INIMIZADES
O jovem loiro de olhos castanhos estava bastante triste naquela noite. Chorava escandalosamente e gritava coisas que nem Harry, nem Hermione e Rony conseguiram entender quando passaram pelo corredor em direção à escada.
- Nunca fui com a cara dele – resmungou Rony ao descer o primeiro degrau – Toda vez que eu passo ele me lança um olhar de desprezo.
- Vai ver que ele está com inveja, já que você pode andar e ele, sendo um quadro, não pode! – Disse Harry, rindo.
- Coitado, gente! O Miriel foi morto por um comensal da morte – Hermione olhou indignada com a falta de compaixão dos garotos – Porque você acha que os pais dele se mudaram daqui, Harry?
- Não faço a mínima idéia, Mione – Eles desciam no mesmo ritmo a escada.
- Ah, vai ver que os pais dele não suportam o fato de ver Miriel preso em um quadro, mas deixá-lo sozinho também...
- Harry, veja quem está te esperando! – Interrompendo Hermione, aparecera a Sra. Weasley, com o braço sob os ombros de uma bela garota.
- Letícia? – Harry sorriu, e Rony e Hermione se olharam, uma expressão de nojo em suas faces.
- Harry, eu já estava com saudades! – Exclamara Letícia, se desvencilhando do braço gordo da Sra. Weasley e correndo em direção ao garoto, que a abraçou calorosamente. A mãe de Rony voltara para a cozinha.
- Harry, já está ficando tarde e... – Hermione tentava em vão separar os dois – temos que ir... lá, você sabe.
- Harry, você vai sair? Posso ir com você?
- NÃO! – Adiantou-se Granger - Ah... é assunto da Ordem.
- Posso ou não... Harry? – Letícia olhava sensualmente para Harry, o provocando – O que você acha?
- Não sei, Letícia... – Desviou os olhos para o rosto de Hermione, que lançava um olhar mortal – Vamos para Hogwarts, assunto do Ministério...
- Ótimo! Eu queria tanto conhecer o colégio em que você estudou! Você fala tanto dele! – Ela sorriu. Harry não sabia o que responder. Se dissesse que não para Letícia, certamente a magoaria. Agora, se dissesse sim, quem iria ficar magoado eram Rony e Hermione. Era uma difícil decisão – Ah, Harry!
- Eu não sei se você vai gostar, Letícia...
- É claro que vou gostar, Harry! Eu vou amar sair com você! – Ela tocou no braço de Harry, fazendo-o tremer.
- Mas Harry, não podemos levar...
- Por que não, Hermione?
- Ora...ah, Harry... Porque não! – Disse Hermione chorosa.
- Harry, não ligue para ela – disse Letícia, olhando torto para Hermione – Ela está com ciúmes!
- Ciúmes? De você? – Hermione esganiçara a voz, Rony ficou ao seu lado.
- Do Harry...
- Olha aqui, Letícia, ou seja lá quem você seja, a Mione não tem motivos pra sentir ciúmes do Harry – Rony explodira, sua face já naturalmente rosada agora ficara cor de fogo.
- Ei, vocês dois, parem! – Disse Harry, elevando o tom de voz. Estava impondo o respeito que a ele cabia, como auror, líder da ordem e como dono da casa – Estão agindo como crianças! Eu já decidi, Letícia irá conosco.
Harry e Letícia saíram na frente, cruzando a porta de entrada da mansão. Letícia voltou o rosto para trás, lançando um olhar e um sorriso de triunfo para Hermione, que esperava dentro do hall. Hermione batia o pé inconscientemente no chão, abrindo e fechando suas mãos. Rony, por sua vez, estalava os dedos, tentando abafar a vontade de espancar o amigo. Os dois respiravam fundo, nervosos.
- Ah, Harry, vai se arrepender de ter feito isso – Falou Hermione baixinho.
- Aquela maldita, só de pensar que eu...
- Você o que, Rony? – Hermione olhara com raiva para Rony, e os dois seguiram se arrastando, passando em seguida pela soleira da porta. Harry segurou a mão de Letícia e apatarou naquele instante, provocando excitação na garota. Rony e Hermione fizeram o mesmo.
Apareceram em Hogsmeade, a vila próxima ao castelo de Hogwarts, que se erguia imponente próximo dali. Suas torres altivas apontavam para o céu e alguns pontos incandescentes de luz brilhavam nas várias janelas do lugar.
- Nossa! Chegamos tão rápido, não é? – Letícia segurou um grito – Nossa! Aquilo é Hognorts?
- É Hogwarts! H-O-G-W-A-R-T-S! Não Hognorts... – Disse Hermione, corrigindo, deliciada, Letícia – Tem gente desprovida de inteligência!
- E outras de beleza e elegância... – Letícia sorria mais uma vez em triunfo. Hermione abaixara a cabeça, chorosa. Harry parecia não perceber.
- O Abelford fechou o Cabeça de Javali? – perguntou Rony, tentando quebrar o gelo. O bar estava completamente escuro, agora mantinha uma enorme placa na vidraça alegando a desativação da propriedade. Os vidros estavam estilhaçados, o chão mais empoeirado que nunca e fios de aranha pendiam nas telhas imundas de musgo . Letícia olhava fixamente para o castelo de pedra, admirando suas formas. – Isso aqui não mudou quase nada, a não ser por isso.
- O Três Vassouras parece maior – disse Harry, olhando para o local onde vivera bons e maus momentos de sua vida. Dava-lhe saudade – Veja, foi anexada uma nova ala na cafeteria – disse Harry, apontando para a construção de arquitetura quase medieval. Rony lembrava das cervejas amanteigadas do lugar. As melhores que já tomara – A gente passa por aqui mais tarde se não for tão tarde.
Cruzaram o caminho que separava o vilarejo do castelo, apreciando todos os lugares por onde passavam. Era tudo tão belo, tão imponente. Cada simples árvore ou grama despertava a atenção de todos. Letícia por nunca ter visto algo tão belo. Os outros, pela memória de algo que nunca mais voltaria. Os javalis de pedra estavam lá, parecendo vigiar o portão de ferro do castelo.
- Periculus! – Exclamara Harry, apontando a varinha para o alto. Um feixe de luz vermelha cruzou o céu, emanando seu brilho pelo ar escuro do fim de tarde. Instantes depois, um homem veio correndo pelo jardim, mancando, suas tralhas tilintando. Já vinha separando a chave do portão, seguido por uma gata que ia em seu encalço.
- Filch? – Perguntou Hermione – Cadê o Hagrid?
- Eu não conheço você!? – Adiantou-se Letícia, apertando o olho, tentando enxergar na meia luz.
- Se for uma aluna, sim, certamente – Filch lançou um olhar zombeteiro. Segurou com a mão esquerda o cadeado e com a direita mirou a chave – Ah, já tinha me esquecido. Vocês tem autorização?
- Autorização? Pra que autorização, Filch? Nunca precisamos de uma...
- Mas agora precisam. Sem autorização não darão nenhum passo aqui dentro – Filch soltou o cadeado, olhando de soslaio para a bela garota loira.
- Como? – Rony encarou-o, lançando um olhar de desafio- Abra isso de uma vez, eu ainda sou o monitor daqui! Sou? – Hermione fez um sinal negativo e Rony praguejou.
- Você nem é mais um aluno, Weasley... Ralé – resmungou Filch, com desprezo – Quando vocês tiverem uma autorização, voltem. Ou não voltem... Não pensem que me esqueci todos os problemas que vocês me causaram. Vocês e seus irmãos, Weasley.
- Harry! - Uma voz grossa ecoou pelos campos de Hogwarts. Em seguida, um homem grande e robusto apareceu, carregando duas lebres nas mãos. Tinha olhos escuros, parecidos com besouros – Rony! Hermione também! Pensei que tinham se esquecido do bobão aqui... Ah, mais uma garotinha...
- Hagrid! – Gritaram os três.
- Vamos, Filch, abra logo esses portões – Inquiriu Hagrid, apontando seu guarda-chuva. Filch pegou a chave a contragosto e abriu o cadeado. O portão girou nas dobradiças com um rangido triste – Ah, garotos, estava com saudades! - Os meninos correram em direção ao gigante, abraçando-lhe. Hermione evitou as lebres, abraçando-se no outro braço de Hagrid. Letícia passou encarando Filch, desconfiada – Nossa, vocês sumiram. Se não fosse por Resfine e Bicuço eu teria morrido de tédio aqui. Ah, peguei essas lebres pra alimentar nosso hipogrifo. – falou ao ver o olhar de nojo que Hermione lançava aos animais.
E eles seguiram caminho pelos jardins de Hogwarts. Contavam as novidades que tinham, e gargalhavam durante o trajeto. Filch não suportaria acompanhá-los, e por isso seguiu por um outro caminho. Letícia o olhou desconfiada até o último instante.
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