta, por dentro e por fora. Porém a expressão do garoto mudou ao ver Hermione entrando no quarto, Harry conseguiu reparar que seus olhos analizaram a amiga por completo, e seu rosto tomou um certo rubor.
- Certo... agora que estamos sozinhos, posso falar pro Harry algumas novidades que tive nesses últimos tempos... - Hermione sentou-se na cama ao lado de Ron, e Harry recostou à parede de frente aos dois, cruzando os braços. - Eu estive procurando novidades sobre R.A.B, como prometi...
- E??? - Harry perguntou sentindo uma onda de animação tomando seu corpo.
- ...Nada ainda Harry, sinto muito... - ela disse entristecida, mas ao perceber o efeito desastroso de suas palavras continuou. - Mas consegui informações tão valiosas quanto, com certeza vão ser muito úteis na nossa caça, tanto pelo R.A.B, quanto pelos Horcruxes...
- Eu ainda acho que vocês não deveriam ir, isso é um problema meu, um perigo meu, e não cabe a v-
- Não adianta... será que você não percebeu ainda que nós vamos com você até o fim, Harry? - Hermione disse, o encarando profundamente. Harry sentiu o rosto aquecer, e um sorriso tomou seus lábios, ainda que ele negasse a si mesmo a necessidade que tinha de ambos amigos estarem ao seu lado num momento como esse. Tinha amigos fiéis, parceiros... fosse o que fosse. Mas a inquietação tomava sempre o corpo de Harry ao imaginar os amigos deixando seus destinos, para acompanhá-lo.
- Se algo acontecesse com vocês... eu não sei como seria capaz de seguir em frente...
- Seria tão capaz quanto é agora. E escuta, não vai acontecer nada que não seja pra acontecer... tudo pra você conseguir vencer você-sabe-quem no fim, Harry. Tudo. - Ron havia se levantado, estava a sua frente. A emoção tomava Harry por dentro e por fora, mas foram os olhos de Hermione que sutilmente marejaram.
- Então... bem... como eu dizia... - ela tentou esconder a emoção, fazendo Harry sorrir. - Enquanto estive na Bulgária para visitar o Vítor no início das férias-
- VOCÊ O QUE?!?!?! - Ronald pasmou ao que Hermione dissera, a encarando boquiaberto e de olhos arregalados. O susto da garota foi tanto que ela levou a mão ao peito num pulo.
- Ai Ron... o que f-
- VOCÊ FOI PRA BULGÁRIA VISITAR O KRUM???
- Eu... bem, fui, eu...
- Ah, vá pra p... - os dois não conseguiriam saber quais foram as palavras que seguiram, pois Ron saíra do quarto extremamente irritado, batendo a porta com força às suas costas. Hermione pasmou encarando a porta, e quando seus olhos encontraram os de Harry, já derramavam lágrimas por todo seu rosto, borrando a maquiagem sutil que ela usava.
- O que deu nele?? - ela perguntou num tom de voz fino.
- Ah... bom Hermione, eu acho que você não precisava ter falado sobre o Krum sabe...
- Qual o problema dele, afinal??? Ele esteve com a Lilá ano passado, ele esteve correndo atrás das primas da Fleur hoje mais cedo, ele... ele... SE ELE SENTE ALGO POR MIM POR QUÊ ELE NÃO FALA DE UMA VEZ E PÁRA COM ESSA IDIOTICE??? - a garota começava a se descabelar, o penteado soltando algumas mechas enquanto ela perdia a razão, numa mistura onde ele não conseguiu identificar bem se era irritação ou tristeza. Harry não conseguiu encontrar nada para dizer de imediato, perante aquilo. Era a primeira vez em sete anos, que sua amiga falava declaradamente sobre os sentimentos existentes entre ela e Ron.
- ...E se ele disser, o que você vai fazer? - após um certo momento ele perguntou, apoiando a mão sobre o ombro de Hermione e fazendo ela o olhar. Só encontrou confusão explícita dentro dos olhos castanhos dela, trêmulos.
- E... eu? Ah, eu n... ah Harry, ele nunca diria, ele não s-
- Hermione, se o Ron te encostar na parede e disser que gosta de você, o que acontece?
- ...Harry eu... eu não... eu não sei, acho... - Hermione olhava ao redor do quarto confusa, como se a resposta estivesse escondida atrás do armário.
- Afinal, o que você foi mesmo fazer visitando o Krum nas férias? - Harry perguntou num tom pacífico, afastando-se e se sentando na cama, mas sem desviar o olhar de Hermione. Queria encontrar a melhor forma de ajudar seus dois amigos, mas até agora só poderia ajudar se eles realmente quisessem isso. Hermione suspirou profundamente e se sentou ao lado de Harry na cama.
- Se ao menos ele tivesse me deixado terminar de falar... eu iria dizer que o Krum me chamou para passar as férias com ele esse ano, mas fui junto dos meus pais pra lá. Eu e ele só nos vimos umas três vezes... e, o Krum e eu conversamos sempre por cartas desde o 4º ano, sabe Harry mas... desta vez, com toda a situação de você-sabe-quem ter voltado e eu ter revelado a ele que não voltaria a Hogwarts esse ano pra te acompanhar onde quer que fosse, ele quis uma coisa mais séria comigo... pra poder estar do meu lado caso o pior acontecesse com alguém, e ele me apoiasse...
- O Krum está achando que eu vou ser derrotado, é isso?!
- Não Harry, não é isso!!! - Hermione se exasperou, com temor que Harry também surtasse contra ela. - Ele só... quis estar ao meu lado, se viesse a acontecer qualquer coisa de ruim que me afetasse, entende? ...Mas eu não aceitei. Nunca eu poderia aceitar namorar alguém assim... com esses sentimentos todos me... me deixando LOUCA!!!
- Você está querendo dizer que não aceitou porque não ama o Krum, não é mesmo? - Harry perguntou firmemente.
- ...Eu não sei... Eu tenho um grande afeto pelo Krum, de verdade... mas acho que é só isso.
- E por quem você tem mais do que afeto, Hermione? - ele firmava os olhos nos de Hermione. Era vez de a garota falar de uma vez por todas. Ela o encarou, insegura, e quando seus lábios abriram-se para dar uma resposta...
- O casamento vai começar... meu pai mandou chamar vocês. - Era a voz de Ron, que abrira a porta com estupidez, falou com grosseria, e os deixou mais uma vez sem esperar. Hermione encarou o chão, respirou fundo e se levantou.
- Vamos, Harry... depois do casamento conversaremos sobre a nossa missão... - ela secava o rosto nas mãos, deixando o quarto, sendo seguida por um Harry preocupado com os sentimentos dos amigos. Já não eram brigas como as de antigamente... e Harry tinha medo de que a qualquer momento a relação dos dois desabasse de uma vez por todas.
Ao chegarem ao jardim encontraram este repleto de pessoas agora sentadas às cadeiras. Metade do círculo tinha ruivos de todos os estilos, mais vermelhos, alaranjados, aloirados, com sardas, sem elas, mas ainda assim olhando por cima ao menos, Harry não encontrou uma cabeça de outra cor. Na outra metade já não era a cor dos cabelos que chamava a atenção, mas a língua francesa falada em alto e bom tom por todos eles. Harry e Hermione se acomodaram em dois lugares que o Sr Weasley reservou ao lado dele bem próximo ao arco de flores, apesar de Ron ter feito questão de sentar-se com Harry ao seu lado, e a cabeça bem virada para as primas de Fleur que estavam no lado oposto, ainda que nenhuma delas tivesse ao menos notado. Harry não pôde evitar, e involuntariamente seus olhos buscaram por Ginny ao longo do jardim, mas ela não estava lá.
Foi o tocar de um sino pendurado do lado de fora d'A Toca que desviou todos de suas conversas paralelas, e Harry de sua atenção para uma mesma direção: os ares sobre suas cabeças. Todos ficaram em pé quando Harry viu a imagem de um grande cavalo negro alado vindo em direção ao centro do círculo, num pouso belíssimo; suas grandes asas assemelhavam-se demais às do Bicuço, e sua crista brilhosa destacava -se por seguir até próximo ao chão. Além das asas, seu tamanho o distinguia de um cavalo comum, sendo bem maior do que o normal. Harry viu pelo canto do olho uma Hermione boquiaberta, mas a atenção geral estava realmente centrada em quem acabara de descer do cavalo que se preparava para levantar vôo mais uma vez. Era Gui ladeado por sua mãe, bem menor do que ele, mas com um sorriso maior do que o próprio rosto. Os olhos de Molly estavam marejando, enquanto Gui a amparava, exuberando felicidade. Molly transpassou o arco e postou-se atrás deste, enquanto Gui manteve-se na parte da frente, virado para o círculo de pessoas e bem em frente à Harry. Sua capa era branca e bem firmada sobre as costas largas, amarrada frente ao peito, lhe dando um ar imperial. Os longos cabelos vermelhos estavam soltos contra o vento quando ele se posicionou em pé frente o arco de flores, e foi nesse momento que a visão de seu rosto ficou nítida. Muito diferente do belo Gui que Harry conhecera há alguns anos, este tinha deformações por toda a face, amostras da batalha contra Fenrir Greyback há alguns meses, que por mera questão de não ter sido em uma lua cheia não o transformara em lobisomem, apesar da aparência um pouco mais lupina que Harry podia notar por entre as marcas de sua face. Contudo em nada isso parecia abalar sua felicidade, o brilho em seu olhar no aguardo de sua noiva.
E com um toque a mais do sino, outro cavalo, este branco, irrompia pelos céus exuberante, trazendo preso em seus lados duas cabines grandes o suficiente para uma pessoa estar dentro de cada. Os sussurros e assombros de admiração foram altos e claros quando o cavalo pousou, e dele desceu uma Fleur mais do que divina. A noiva trajava um vestido longo em tons levemente perolados com pequeninas pedras de diamante na parte do busto, enquanto uma capa branca-transparente meramente prendia-se aos seus ombros. Seus cabelos loiro-platinados abriam-se contra o vento para trás, presos apenas por duas mechas pela metade formando uma trança fina para trás. Os olhos azuis firmaram seu noivo, e Harry não conseguiu conter um sorriso ao ver tamanha felicidade quando ambos deram as mãos em frente o arco de flores. Independente de qualquer batalha, ou perigo, eles estavam dispostos a ficarem juntos, acontecesse o que fosse. As risadas foram gerais quando Molly, que aparentemente seria quem estaria regendo aquele casamento, desabou em lágrimas antes mesmo do casamento começar. Mas Harry não conseguiu rir junto, pois sua atenção estava uma das cabines que encontravam-se presas ao cavalo alado de Fleur, de onde saíram de um lado Gabrielle, e do outro Ginny, ambas idênticas nas vestes que Harry já havia visto, antes do cavalo deixar o círculo como o outro fez. Uma coisa era ver a ruiva antes do casamento, e não conseguir manter um contato visual com ela por tempo o suficiente pela sensações que isso lhe causava, outra era estar ali entre uma grande multidão de cabeças e não conseguir se atentar a mais nada quando ela passou por ele quase que em câmera lenta para parar meramente ao seu lado, em pé, em frente a Gabrielle que fizera o mesmo ao lado de Fleur. Harry engoliu em seco, e respirou fundo quando sentiu a mão de Hermione em seu ombro como um consolo.
- Bem, vamos começar? - Molly disse numa fungada entre um grande sorriso.
- Respira fundo, mamãe. - Gui disse rindo, fazendo grande parte das pessoas o acompanhar.
- Ah, meu filhinho, meu primeiro filhinho, virando homem... - Molly deslizou a mão carinhosamente pela face de Gui sorrindo, e então postou-se novamente em seu lugar, logo atrás do arco que ficou entre o casal e ela. - Ah, bem... meus dois queridos, vamos hoje ter uma união pra vida toda...
"Temos vivido em tempos extremamente tortuosos, cada dia mais incerto que o outro, a não-certeza do acordar no dia seguinte tem massacrado a cada um e a todos nós. O fim ainda não é certo, e não está a nossas vistas, mas certamente é encantador que ainda assim exista algo tão forte e precioso, quanto o amor. Somente o amor seria capaz de vencer qualquer medo, qualquer insegurança, para fazer nascer uma união tão preciosa quanto a que hoje nós temos aqui.
E é por isso, que eu vos abençôo, com meu poder de mãe e sacerdotisa deste casamento, e faço de meu poder, o de vocês."
O sino tocou novamente três vezes, quando Harry notou que o arco havia tomado uma claridade intensa azul-esbranquiçada em seu interior, um facho de luz que transcendia sua visão. Molly tirou de dentro de sua capa duas cordas curtas brancas, e transpassando o facho de luz, ela segurou ambas por uma das pontas, e Gui e Fleur tomaram em mãos as outras duas pontas.
- Que se dê início essa fusão de almas.
Harry notou que às palavras de Molly, as cordas tomaram o mesmo brilho que havia dentro do arco. Gui e Fleur erguerem as mãos direitas até a altura de seus rostos, e cruzaram-nas pelos dedos, de forma que seus olhares eram fixos um no outro. Harry correu o olhar pela parte de trás da cabeça de Gina, observando por um breve segundo seus cabelos. A voz gutural e delicada de Fleur fez-se presente, de forma que tudo ao seu redor foi silêncio para que suas palavras fossem ouvidas, em seu sotaque intensamente francês.
- Todass as veces que eu escutu seus sussurros quebrrando o silêncio, me sintu calma. Seu gost en meus lábis me dá vida, me faz querrer nunca mais sairr desse encantamint que é te amarr. E encantada eu querro ficarr. Porrque estarr ligada a você mi liberrta... eu sou completament entregue aos seus poderres, e te faço hoje meu eterrno, Gui Weasley.
E o único som bem claro foi o fungo do choro de Molly detrás da luz incandescente que vinha do arco. Gui suspirou profundamente, e respondeu:
- Um dia me foi dito para tomar cuidado, para ficar atento... pois chegaria o dia em que você me prenderia por completo, me afogaria em sentimentos, e me derrubaria. Mas eu jamais me importei com o perigo, eu tinha que te conquistar. Simplesmente porque você me faz sentir vivo. E faço do hoje, meu destino até o fim. Eu te faço hoje minha eterna, Fleur Delacour.
Dessa vez foi claro demais o choro de Molly, que se segurava para não transpassar aquele arco e agarrar os dois em um longo abraço. Os noivos voltaram-se para as cordas que tinham à mão esquerda, e começaram a trançá-la até a outra ponta. A cada trançada, mais intensa se tornava a luz que emanava das cordas que se tornavam uma só, até darem um nó ao fim. Molly então tomou ambas as extremidades entre suas mãos, e amarrou-as ao redor dos pulsos unidos de Gui e Fleur. Agora atados, os noivos deram um passo a frente, entrando no mar de luz que irradiava do arco de flores, e tornando tudo extremamente chocante à Harry. A luz que havia lá se dissipou, de alguma forma parecia ter entrado no corpo dos noivos, e agora sobre suas cabeças pairavam dois vultos esbranquiçados, girando e entrelaçando-se sem parar. Os dois mantinham as mãos juntas, e esticadas de frente para Molly, que agora tinha em mãos sua varinha, apontada diretamente para a corda nos pulsos dos dois.
- Que de hoje em diante, seus caminhos estejam traçados e indissolúveis, em amor até o dia em que não mais a este mundo o outro pertencer. Que de hoje em diante, um possa conhecer ao outro melhor do que a si mesmo, assim provando a gemialidade dentre suas almas. A partir de hoje, selo para a eternidade um amor de vidas de ontem, hoje, e amanhã. À partir do dia de hoje, existe em vocês um elo, que baseado em forças do amor acima de todas as coisas, transfere a vocês poderes muito além do que os olhos serão capazes de ver. A partir de hoje, o elo matrimonial de Gui Weasley e Fleur Delacour os torna um só. Bem vindos a eternidade... meus filhos. - As últimas palavras de Molly foram lacrimosas, mas isso não afetou o feitiço que se seguiu. A corda que havia em seus pulsos brilhou tão intensamente, que perdeu sua forma física e tornou-se meramente luz. Quando essa luz perdeu força, já não havia mais corda alguma lá, apenas as mãos unidas de Gui e Fleur, e os vultos que pairavam agora ao redor dos dois, rodeando-os.
Gabrielle e Ginny aproximaram-se do casal trazendo um par de alianças douradas, quais eles trocaram em total silêncio, e no segundo em que a aliança havia se fixado em ambas as mãos, os vultos pairaram no ar, e mergulharam contra o corpo de cada um, deixando-nos estáticos por alguns segundos, de olhos arregalados.
- O que aconteceu?? - Harry perguntou nervoso à Ron em um sussurro.
- As auras deles foram unidas. Eles estão sentindo pela primeira vez dentro de cada um um pouquinho do outro.
Aos poucos os sorrisos invadiram à face dos dois, e com um sorriso extraordinário, Fleur jogou seus braços ao redor do pescoço de Gui e lhe deu um profundo beijo espetacular. A onda de palmas foi imediata enquanto o círculo de pessoas se desfazia, a maioria se amontoando para dar os parabéns aos noivos. Harry foi puxado por Ron para trás para sair do meio das pessoas, e foi acompanhado por Hermione.
O trio adentrou a cozinha, e por um momento Ron permaneceu de costas para os dois, com as mãos nos bolsos e a cabeça levemente baixa. Harry e Hermione se encararam em confusão, e apesar de ela ainda estar um tanto quanto abalada pelo acontecido anterior ao casamento, deu dois passos à frente, e tocou o ombro do ruivo.
- Ron... você está bem?
O ruivo se virou lentamente, o rosto coberto de lágrimas, mas um sorriso tolo brincava entre seus lábios.
- Desculpem... eu sempre choro em casamentos. - foram as palavras que trouxeram uma nova descontração para os três, enquanto Hermione e Ron se abraçaram no meio da cozinha, e Harry ria.
[ NOTA: Se possível, ouçam a música “Aquarius”, da banda Within Temptation ao ler a cena do casamento. É o tema de fundo. ]
[ Imagem da corrente que Cho deu a Harry: http://i178.photobucket.com/albums/w252/KikaChang/jadeamuleto.jpg ]
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