What she said



Chegaram na Toca ainda se perguntando de onde teria surgido aquela mulher. Kingsley repetiu o diálogo um sem número de vezes, mas nada do que haviam dito esclarecia quem era ou de onde tinha vindo.
– Tente se lembrar, Kingsley – Sr. Weasley comentou, não tão calmamente como o de costume –, o que foi exatamente que ela disse?
– Foi só isso, Arthur, eu a vi olhando demais para Harry e fiquei por perto quando percebi que pretendia seguir o grupo. Eu a interpelei na saída da estação e a única coisa que ela repetia era

– Aquele era Carlinhos Weasley, não era? Na porta do metrô? E do seu lado, sentado no banco, era o garoto Potter, não era? O que eles estavam fazendo no metrô?
– E eu faço as perguntas aqui! Por que você nos seguiu? O que você quer com o Harry?
– mas ela estava histérica, parecia não me ouvir.
– Aconteceu alguma coisa, não foi? Ele voltou, não é? Aquele-que-não-deve-ser-nomeado? Onde está Snape? Eu preciso falar com Severus Snape! E Dumbledore? Os Weasley estão bem, não estão? Como está Gui?
– Snape? O que você quer com Severus Snape?
– E-eu preciso falar com Snape, onde está Snape?
– Como assim onde está Snape? Você não sabe que ele...


– Mas a partir daí ela não me ouviu, parecia que estava a quilômetros de distância dali. Eu afrouxei os punhos e do nada ela aparatou...

Automaticamente os olhares se voltaram para o mais velho dos rapazes Weasley, que parecia desconcertado. Fleur Delacour tinha uma expressão completamente horrorizada nos olhos, e o clima tenso não se desfez quando Tonks comentou:
– A foto, Gui! A moça da estação do metrô era a mesma da sua foto do último dia em Hogwarts! –Fleur inspirou nervosamente, mas antes que a moça tomasse qualquer atitude impensada, Lupin comentou:
– Então a tal moça foi sua colega em Hogwarts, correto, Gui? – o ruivo assentiu. – Mas por que o desespero quando nos encontrou no metrô, e mais, por que ela tocou no seu nome na estação?

Tonks fez um som semelhante a um assovio e todos olhavam para Gui, como que aguardando uma explicação. O rapaz não reagiu de imediato. Por fim, respirou fundo e começou.

– Certo... No ano que eu entrei pra Hogwarts... – ele parou e pensou um pouco - Não... Antes disso... Aproximadamente um mês antes de eu nascer...
– O que é isso, Gui? O que você está tentando fazer?
– Deixa ele continuar, Remus, acho que sei o que ele está tentando dizer... – era Molly, sinalizando para que Gui continuasse.

– Obrigado, mamãe... Bem, como eu dizia, pouco antes de eu nascer correu o boato de que certa noite haviam abandonado um bebê na porta do Cabeça de Javali. Todos acharam a idéia absurda, afinal, que mãe era aquela que abandonava uma criança, ainda mais na porta de um lugar como aqueles? Alguns anos eu descobri que toda aquela história não era um boato...

– Assim que cheguei em Hogwarts, ainda antes da cerimônia de seleção, comecei a conversar com Kirley e Donaghan. De cara me perguntaram se eu tinha visto no trem a menina que vinha logo atrás da professora McGonagall para a entrada do salão principal. Ela parecia ser também do primeiro ano, mas nenhum dos dois a tinha visto antes. Respondi que não e só a vi novamente depois da cerimônia de seleção das casas. Tanto nós quanto a menina ficamos na Grifinória, mas só viemos a nós falar alguns dias depois.

Com o passar do tempo ficamos realmente amigos e um dia – por volta do segundo ano – lembrei da história do primeiro dia e resolvi perguntar o porque de ela não ter ido de trem para Hogwarts. Me espantei quando ela disse que era porque não precisava, pois sempre morou perto da escola, em Hogsmeade! E aí me contou sua história. Disse que havia sido deixada pela mãe na porta de um bar com um bilhete, que dizia ser o dono do bar o pai da criança. Disse também que na época muitas pessoas foram contra o homem registrá-la, já que não existiam provas de que ela fosse mesmo sua filha, e ele não tinha condições nem de cuidar de si próprio... Sabe-se lá porque ele fez questão de registrar a menina e ela acabou sendo criada por um grupo de pessoas. Mesmo depois daquele dia eu não cheguei questionei se fizeram alguma espécie de teste para comprovar ou não a paternidade, mas passados alguns anos perguntei se ela não se sentia alguma espécie de ressentimento por ter sido abandonada pela mãe. Ela disse que não a culpava porque só de ter alguma coisa com seu pai a mulher já deveria ser meio louca! – Gui sorriu com a lembrança, mas o sorriso sumiu logo depois de verificar o semblante sério de todos na sala. Ele prosseguiu. – Lembrei logo da história do bebê abandonado no Cabeça de Javali e ela confirmou.

– Então isso quer dizer que... – Moody murmurou, mas não demonstrando que alguém precisava completar a frase.
– Que Anna, pelo menos legalmente falando, é filha de Aberforth Dumbledore...

:::

Tonks assoviou novamente, cortando a atmosfera pesada que pairava na sala. Foram necessários uns dois minutos até que Lupin dissesse alguma coisa.

– Molly! E você sabia disso?
– Sabia, Remus... Dessa parte eu sabia... Parece que Dumbledore foi atrás do irmão imediatamente depois de saber do episódio e como sabia que ele não teria condições de cuidar de uma criança, levou a menina para Hogwarts até decidir o que fazer. Aberforth bateu o pé que ela era realmente sua filha, e Alvo acabou permitindo que a registrasse com o nome da família, mas acrescentou seu último nome porque sabia que uma menina com somente seu sobrenome chamaria muita atenção. Até ter idade para freqüentar a escola ela ficou sob os cuidados de alguns professores, Alvo, Minerva, Papoula, Sprout, Sinistra, Hooch... Eles se revezavam para tomar conta da menina, e quando fez onze anos ela e Gui acabaram ficando na mesma casa.
– Uau! Que história, hein? – exclamou Tonks.
– É sim, querida... Quando Gui chegou em casa nas férias seguintes e me contou tudo, procurei pelo Diretor. Disse que tinha certeza de que a menina estava recebendo uma ótima educação, mas que ela deveria sentir falta de convivência em família. Desde então ela passou algumas férias na Toca.
– E era quando papai fazia o favor de tentar “converter” a pobre coitada! – Gui comentou, mais uma vez com o sorriso de quem tinha uma lembrança boa. – Perdi as contas do número de vezes que mamãe passava horas procurando Anna pra almoçar e ela estava lá, enfurnada naquele armário de vassouras “estudando” as maravilhas trouxas enfeitiçadas que papai recuperava em suas batidas...
– E esse tempo todo depois de Hogwarts, Gui – Kingsley interrompeu –, você não teve notícia alguma da moça? – Fleur pareceu finalmente soltar o ar, o olhar ainda vidrado.
– Tive... – Fleur fez menção de se levantar. – Até uns dois anos atrás... – ele continuou. – Ela se mudou para Londres e nos comunicávamos por cartas, naturalmente. Cheguei a vê-la umas três vezes nestes anos todos, apesar de nunca chegar a saber onde morava. Escrevi a ela logo depois do torneio tribruxo, mas a carta voltou, e todas depois dela desde então. Nunca mais recebi uma carta de Anna, e quando perguntava a Dumbledore sobre o paradeiro da sobrinha ele apenas me dizia: “Acalme-se, rapaz, sua amiga está bem e protegida...” – Gui fez um silêncio repentino. Como se lembrasse de um detalhe, virou-se para Fleur e comentou:
– Lembra, querida? O convite que voltou... – Todos se viraram para Fleur, que apesar do olhar triste do noivo, não reagiu. Fez-se um silêncio incômodo, cortado mais uma vez por Tonks:

– Mas ela perguntou pelo Snape, não foi? Onde o Ranhoso entra nessa história? – Os olhos se voltaram novamente para Gui, como se esperassem dele uma resposta para isto também, mas antes que o rapaz pudesse dizer qualquer coisa, foram ouvidas batidas fracas na porta da frente.

– Quem está aí? – Sra. Weasley perguntou, varinha em punho.
– Anna Brian... – uma voz muito fraca respondeu. Harry reparou que Molly tremia ao olhar para o marido e já ia abrindo a porta, quando Arthur lembrou das instruções do Ministério para os tempos de guerra, e se pôs em sua frente.
– Se você é Anna Brian, me diga: o que te levou a morar em Londres depois de terminar seus estudos em Hogwarts? – e o Sr. Weasley aguardou ansioso, como se soubesse bem qual seria a resposta. E ela veio, a voz ainda fraca, quase um sussurro:
– Descobrir como Scooby Doo se movimentava sem magia...

Arthur Weasley expirou profundamente, como se tivesse prendido a respiração por alguns segundos. A resposta parecia ser a correta, porque ele abriu a porta e todos se viram frente a frente com a moça que encontraram no metrô, os fios de cabelos castanhos caídos pelo rosto devido a um rabo de cavalo quase desfeito, a aparência ainda mais cansada – se é que aquilo era possível – mas visivelmente a mesma moça da foto no álbum, apenas alguns anos mais velha. Ela observou os rostos um por um durante alguns segundos, até se fixar no rosto cheio de cicatrizes de Gui. Um ar de tristeza perpassou seus olhos e, com um suspiro, desmaiou no portal.

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